Centenário do Nascimento de Alexandre Herculano
Alexandre
Herculano de Carvalho e Araújo nasceu em Lisboa, a 28 de Março de 1810.
Activista político, escritor, jornalista, polemista e historiador, é principalmente como romancista que Alexandre Herculano é mais reconhecido, partilhando com Garrett a génese do romantismo português.
Até aos 15 anos, frequentou o Colégio dos Padres da Congregação do Oratório de São Filipe de Néri, instalados no Convento das Necessidades em Lisboa. Entre 1830 e 1831, frequentou a aula de Diplomática na Torre do Tombo.
A sua actividade política, de defensor das ideias liberais, leva-o para fora de Portugal.
A obra que lhe dá mais fama é a sua História de Portugal, cujo primeiro volume é publicado em 1846.
A Academia das Ciências de Lisboa nomeou-o seu sócio efectivo em 1852, e encarregou-o do projecto de recolha dos Portugaliae Monumenta Historica, projecto que realiza em 1853 e 1854.
Em 6 de Junho do 1853, saiu de Lisboa, e percorrendo o norte do país, recolhe enorme porção de documentos de todos os arquivos eclesiásticos e seculares.
Activista político, escritor, jornalista, polemista e historiador, é principalmente como romancista que Alexandre Herculano é mais reconhecido, partilhando com Garrett a génese do romantismo português.
Até aos 15 anos, frequentou o Colégio dos Padres da Congregação do Oratório de São Filipe de Néri, instalados no Convento das Necessidades em Lisboa. Entre 1830 e 1831, frequentou a aula de Diplomática na Torre do Tombo.
A sua actividade política, de defensor das ideias liberais, leva-o para fora de Portugal.
A obra que lhe dá mais fama é a sua História de Portugal, cujo primeiro volume é publicado em 1846.
A Academia das Ciências de Lisboa nomeou-o seu sócio efectivo em 1852, e encarregou-o do projecto de recolha dos Portugaliae Monumenta Historica, projecto que realiza em 1853 e 1854.
Em 6 de Junho do 1853, saiu de Lisboa, e percorrendo o norte do país, recolhe enorme porção de documentos de todos os arquivos eclesiásticos e seculares.
Armário/Estante
que pertenceu a A. Herculano, à guarda na Torre do Tombo
Em 9 de Abril de 1910, ocorre uma conferência sobre Herculano e a sua obra, no Centro Comercial, protagonizada pelo Dr. Manuel Monteiro.
É o Jornal “A Pátria” que, na sua edição de 3ª Feira, 26 de Abril de 1910, nos dá conta do acontecido durante os festejos do centenário do nascimento de Alexandre Herculano.
Assim, é-nos narrado que “…no Domingo, grandioso cortejo em honra de Herculano com cerca de 20 mil pessoas, quase 200 bandeiras e estandartes e muitas bandas de música, além das autoridades, do Palácio à Biblioteca Municipal, onde foi inaugurado o oferecido busto em bronze, com discursos. Houve sessões no Liceu da Trindade, na Sociedade de Instrução e Recreio Verdi, à Boavista, nas escolas feminina e masculina de Aldoar, onde foram descerrados retratos. À noite, como na véspera, festejos populares na praça D. Pedro, com iluminações e concertos pelas bandas regimentais”.
Cortejo
durante Centenário do Nascimento de Alexandre Herculano, em 1910 – Ed. Aurélio
da Paz dos Reis; Fonte: CPF
Marcos Guedes foi durante anos redactor do jornal “O
Primeiro de Janeiro” tendo, em 18 de Setembro de 1919, abandonado aquelas
funções e a sua carreira na imprensa, para se dedicar, exclusivamente, à
administração da "Tipografia Empresa Guedes", que fundara em 1902 (Rua Formosa
242-248), onde foram impressas algumas séries da revista “O Tripeiro”.
De notar
ainda na foto que, em 1910, se observa no sentido ascendente da Rua de Santo
António, a fachada do Bazar de Paris (que foi de Júlio Fassini), que ostenta a
indicação de Bazar Mattos, a Sapataria Portuense e, bem na esquina, a Tabacaria
Africana.
Perspectiva
idêntica à da foto anterior, em 1940
Cortejo de
homenagem a Alexandre Herculano terminando em frente à Biblioteca Municipal, ao
Jardim de S. Lázaro, Maio de 1910
Cortejo de
homenagem a Alexandre Herculano terminando em frente à Biblioteca Municipal, ao
Jardim de S. Lázaro
Após a vitória dos liberais e do levantamento, em sequência, do cerco de que a cidade tinha sido alvo, entre 1832-1834, Alexandre Herculano foi nomeado como 2º bibliotecário, na então recém-criada Biblioteca Pública Municipal do Porto.
