O Éden Teatro foi um teatro portuense que se situava
na Rua Alexandre Herculano e que ficaria ligado à história da cidade e do país,
pelo papel importante que teve durante o período da revolução monárquica de
1919. O comandante desta revolta foi
Paiva Couceiro, aproveitando a instabilidade política após o assassinato de
Sidónio Pais.
A chamada "Monarquia do Norte" consistiu num
movimento de restauração do regime monárquico, em Portugal, presidido por Paiva
Couceiro, o qual, a partir de então, passou a intitular-se em nome de D. Manuel
II, até ao seu regresso ao país, como "Regente do Reino de Portugal".
D. Manuel II, filho herdeiro de D. Carlos, estava exilado em
Londres, desde a implantação da República em 1910.
D. Manuel II nunca viu com bons olhos a tomada de poder pela
força, por isso, tinha já enviado para Portugal um seu emissário, António
Sardinha, para uma transição pacífica para a monarquia.
A "Monarquia do Norte", à qual Chaves não aderiu,
acabou por ter apenas 25 dias de duração, sendo reposta a República, a 13 de
Fevereiro do mesmo ano.
De notar, na foto anterior, que o prédio visível
(parcialmente) à direita, ainda existe e, hoje, tem o nº 322.
Proclamação da Junta Governativa do Reino, da varanda do
edifício do Governo Civil do Porto, a 19 de Janeiro de 1919, pelo monárquico
Baldaque Guimarães
Os monárquicos ainda
tiveram na mão o norte do país, desde 19 de Janeiro de 1919, mas, em 13 de
Fevereiro desse mesmo ano, renderam-se às forças republicanas que entraram no
Porto, acabando desse modo com a denominada Monarquia do Norte.
O teatro era um
ponto de encontro de simpatizantes da causa monárquica sendo, por isso,
escolhido como local de aprisionamento e de interrogatório. Segundo os relatos
escritos da época, existia no local um piano que tocava enquanto eram levadas a
cabo torturas.
O povo baptizou estes tempos como o “Reino da Traulitânia”, sendo a governação
liderada pela “Junta Governativa do Reino de Portugal”, que restaurou a antiga
moeda (o real, através de carimbo nas notas de escudo em circulação) e a Guarda
Real, cuja denominação substituiu a de Guarda Nacional Republicana.
Findo o "Reino
da Traulitânia", o povo invadiu o teatro e destruiu-o, vingando-se dos
males que dentro dele tinham sido infligidos aos republicanos.
Por isso, a Firma L.
Bonneville, proprietária do Eden-Teatro, pediria ao governo português, por
intermédio dos canais protocolares, uma avultada indemnização pelos prejuízos
causados à casa de espectáculos, durante a vigência da Monarquia do Norte.
Tal como sucedeu com
vários outros teatros, também o Éden passaria a cinema durante os anos 30 e 40.
O Éden foi demolido
por volta de 1948.
Entre as duas fotos anteriores compare-se a platibanda
superior do prédio que estava adjacente ao teatro, que se situou à esquerda da foto.
O local de instalação do teatro está hoje ocupado pelo
denominado “Edifício Alexandre Herculano”.
O "Edifício Alexandre Herculano", à direita, actualmente
Preparação do terreno, em 1982, para construção do "Edifício Alexandre Herculano"
O Regimento de
Infantaria 31
Em 8 de Março de 1919, já com o regime republicano
restabelecido, ocorre uma homenagem na Praça da Liberdade ao Regimento de Infantaria 31, única unidade que, em 19
de Janeiro desse ano, se havia oposto à proclamação da Monarquia do Norte e,
assim, via a sua imagem redimir-se aos olhos de todos, relativamente a factos
ocorridos em 1916.
Um mês antes, a 20 de Fevereiro, uma outra homenagem, tendo
por alvo aquele regimento, tinha ocorrido no Teatro Sá da Bandeira, durante uma
récita levada à cena e integrada na revista teatral “Salada Russa”, conforme se
constata no anúncio abaixo.
