Quinta do Fojo
“A casa e quinta
do Fojo, de concepção senhorial, foi construída em 1714 por William Neville,
general inglês, descendente da linha directa de Ralph Neville, avô e bisavô de
reis ingleses.
Refugiou-se em
Canidelo, V. N. de Gaia, fugido de Inglaterra, pois era apoiante do Duque de
York durante a Guerra Civil inglesa, aquando da sucessão ao trono, com a morte
da rainha Ana, da casa de Stuart, e que não deixou herdeiros, passando pelo
decreto do Estabelecimento em 1701 a sucessão a seu primo Jorge I, da casa de
Hanover.
Em meados do séc.
XVIII a casa passa para seu filho João Neville, que por casamento com dama da
nobreza portuguesa da família Saavedra, segue esta casa com nova linhagem desta
família em Portugal.
A casa surge já
mencionada nas Memórias Paroquiais de 1758, onde refere que a freguesia de
Santo André de Canidelo tinha "outra
capella dentro de hua que possui João Neuel (Neville), de nação Britanica com o
nome de São João Evangelista." (Costa, 1982, p.54)
A história deste
palacete atravessa o séc. XIX com histórias episódicas marcantes do país da
própria casa e da família.
Um século mais tarde,
aquando das Invasões Francesas, General Wellington traz uma carta de
recomendações para a família Neville, que o hospeda e lhe permite fazer da
casa do Fojo o seu quartel-general das forças anglo-portuguesas durante o
ataque à cidade do Porto pelas tropas napoleónicas.
(…) Já no decorrer da
Guerra Civil de 1832-1834, a casa tornou-se quartel-general dos Miguelistas
tendo sido atacada e tomada pelos Liberais. Ali fuzilaram dois frades
miguelistas do vizinho Convento do Vale da Piedade, aí escondidos e ali ficaram
enterrados. Capturaram também o proprietário da casa, D. José Saavedra e sua
irmã que foram poupados ao fuzilamento pela intervenção de D. Tomás Saavedra,
irmão de ambos e oficial das tropas liberais (mais tarde designado Barão de
Saavedra).
Em meados do séc. XIX,
no ano de 1847, aquando da Guerra da Patoleia, aqui esteve instalado o regimento
de Infantaria 10, leal à Junta do Porto e liderado pelo Coronel José Maria
Magalhães à espera do resultado da Convenção de Gramido, assinada pelo General
da Junta, César Vasconcelos e o General Castelhano Concha, em 30 de junho, com
a qual se pôs termo às guerras liberais”.
Cortesia de Manuel José Cunha
Solar da Quinta do Fojo
Traseiras da casa da Quinta do Fojo, em 1976, observada
desde o Facho do Fojo
Vista aérea da Casa do Fojo (1) e Facho do Fojo (2)
O Facho do Fojo, na freguesia de Coimbrões, referido na
imagem acima, era uma construção do séc. XII, modificada no séc. XVIII que,
actualmente, se encontra em ruínas e está integrada num horto.
Facho do Fojo – Cortesia de portosombrio.blogspot.com
“Situada na área de
Canidelo, não muito longe da fábrica abandonada do Fojo, é justo situar os
primórdios desta construção no período medieval (senão mais antigo) onde serviu
de atalaia e comunicava directamente por sinais de fumo e fogo com o antigo Castelo
de Gaia, já que no local onde se situa era possível avistar uma larga área da
costa marítima que antecedia a foz do Douro. Apresentando características que
apontam provavelmente o século XII como principal período de construção (ou de
reconstrução), a torre acabaria por perder a sua utilidade com o passar dos
séculos.
Ora, no início do
século XVIII, os terrenos em torno da torre medieval foram adquiridos pelo
general inglês William Neville, que fundou e construiu a casa da Quinta do
Fojo, uma rica propriedade que se estendia por uma vasta área. A torre acabou
por ser aproveitada para servir de mirante para os proprietários da quinta;
foi-lhe adicionada uma escadaria exterior de pedra e diversos elementos
decorativos em cantaria, enquanto o interior foi preenchido de cascalho e
enormes blocos de pedra”.
Cortesia de portosombrio.blogspot.com
A Quinta do Fojo era uma extensa propriedade que integrava
várias casas, jardins, noras, lagos e matas de grande beleza.
A casa, a capela dedicada a S. João Baptista, o lago de
recreio e o mirante que lhe estão associados constituem um conjunto
setecentista de grande valor arquitectónico definido, em 1978, como Imóvel de
Interesse Público.
