A estrada marginal que corria pela margem direita do rio
Douro, entre o esteiro de Campanhã e a Ribeira, começaria a ser delineada na
década de 1940. Foi durante muitos anos o Caminho da Aguada.
Este topónimo referenciava a foz da ribeira de Mijavelhas,
situada entre a ponte do Infante D. Henrique e a ponte Maria Pia, que
despencava, lá do alto, para o rio Douro, em cascata, com a sua nascente nas imediações do Campo 24 de Agosto.
Em anos de muita chuva, apesar do encanamento da ribeira, é
possível observar o fenómeno, pois ela acaba por transbordar. Foi o caso da invernia acontecida na primeira semana do ano de 2023.
Dessa cascata de água se diz que, em épocas muito remotas,
os barcos se vinham abastecer de água potável.
Actualmente, essa estrada marginal compõe-se de dois troços
a que correspondem dois topónimos. Entre o Freixo e o entroncamento com a Rua
de Sabrosa é chamada de Avenida Paiva Couceiro. Daí até à ponte Luiz I é a
Avenida Gustavo Eiffel.
Seria o engenheiro militar Reinaldo Oudinot, que durante
catorze anos dirigiu as obras da barra, a conceber uma intervenção na frente
unitária ribeirinha.
Nesta óptica, seriam cinco as intervenções a desenvolver: São
João da Foz, com o projecto para a barra e para a reestruturação urbana e
defensiva deste lugar; Massarelos, com o projecto de um cais para abrigo das
embarcações e de uma alameda pública; Ribeira do Porto, com o projecto de
ampliação e elevação do cais e de reestruturação do tecido urbano existente;
Guindais, com o projecto de um cais para o porto fluvial; e Freixo, com o
projecto de regularização da foz dos rios Tinto e Torto, no esteiro de
Campanhã.
No âmbito deste último, acrescia um outro objectivo: o de
estabelecer a ligação da cidade baixa com as povoações de Valbom e Gondomar.
A partir de 1794, passou a ser possível vencer o percurso
escarpado da margem direita do rio Douro, entre o esteiro de Campanhã e a Ribeira, a pé ou a cavalo.
“Uma das dificuldades
na construção da estrada entre a Ribeira e o Freixo era a abertura do leito da
via pois neste tramo do rio Douro as encostas são escarpadas e rochosas.
A dificuldade maior,
porém, era a travessia do esteiro de Campanhã, zona alagadiça onde desaguavam
os rios Tinto e Torto1851. Oudinot estudou em particular este local onde o rio
Douro faz uma curva pronunciada. O projecto envolveu o encanamento da foz dos
dois ribeiros e a construção de estradas e pontes no leito do rio; envolveu,
ainda, a conciliação do traçado da nova estrada para a Régua com o palácio do
Freixo e seus jardins assim como a resolução das ligações às povoações
próximas.
(…) No final do ano de
1794 já estava aberta a ligação entre a Ribeira e o vale de Campanhã, uma
passagem “a pé ou a cavalo”, estabelecendo-se a comunicação à cota baixa entre
a cidade e as povoações vizinhas situadas na parte oriental. Nos anos
seguintes, Oudinot continuou com este trabalho, “alargando e melhorando o
caminho, de forma que se possa cada vez aproveitar melhor”. Com estes
trabalhos, Oudinot garantia o início da construção
de uma via marginal ao Douro, uma tarefa que se prolongaria pelos séculos XIX e
XX”.
Cortesia de Carlos
Henrique de Moura Rodrigues Martins - Tese de Doutoramento em Arquitectura
(2014)
O Caminho da Aguada seria caminhado na íntegra, entre a
Ribeira e o Freixo, pela personagem Manuel Quintino, na obra “ Uma Família
Inglesa” de Júlio Dinis. Quando tinha um problema para resolver que
necessitasse de reflexão, a solução buscava-a naquele percurso, em contemplação
da paisagem e em meditação.
Acabaria por ser encontrado extenuado, sentado num banco
junto do cemitério do Prado do Repouso, já na Rua do Heroísmo, pelo seu futuro
genro.
Júlio Dinis vai descrevendo os lugares de passagem: fonte do
Carvalhinho, Quinta da China, Rego do Lameiro e Esteiro de Campanhã. Para trás
tinha ficado a fábrica de Curtumes. Começava a subida para o sítio do Padrão.
Teríamos que chegar à década de 1940 para que todo o
percurso, entre o Freixo e a Ribeira, fosse realizado em plenitude.
Abertura da estrada marginal de ligação do Freixo à ponte
Luís I, na zona da Central Termo Eléctrica do Freixo – Ed. Guilherme Bomfim
Barreiros; Fonte: Arquivo Municipal do Porto
Aspecto das obras para a abertura da Avenida Marginal, na
zona do Freixo, que possibilitaria a ligação da estrada nacional n.º 19-2.ª,
com o tabuleiro inferior da ponte Luís I - Ed. Guilherme Bomfim
Barreiros; Fonte: Arquivo Municipal do Porto
Aspecto das obras de abertura da Avenida Marginal, em Quebrantões
Norte - Ed. Guilherme Bomfim Barreiros; Fonte: Arquivo Municipal do Porto
Marginal do rio Douro (Caminho da Aguada), observada a
partir de V. N. de Gaia, entre o Freixo e a Ribeira antes da grande intervenção
na década de 1940 – Ed. Alvão
Entre o prédio das fotos anteriores e a ponte ferroviária
Maria Pia esteve sedeada a fábrica de cerâmica “Chambers & Wall” que começou por ser, a partir de 1912, um
polo de produção da Fábrica de Louça de Massarelos e que, mercê de um incêndio,
acabaria por encerrar, neste local, em 1936.
O referido prédio
teria sido a habitação do proprietário da cerâmica.
O antigo Seminário, à direita, lá no alto, em litografia de
Cesário Augusto Pinto, em 1849, e mesma perspectiva, actualmente – Cortesia de
“Gaia à la Carte”
Na Quinta de Roriz, c. 1920, em Quebrantões do Norte, na margem
direita do rio Douro, a Fábrica “Chambers & Wall”, com o antigo Seminário, parcialmente, visível
A meio da foto, a Calçada das Carquejeiras (antiga Calçada
da Corticeira), em 1945, com a marginal ainda por construir
Caminho da Aguada, ainda em terra batida, observável desde
da Calçada da Corticeira (Calçada das Carquejeiras) até à ponte Maria Pia
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