O Porto teve várias estradas de saída da cidade que faziam
ligações a vários destinos do norte do País.
Assim, saía-se para Campanhã pela Porta da Batalha em direcção ao Arrabalde (S. Lázaro) palmilhando
Entreparedes.
Porta da Batalha – Desenho de Gouvêa Portuense
Tomava-se o Caminho do Padrão de Campanhã (Reimão, Heroísmo,
Freixo), passava-se pelo Sítio do Reguinho, Cruzeiro do Senhor de Campanhã e
pela aldeia da Formiga, e alcançava-se Campanhã
e, mais à frente, Gondomar.
Pela Porta da Batalha,
também se encetava a viagem para Trás-os-Montes,
entrando na Rua Direita (Santo Ildefonso), avançando pelos Sítios do Campinho e
do Pocinho, Largo de Santo André (Poveiros), Largo do Padrão das Almas
(Padrão), Mijavelhas (Poço das Patas, Campo 24 de Agosto), Monte do Bonfim, S.
Roque, Rio Tinto, Valongo, Paredes, Penafiel e, por aí, fora.
Pela Porta de Carros,
vencida a Rua do Bonjardim, até ao Bairro Alto (Gonçalo Cristovão), a ligação
ao Largo da Aguardente era feita pela rua com o mesmo nome desse largo.
À direita, esteve a Porta de Carros. A Rua do Bonjardim
tinha o seu começo, pela esquerda, junto da igreja dos Congregados
Enveredando pela Rua do Lindo Vale (antiga Estrada Velha)
até próximo, do que, mais tarde, seria a Rua do Cunha, passar-se-ia pelo Lugar
de Aval e com uma contínua inflecção, chegaríamos ao Largo da Cruz das
Regateiras (Hospital do Conde de Ferreira), seguindo-se depois as aldeias das
Barrocas e Patusca, Sítio da Areosa, Lugar de Ermesinde (freguesia de S.
Lourenço de Asnes do Concelho de Valongo) e com o destino a Santo Tirso e Guimarães.
A decisão da construção da estrada para Guimarães foi tomada
em 1789, tendo para esse efeito sido José Champalimaud de Nussane, director das
Obras Públicas da cidade do Porto, deslocado para executar essa tarefa, quando
procedia ao levantamento do cais da Mosqueira ou cais das Pedras, junto da
capela do Corpo Santo de Massarelos.
Pela Porta do Olival
o primeiro ponto de passagem era a Praça dos Ferradores (Praça Carlos Alberto).
Porta do Olival – Desenho de Gouvêa Portuense
Depois, podíamos seguir a Travessa dos Ferradores (Rua das
Oliveiras) e alcançar a Rua Direita de Santo Ovídio (Sovela, 16 de Maio,
Mártires da Liberdade), para chegarmos ao Campo de Santo Ovídio (Campo da
Regeneração, Praça da República).
Com Braga como
destino, seria percorrido um troço da “Via
Romana do Itinerário de Antonino” (entre a cidade de Olisipo, actual
Lisboa, à capital da região da Callaecia, a cidade de Bracara Augusta, actual
Braga, passando por Portuscale, actualmente, o Porto) e ultrapassado o Campo de
Santo Ovídio, seguir-se-ia a Lapa e a Capela do Senhor do Socorro, a Rua da
Rainha (Rua Antero Quental), o Lugar do Sério (50 metros após o cruzamento com
a Rua da Constituição).
Depois, apareceria no horizonte a Arca d’Água, S. Mamede de
Infesta, Ponte da Pedra, sobre o Rio Leça e, finalmente, a Maia e mais alguns
quilómetros ainda pela frente até chegar a Braga.
Entre a Arca d’Água e S. Mamede de Infesta, a partir de
1786, data da sua inauguração, passava-se pela capela de Santo António do
Telheiro.
Seguia-se a milenar Ponte da Pedra cuja construção remonta ao
século II d.C. e, embora, no decorrer dos séculos, tenha sofrido diversas
reparações e reconstruções, ainda são visíveis, na sua parte inferior, diversas
“pedras almofadadas” características da arquitectura romana.
Pela Porta Nobre e Miragaia, seguindo pela Rua de
Sobre-o-Douro, desde de tempos bem distantes, saíam duas estradas, a «Karraria Antíqua» e a «Via Veteris».
Mais tarde, nos primórdios do século XVI, surgiria a «Estrada dos Nove Irmãos», que
aproveitaria o trajecto da “Via Veteris” até Modivas e passaria a servir-se, no
seu início, da Rua de Cedofeita, após este arruamento ter sido aberto, c. 1800.