Durante a madrugada do dia 29 de Abril de 1955, ocorre um violento incêndio no Solar da Quinta do Fojo, devido a um curto-circuito, elevando-se os prejuízos, à data, a mais de 500 contos.
Actualmente, a envolvente ao solar está afecta ao desenvolvimento turístico e dotada de um campo de golfe e restaurantes de apoio.
Ao longo do tempo, a propriedade foi muito fragmentada, embora a casa se
mantenha com a sua estrutura praticamente original. A grande área territorial
da quinta foi diminuindo gradualmente ao longo da sua existência tendo sido
acompanhada pela separação da linha de caminho-de-ferro e pela VCI.
Seria na Casa do Fojo
que se instalaria a família real Portuguesa aquando do seu regresso do exílio.
Bem perto, numa parcela da antiga Quinta do Fojo, denominado
Sítio da Portela e, mais tarde, Quinta da Bela Vista, a família real Portuguesa
tinha uma casa, adjacente à linha férrea, que abandonou quando se exilou e que seria confiscada.
Os membros da família real Portuguesa foram autorizados a
regressar a Portugal pela Lei n.º 2040, de 27 de Maio de 1950.
Assim, em 12 de Agosto de 1952 chegará a Portugal vindo de
Berna, Suíça, onde residiu depois de ter abandonado a Áustria, D. Duarte Nuno
de Bragança (1907-1976).
Começará por residir numa casa na “Quinta Maria Mendes”, que
o Dr. Caetano Beirão possuía em Serpins (Lousã), mas, depois, seguiu para V. N.
de Gaia, onde fixou residência na Quinta do Fojo, em Canidelo, Vila Nova de
Gaia, propriedade do 3º conde da Covilhã, com sua Esposa Maria Francisca de
Orléans e Bragança e os seus dois filhos de então D. Duarte e D. Miguel.
Posteriormente mudar-se-ia para o Palácio de São Marcos, uma
propriedade em São Silvestre, nos arredores de Coimbra, que foi parcialmente
cedida pela Fundação da Casa de Bragança para servir de residência à família.
O Palácio de S. Marcos, construído em meados do século XX,
sobre as ruínas de um antigo convento destruído por um grande incêndio, passaria
a servir de residência oficial aos Duques de Bragança entre 1954 e 1975.
A propriedade seria adquirida pelo Estado Português que o
cederia à Universidade de Coimbra.
Quinta e Casa de Fiães ou
Quinta de Santo Inácio
A origem da propriedade remontará a meados do século XVII, mas sabe-se que, em 1702, é adquirida pelo rico comerciante inglês George Maynard da Silva, filho do cônsul da Grã-Bretanha, no Porto, Thomas Maynard.
Apesar das suas origens, George Maynard era católico e, por isso, dotou o seu solar com uma capela dedicada a Santo Inácio de Loyola.
Como não deixou descendência, este cidadão britânico faria legado da quinta a uma sobrinha, Vitória Maria Maynard que professava na Ordem de Santa Clara.
Localizada em Avintes, foi esta propriedade pertença da família
Vanzeller, desde 1773, mais propriamente de Pedro Vanzeller (1736/1802). No seu auge, a casa desta quinta
emanava todo o romantismo da época.
Os Vanzeller, vindos da Holanda, viviam no Porto e tinham uma vida
abastada, ligada ao comércio e à indústria.
Estavam muito ligados à freguesia de S. Nicolau, por aí terem morada,
e à confraria sedeada na igreja de S. Nicolau. Os primeiros Estatutos da
Confraria do SS. de S. Nicolau foram confirmados em Abril do ano de 1663, e
revistos no de 1683.
Entre outras disposições, prescreveu-se que o Juiz seria pessoa nobre
e que os irmãos “seriam convocados ao som
de campa tangida”.
Inscritos como Juízes ou Mordomos no Tombo da Confraria do SS. de S.
Nicolau, no âmbito da família Vanzeller, encontramos:
1º" Joam Vanzeller, desde 1697 a?;
2º Arnaldo João Vanzeller, desde 1730 a 1740;
3º Pedro Vanzeller, desde 1758 a 1759 e 1784;
4º João Vanzeller (11), desde 1767 a 1797 e 1799;
5º Arnaldo João Vanzeller (II), desde 1773 a 1774;
6º Henrique Vanzeller, desde 1779 a 1780;
7º Antonio Vanzeller, desde 1780 a 1781;
8º Luiz Vanzeller, desde 1794 a 1795;
9º Francisco Vanzeller, desde 1798 a 1799 e 1818 a 1820;
10º lgnacio Vanzeller Junior, desde 1707 a 1708;
11º Arnaldo João Vanzeller (III), desde 1808 a 1809 e 1826 a 1827;
12º Ignacio Vanzeller (II), arcediago, desde 1820 a 1821;
13º Roberto Vanzeller, desde 1835 a 1836;
14º Pedro Vanzeller (II), desde 1846 a 1847;
15º João Vanzeller (III), em 1857.