Em 30 de
Dezembro de 1833, por o Prefeito do Douro e a Comissão Municipal entenderem que
a Biblioteca Pública – provisoriamente instalada no Hospício de Santo António
de Vale da Piedade, à Cordoaria, e no Paço Episcopal – necessitava de um
edifício mais espaçoso, é mandado examinar, para esse efeito, o «abandonado
Convento de Santo António da Cidade», por uma Comissão constituída pelo 1º
Bibliotecário, Diogo de Góis Lara de Andrade, pelo Arquitecto da Cidade,
Joaquim da Costa Lima Sampaio e pelo 2º Bibliotecário, Alexandre Herculano.
Em 1842, é definitivamente instalada no edifício do Convento a Real Biblioteca Pública do Porto e inaugurada, em 4 de Abril, dia do aniversário da Rainha D. Maria II.
Em 1842, é definitivamente instalada no edifício do Convento a Real Biblioteca Pública do Porto e inaugurada, em 4 de Abril, dia do aniversário da Rainha D. Maria II.
Primeiras
instalações da Biblioteca Pública Municipal do Porto (Cordoaria) onde, nos
nossos dias, está a extremidade a sul do Palácio da Justiça
Os novos decisores reclamam de Alexandre Herculano, a sua colagem aos novos ares.
Assim, é emitida a seguinte directiva a Alexandre Herculano:
A resposta de
Alexandre Herculano não se fez esperar:
“«Ilm.º Sr. - Persuadido pela voz da íntima
consciência de que não devo prestar o juramento para que V. S.ª me convida no
seu oficio de hoje, julguei também que cumpria comunicar-lhe imediatamente a
minha resolução.
A fé que prometi guardar à Carta Constitucional da Monarquia, selei-a com as misérias do desterro, e com os padecimentos e perigos de soldado, os quais passei na emancipação da pátria: para a conservação de um cargo público eu não sacrificarei, por tanto, nem a religião do juramento, nem o orgulho que me inspiram as minhas ações passadas.
Pode assim V. S.ª declarar a essa Ilm.ª Camara que o meu lugar de 2º Bibliotecario está vago, para que ela proponha ao governo atual outra qualquer pessoa, que por certo, melhor do que eu, desempenhará as obrigações a ele anexas. Deus guarde a V. S.ª Porto 17 de Setembro de 1836. - Illm.º Sr. Manoel Pereira Guimarães. = Alexandre Herculano de Carvalho.»
A fé que prometi guardar à Carta Constitucional da Monarquia, selei-a com as misérias do desterro, e com os padecimentos e perigos de soldado, os quais passei na emancipação da pátria: para a conservação de um cargo público eu não sacrificarei, por tanto, nem a religião do juramento, nem o orgulho que me inspiram as minhas ações passadas.
Pode assim V. S.ª declarar a essa Ilm.ª Camara que o meu lugar de 2º Bibliotecario está vago, para que ela proponha ao governo atual outra qualquer pessoa, que por certo, melhor do que eu, desempenhará as obrigações a ele anexas. Deus guarde a V. S.ª Porto 17 de Setembro de 1836. - Illm.º Sr. Manoel Pereira Guimarães. = Alexandre Herculano de Carvalho.»
Passado cerca
de um mês, Alexandre Herculano insistia junto do todo poderoso Manuel da Silva
Passos (Passos Manuel):
Exmo.º Sr. Manuel da Silva Passos.
Há um mês que o 1.º Bibliotecário da Biblioteca Pública desta cidade e eu fomos convocados para prestar juramento à Constituição de 1822, que então e hoje, de futuro alterada, felizmente nos regia e rege. Ambos recusamos praticar este ato: procedimento a que, pela minha parte, me levaram as razões que V. Ex.ª verá da resposta que dei, e que remeto inclusa. Foi logo demitido o meu colega, e eu ainda aqui estou esquecido. Não atribuo isto a falta de equidade de V. Ex.ª, porque reconheço a retidão da sua alma e que nem ódio nem afeição seriam capazes de torcer os principios de V. Ex.ª, antes o lanço à conta dos muitos cuidados e negócio que cercam V. Ex.ª no alto cargo em que o colocou o voto unânime da nação e a livre escolha de S. M. a Rainha. Só da minha insignificância me dôo, que fez não ser eu lembrado de V. Ex., que a tantos com mão profusa tem liberalisado a honra da demissão.
Não creia V. Ex.ª, que por este modo a peço: porque nem uma demissão pediria ao governo atual: esta minha carta é apenas um memorandum que levo à presença de V. Ex.ª, como se eu fosse alheio ao caso; porém não indiferente à boa fama e glória de V. Ex.ª.
A Providência não se esqueça de V. Ex.ª nem de nós, como todos precisamos para que Portugal seja salvo.
Porto 19 de Outubro de 1836. = Alexandre Herculano de
Carvalho e Araújo.»
Voltando às
comemorações do centenário, na 2ª Feira (23 de Abril de 1910), véspera do
cortejo atrás referido, tinham-se iniciado as festas académicas do 1.º Centenário do Nascimento de
Alexandre Herculano, no Teatro Príncipe Real, durante as cerimónias que aí
tiveram lugar, os presentes assistiriam a uma espantosa oração do grande orador
Alexandre Braga.
