Tricentenário da morte de Camões
As
celebrações do 10 de Junho sobreviveram a três regimes políticos. Quase que
poderemos dizer quatro, já que esta data — muito acarinhada pelos republicanos
— foi evocada pela primeira vez em 1880, no reinado de D. Luís.
Em 10 de Junho de 1880, comemorou-se o Tricentenário da Morte de Camões, em grande parte, devido à iniciativa de Teófilo Braga.
Além do cortejo cívico promovido pela comissão de imprensa que organizou os festejos do tricentenário e para o qual Ramalho Ortigão redigiu o programa que representava o povo e as suas sucessivas conquistas de liberdade, merece também destaque, a entronização de Camões no Panteão dos Jerónimos.
Camões torna-se numa arma ideológica dos republicanos contra o regime e a sua obra-prima, os Lusíadas, transformou-se, então, num poderoso elemento de identificação nacional, contribuindo para um certo sentimento de solidariedade nacional.
Em 10 de Janeiro de 1875, no reinado de D. Luís, fundara-se o Partido Socialista Português (Partido Operário Socialista), figurando entre os seus fundadores nomes como os de José Fontana, Azedo Gneco e Antero de Quental. Aquele partido surgiria na sequência das decisões do Congresso de Haia da AIT - Associação Internacional de Trabalhadores.
Em 25 de Março de 1876, seria legalmente criado, com consentimento do rei D. Luís, o Partido Republicano.
Em 7 de Setembro de 1876, em consequência do Pacto da Granja (S. Félix da Marinha – V. N. de Gaia), fundir-se-iam nessa reunião política, o Partido Reformista e o Partido Histórico que, desde 1871, encabeçavam a oposição ao governo regenerador de Fontes Pereira de Melo, acabando por ser formado o novo Partido Progressista, sob a liderança de Anselmo José Braamcamp.
Em 1878, nas eleições de Outubro, o Partido Republicano apresentou-se pela primeira vez ao eleitorado, conseguindo eleger o deputado Rodrigues de Freitas, pelo círculo do Porto.
É neste contexto político que, em 1880, se realizam as comemorações do Tricentenário da Morte de Camões, com a presença de republicanos ilustres na comissão organizadora da qual se destaca J. C. Rodrigues da Costa, Eduardo Coelho, Sebastião de Magalhães Lima, Teófilo Braga, Ramalho Ortigão, Jaime Batalha Reis, Luciano Cordeiro, Rodrigo Afonso Pequito e com o envolvimento do Partido Republicano, verificou-se uma aderência significativa do povo, às teses daqueles republicanos.
D. Luís I e o Partido Progressista, no poder, afastaram-se das comemorações, constituindo a trasladação dos restos mortais de Camões e de Vasco da Gama para os Jerónimos, o seu momento mais alto.
Em 10 de Junho de 1880, comemorou-se o Tricentenário da Morte de Camões, em grande parte, devido à iniciativa de Teófilo Braga.
Além do cortejo cívico promovido pela comissão de imprensa que organizou os festejos do tricentenário e para o qual Ramalho Ortigão redigiu o programa que representava o povo e as suas sucessivas conquistas de liberdade, merece também destaque, a entronização de Camões no Panteão dos Jerónimos.
Camões torna-se numa arma ideológica dos republicanos contra o regime e a sua obra-prima, os Lusíadas, transformou-se, então, num poderoso elemento de identificação nacional, contribuindo para um certo sentimento de solidariedade nacional.
Em 10 de Janeiro de 1875, no reinado de D. Luís, fundara-se o Partido Socialista Português (Partido Operário Socialista), figurando entre os seus fundadores nomes como os de José Fontana, Azedo Gneco e Antero de Quental. Aquele partido surgiria na sequência das decisões do Congresso de Haia da AIT - Associação Internacional de Trabalhadores.
Em 25 de Março de 1876, seria legalmente criado, com consentimento do rei D. Luís, o Partido Republicano.