O texto que se segue narra um pouco da história da Casa de Fiães ou
Quinta de Santo Inácio.
“A casa entra para o património
da família pela morte de Vitória Maria Maynard que, por ter professado, vê-se
com Pedro van-Zeller como único descendente. Este passa a utilizar a quinta
como local de recreio no período de Abril a Novembro. Pedro van-Zeller é, na
altura, um prestigiado comerciante e proprietário no Porto, de uma família que
cedo se impõe no panorama industrial nortenho. A viagem desde o Porto era feita
por barco, demorando a chegar até à quinta mais de cinco vezes do tempo que
actualmente demora o percurso entre Porto e Avintes. A burguesia de então vinha
também visitar os van-Zeller, chegando de barco e subindo para um carro de bois
para chegar à casa após uma rampa muito acentuada. E na hora da despedida,
desengane-se quem pensar que a família acompanhava os visitantes até ao cais do
Douro: havia, para o propósito, o «banco da despedida» à saída do portão do
bosque, que evitava assim uma longa caminhada até ao rio. Subtilezas de uma
família da alta burguesia.
A fachada da casa possui várias
janelas envidraçadas no primeiro andar e, em baixo, várias portas que dão
entrada para os armazéns. Do lado direito, sobressai a capela dedicada a Santo
Inácio, onde se rezavam as missas da aldeia sempre que a família estava por lá.
De facto, o próprio padre passava a viver na quinta no período de Abril a
Novembro, evitando que os van-Zeller se deslocassem à aldeia para assistir à
missa. No centro da casa, uma dupla
escadaria vinda do primeiro andar desce até ao pátio, um terreiro ou praça
privada com três bicas de água. A poente, um bosque de carvalhos plantados
geometricamente; a nascente, um jardim francês de camélias plantadas por
Roberto van-Zeller, primeiro presidente da Sociedade Agrícola do Porto.”
Cortesia de Álvaro Cúria (2003-02-24)
No início do século XIX, Maria Isabel Vanzeller, nascida em Avintes, na Quinta de Santo Inácio, no seio de uma família inglesa, casaria com 17 anos com Pedro Vanzeller e, desde muito nova, era dada a ter preocupações no âmbito da protecção social.
Assim, em determinada fase da sua vida, perante o
estado de saúde em que viviam os portuenses, face a um surto de varíola que
se tinha instalado no Porto e conhecendo os progressos que, lá por fora, no campo da
ciência, iam acontecendo, tratou de adquirir a expensas suas, uma grande
quantidade de vacinas que, contra aquele mal, estava a ser experimentada pelo
DR. Jenner (1749-1823), que tendo descoberto a famosa vacina, em 1775, só
tornou a sua descoberta pública, em 1796, após vinte anos de experiências.
Maria Isabel Vanzeller, aplicou ela mesmo, as doses
respectivas das vacinas a quem se quis sujeitar a tal, a partir de 1805.
Já com alguns milhares de vacinas administradas, Maria Isabel
Vanzeller, à data, já viúva de Pedro Vanzeller, foi apelidada por pretensos sábios, de curandeira e conduzida ao Aljube, onde ficou detida.
Reagindo à prisão, levou o seu caso ao conhecimento da
Academia Real das Ciências, que reagiria como se impunha.
“Caiu, em face da desassombrada atitude da Academia das
Ciências, o Carmo e a Trindade.
D. Maria Isabel foi libertada e, logo a seguir, (…) recebia a benemérita senhora, a 22 de Janeiro de
1814, a medalha de oiro daquela instituição científica, o prémio de 30$000 rs
em livros e, pouco depois, o diploma de sócia correspondente do Instituto
Vacínico.”
N. S., in revista “O Tripeiro” Vª série, Ano VIII
Diga-se, a título de curiosidade que, em 1800, já teria
ocorrido no hospital da Misericórdia (Santo António) uma experiência de
vacinação que não teve sequência, em virtude dos receios de todas as partes
envolvidas.
Na Escola Médica naquele mesmo ano foi fundado o Instituto
Vacínico.
Em 27 de Abril de 1834, a Sociedade Literária tomou a seu
cargo a aplicação da vacinação, estabelecendo um posto na Escola Médica. Até
1839, foram inoculados contra a varíola 2560 indivíduos.