Aquele regimento, aquartelado no Porto, tem a sua história
também ligada ao seu desempenho em Moçambique, durante a 1ª Guerra Mundial,
quando de um efectivo de 1000 militares, morreram 427, na localidade de
Mocímboa, costeira e implantada sobre um pântano e, ainda, a uma série de
desacatos protagonizados por elementos seus, antes do embarque para aquelas
terras de Moçambique.
“Os cerca de mil
homens do regimento 31 do Porto podiam suspeitar que tinham ido para as costas
do Índico como castigo pelas sublevações em que tinham participado no Outono de
1916. Mas era impossível sequer imaginar que, três meses depois de chegarem a
Mocímboa, dissessem com naturalidade e resignação: “Sou do 31, tenho de
morrer”.
A saga do mais
desafortunado corpo militar que participou na Grande Guerra em África começa
nos dias 9 e 10 de Outubro de 1916, nas ruas do Porto. A meio da tarde de
domingo, 9 de Outubro, o que parecia ser uma rixa normal entre um soldado, José
Júlio de Mascarenhas, e um polícia faz estalar dois dias de tumultos que
alastram pelas ruas e deixam a cidade em estado de sítio. No final da tarde do
dia seguinte, uma multidão de pessoas iradas e famélicas concentra-se na Praça
do Coronel Pacheco e desafia os polícias que se haviam refugiado no interior da
13ª esquadra (que ainda hoje se encontra ali instalada). Segue-se uma troca de
tiros. Um polícia é barbaramente assassinado com disparos à queima-roupa.
Outros quatro são feridos.
(…) Em Abril de 1917,
o regimento registava 79 desertores entre as suas fileiras. Nessa altura,
porém, o seu destino estava traçado”.
Cortesia de Manuel Carvalho, In jornal “Público” de 4 de
Agosto de 2014.
É provável que a expressão popular “Meter-se num 31”, terá que ver com o Regimento de Infantaria nº 31
do Porto, quer como significado de confusão, reportando para os acontecimentos
de Outubro de 1916, quer como significado de morte, neste caso, associado às
baixas sofridas em Moçambique.
Monarquia do Norte –
os antecedentes
Desde a implantação da República até à Noite Sangrenta,
passando pela instauração da Monarquia do Norte, alguns outros factos de
convulsões políticas, em breve resumo, são de assinalar.
A Revolta de 27 de
abril de 1913, também conhecida pela Revolta Radical, foi uma tentativa de
golpe de Estado ocorrida em Lisboa no dia 27 de Abril de 1913, um Domingo,
visando a destituição pela força do V Governo Republicano, presidido por Afonso
Costa. Foi o primeiro golpe organizado por republicanos portugueses contra um
governo da Primeira República Portuguesa, sendo inspirado pelos denominados
republicanos radicais agrupados na Federação Radical Republicana. A tentativa
de golpe levou à criação da denominada “formiga-branca”,
uma rede de espiões e caceteiros que dominaria a vida política dos anos
subsequentes.
Os manifestantes percorreram então outros quartéis da cidade
de Lisboa à procura de adesões, sem o terem conseguido. Em consequência, os
militares mais graduados que integravam o movimento foram detidos, entre os
quais o capitão-de-mar-e-guerra Álvaro Soares Andrea e o general Fausto Guedes.
Foram também detidos muitos civis, entre os quais Mário Monteiro.
O movimento foi dominado, sobrevivendo o governo, mas a
instabilidade resultante provocou múltiplos incidentes nos dias imediatos.
Movimento das Espadas
(20 a 25 de Janeiro de 1915), ou Golpe das Espadas, foi o nome pelo qual
ficaram conhecidos os incidentes de insubordinação militar, em que se
destacaram o capitão Martins de Lima e o comandante Machado Santos, que
conduziram à demissão, a 25 de Janeiro de 1915, do Governo presidido por Victor
Hugo de Azevedo Coutinho (alcunhado de “Os Miseráveis” de Victor Hugo) e à
instauração de um governo ditatorial chefiado por Pimenta de Castro, a primeira
ditadura do republicanismo português.
