Em 1893, tinha sido inaugurado o Instituto para Surdos-Mudos
Araújo Porto, criado com o legado de José Rodrigues de Araújo Porto.
Em 12 de Novembro de 1899, junto das instalações do
Instituto Araújo Porto, iriam ser construídas as que se destinavam ao que veio
a ser o Asilo de Cegos S. Manuel e, sobre o lançamento da 1ª pedra, narrava o
jornal “O Primeiro de Janeiro”:
“A quinta Araujo Porto
e o local destinado ao novo Asylo estavam adornados de bandeiras, e o edifício
do Instituto dos Surdos-mudos ostentava riquíssimas colgaduras de damasco em
todas as suas janellas.
E durante a cerimonia
tocou a excellente banda do Asylo do Barão de Nova Cintra, instituição também
dependente da Santa Casa da Misericordia do Porto, como se sabe.
O illustre prelado
portuense, sr. D. António Barroso, que antes havia assistido á collocação da
primeira pedra do bairro operario, de iniciativa do nosso presado collega do
Commercio do Porto, chegou ao local pouco
depois da uma hora da
tarde. Sua reverendíssima era acompanhado dos srs. dr. Ferreira Pinto, seu
secretario, e dos reverendos conegos Filippe Coelho e Correia e Sá, e foi
recebido á porta da quinta pelos sr . provedor e mesarios da Santa Casa, corpo
docente do Instituto de surdos-mudos muitos convidados, etc, etc.
No local destinado ao
edificio do novo ásylo e em que já assentam alguns alicerces e se erguem
pequenos trechos de parede, o sr. D. Antonio benzeu o terreno e a pedra que ía
ser imposta, lançando por ultimo a bênção a todas as pessoas presentes, entre
as quaes havia um grande numero de senhoras.
Sob a pedra foi
collocado um cofre com todas as moedas do actual reinado e uma legenda em
latim, correspondente ao auto da cerimonia, lida pelo mesario da Santa Casa, reverendo
Francisco Patricio.
Foi o sr. governador
civil quem conduziu a colhér, o sr. general Cibrão a argamassa, o sr.
presidente da camara as moedas, o sr. dr. Paulo Marcellino Dias de Freitas o
camartelo e o sr. Branco Rodrigues, o incansavel protector dos cegos, o cofre.
Finda a cerimonia,
houve sessão solemne na sala de estudo do Instituto dos surdos-mudos.
Presidiu o sr. D. Antonio Barroso, tendo á sua direita os srs. governador
civil e general Cibrão, e á esquerda os srs. presidente da camara e Branco
Rodrigues”.
Cerimónia do lançamento da 1ª pedra do Asilo de Cegos –
Fonte: “Jornal dos Cegos” (Fevereiro de 1900; Lisboa – Editor: Branco
Rodrigues); gravuras obtidas a partir de fotografia de Aurélio da Paz dos Reis
A gravura anterior revela a cerimónia efectuada, em 12 de
Novembro de 1899, de lançamento da 1ª pedra do Asilo de Cegos, sendo visível,
no horizonte, a igreja da Lapa.
Fanfarra dos alunos do Estabelecimento do Barão de Nova
Sintra durante a cerimónia de lançamento da 1ª pedra do Asilo de Cegos – Fonte:
“Jornal dos Cegos” (Fevereiro de 1900; Lisboa – Editor: Branco Rodrigues);
gravuras obtidas a partir de fotografia de Aurélio da Paz dos Reis
Entretanto, em 1904, abriria na Rua das Taipas a «Escola
de Cegos do Porto» por iniciativa
do jornalista José Cândido Branco Rodrigues (1861-1926), nascido no seio de uma
família da alta burguesia lisboeta e editor do “Jornal dos Cegos”, com sede em
Lisboa.
Texto extraído do “Jornal dos Cegos”, nº 52, de Fevereiro de
1900, da autoria de José Cândido Branco Rodrigues, do qual era também o editor
e director e viria a ser, também, o fundador da “Escola de Cegos do Porto”
Palacete, em Lisboa, residência de José Cândido Branco
Rodrigues, sito na Avenida da República, nº 36, esquina da Avenida Visconde de
Valmor (1908) – Fonte: “Casa de Branco Rodrigues” (Alfredo d’Ascenção Machado),
a Architectura Portuguesa, ano I, nº 10, 1908, pag. 37-38
“No dia 5 de Maio de
1903, o Governador Civil do Porto, Adolpho da Cunha Pimentel, bacharel em
direito, aprovava o alvará que José Cândido Branco Rodrigues lhe apresentou com
os respectivos estatutos, datados de 1 de Abril anterior, para administrar uma
instituição de beneficência denominada «Escola
de Cegos do Porto», destinada a instruir e educar crianças cegas de ambos
os sexos. Como os estatutos não continham disposição alguma a que se opusessem
as leis gerais, foram os mesmos aprovados pelo referido Governador Civil,
usando da faculdade que lhe conferia o n.º 8 do art. 252 do Código
Administrativo.