Ainda sobre esta terrível doença, no dia 1 de Outubro de 1902, o
governador civil recebeu ordem para tomar o Hospital do Bonfim (Goelas de Pau)
que a Misericórdia se negava a abrir e a recolher os doentes atacados com
varíola, pois reclamava o recebimento de um subsídio de 1.000$00 rs.
O hospital acabaria por reabrir no dia 8, passada uma
semana, e com o conflito, sanado.

Casa da Quinta de Fiães
Sousa Viterbo disse que Roberto Van Zeller trouxe para a casa da
Quinta de Fiães, “duas colunas de granito
que teriam pertencido à Nobre Porta da Ribeira da medieval Muralha Fernandina”.
“Sousa Vitervo, Francisco
Marques – Nasceu no Porto, a 28 de Dezembro de 1845. Morreu em Lisboa, a 29 de
Dezembro de 1910.
Dedicou-se ao jornalismo. O
mundo da imprensa já não lhe era desconhecido, pois desde os seus tempos de
seminarista, que vinha publicando a sua poesia em jornais e revistas
literárias, como O Mundo Elegante (1858-60), Mosaico (1865), Aurora (1867-68),
Grinalda (1855-69) – do Porto; o Boudoir (1863-65) – de Lisboa; A Chrysalida
(1863-64) e A Folha (1868) – de Coimbra.
Teve uma ligação forte com a
imprensa generalista da cidade do Porto, nomeadamente com o Jornal do Porto
(1859-1887); o Jornal da Manhã (1872?-1888), do qual chegou a assumir a
direcção política; o Progresso Comercial (1873); e o Comércio Português
(1876-1887).
Em Lisboa, foi redactor do
Comércio de Lisboa (1878-1880?), substituindo Luciano Cordeiro durante os meses
em que esteve no Brasil (1879), e assumiu a direcção do Jornal do Comércio
(1853-1989) enquanto Eduardo Burnay, seu director, esteve ausente em Paris
(1886).”
Cortesia de Rita Correia (2011)
Capela da Casa da Quinta de Fiães
A capela da Casa da Quinta de Fiães é dedicada a Santo Inácio de Loyola, com uma pintura a óleo deste santo,
representando o milagre da Virgem, quando lhe apareceu, e imagens de S.
Francisco Xavier.
Jardim da Quinta de Fiães –
Cortesia de Manuela Ramos
Camélias na Quinta de Fiães
Texto extraído de “portoarc.blogspot.com/” – Cortesia de Rui Cunha
“Propriedade da família Van
Zeller a partir do último quartel de setecentos, a Quinta está ligada à
história da horticultura portuense desde Francisco
Van Zeller (1774-1852), responsável pela introdução oficial, entre 1808 e
1810, das camélias no nosso país, trazidas justamente para a Quinta de Fiães,
onde ainda hoje podem ser admiradas. Além das camélias, os jardins de Fiães,
exemplarmente recriados há poucos anos aquando da abertura da Quinta ao
público, incluem roseirais e mixed-borders no jardim formal e, no jardim
romântico, uma grande colecção de azáleas e rododendros. Na transição entre o
jardim romântico e o bosque destacam-se alguns raros eucaliptos monumentais
plantados por Roberto Van Zeller
(1815-1868), entre eles um dos maiores Eucalyptus obliqua do nosso país.
Desde cedo se revelou o interesse desta família pela Natureza. Foi pelas suas
mãos, e acompanhado pelo ilustre portuense Alfredo Allen, que se organizou a primeira
feira agrícola internacional em Portugal, no ano de 1857.”
Cortesia de Rui Cunha (24 de Maio de 2013)
Eucaliptos centenários, com
mais de 45 metros de altura, plantados c. 1870 – Cortesia de Manuela Ramos.
A 10 de Junho de 2000, o Zoo Santo Inácio abriu as portas ao público.
Neste parque, vivem mais de 200 espécies de animais exóticos.
Quinta das Devesas ou Quinta do
Conde das Devesas
A Quinta das Devesas situa-se na freguesia de Santa Marinha,
na Rua Leonor de Freitas, entre os armazéns do Porto Barros.
" (...) antes de
ser retalhada pela construção da Estação do Caminho-de-Ferro, a Sul, pelo
caminho público que a atravessa de Leste para Oeste (antiga rua Nova das
Devesas; depois rua D. Leonor de Freitas) e pela construção de muitos armazéns
de Vinho do Porto voltados para a Calçada das Freiras (rua Serpa Pinto) ou para
as Azenhas, ocupava toda uma encosta suave voltada a norte e para o rio Douro e
era composta por uma extensa área com terrenos lavradios, vinha, pomares e
hortas."