O major João Carlos Craveiro Lopes, aquartelado na Figueira
da Foz, foi compulsivamente transferido do Regimento de Infantaria n.º 28 para
o Regimento de Infantaria n.º 19 em virtude de um caso puramente particular em
que fora interveniente, um militante do Partido Democrático e fora objecto de
denúncia do Comité Democrático Militar, uma estrutura política ligada àquele
Partido.
Os oficiais das unidades aquarteladas na Figueira da Foz
protestaram e o movimento alastrou a Lisboa, onde nos dias imediatos os
oficiais da guarnição daquela cidade se movimentaram no sentido de se solidarizarem
com o ofendido. Foi este protesto que levou ao incidente do Movimento das
Espadas, o qual ocorreu a 22 de Janeiro, quando numerosos oficiais do Regimento
de Cavalaria n.º 2, liderado pelo capitão Martins Lima, marchou pela Calçada da
Ajuda a caminho do Palácio de Belém, onde, em sinal de repulsa, pretendiam
entregar as espadas ao Presidente da República, Manuel de Arriaga.
Foram detidos e enviados para bordo da fragata D. Fernando
II e Glória, acusados de participarem numa manobra monárquica tendente a
desestabilizar a República. Esta acusação caiu quando na tarde desse mesmo dia
o comandante Machado Santos, o herói da implantação da República, foi ao
Palácio de Belém entregar a espada que utilizara na Rotunda a 5 de Outubro de
1910.
Fragata D. Fernando II e Glória (Actualmente, encontra-se em
Cacilhas) – Ed. Roger Chapelet (1903 - 1995), In flickriver
Em consequência do Movimento das Espadas, a 25 de Janeiro o
Governo presidido por Victor Hugo de Azevedo Coutinho, cujos membros eram
maldosamente alcunhado pelos seus detractores de “Os Miseráveis” de Victor
Hugo, demitiu-se e Manuel de Arriaga,
num acto que em muito contribuiu para destruir a sua credibilidade como
democrata, nomeou o general Pimenta de
Castro para governar em ditadura, isto é sem supervisão parlamentar dado
estar suspenso o Congresso da República, até à realização de novas eleições.
Esta nomeação levaria à destituição de Manuel de Arriaga após a revolta de 14
de Maio daquele ano que depôs o Governo de Pimenta de Castro.
O Sidonismo foi
um golpe militar contra o governo da República Portuguesa desencadeado a 5 de
Dezembro de 1917. O líder do movimento foi Sidónio Pais, um major de artilharia,
professor e político. A revolta triunfou rapidamente, levando à formação de uma
Junta Revolucionária Militar, presidida por Sidónio Pais, que assume o poder,
ao mesmo tempo que impõe a dissolução do Parlamento e a destituição e exílio do
Presidente da República Bernardino Machado.
A 11 de Dezembro foi constituído um novo Governo chefiado
por Sidónio Pais, o 15.º governo do regime republicano. Para além dos elementos
da Junta Revolucionária, o novo governo integrou três unionistas, dois
centristas e um independente. O novo regime começa a ser apelidado pelos seus
apoiantes como a República Nova.
No dia 27 de Dezembro de 1917, a República Nova de Sidónio
Pais decretou alterações à Constituição Portuguesa de 1911, introduzindo um
regime presidencialista, no qual o Presidente do Ministério assumia as funções
de Presidente da República enquanto não fosse eleito pelo futuro Congresso o
Presidente da República.
Em 28 de Abril de 1918 foi eleito Presidente da República
por sufrágio directo e universal, sendo que o candidato único, Sidónio Pais,
obteve 468 275 votos. Ficava consolidado o Sidonismo, regime que vigoraria até
ao assassinato de Sidónio Pais, em Dezembro daquele ano.