Em 28 de Abril de 1910, é colocado à venda um folheto (número único) de homenagem a Herculano, pela Comissão de Festas do Centenário, com colaboração de António Carneiro, Abel Salazar, Cristiano de Carvalho, Guerra Junqueiro e algumas outras personalidades em destaque naqueles tempos.
Naquele folheto, comemorativo do primeiro centenário do escritor, Guerra Junqueiro usa o seu proverbial talento retórico para descrever, num texto hoje esquecido, o que a historiografia nacional devia a Herculano:
«A História de Portugal era um enorme palácio
desmantelado, com as janelas trancadas, as paredes fendidas pelos raios (…), e
onde ninguém ousara penetrar com medo que desabassem aquelas podres escadarias
monumentais, que contavam já setecentos anos de existência. Inspirava terror.
Andavam lá dentro lobisomens, aparições lúgubres, fantasmas com sudários (…).
(…) Foi então que apareceu um homem extraordinário – Alexandre Herculano -, que abriu a porta desse pardieiro monumental, que andou lá dentro durante vinte anos consecutivos a levantar as escadas, a limpar os móveis, a abrir as gavetas, a consultar os livros, a erguer as paredes, os tectos, as colunas, e que, depois de um trabalho incalculável, sobre-humano (…), veio à rua dizer com simplicidade aos transeuntes estupefactos: “Podem entrar.”»
O 2º
Centenário do nascimento de Alexandre Herculano, ocorrido em 2010, em plena
actualidade, passaria praticamente ao lado das nossas vidas. Sinais dos tempos!
“Comemora-se amanhã o bicentenário do nascimento de
Alexandre Herculano. Ou, mais exactamente, comemorar-se-ia, se o país que o
sepultou nos Jerónimos, ao lado de Camões, não tivesse esquecido o homem que
elevou a historiografia portuguesa a disciplina científica e que foi visto, por
sucessivas gerações, como uma reserva moral da nação”.
Luís Miguel Queirós, In jornal “Público”, 27-03-2010
Em volta das
comemorações do 2º Centenário do Nascimento
de A. Herculano, no que diz respeito à cidade do Porto, destaca-se uma
sessão evocativa promovida pela Cooperativa Árvore e pelo editor José da Cruz
Santos que incluiu uma intervenção de Guilherme de Oliveira Martins, uma
leitura de poemas pelo actor António Durães e o lançamento do álbum “Cinco
Retratos para Herculano”.
Há um mês que o 1.º Bibliotecário da Biblioteca Pública desta cidade e eu fomos convocados para prestar juramento à Constituição de 1822, que então e hoje, de futuro alterada, felizmente nos regia e rege. Ambos recusamos praticar este ato: procedimento a que, pela minha parte, me levaram as razões que V. Ex.ª verá da resposta que dei, e que remeto inclusa. Foi logo demitido o meu colega, e eu ainda aqui estou esquecido. Não atribuo isto a falta de equidade de V. Ex.ª, porque reconheço a retidão da sua alma e que nem ódio nem afeição seriam capazes de torcer os principios de V. Ex.ª, antes o lanço à conta dos muitos cuidados e negócio que cercam V. Ex.ª no alto cargo em que o colocou o voto unânime da nação e a livre escolha de S. M. a Rainha. Só da minha insignificância me dôo, que fez não ser eu lembrado de V. Ex., que a tantos com mão profusa tem liberalisado a honra da demissão.
Não creia V. Ex.ª, que por este modo a peço: porque nem uma demissão pediria ao governo atual: esta minha carta é apenas um memorandum que levo à presença de V. Ex.ª, como se eu fosse alheio ao caso; porém não indiferente à boa fama e glória de V. Ex.ª.
A Providência não se esqueça de V. Ex.ª nem de nós, como todos precisamos para que Portugal seja salvo.
Em 28 de Abril de 1910, é colocado à venda um folheto (número único) de homenagem a Herculano, pela Comissão de Festas do Centenário, com colaboração de António Carneiro, Abel Salazar, Cristiano de Carvalho, Guerra Junqueiro e algumas outras personalidades em destaque naqueles tempos.
Naquele folheto, comemorativo do primeiro centenário do escritor, Guerra Junqueiro usa o seu proverbial talento retórico para descrever, num texto hoje esquecido, o que a historiografia nacional devia a Herculano:
(…) Foi então que apareceu um homem extraordinário – Alexandre Herculano -, que abriu a porta desse pardieiro monumental, que andou lá dentro durante vinte anos consecutivos a levantar as escadas, a limpar os móveis, a abrir as gavetas, a consultar os livros, a erguer as paredes, os tectos, as colunas, e que, depois de um trabalho incalculável, sobre-humano (…), veio à rua dizer com simplicidade aos transeuntes estupefactos: “Podem entrar.”»
Luís Miguel Queirós, In jornal “Público”, 27-03-2010
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