Cortesia de Gonçalves Guimarães; Fonte:
gaiarevelada.blogspot.com/
Vários autores referem que, em 1601, a propriedade estava nas mãos do “abade
de Valbom, padre José Garcês”.
Pinho Leal, de acordo com parágrafo abaixo, na sua obra “Portugal
Antigo e Moderno…” dá a propriedade como pertencente, na primeira metade do
século XVIII, à família dos condes da Arrochella (entre 1738 e 1744), sendo D.
Manuel da Cruz Faria, enquanto pároco da freguesia de Santa Maria Madalena do
concelho de Provezende, oriundo, contudo, da Casa das Devezas.
O capitão Manuel de Freitas de Faria, pai de Thomazia Josefa de Faria,
na segunda metade do século XVIII, já era dado como senhor da Casa das Devezas,
propriedade, cuja mata, se estendia até ao local onde se instalaria, mais
tarde, a estação ferroviária das Devesas.
D. Thomazia casaria com Leonardo da Cunha Godinho, de cujo enlace, não
resultariam quaisquer descendentes.
Herdaria depois a propriedade, c. 1779, José de Freitas Faria, que a
deixou a sua mulher, D. Leonor Luísa
de Freitas (cujo nome seria, mais tarde, atribuído à rua que limita o Parque da
Quinta das Devesas a norte) que, por não ter filhos, a deixou a uma sobrinha,
D. Mariana Vitória Pinto (1798-1872) que se casaria, por sua vez, com António
Borges de Castro (1814-1884) que, tendo enviuvado, ficaria como único
proprietário da Casa das Devesas.
Esta última personagem, para além de ter sido presidente da Câmara de
Gaia, entre os anos de 1856 a 1857, foi também o primeiro e único visconde das
Devesas, por decreto real passado por D. Luís, no ano de 1879.
Sem descendentes, os bens do visconde das Devesas passaram para a sua
sobrinha, D. Maria da Conceição Bandeira de Castro, casada, por sua vez, com
Francisco Pereira Pinto de Lemos, a quem foi atribuído o título de conde das
Devesas por parte do rei D. Carlos, no ano de 1890.
Texto extraído da obra “Portugal Antigo e Moderno…” de Pinho Leal
Calótipo (editado) de Frederick W. Flower da Quinta das Devesas, em
meados do século XIX, presente num quadro informativo do actual Parque
municipal da Quinta das Devesas – Fonte: “gaiarevelada.blogspot.com/”
Na imagem anterior, a seta branca assinala os armazéns do Vinho do
Porto, ainda existentes, na actual Rua Serpa Pinto, enquanto a seta amarela
identifica a capela, junto do antigo solar.
Calotipo de Frederick William Flower, da Quinta das Devesas, c. de
1853, extraído do livro "Ensaio sobre as Camélias" de Nuno Gomes
Oliveira – Fonte: “gaiarevelada.blogspot.com/”
Na imagem acima, ao longe, vê-se a cidade do Porto.
À data daquela impressão fotográfica, após uma visita, em 1857, o
francês Olivier Merson, escrevia:
“…O Porto está ligado com Vila
Nova de Gaia por uma ponte suspensa; navios de todas as nações enchem o porto;
desde a base até ao cume das colinas desenham-se ruas a prumo, escadas cortadas
na rocha; o Douro desaparece num fundo obscuro; nas duas margens, rochedos
inacessíveis, à maneira de bastidores, fazem sobressair o motivo principal do
quadro, e tudo isto, visto em distância, é de um efeito majestoso. Como
decoração de teatro, como mise-en-scéne, é imponente, imenso, grandioso…”.
In O Tripeiro, Volume 3, (1/10/1912)
Ponte Pênsil D. Maria II
“Ao contrário do que se possa
pensar, os títulos "conde" e "visconde das Devesas" não têm
origens antigas e não pertenceram a uma única família. São, na verdade, títulos
concedidos pelo rei de Portugal, no século XIX, a duas diferentes famílias de
Vila Nova de Gaia, em reconhecimento dos benefícios económicos prestados à
cidade e do país. O título de visconde das Devesas foi criado por D. Luís, em
1879, a favor de António Joaquim Borges de Castro, 1.º (e único) visconde das
Devesas, nascido na Feira, em 1814 e falecido na Quinta das Devesas em 1884;
como não teve descendência, a Quinta acabou na posse da sua sobrinha D. Maria
da Conceição Bandeira de Castro e Lemos, que viria a casar com o 1.º conde das
Devesas, título criado em 1890 do rei D. Carlos. Usaram este título:
1º conde das Devesas: Francisco
Pereira Pinto de Lemos (1849-1916).