A Monarquia do Norte
foi uma contra-revolução ocorrida na cidade do Porto, em 19 de Janeiro de 1919,
pelas juntas militares favoráveis à restauração da monarquia, em Portugal, em
plena 1ª Republica portuguesa. Este breve período, também apelidado de
«Monarquia do Quarteirão» por só ter durado 25 dias (de 19 de Janeiro a 13 de
Fevereiro), foi, em traços gerais, a última profunda manifestação de revolta
monárquica com utilização da força depois da implantação da República, em
Portugal, em 1910.
A 19 de Janeiro de 1919, num Domingo, no Monte Pedral, cerca
da uma hora da tarde, contingentes de todos os corpos da guarnição e da Guarda
concentravam-se. Aparentemente parecia mais uma parada militar, mas não era.
Ali encontravam-se reunidas as forças militares, contingentes de Infantaria 6 e
18, de Cavalaria 9, de Artilharia 5 e 6, do Grupo de Metralhadoras, da Polícia
e da Guarda Republicana, e ainda um pelotão de Cavalaria 11 de Braga, para além
de outras tropas.
Paiva Couceiro faz então uma declaração, onde proclamou que
o Exército é, acima de tudo, a mais alta expressão da Pátria, e por isso tem
que guardá-la nas circunstâncias mais difíceis, acudindo na hora própria contra
os perigos, sejam eles externos ou internos, que lhe ameacem a existência. Após
o discurso, é levantada a bandeira monárquica e a banda da Guarda toca o Hino
da Carta. De seguida, Couceiro faz uma revista às tropas e estas desfilam em
continência.
É assim declarada a restaurada Monarquia à uma e meia da
tarde de 19 de Janeiro, pelas forças da guarnição militar do Porto, no largo
Monte Pedral, em nome de Sua Majestade D. Manuel II (que continuava exilado e
que desde 30 de Janeiro de 1912, tinha feito um alegado acordo com o seu primo
Miguel de Bragança, no qual, supostamente, este último reconhecia D. Manuel II como
legítimo Rei de Portugal e em contrapartida, o monarca português garantia que,
no caso de falecer sem descendentes válidos para lhe sucederem nos seus
direitos, a sucessão na chefia da Casa Real Portuguesa passaria para o filho de
Miguel de Bragança, Duarte Nuno, acordo esse que ficou conhecido como Pacto de
Dover).
A Junta Governativa do Reino, sedeada no Porto, para
organizar o novo regime monárquico, aproveita o corte de comunicações com
Lisboa e aproveita para disseminar na população a notícia falsa de que a
monarquia se impusera por todo o país e que não haveria volta a dar.
No Norte, no Porto, a revolta só terminou a 13 de Fevereiro.
Em 13 de Fevereiro de 1919, o capitão Sarmento Pimentel,
primeiro comandante da guarda real do quartel do Carmo e o capitão Jaime Novaes
e Silva, comandante da guarda real do quartel de S. Brás, lideram um movimento
revolucionário, saindo dos quarteis com os oficiais e soldados que os quiseram
seguir e, após algumas horas de tiroteio e o apoio da artilharia da Serra do
Pilar, que rompeu fogo contra o Quartel-general, acabaram por sufocar a
resistência monárquica (constituída apenas por 10 praças de cavalaria e 40
soldados de infantaria, com duas peças). Os ministros da Junta que se
encontravam no Porto: Silva Ramos, Luís de Magalhães, o Conde de Azevedo e o
Visconde de Banho, foram detidos.
Naquele dia, após combates em todo o litoral centro,
nomeadamente em Angeja, a guerra civil termina com a entrada dos exércitos
republicanos no Porto.
Manifestação junto do Governo Civil para aclamar a vitória do
regime republicano – In, revista “Illustração Portuguesa” de 10 de Março de
1919
Entretanto, a República iria continuar em sobressaltos
constantes, nos anos seguintes.
Noite Sangrenta é
a designação pela qual ficou conhecida a revolta radical de marinheiros e
arsenalistas, que ocorreu em Lisboa a 19 de Outubro de 1921, no decurso da qual
foram assassinados, entre outros, António Granjo, então presidente do
Ministério, Machado Santos e José Carlos da Maia, dois dos históricos da
Proclamação da República Portuguesa, o comandante Freitas da Silva, secretário
do Ministro da Marinha, e o coronel Botelho de Vasconcelos, antigo apoiante de
Sidónio Pais no Arsenal da Marinha.