Então, chegados ao Largo
dos Ferradores, vindos da Porta do Olival, seguiríamos pela Rua da Estrada
(Rua de Cedofeita), subíamos à Ramada Alta e, daí, depois, pela Rua da Falperra
(Rua 9 de Julho) e Largo do Carvalhido,
podíamos:
ir à Aldeia de Francos e deambulando por Ramalde do Meio,
passar ao Lugar do Moinho e seguir pelo Viso até alcançarmos a Senhora da Hora
e, mais à frente, o Cruzeiro de Santiago
de Custóias (próximo da igreja no Largo do Souto);
ou chegar ao Cruzeiro
do Padrão da Légua depois de passar por Monte do Burgos e percorrer a Rua
de Recarei.
Os dois cruzeiros, atrás referidos, eram pontos importantes
para os viajantes.
Padrão da Légua, actualmente. Cruzeiro na confluência da Rua
de Recarei com a Rua do Senhor – Ed. Manuela Campos
Algum tempo depois, o acesso ao Carvalhido era feito pela actual Rua de Oliveira Monteiro que, à época (1868), começaria a ser aberta e denominada Estrada da Boavista ao Carvalhido.
Por outro lado, há quem entenda que o topónimo Monte dos
Burgos estará ligado a uma pequena posição fortificada ou torre de vigia,
denominada de Burgus, que geralmente controlava uma rota principal e que se
tornou uma realidade no período posterior do Império Romano e, particularmente,
nas províncias germânicas. Por cá, há boas hipóteses de ter havido uma
intervenção dos Suevos, muito ligados ao desabrochar da cidade do Porto.
Como os terrenos a que se refere o topónimo, em causa,
integravam o velho caminho entre Calle (Gaia)/Porto e Braga, do Itinerário de
Antonino, parece ser esta uma boa hipótese para o topónimo em apreço.
In "Jornal do Porto", em 12 de Abril de 1891
Via Veteris (Estrada
Velha)
A "Via Veteris", ou seja, "Estrada
Velha" era uma antiga estrada de origem romana que ligava o Porto a Vila
do Conde.
Durante o reinado D. Afonso III (1210-1279), em meados do
século XIII, passaria a ser conhecida como Via Veteris (Estrada Velha).
Primitivamente tinha o seu início junto ao rio Douro, percorreria
a Rua de Sobre-o-Douro e pela zona da Arrábida, entre o Couto de Lordelo e
Cedofeita, alcançava, por fim, o Cruzeiro de Santiago de Custóias (Largo do
Souto, referido em 1258, como “ad crucem Sancti Iacobii Costoyas”, a Cruz de
Santiago de Custóias).
Atravessando o rio Leça na ponte de D. Goimil, daqui, rumava-se
por Pedras Rubras, Aveleda, Modivas, Vairão e atravessava-se o rio Ave.
Alcançando Rates, flectindo para a costa atingia-se a Barca
do Lago e continuava-se para Viana do Castelo.
Em Rates, rumando para Norte, chegaríamos a Barcelos.
O seu traçado era comum ao da Karraria Antíqua, até ao Padrão
da Légua.
Um pouco antes do lugar onde, mais tarde, foi implantado
aquele padrão, pendia para a esquerda, em direcção a Santiago de Custóias,
passando não muito longe da igreja paroquial.
Seguia então, pela ponte medieval de D. Goimil (ou de
Esposade), para Petras Veyras (Pedras Rubras).
Esta via apenas faz fronteira no Padrão da Légua e em
Goimil, com a freguesia de Custóias.
Foi este percurso calcorreado, em sentido inverso, por D.
Pedro IV, após ter desembarcado nas praias de Pampelido para alcançar a cidade
do Porto.
Karraria Antíqua
A “Karraria Antíqua” (actual
caminho jacobeu Central Português), citada na documentação medieval, seria uma
estrada secundária de origem romana e, dessa altura, conservaria o lajeado em
partes consideráveis do seu percurso, sendo larga, o suficiente, para a
“passagem de carros”.
O Caminho Português Central, também conhecido por Caminho
Real é o nome com que se designa a rota que segue a antiga Estrada Real, nº 30,
que ligava Porto, Barcelos, Ponte de Lima e Valença.
A Karraria Antíqua chegada ao Padrão da Légua seguia em
frente por Gondivai e Araújo, atravessando o rio Leça na Ponte dos Ronfes.
Por isso, imediatamente a seguir ao cruzeiro situado bem
perto da Igreja do Araújo, por um caminho estreito alcançava-se, após vencer
uma descida acentuada, à direita, a ponte dos Ronfes que já foi a ponte de
Barreiros ou da Azenha, resquício certamente da velha estrada.
Igreja do Araújo
Atravessada a ponte e, actualmente, mais à frente a Via
Norte, a Karraria Antíqua passando ao lado da Quinta dos Cónegos, subia para Moreira
da Maia, onde cruzava com a estrada
Olisipo - Bracara Augusta.