2º conde das Devesas: Alfredo
Pereira Pinto de Lemos (1875-1945).
3º conde das Devesas: Ernâni
Carlos Pereira Pinto de Castro e Lemos (1876-1965).
O 3.º conde das Devesas não teve
descendentes e legou os seus bens à Misericórdia de Gaia, com usufruto para as
cunhadas, a última das quais faleceu no solar em 1976, ficando a propriedade ao
abandono até 2012. Em 2009 veio a ser acordada entre a Misericórdia e o
Município uma solução urbanística para a quinta, que previa a entrega do solar
e da sua zona adjacente a Câmara Municipal de Gaia.
O Conde Alfredo, homem
profundamente religioso e sempre pronto a auxiliar os mais desfavorecidos,
envolveu-se no movimento iniciado no dia 27 de novembro de 1928 pelo Notário
Miguel da Silva Leal Júnior e por outros bons gaienses, para a criação da
Misericórdia de Gaia. E quando a 26 de junho de 1929 a Misericórdia foi,
oficialmente, constituída, os seus pares quiseram que fosse o Conde Alfredo a
ocupar o lugar de Provedor.
Tinha então 54 anos e, durante
mais sete, até 1936, ocupou esse cargo, tendo desenvolvido uma tarefa
extremamente valiosa, para que fosse devidamente consolidada a vida da jovem e,
então, ainda frágil instituição.
Por falecimento dos progenitores
Conde Francisco e Condessa D. Maria da Conceição, herdaram os três filhos –
Alfredo, Ernani e Jorge – em partes iguais, o património da família, de que era
a parcela mais valiosa a chamada Quinta das Devezas, também então conhecida por
Quinta do Estado, situada em Vila
Nova de Gaia, onde a família tinha o seu solar.
Esta propriedade tem a sua
entrada principal na Rua D. Leonor de Freitas, junto às instalações da firma
Barros, Almeida & C.a. – Vinhos S.A. e era constituída por uma casa
apalaçada, de dois andares, capela, anexos, jardim, estufas, pomares, hortas,
adegas, casa para gado e terras de lavradio e de vinha, com uma área de 101.500
metros quadrados.
Graças à benemerência desta magnífica
família, a referida Quinta é propriedade da Misericórdia de Gaia. Esta passagem
realizou-se de forma faseada:
Por legado em testamento do
Conde Ernani Carlos Pereira Pinto de Castro Lemos, falecido a 2 de agosto de
1965, da terça parte desta propriedade.
Por doação feita no dia 8 de
março de 1966, pelas Senhoras D. Camila Machado dos Santos Castro Lemos, viúva
do Conde Alfredo, falecida a 20 de maio de 1967, e de D. Maria Amélia Feio de
Oliveira Leite Castro Lemos, viúva de Jorge Pereira Pinto de Castro Lemos,
falecida a 14 de fevereiro de 1971, das outras duas terças partes de que eram
pertença das mesmas, deduzidas de uma parcela de 21.206 metros quadrados, que
as doadoras reservaram para si. Estas doações, segundo os termos da escritura,
foram feitas pelo facto de ambas desejarem contribuir para “os altos fins de
assistência a que se dedica a Misericórdia de Gaia”.
Na altura da morte da última das
senhoras, em 1971, a Misericórdia tornou-se proprietária da Quinta das Devezas.
Entretanto, para homenagear os
dadores, a Misericórdia construiu um magnífico lar para idosos, que foi
inaugurado no dia 4 de julho de 1992, a que deu o nome de Lar Residencial Conde
das Devezas, atualmente designado de Residências Seniores Conde das Devezas.
Fonte: “scmg.pt/historia”
No início da segunda metade do século XIX, o antigo solar foi
renovado, adquirindo o aspecto que ainda hoje mantém.
Na fotografia seguinte, é possível observar-se o aspecto que a casa
tinha antigamente.
Escadaria principal do solar da Quinta das Devesas – Cortesia
Alexandre Silva
Capela (em ruínas) do solar da Quinta das Devesas – Cortesia Alexandre
Silva
Fachada principal do solar da Quinta das Devesas – Cortesia Alexandre
Silva
Presentemente, com o antigo solar da quinta, em ruínas, os seus
jardins foram transformados no “Parque da Quinta das Devesas/Jardim das Camélias”, um equipamento
municipal, aberto ao público, onde sobressai o Jardim das Camélias. O Parque conta com 118 variedades diferentes de japoneiras,
91 das quais obtidas em Gaia e no Porto, nos séculos XIX e XX.