Na origem da revolta terá estado a demissão do governo de
Liberato Pinto, e a sua condenação a um ano de detenção (confirmada a 10 de
Setembro de 1921 pelo Conselho Superior de Disciplina do Exército), a seguir à
qual um conjunto de militares ligados àquela força policial, a que se juntaram
militares do Exército e da Armada, se sublevou.
Nessa noite uma camioneta percorreu as ruas de Lisboa
recolhendo algumas personalidades que seriam mais tarde executadas.
O texto seguinte dá-nos uma outra perspectiva dos anos que
se seguiram à implantação da República:
“Normalmente
esquecido, no meio das várias convulsões que ocorreram na sociedade portuguesa
na segunda década do século XX, o golpe de estado de 14 de Maio de 1915 foi a
mais sangrenta revolta ocorrida em Portugal no decurso do século XX e levou
mesmo à intervenção estrangeira no país, em plena I guerra mundial.
Após o golpe de estado
de 1910, em que um pequeno grupo de republicanos tinha logrado depor a
monarquia constitucional, estes tinham tomado o controlo do país.
Foi imposta uma nova
constituição republicana, e publicada em 3/Jul/1913, uma lei eleitoral onde se
proibia o direito de voto aos analfabetos e às mulheres, tendo sido
implementadas alterações legais que com o tempo assumiram um cariz abertamente
anti-democrático, radical e mesmo ditatorial.
Após garantirem o
controlo do país, as divisões minaram o campo republicano, onde a sede de poder
rapidamente levou à sua divisão em três grupos. Os radicais renomearam o
partido para Partido Democrático, e logo surgiram duas cisões importantes, os
Unionistas e os Evolucionistas. A somar a estas divisões, continuava a haver
pressão por parte dos monárquicos, que se organizavam especialmente na Galiza.
O governo português
estava isolado internacionalmente. A Inglaterra era hostil ao governo, a
Espanha, depois de ter perdido o seu império, olhava para a instabilidade
portuguesa com um interesse evidente e a Alemanha olhava para os territórios
portugueses com redobrado fervor. Durante 1913 e 1914 cresceu o radicalismo e o
país tornara-se ingovernável, nomeadamente com o governo do republicano
extremista Afonso Costa (Janeiro de 1913 a Fevereiro de 1914), a que se
seguiram dois governos incapazes de Bernardino Machado (Fevereiro a Dezembro de
1914), e posteriormente o governo de Azevedo Coutinho (Dezembro de 1914 e
Janeiro de 1915) chamado de governo dos miseráveis. No final de 1914, ocorrera
uma crise no Senado e as tensões entre as várias fações republicanas levam a
uma situação complexa em que o país fica sem Senado e sem possibilidade de
eleger senadores (Já que uma disposição constitucional o impedia na primeira
eleição).
No inicio de 1915, no
meio de um imbróglio jurídico resultado das «armadilhas» colocadas no texto
constitucional e após uma demonstração de mal- estar entre militares do
exército, o presidente da república Manuel de Arriaga nomeia chefe do
executivo, o mais antigo general do exército, Pimenta de Castro, no que foi
visto como uma tentativa dos setores conservadores para evitar o controlo total
do país pelas forças radicais e para organizar eleições que tinham sido adiadas
desde Setembro de 1914.
Pimenta de Castro era
um oficial conservador, que já tinha sido ministro da guerra e que tinha
apoiado as primeiras tentativas republicanas para derrubar a monarquia, embora
fosse também visto como aliado dos monárquicos liberais. Pimenta de Castro foi
assim o líder de um governo de iniciativa presidencial, mas logo atraiu sobre
si a raiva e a ira dos radicais republicanos comandados pelo extremista Afonso
Costa.
