segunda-feira, 27 de setembro de 2021

25.135 Visita do rei D. Carlos ao Porto e a Valongo em 19 e 20 de Setembro de 1893

 
“Esta visita do rei, «para assistir às manobras militares, chamou a atenção de todo o paiz para a povoação de Vallongo, até então principalmente afamada pela beleza das suas padeiras e pelo sabor dos seus biscoitos» Alberto Pimentel (1894)
 
 
Mas Sobrado, igualmente, foi notícia e andou nas páginas dos jornais, pelas manobras militares ocorridas no Lugar da Balsa em 1893.
Este lugar já era conhecido por, em 1860, aí se ter inaugurado a Fábrica de Fiação da Balsa, um marco da indústria portuguesa, especialmente da região Norte porque foi equipada com máquina de vapor e que utilizava, também, as águas do rio Ferreira como força motriz. Foi uma das primeiras unidades do género no norte do país e a primeira no concelho de Valongo.
Haveria de encerrar cerca de 100 anos depois.
 
 
 

Ponte da Balsa sobre o rio Ferreira – Fonte: Google maps
 
 
“Em setembro de 1893, portanto há 123 anos, Sobrado teve visita do rei D. Carlos. A sua deslocação a esta terra teve como intuito o acompanhamento de exercícios militares que se desenvolveram no lugar da Balsa.
Vários foram os periódicos que noticiaram os exercícios da Balsa. Inclusive os Caminhos de Ferro do Minho e Douro colocaram uma carruagem à disposição dos repórteres que fizeram a cobertura do acontecimento.
No dia 19 de setembro, D. Carlos chegou ao Porto de manhã e seguiu, acompanhado pelo ministro de guerra, para Valongo, onde permaneceu, dentro da carruagem, uma hora e meia devido à chuva e trovoada. Em Sobrado, pernoitou na residência do abade António Thomé de Castro, onde houve um jantar e, no dia seguinte, um almoço real com brindes. D. Carlos brindou à pátria e ao exército.

 
 

Residência do abade de Sobrado, em Setembro de 1893 - Álbum fotográfico de Joaquim Bernardo Mendes (Visconde de Paredes), In  Arquivo Municipal de Paredes/CMP; Fonte: Centro de Documentação da Bugiada e Mouriscada


 
 

Varanda da residência do abade, em Setembro de 1893, com D. Carlos no topo da mesa - Álbum fotográfico de Joaquim Bernardo Mendes (Visconde de Paredes), In Arquivo Municipal de Paredes/CMP; Fonte: Centro de Documentação da Bugiada e Mouriscada
 
 
 
 
Para os oficiais que não tiveram lugar na casa do abade foram montadas barracas. Aliás verificaram-se algumas dificuldades devido à muita chuva e à falta de casas para acomodar gente e cavalos. O acantonamento ocorreu entre Sobrado e a Balsa. Houve bivaque no pinhal das Córtes. E o rei visitou o acampamento e provou o rancho.
 



Acampamento militar, em Setembro de 1893, em Valongo - Álbum fotográfico de Joaquim Bernardo Mendes (Visconde de Paredes), In  Arquivo Municipal de Paredes/CMP; Fonte: Centro de Documentação da Bugiada e Mouriscada
 
 
 
Nas ruas o monarca teve receção entusiasta e foi muito saudado, dada a muita concorrência de boa gente. Das janelas, mulheres fartaram-se de lançar flores sobre D. Carlos e toda a gente da terra quis beijar a sua mão.
No dia 20 dá-se o regresso. O rei a cavalo, seguido do seu estado-maior, artilharia e trens, vitorioso em todo o trajeto, entrou na cidade do Porto por volta das cinco da tarde, partindo posteriormente em direção a Lisboa.