Em 7 de Setembro de 1876, em consequência do Pacto da Granja (S. Félix da Marinha – V. N. de Gaia), fundir-se-iam nessa reunião política, o Partido Reformista e o Partido Histórico que, desde 1871, encabeçavam a oposição ao governo regenerador de Fontes Pereira de Melo, acabando por ser formado o novo Partido Progressista, sob a liderança de Anselmo José Braamcamp.
Em 1878, nas eleições de Outubro, o Partido Republicano apresentou-se pela primeira vez ao eleitorado, conseguindo eleger o deputado Rodrigues de Freitas, pelo círculo do Porto.
É neste contexto político que, em 1880, se realizam as comemorações do Tricentenário da Morte de Camões, com a presença de republicanos ilustres na comissão organizadora da qual se destaca J. C. Rodrigues da Costa, Eduardo Coelho, Sebastião de Magalhães Lima, Teófilo Braga, Ramalho Ortigão, Jaime Batalha Reis, Luciano Cordeiro, Rodrigo Afonso Pequito e com o envolvimento do Partido Republicano, verificou-se uma aderência significativa do povo, às teses daqueles republicanos.
D. Luís I e o Partido Progressista, no poder, afastaram-se das comemorações, constituindo a trasladação dos restos mortais de Camões e de Vasco da Gama para os Jerónimos, o seu momento mais alto.
Gravura de
sátira na qual Camões agradece a ausência dos poderes instalados, o que acabaria
por dar mais brilho à presença dos republicanos
O visconde de Samodães seria o Presidente da Comissão Organizadora e Augusto Luso, o responsável pela parte cultural.
In “Jornal da Manhã”, 10 Mar.1880, p. 3
In “Jornal da Manhã”, 13 Mar.1880, p. 2
Augusto Luso da Silva (Porto, 22 de Fevereiro de 1827 —
Porto, 13 de Maio de 1902), mais conhecido por Augusto Luso, foi um professor
do Liceu do Porto, na Rua de S. Bento da Vitória, onde ensinava geografia e o
autor de diversos compêndios, adoptados oficialmente, para o ensino daquela
disciplina. Foi Comissário da Instrução Pública e Inspector das Escolas.
Era também poeta e um reputado naturalista, especializado em moluscos, possuindo neste âmbito uma importante colecção, cujo catálogo ainda existe, acompanhado pela descrição das espécies, revista por Augusto Nobre.
Foi colaborador de diversos periódicos, entre os quais “O Primeiro de Janeiro” e “O Ensino” escrevendo, principalmente, sobre matérias relacionadas com a educação. Publicou poesia nos periódicos “Lira da Mocidade” e “Grinalda”, este último dirigido por J. M. Nogueira Lima.
«Vivia na Rua do Bonjardim
e era apaixonado coleccionador de espécimes zoológicos e botânicos, de
numismática, cerâmica e curiosidades, de que facultava o exame sempre que lho
pediam. Tinha um irmão Henrique Luso, que faleceu em 1862, com 30 anos;
desenhava caricaturas satíricas legendadas pelo irmão. No carnaval de 1859
puseram em circulação uma série de litografias satíricas “As 7 maravilhas do
Mundo. 1859” O povo dizia: “É cousa dos Lusos...” Numa das litografias a nº 5 é
questão do “Porto limpo de dinheiro”.
Professor e poeta portuense, tendo conseguido, no Mosteiro da Batalha, a abertura do mausoléu de D. João II, atreve-se a arrancar do peito um pedaço de carne (!) para o seu museu particular. Testemunharam ao acto os drs. Joaquim Guilherme Gomes Coelho e Elísio Cardoso de Carvalho e Eugénio Fernandes da Silva. O referido museu encontrava-se à Rua de Bonjardim nº 612, onde também havia alguns cabelos do Marquês de Pombal subtraídos quando da trasladação para Lisboa”.
Fonte: “ruasdoporto.blogspot.com/” (curiosidades sobre Augusto Luso)
Alberto Pimentel faz também uma referência ao Museu Luso,
sedeado na Rua do Bonjardim.
Era também poeta e um reputado naturalista, especializado em moluscos, possuindo neste âmbito uma importante colecção, cujo catálogo ainda existe, acompanhado pela descrição das espécies, revista por Augusto Nobre.