Pimenta de Castro foi
empossado a 24 de Janeiro de 1915, e iniciou uma política de apaziguamento
destinada a acalmar o país, voltando a estabelecer a liberdade de culto, e
direitos civis que os republicanos tinham negado aos monárquicos.
No entanto,
rapidamente os extremistas radicais iniciam uma série de protestos aos quais o
governo de Pimenta de Castro não pode ou não quer responder.
Os rumores de golpe
avolumam-se e a imprensa conservadora de Lisboa, nomeadamente o jornal «O Dia»
ainda apela a Pimenta de Castro quando publica nas suas páginas a frase «vista
a farda sr. General», dando a entender que deveria ser instaurado um estado de
sítio.
Mas Pimenta de Castro,
que já tinha marcado eleições para Junho mostra-se mas incapaz de debelar a
contestação por parte dos radicais. Ainda manda a Guarda Republicana impedir
uma reunião do parlamento a 4 de Março, dado, as eleições terem já sido
marcadas para 6 de Junho, mas os radicais não param.
A partir de 4 de Março
os radicais passam à oposição frontal e aberta acusando Pimenta de Castro de
ditador, ainda que durante essa «ditadura» os opositores tivessem toda a
liberdade de expressão, não houvesse censura e fossem tomadas medidas de
reconciliação da sociedade.
Os grupos radicais, com Afonso Costa à cabeça, começaram de imediato a
conspirar, apoiando-se em organizações de cariz terrorista como o grupo
«formiga- branca» e o que restava da «carbonária» (um grupo terrorista que
funcionava como braço armado da maçonaria portuguesa), rapidamente se
prepararam para voltar a controlar o país.
Beneficiando da
influência que tinham especialmente sobre a marinha de guerra (os oficiais do
exército eram vistos como conservadores e favoráveis aos monárquicos) é
organizado um golpe, que deveria seguir as linhas gerais do 5 de Outubro de
1910.
Antes das 03:00 da
manhã de sexta-feira, 14 de Maio, o capitão -de -fragata Leote do Rego
dirige-se numa lancha ao cruzador blindado Vasco da Gama. Às 03:20 da madrugada
ouvem-se tiros. O grupo comandado por Leote do Rego mata o capitão- de- mar e
guerra Assis Camilo, que comandava o navio e que se opôs ao golpe.
Às 03:45 Leote do Rego
ordena que sejam disparados três tiros de salva, o sinal combinado com as
forças em terra. O navio levanta ferro e vai posicionar-se frente ao Terreiro
do Paço onde se concentram os ministérios.
Um pequeno grupo de
militares da marinha e alguns elementos da GNR, da Guarda Fiscal e do exército
tomaram o arsenal da marinha, na baixa de Lisboa e iniciaram uma distribuição
das armas que ali estavam pelas organizações para-militares «formiga-branca» e
«carbonária» que se tinham preparado para receber armamento. Estima-se que os
grupos de revoltosos terão atingido 7,000.
Às 04:00 da madrugada
também se ouvem tiros nas imediações do arsenal do exército, junto à estação de
Sta. Apolónia.
Às 06:00 da manhã uma
das duas batarias (4 peças de artilharia operacionais) do Regimento de
Artilharia nº 1 dirige-se para o alto de Santa Catarina com ordens para alvejar
o cruzador Vasco da Gama, que se acredita na altura ser a única unidade naval
sublevada. Às 08:00 começa a alvejar os navios. O cruzador protegido Almirante
Reis, cuja blindagem é inferior à do Vasco da Gama é atingido. Os navios
respondem com fogo contra o alto de Sta. Catarina atingindo residências e
provocando vítimas entre os civis com fogo das peças de 150mm.
Ao fim da manhã, com a
situação tática em seu favor, Leote do Rego envia um ultimatum ao chefe do
governo, que ao início da tarde se vai refugiar com a maior parte dos ministros
no quartel da GNR no largo do Carmo, exigindo a sua demissão.