Aqui, na Maia, passando por Barreiros e Gemunde, embrenhava-se
no concelho de Vila do Conde através da freguesia de Vilar do Pinheiro, Igreja de São Gonçalo de Mosteiró, Malta,
Igreja de São Gião, Castelo medieval de Castro Boi, Mosteiro de São Bento de
Vairão e continuava o seu percurso, atingindo o rio Lima, onde entroncava noutra
via romana estruturante que ligava Bracara a Asturica Augusta (Astorga).
Na origem, primitivamente, a chegada a Ponte de Lima fazia-se
junto à margem do rio, na gafaria de São Vicente. Mais tarde, a chegada era
pela Porta do Souto (actual recinto da feira).
Estrada dos Nove
Irmãos
O traçado desta estrada construída nos princípios de século
XVI seguia, até ao Araújo, o traçado da «karraria», que retomava na margem
direita do rio Ave.
Foi também chamada de Estrada Velha depois da construção da estrada
nacional (Porto – Viana do Castelo) em 1867.
Partia da Rua de Cedofeita, após esta ter sido aberta,
passava pela Ramada Alta, Carvalhido, Padrão-da-Légua, Araújo.
Aí, passou a derivar para a ponte de Moreira, então
construída, atravessando o lugar de Custió, lançada sobre o Rio Leça, hoje, exactamente
ao lado de uma mais moderna.
Daí subia-se ao Mosteiro de Moreira (Padrão de Moreira).
Ponte de Moreira sobre o rio Leça, em Custió, lado a lado
com outra mais moderna – Ed. Graça Correia
No ano de 1867, foi inaugurada a Estrada Nacional do Porto a
Valença, para a qual se aproveitou, até ao Padrão de Moreira, o leito da
Estrada dos Nove Irmãos.
Em 1 de Setembro de 1865, era dado como concluído o trajecto
entre o Porto e a Póvoa de Varzim, como dava conta a notícia abaixo.
In "Jornal do Porto" de 1 de Setembro de 1865
Seguia depois pelo leito actual da estrada nacional, para o
território da freguesia de Modivas, onde passava pelos lugares de Sete, Arada,
Padinhos, Nove Irmãos, Revilhões,
prosseguia na direcção da freguesia de Gião, onde passava nas imediações da sua
igreja. Mais adiante, circula entre as freguesias de Fajozes e de Vairão, onde
passa ao largo do Mosteiro com o mesmo nome e do Castro Boi, atingindo a margem
sul do rio Ave, na freguesia de Macieira da Maia, atravessando-o sobre a ponte
de D. Zameiro.
Segue-se a Junqueira e, com muitos mais quilómetros
percorridos, chegaríamos a Barcelos.
Ponte D. Zameiro
A velha estrada
nacional 13 – EN 13
Actualmente, a autoestrada, A 28, assegura a ligação rápida entre o Porto e Espanha.
A descrição do Professor Doutor Hernâni Monteiro, catedrático de Anatomia Topográfica, lida numa conferência na sede do Centro Universitário do Porto da Mocidade Portuguesa, na noite de 21 de Abril de 1947, a propósito de uma excursão a Pontevedra dos quintanistas de Medicina, dá-nos uma ideia do seu traçado.
Duas paragens forçadas —a Polícia, a Guarda Fiscal. Ver documentos, revistar a caminheta e as malas. Para quê, se não são homens de negócios que escondem contrabando, mas sim um grupo de moços estudantes, de olhos perdidos nos longes da paisagem, nesse desejo louco de avistar na linha do horizonte qualquer coisa dos sonhos que levam nos corações? E que melhor tesoiro hão-de querer, se
«A riqueza
Não é dispor de dinheiro,
Mas abrir a alma à Beleza,
Sentindo-a no mundo inteiro» (!) ?
Agora, se houver paciência para suportar um troço mau de estrada, dentro de uma hora já poderemos poisar os olhos curiosos nas águas brilhantes da formosa baía de Vigo e nas colinas verdes que a cercam, e passear, despreocupados, nas ruas desafogadas da cidade onde nasceu, em 1824, o glorioso almirante Méndez Núnez, intrépido marinheiro, cujo nome célebre se topa a cada passo em terras de Espanha a baptizar praças, ruas e hotéis. Havemos de descer à câmara do barco que o levava por sobre as ondas do mar, quando visitarmos, na passagem por Pontevedra, o curioso e bem cuidado Museu, e teremos ocasião de ver a sua estátua em Vigo e Compostela”.
A ponte Eiffel de Viana do Castelo foi a primeira ponte rodoferroviária (de dois tabuleiros sobrepostos) construída em Portugal, tem 645 metros de comprimento e dois tabuleiros metálicos, sendo o superior rodoviário, para trânsito automóvel e pedestre, e o inferior ferroviário”.
Fonte: “olharvianadocastelo.pt”
Ponte Gustave Eiffel, em Viana do Castelo
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