Painel existente no Parque da Quinta das Devesas
Entrada do Parque da Quinta das Devesas. Em primeiro plano, as
instalações da firma Barros, Almeida & C.ª
Pequeno lago com escultura na Quinta das Devesas – Cortesia de “gaiarevelada.blogspot.com/”
Lago e ponte da Quinta
das Devesas – Cortesia de “gaiarevelada.blogspot.com/”
Quinta da Costa e
solar dos Condes de Resende
Situa-se esta quinta na freguesia de Canelas, no Lugar de
Negrelos, em V. N. de Gaia e dela se diz que o solar tem raízes em 1042
(referência em Carta de Negrelos).
“Construída para
residência na época Medieval, foi comprada e adaptada em 1984 para Casa
Municipal da Cultura, pela Câmara Municipal de V. N. de Gaia depois de ter
pertencido aos Condes de Resende que deram origem à actual designação.
De realçar o jardim das
Japoneiras ou das Camélias, com exemplares centenários, e a Estátua de Eça de
Queiroz que nesta casa se enamorou de Emília de Castro Pamplona, filha dos
Condes de Resende.
Aqui funciona um
Centro de Documentação Histórica, com documentação original desde a Idade
Média, um Núcleo Museológico de Arqueologia, Arte e Antropologia e espaço de
exposições temporárias e de Congressos.
Na programação anual
destacam-se as festas do solstício de Verão e as comemorações queirosianas em
Novembro, para além de actividades quotidianas nos domínios da arqueologia,
história, antropologia cultural e património relacionadas com o Município e a
região envolvente e afinal com todo o mundo com quem a história da Casa e as
suas colecções a relacionam”.
Fonte: solaresebrasoes.blogspot.com/
Solar dos Condes de Resende
Reconstruído o solar durante a dinastia filipina, por Tomé
da Costa, ficaria conhecida por
Quinta
da Costa.
Transitaria, depois, para os viscondes de Beires e,
finalmente, para os condes de Resende, por casamento do 4º conde de Resende,
António Benedito de Castro, em 1843, com Maria Balbina Pamplona Carneiro Rangel
Veloso Barreto de Figueiroa (1819-1890).
Será a filha deste casal, Maria Emília de Castro Eça de
Queiroz (1857-1934), que casaria em 1886, com José Maria Eça de Queiroz
(1845-1900). A Quinta foi, por isso, também, conhecida como
“Quinta dos Resende”.
No solar, com três corpos, de dois pisos de planta em “Z”, o
seu primeiro piso estava preparado para as tarefas do dia-a-dia e para as
despensas. No piso superior, apresentava-se a área de habitação e aí, se
desenrolavam, também, todas as actividades de lazer.
Vista área da Quinta dos condes de Resende – Fonte: Google
O solar foi dotado de uma capela de invocação de S. Tomé,
semi-privada, pois situava-se extra-muros do edifício.
Entrada da Quinta dos Condes de Resende – Fonte: Gloogle
maps
No Verão, os condes de Resende costumavam frequentar a
quinta em Negrelos, quando demandavam a praia da Granja.
Os Condes de Resende, até 1895, tinham a sua residência principal,
no Porto, num magnífico palacete, na Quinta de Santo Ovídio, que abandonaram,
naquela data, para ser loteada toda a área e aberta a Rua de Álvares Cabral.
Quinta do Marques
Gomes ou Quinta do Montado
A Quinta de Marques Gomes, também referida como Quinta do Montado,
localiza-se na freguesia de Canidelo, no concelho de Vila Nova de Gaia.
Situada na margem esquerda do rio Douro, constitui-se numa vasta
propriedade de 36 hectares e o seu palacete, uma ampla edificação, com 37 salas
distribuídas entre o rés-do-chão e dois andares, cercado por árvores e um
jardim. No interior tem tectos lavrados e paredes ornamentadas com frescos.
O autor do projecto foi o engenheiro
António da Silva que, na transicção para o século XX, ficou ligado a projectos
icónicos encomendados por membros dos grupos mais dinâmicos da estrutura industrial
e comercial do Porto, de que se destaca o Palacete dos Andresen, na Avenida de
Montevideu e, ainda, um já desaparecido chalet, situado junto de um viaduto
ferroviário (do qual hoje só o conhecemos, apenas, por algumas fotos) e que se
localizava próximo do Largo de Cadouços.
Palacete do Marques Gomes
Depois da revolução de Abril
de 1974, o espaço albergou o Centro Popular de Canidelo e posteriormente a
CerciGaia.