Ainda durante a manhã
dessa sexta-feira, forças do regimento de infantaria 16, cercam o arsenal do
Alfeite tentando desalojar os revoltosos, mas estes têm apoio dos canhões dos
navios da esquadra que bombardeiam as imediações do arsenal, para proteger os
revoltosos sitiados.
Também durante a manhã do dia 14, o ministro da Marinha, vice-almirante Xavier
de Brito sabendo da situação a bordo do Vasco da Gama, dá ordens ao submarino
«Espadarte» que se encontrava ancorado em Belém, para torpedear o cruzador.
Porém o comandante do submarino não cumpre as ordens recebidas e dirige-se para
a margem sul do Tejo, atracando ao lado de um contra-torpedeiro.
Ao fim do dia,
percebendo que não tem apoio suficiente em Lisboa, o chefe do governo, gen.
Pimenta de Castro, apresenta a sua demissão, sendo aprisionado a bordo do
próprio cruzador Vasco da Gama.
Na noite de 14 para 15
de Maio, a cidade de Lisboa fica sem policiamento e hordas de assaltantes
roubam lojas e casas de particulares.
Na manhã de 15 de Maio
continuam os recontros entre forças do exército e forças revoltosas, com o
apoio dos navios ancorados no Tejo. Os dois lados tentam um cessar-fogo, mas ao
anoitecer de sábado dia 15 de Maio, o cruzador Vasco da Gama ainda continua a disparar
sobre Lisboa embora com menos intensidade.
Os planos de Pimenta
de Castro previam um acordo com a Espanha, que deveria servir para alinhar
Portugal numa posição neutral relativamente ao conflito, no que formaria um
bloco com a Espanha. Desta forma, esperava-se aplacar os interesses
anexionistas de alguns setores da sociedade espanhola. Por isso, o golpe de 14
de Maio deixou os espanhóis especialmente irritados. A imprensa espanhola da
altura justificava a necessidade de a Espanha intervir para salvaguardar os
muitos cidadãos espanhóis que viviam em Portugal.
Na segunda-feira 17 de
Maio entra a barra do Tejo, o mais poderoso navio de guerra espanhol, o
couraçado España (8 canhões de 305mm e 20 de 100mm), e o cruzador protegido Rio
de la Plata escoltados por um contratorpedeiro, a que no dia seguinte se junta
um segundo. Na baía de Cascais fundeia o cruzador protegido Extremadura.
A França e a
Inglaterra aparentam ter ficado alarmadas com a dimensão do contingente
espanhol e enviaram navios aparentemente para desincentivar qualquer
possibilidade de intervenção espanhola. A Espanha retirará os dois cruzadores
protegidos e manterá o couraçado e dois contra-torpedeiros no Tejo durante mais
alguns dias, sob o pretexto de proteger os cidadãos espanhóis.
Na Grã- Bretanha, o
golpe será seguido com algum interesse, mas não é possível deixar de referir
que o transatlântico Lusitânia tinha sido afundado a 7 de Maio (uma semana
antes).
Ainda assim a imprensa
britânica reagirá de forma violenta contra os golpistas, acusando o exército
português de ser uma contínua fonte de desordem e acusando a marinha portuguesa
de só servir para bombardear Lisboa.
O golpe de estado de
14 de Maio foi inspirado pelos radicais republicanos mas teve o apoio das
estruturas da Maçonaria, de entre as quais se destacou o Grão-Mestre Sebastião
Magalhães de Lima.
Lima será mais tarde
julgado pela sua participação como Grão-Mestre nos crimes praticados naquele
dia.
Já Afonso Costa, nunca
reconheceu publicamente que foi o principal instigador do golpe de estado,
alegadamente por não querer ficar ligado aos massacres que ocorreram naqueles
dias.
Políticos republicanos
confirmaram posteriormente ter sido ameaçados e atacados.
Fernando Pessoa dirá
sobre o golpe de 14 de Maio, ter sido o mais anti-nacional de todos os golpes.
Pimenta de Castro, que dirigia um governo que preparava eleições foi deposto
porque quem o depôs não estava interessado no estabelecimento de um regime democrático”.
In Site: “areamilitar.net”
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