 
 

Espaço fronteiro à igreja matriz de Sobrado com militares e populares, em Setembro de 1893 - Álbum fotográfico de Joaquim Bernardo Mendes (Visconde de Paredes), In  Arquivo Municipal de Paredes/CMP; Fonte: Centro de Documentação da Bugiada e Mouriscada
 
 
 
 
No dia 27 seguinte, em reunião da vereação da Câmara Municipal de Valongo, o presidente, referindo-se às manobras na Balsa, indica que o acampamento se deu no lugar do Souto da Igreja. O mesmo presidente, informou ainda os vereadores de que, em nome dos seus munícipes, havia-se dirigido ao rei e ao ministro de guerra oferecendo-lhes os seus serviços e a sua casa, o que ambos agradeceram.
Por esta mesma altura, realizaram-se exercícios em larga escala em vários pontos do país. A ocorrência destas manobras parece que teve por objetivo o fortalecimento de uma monarquia já em decadência, tentando contrariar uma imprensa que não era tão favorável como a que aqui serve de fonte documental, o caso do Diário Illustrado, que, de certa forma, exalta a visita do rei a Sobrado.”
Fonte: “Sobrado - Comunidade | Facebook”
 
 
 
“O que é certo, voltando á visita del-rei a Vallongo, é que as padeiras da povoação tiveram então um momento de celebridade na pessoa de uma sua collega que se dirigiu ao senhor D. Carlos, perguntando-lhe com uma ingenuidade de simples :
— Como vai v. s.ª , a senhora e os meninos?
Um jornal portuense reproduziu este episódio, creio que com mais ou menos phantasia, porque outro jornal, O Commercio do Porto, limitou-se a dizer:
«Uma padeira de Vallongo entrou na carruagem salão, com permissão de S. M., e alli um official comprou-lhe uma das saborosas regueifas, especialidade d'aquela villa. A pobre mulher, a tremer, cumprimentou el-rei, que, sorrindo, lhe dirigiu palavras affectcuosas».
De mais a mais eu fico desconfiado de que uma padeira de Vallongo, se fizesse aquelle cumprimento a el-rei, em vez de vossa senhoria, teria dito vossemecê, que é o seu tratamento habitual para toda a gente.
E não era certamente n'um momento de atrapalhação que a vallongueira se lembraria de procurar um tratamento mais conveniente para a pessoa de el-rei.
Como quer que fosse, Vallongo esteve em evidencia, para Vallongo foram tropas, para Vallongo foi el-rei, para Vallongo foi o snr. ministro da guerra, para Vallongo foram dezenas de curiosos.
Já agora, a residência parochial de Sobrado, onde o senhor D. Carlos se hospedou, ficará notável, porque sob aquellas telhas pernoitou o rei de Portugal.
Visitas como esta são indispensáveis no regimen de democratisação por que tem passado a realeza moderna»
Um rei actual deve saber como toda a gente vive, conhecer de perto a simplicidade parcimoniosa da vida de provinda, porque o paiz não é unicamente a corte: ha factos domésticos e factos económicos a estudar, ver- dades sociaes a estabelecer, defeitos de organisação administrativa a corrigir.
Já pertence aos domínios da opereta o tempo em que o rei perguntava a um valido:
- Que horas são?
e em que o valido respondia todo curvo:
— São as horas que vossa magestade quizer. Agora, no tempo era que estamos, um bom abbade minhoto, abrindo a sua casa e o seu coração a el-rei, seria capaz, sem faltar ao respeito devido ao chefe do estado, de responder áquella mesma pergunta cora estas simples e sentenciosas palavras :
— São horas de olhar por isto, meu senhor. Também já não fica a menor distancia o tempo em que o famoso cozinheiro Vatel se suicidou por não haver peixe para o jantar que o príncipe de Condé offerecia a Luiz XIV.
Agora o abbade de Sobrado offereceu a el-rei o seu modesto leito á franceza, por não ter outro melhor, e nem por isso tentou suicidar-se. E se a cama era tão estreita como os jornaes noticiaram, el-rei, decerto, ficou fazendo bom conceito do snr. abbade . . .”
Alberto Pimentel (1894); O Porto na Berlinda: Memórias d’Uma Família Portuense. Porto: Livraria Internacional de Ernesto Chardron

1 comentário:

  1. Não fazia ideia que El Rei D.Carlos tinha estado por Valongo. Muito obrigado pela divulgação!

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