A propriedade passou,
recentemente, pelas mãos de um fundo imobiliário que visava nela implantar um
projecto de arquitectura da responsabilidade do gabinete Barbosa &
Guimarães, autores, entre outros projectos, do edifício sede da Vodafone, na
Avenida da Boavista.
“A propriedade encontra-se hoje
em mãos da Espírito Santo Fundos Imobiliários (Banco Espírito Santo) que
apresentou um projeto que previa a construção de 1.100 casas ocupando uma área
de 148 mil metros quadrados. Este ambicioso projecto construtivo gerou muita
polémica, levando a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte
a chumbá-lo. Por acordo com a "Gaia Polis" e a Câmara Municipal de
Gaia, a entidade promotora acabou por aceitar uma redução em dois terços da
capacidade construtiva.
Para além disso, prevê-se
preservar 100 mil metros quadrados de espaço verde que, cedidos à autarquia,
irão permitir a criação do Parque Urbano do Vale de São Paio.”
Fonte: “pt.wikipedia.org/”
Há cerca de um ano, a propriedade foi comprada pela United Investments
Portugal, que ali pretende realizar um investimento de cerca de 200 milhões de
euros, a concretizar em várias fases nos próximos "cinco e sete
anos", num projecto que inclui um "boutique hotel com uma marca
internacional" e também uma "forte componente residencial".
Palacete do Marques Gomes - Cortesia de “ruinarte.blogspot.com/”
Manuel Marques Gomes (Canidelo, 15 de Novembro de 1867 — Canidelo, 18
de Janeiro de 1932) foi um homem de negócios e benemérito.
Filho de pescadores, nasceu pobre, tendo vivido os primeiros anos da
sua vida com grandes dificuldades. Teve, no entanto, a sorte de ter despertado
a atenção de uma senhora de posses que o retirou da rua e lhe deu educação. Em
1885, com dezoito anos, partiu para o Brasil.
No Pará, ingressou na firma comercial Nunes & Almeida Ld.ª que, em
pouco tempo, se iria transformar em Marques Gomes & C.ª.
Importava aguardente, café e açúcar por grosso.
Conheceu, então, Rosalina dos Santos, brasileira com pais portugueses
da Figueira da Foz, com quem se casou. Graças também à fortuna da família da
mulher, os negócios de Marques Gomes foram crescendo, criando com outros sócios
a Empresa de Navegação do Grão-Pará.
Problemas de saúde acabaram por ditar o seu regresso a Portugal, em
1890. Apesar da fortuna acumulada, Manuel Marques Gomes continua a actividade
mercantil, na firma exportadora de vinhos Bento Cunha & C.ª, em Matosinhos.
Pai de treze filhos, adquiriu a Quinta do Montado — hoje mais
conhecida como Quinta de Marques Gomes —, na Alumiara, Canidelo, Vila Nova de
Gaia, começando a construção de um palacete. À volta do seu palacete mandou
plantar uma frondosa floresta, com árvores únicas na região, importadas do
Brasil. Na sua quinta, ergueu também uma fábrica de conserva do peixe.
Investiu, ainda, em fábricas de cerâmica e em armazéns de vinhos do Porto.
Na sua terra natal, apoiou obras paroquiais, financiou o prolongamento
da rede eléctrica até à freguesia, construiu o Apeadeiro de Coimbrões, uma escola
primária (já demolida), o campo de futebol do Sport Clube de Canidelo, diversas
ruas e estradas, etc. Foi, também, financiador do Clube Euterpe.
Faleceu em 1932, com 65 anos de idade, tendo os seus treze filhos se
envolvido em disputas quanto à herança.
Abandonada, por isso, a propriedade e o palacete, há muitos anos, a
ruína deste levou, a que nos últimos anos, o associem a uma lista de lugares
assombrados na região, tendo a vegetação tomado conta do edifício que,
entretanto, foi pilhado e incendiado.
Na obra literária “Histórias de um Portugal Assombrado”, Vanessa
Fidalgo, faz o seguinte relato:
«”Saiam daqui, vão-se embora!” –
vociferou uma voz metálica e grotesca assim que os elementos da equipa de
investigação de fenómenos paranormais Team Anormal passaram um registo de EVP
pelo software de limpeza de ruídos. A gravação fora feita poucas horas antes, no
interior do Palacete de Marques Gomes, uma antiga mansão abandonada e prostrada
aos pés do rio Douro, na margem de Vila Nova de Gaia [...] era a prova de que
“as almas do outro mundo existem e andam por aí!”»
Entrada da Quinta do Montado – Cortesia de “timeout.pt/”