Cortesia de Teo Dias
A «Escola de Cegos do Porto» irá ser
alojada, inicialmente, na Rua das Taipas, nº 76, no Palacete dos Vilar de
Perdizes, a ser correcta a informação obtida a partir da colecção do espólio da
“Foto Guedes” pertencente ao Arquivo Municipal do Porto. No entanto, a referida
escola mudar-se-ia ainda, em 1904, para instalações na Rua Ferreira Cardoso
(antiga Viela de Sacais).
A «Escola de Cegos do
Porto» passaria, então, a funcionar na Rua Ferreira Cardoso, nº 103, sob as
orientações do seu fundador, Branco Rodrigues e administrada financeiramente pela
Santa Casa da Misericórdia do Porto (artº 9º), em edifício que, em 1912, seria
alvo de uma intervenção autorizada pela licença camarária, nº 455/1912.
O prédio que viria a situar-se adossado à escola, à direita
da foto, teve licença de construção nº 16/1907.
A sociedade portuense recebe com muita aceitação a iniciativa
de Branco Rodrigues e sucedem-se as iniciativas para a recolha de fundos para a
Escola de Cegos.
A 18 de Novembro de 1907, era levado à cena um espectáculo
de angariação de fundos.
A 18 de Dezembro de 1908, é posto à venda um número especial
da revista “Arte”, de Marques Abreu, em benefício da Escola de Cegos do Porto.
Em 1 de Outubro de 1938, a «Escola de Cegos do Porto» passou a ser totalmente administrada
pela Misericórdia, quando era seu Provedor o Dr. António Luís Gomes e Mesário o
Dr. Mário de Vasconcelos e Sá. Existiam então, ali, 18 alunos, a quem eram
ministradas aulas de Braille e actividades profissionais pelo seu Director, o
Prof. Miguel Mota.
No ano de 1945, a «Escola
de Cegos do Porto» foi transferida da Rua Ferreira Cardoso para as
instalações do Asilo de Cegos, na Rua da Paz, resultando desta fusão o “Instituto Asilo de Cegos de S. Manuel”,
que passaria a ter uma média de 25 alunos e alguns asilados. Nesta data, era
Director o Dr. Bertino Daciano da Rocha Guimarães e Professor de Música e
Braille o Prof. Albuquerque e Castro. Foram estes dois homens os grandes
impulsionadores da transformação do “Asilo de Cegos e Instituto de S. Manuel”.
O prédio na Rua Ferreira Cardoso, nº 103 passaria, então,
para a posse da Igreja Adventista do Sétimo Dia que, aí, construiria o seu novo
templo, que subsiste.
Remodelação do
Instituto de Cegos S. Manuel
“Em 1958, José
Ferreira de Albuquerque e Castro foi nomeado Director dos Serviços Tiflológicos
da Santa Casa da Misericórdia do Porto, sendo substituído nessas funções por
sua mulher, Dr.ª Pilar Ribas de Albuquerque e Castro, quando faleceu em 15 de
Abril de 1967.
A 12 de Maio de 1969,
celebrou-se o primeiro acordo de cooperação entre o Instituto da Família e
Acção Social (IFAS) e a Misericórdia, com vista ao melhor funcionamento do
Instituto S. Manuel.
Com o decorrer dos
tempos deixaram de ser admitidos asilados e, assim, quando em 1969 o Instituto
encerrou para obras, os educandos em idade escolar foram transferidos para o
Internato de S. José, que abriu nessa altura, indo os restantes para um Lar
instalado num prédio da Misericórdia, na Rua do Rosário.
Em 1972, foram
concluídas as obras e o Instituto foi remodelado, não só quanto a instalações,
mas ainda nos seus variados aspectos de funcionamento, nomeadamente nas áreas
administrativa, pedagógica, educativa e social.
Em 1976, foi revisto o
acordo com o IFAS passando, por via dele, para os quadros do Centro de Educação
Especial do Porto (CEEP) todo o pessoal técnico do Instituto.
Em Novembro de 1977,
graças ao esforço conjunto da Santa Casa e do Centro de Educação Especial do
Porto iniciou-se a construção de um ginásio, especialmente concebido para
cegos”.
Fonte: Santa Casa da Misericórdia do Porto
Hoje, a toponímia da cidade passou a ter a pouco conhecida
“Rua Instituto de Cegos S. Manuel”, que liga a Rua de Joaquim Vasconcelos à Rua
da Torrinha.
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