Foi colaborador de diversos periódicos, entre os quais “O Primeiro de Janeiro” e “O Ensino” escrevendo, principalmente, sobre matérias relacionadas com a educação. Publicou poesia nos periódicos “Lira da Mocidade” e “Grinalda”, este último dirigido por J. M. Nogueira Lima.
Professor e poeta portuense, tendo conseguido, no Mosteiro da Batalha, a abertura do mausoléu de D. João II, atreve-se a arrancar do peito um pedaço de carne (!) para o seu museu particular. Testemunharam ao acto os drs. Joaquim Guilherme Gomes Coelho e Elísio Cardoso de Carvalho e Eugénio Fernandes da Silva. O referido museu encontrava-se à Rua de Bonjardim nº 612, onde também havia alguns cabelos do Marquês de Pombal subtraídos quando da trasladação para Lisboa”.
Fonte: “ruasdoporto.blogspot.com/” (curiosidades sobre Augusto Luso)
Alberto Pimentel, In “Guia do Viajante na cidade do Porto e
seus arrabaldes” (1877)
Sobre a abertura dos festejos do tricentenário da morte de Camões, o artigo seguinte do “Diário Illustrado”, de Lisboa, é elucidativo.
Crónicas do
correspondente no Porto do “Diário Illustrado”, de Lisboa, em 12 de Junho de
1880
Salão Árabe
do Palácio da Bolsa – Fonte: “ncultura.pt/”
Seria, então, criado um busto monumental de Camões, esculpido em apenas 4 dias, da autoria de Soares dos Reis, com a colaboração de Marques de Guimarães, que era ainda aluno da Academia Portuense de Belas Artes.
Camões – Obra de Soares dos Reis
Aquele músico seria um dos fundadores da Sociedade de Quartetos e da Sociedade de Música de Câmara, de cuja fusão nasceria o Orpheon Portuense.
Augusto Marques Pinto faleceria aos 50 anos, em 1888, na sua residência na Rua das Liceiras.
Após o seu funeral, à noite, durante a festa artística ao actor Firmino, que decorreria no Teatro Baquet, aconteceu o incêndio e a tragédia naquele teatro, que enlutaria a cidade.
Quem também ficaria ligado à memória de Camões, seria o negociante de secos e molhados, José Gomes Monteiro (Porto, 2 de Março de 1807; Porto, 12 de Julho de 1879) que, na década de 1830, de parceria com José Barreto Feio, financiou a edição das obras de Camões e, ainda, as de Gil Vicente.
Aliás, José Gomes Monteiro, que esteve exilado na sequência das lutas entre D. Miguel e D. Pedro, foi também grande amigo de Almeida Garrett, a quem ajudou durante o exílio do poeta.
De volta ao Porto, após o triunfo dos liberais, José Gomes Monteiro acabou por exercer, durante vários anos, o cargo de Recebedor da Fazenda do 2º Distrito Fiscal do Porto.
José Gomes Monteiro foi um erudito e tradutor admirável, de que se destaca, neste capítulo, entre muitas outras, a obra “Ecos da Lira Teutónica”, tendo sido, ainda, gerente da Livraria Moré, a partir de um momento em que ela se encontrava num estado um pouco decadente e que, com a sua tenacidade, passou a ser uma das livrarias mais notáveis do País. Muitos escritores, em começo de carreira, tiveram uma ajuda preciosa de José Gomes Monteiro.
Voltando a Camões, um ano antes do golpe que instituiu a ditadura militar em 1926, a I República declarou que a “Festa de Portugal se celebrará no dia 10 de Junho de cada ano”.
Algumas décadas depois, em 1952, aquele dia passaria a ser o “Dia de Portugal”.
Em 1977, com Ramalho Eanes, passaria aquela data para “Dia de Camões e das Comunidades Portuguesas” e, em 1978, a “Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas”.
O retrato de Camões, por Fernão Gomes, em cópia de Luís de Resende
No Porto, durante as comemorações foi descerrado um busto do poeta, no início da Avenida Brasil, na Foz do Douro, da autoria de Irene Vilar.
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