Tudo começou quando,
em 1890, um caixeiro-viajante de uma fábrica da Covilhã, João M. Fonseca de
Castro propõe a Manuel dos Santos, um sócio da Camisaria Aliança, a
constituição de uma sociedade para tomarem de passagem aquele estabelecimento.
A sociedade acaba
por se concretizar com a participação de um terceiro sócio, A. Henrique Simões.
A firma Simões
Santos & Castro reduz-se, no ano seguinte, a Simões & Castro, por óbito
do sócio Santos e, nessa altura, surge o registo como Armazéns do Anjo, dado o
estabelecimento estar situado na zona da Praça do Anjo.
À direita da foto, c.
1900, é possível observar os “Armazéns do Anjo”, de Simões & Castro, com
estabelecimento voltado para Praça dos Voluntários da Rainha
Passado pouco tempo,
a sociedade atrás referida, desfaz-se e fica Fonseca de Castro como único
proprietário, em instalações ao cimo da Rua das Carmelitas, na esquina com a
Praça dos Voluntários da Rainha.
“Aos Banhistas: fatos
de banho, para senhoras, a 3$500 réis; gravatas de foulard. Armazéns do Anjo,
rua das Carmelitas 1-6, antiga Casa Agostinho”.
In, jornal “A Voz Pública”, de 7 de Agosto de 1901, pág. 3
Entretanto, dado o
processo de urbanização do Bairro das Carmelitas, Fonseca de Castro está
perante a necessidade de ter de abandonar as instalações que ocupava.
Perante esta
situação, decide convencer o capitalista José António Lopes Coelho a adquirir o
prédio que até aí ocupava, construir um outro de acordo com as directivas
camarárias para o novo bairro e a arrendar, posteriormente, o espaço de lojas
do novo edifício.
Assim, em 1905, o
capitalista José António Lopes Coelho solicita, em 17 de Abril de 1905, à
Câmara do Porto, a respectiva licença de construção de um prédio, em terreno
que possuía na Rua das Carmelitas, cujo projecto tinha a particularidade de
possuir duas lojas, à face da rua.
Aquela personalidade
tinha sido em 1892, presidente da Associação Comercial do Porto.
De acordo com o
plano inicial, concluído o novo edifício, José António Lopes Coelho arrenda-o a
J. M. Fonseca de Castro, que vai desenvolver numa das lojas, um negócio de
tecidos finos virada para a burguesia e, na outra, um negócio de feição mais
popularucha.
Enquanto decorreram
os trabalhos, a firma atende os seus clientes instalada nas traseiras da Praça
do Anjo, num barracão construído para o efeito.
Inauguradas as novas
instalações em 1908, acontece a entrada, nesta data, para servir a firma, do
marçano Arnaldo José Rodrigues, natural de Castro Vicente, Concelho de
Mogadouro, que impõe ao negócio uma feição popular.
Em 1916, face ao
dinamismo de Arnaldo, acaba por acontecer a formação de nova sociedade sob a
firma Castro & Arnaldo Rodrigues.
Por esta altura, já
Arnaldo casara com Aurélia Mariani, da conhecida família de industriais de V.
N. de Gaia, filha de Aníbal Mariani Pinto que passaria a ser o continuador do negócio começado pelo seu pai, em 1880.
A “Fábrica de Fiação e Tecidos de José Mariani & Filhos”
conhecida, também, por Companhia das Devesas, foi fundada em 1880, na Rua do
Barão Corvo, «à beira da estrada de Coimbrões,
um pouco ao sul da estação do caminho-de-ferro».
Em 1881, tinha 76 operários e, em 1911, 80 funcionários.
Segundo o sindicalista,
também esporadicamente deputado, Vítor Ranita, na sua obra Movimento
Operário Portuense: nascimento e evolução (1850-1914), a Fábrica de Fiação e Tecidos de José
Mariani & Filhos destacava-se das suas congéneres pela ausência de greves:
“…na Fábrica José Mariani quase nunca houve greve, facto que terá
levado o patrão a deixar por herança aos seus trabalhadores 1 a 4 semanas de
salário, segundo a sua antiguidade na empresa.”
Por outro lado, Aníbal Mariani Pinto, nos primeiros anos do século XX, chegou a assumir a gestão da Fábrica
Cerâmica das Devesas da qual se tornou accionista, em 1906.
Voltando à narrativa sobre os Armazéns do Anjo, o seu negócio seria apanhado numa conjuntura de guerra, acabando por enveredar por uma vertente mais popular. Assim, são arrematados lotes de tecidos a bons preços, provenientes da liquidação dos
Armazéns Hermínios e os Armazéns do Anjo, numa tentativa de sobreviver à crise.
É, então, aberta uma
sucursal na Rua dos Clérigos e outra em Fernandes Tomás.
Em 1923, Arnaldo
Rodrigues fica com todo o activo e passivo da firma, até aí existente, que é
dissolvida.
Fonseca de Castro
passa a dedicar-se à indústria como sócio da Fábrica de Tecidos de Vilarinho,
em Vizela.
Em 1925,
ultrapassada, em parte, a crise, é aberta uma loja na esquina das ruas Formosa
e Alexandre Braga, dirigida a uma clientela mais seleccionada.
Em 1926, os Armazéns
do Anjo passam a sociedade anónima, na qual Arnaldo Rodrigues é o accionista
principal e dá-se, então, a entrada de novos capitais.
Em 8 de Julho de
1928, Arnaldo Rodrigues que, entretanto, face a uma abastada situação
económica, se tinha tornado um entusiasta dos automóveis de alta cilindrada,
numa viagem de volta da Foz, pelas 23 horas, acompanhado por um amigo e do seu
criado de nome Ambrósio, sofre um acidente, no Bicalho, em Massarelos, devido à
velocidade excessiva do seu Packard…e cai ao rio. Salva-se o empregado, mas ele
não resiste aos ferimentos e morre. O amigo sucumbirá no dia seguinte.
Arnaldo Rodrigues ao
volante do seu automóvel
Após o falecimento
de Arnaldo Rodrigues, com o decorrer dos anos, as diversas sucursais dos
Armazéns do Anjo autonomizaram-se e passaram a ser administradas por vários dos
seus descendentes, continuando a ser, porém, uma referência no comércio da
cidade.
Devido à
estruturação da firma na forma de sociedade anónima foi possível subsistir por
acção da gerência de José Júlio Mariani e por um familiar por afinidade,
Fernando Agrelos.
As sucursais dos
Armazéns do Anjo, com os processos de divisão familiar acontecidos ao longo do
tempo acabaram por se autonomizar e sobreviveram, com excepção da casa das lãs
da Rua dos Clérigos.
Segundo as
informações do professor da Faculdade de Letras-U.P., Jorge Fernandes Alves, na
revista “O Tripeiro” (7ª série, Nov 1995), em 1995, a casa mãe da Rua das
Carmelitas já tinha sido alienada, continuando na mão de descendentes de
Arnaldo Rodrigues, a de Fernandes Tomás, que passou pela gestão de duas netas
de Arnaldo e a da Rua Formosa, de uma das suas filhas, de seu nome Maria José Mariani
Rodrigues, neta de Aníbal Mariani Pinto e bisneta do patriarca da família Mariani,
José Mariani que, oriundo de Itália, adoptou o José em vez de Giuseppe.
Aníbal Mariani foi proprietário
da Villa Alice, morada de Fanny Owen.
O patriarca da família Mariani com os seus filhos
Maria José Mariani Rodrigues - foto cedida por cortesia de Paulo Almeida Amaral
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