quinta-feira, 4 de maio de 2023

25.188 Largo da Aguardente

 
Conhecida actualmente como Praça do Marquês do Pombal, topónimo atribuído, em 1882, em homenagem a Sebastião José de Carvalho e Melo, Marquês de Pombal foi, durante muitos anos, o Largo da Aguardente fazendo parte do percurso que ligava a cidade do Porto a Guimarães.
Porém, não foi fácil aos portuenses largarem a utilização do antigo topónimo.

 
 




Nesta praça desembocava a Rua da Aguardente, último troço da actual Rua do Bonjardim.
Como se pode ver, por notícia publicada pelo “Jornal do Porto” em 25 de Janeiro de 1867, a Câmara Municipal chegou a deliberar, que o Largo da Aguardente passasse a chamar-se “Praça da Constituição”.
Este topónimo não vingou.
 
 
 

“Jornal do Porto” de 25 Jan 1867
 
 
 
 
Desde o início do século XIX, foi este espaço alvo de vários estudos, alguns deles sem qualquer tradução prática, que conduziram ao aspecto actual da praça.
 
 
 

Largo da Aguardente, em 1802
 
 
 
 
Como se pode observar, no desenho acima, a praça tinha uma configuração triangular e estudava-se a hipótese de a tornar rectangular.

 
 

Planta do Largo da Aguardente, em 1812
 
 
 
Na planta acima vê-se que, inicialmente, a praça continuava a ter o formato triangular.
Nela se pode apreciar, em baixo, à esquerda, a Rua Bela da Princesa que tinha este nome desde 1809 e, mais acima, vindo da esquerda, a Rua da Aguardente desembocando na praça.
Pela direita, a saída da praça fazia-se pela Rua do Lindo Vale, pois ainda não estava aberta a Rua Costa Cabral.
A partir da segunda metade do século XIX, os estudos efectuados começam a conduzir a praça para o traçado que tem nos nossos dias.

 
 

Largo da Aguardente em 1858
 
 
 
 

Largo da Aguardente, em 1864, já com a sua forma rectangular
 
 
 
Na planta acima, mostra-se o novo projecto de alinhamento do lado Nascente do Largo da Aguardente e da nova transversal projectada para fazer a ligação do Largo da Aguardente com a Rua da Alegria, no que viria a ser a Rua do Príncipe Real, depois, Latino Coelho.
Como se pode observar, também, a Rua de Costa Cabral já tinha sido aberta desde 1851, bem como a Rua 27 de Janeiro que, depois, viria a chamar-se Rua da Constituição.



 

Praça Marquês do Pombal em 1892




Nos terrenos em que hoje confluem as ruas do Bonjardim e João Pedro Ribeiro existiu, em tempos idos, uma grande quinta, dentro da qual havia uma bela casa senhorial que pertencia a Manuel José do Covelo que, quando morreu, em 1830, a deixou a um seu caixeiro, por testamento.
Esta personagem, acabaria por vender a propriedade a António Bernardo Ferreira, conhecido pelo Ferreirinha da Régua que, pretendendo aí construir um palacete, nunca o chegou a fazer.
Nesses terrenos acabou por ser aberta a Rua João Pedro Ribeiro e construída uma moradia que ostenta o brasão do visconde Pereira Machado e que foi mandada construir pelo 1º visconde de Pereira Machado, de seu nome, Guilherme Augusto de Pereira Machado.
Em 1919, aí se haveria de instalar o Asilo do Terço.
 
 
 
 

O Asilo do Terço, actualmente. Antigo palacete do visconde Pereira Machado
 
 
 
 
Em 1870, foi por aqui edificada (a Nascente), uma praça de touros.
No ano de 1877, algumas pessoas devotas de Santo António ergueram na área da actual Praça do Marquês, uma capela denominada capela de Santo António da Aguardente.


 
 

Praça do Marquês do Pombal, em 1892 – Fonte: Planta de Telles Ferreira
 
 
 
Pela observação da planta, anterior, de Telles Ferreira, em 1892, a Rua João Pedro Ribeiro ainda não tinha sido aberta.
Nela se pode observar a localização do palacete do visconde Pereira Machado, da capela de Santo António da Aguardente (secularizada em 1885), do Mercado e de outras casas de abastados capitalistas.
A nascente, no Palacete Freitas Lima, haveria de viver Júlia Lopes Martins, esposa do arquitecto Marques da Silva, e no terreno contíguo esteve a Casa-atelier daquele arquitecto e, hoje, está a Fundação Marques da Silva.
Limitando a praça, a norte, não visível na planta, desde a década de 1860, está o prédio mandado construir por Francisco Ferreira Zimbres, um brasileiro de torna-viagem.
Sobre as instalações da capela de Santo António da Aguardente diga-se que, depois de terem funcionado como escola, voltaram a albergar um outro templo, a partir de 1901 – a capela de São Joaquim - até à sua demolição na década de 1950.
Trabalhos arqueológicos desenvolvidos em 2002, no Jardim do Marquês de Pombal, no âmbito da construção do Sistema de Metro Ligeiro da Área Metropolitana do Porto, obra da responsabilidade da Sociedade Metro do Porto, S.A., permitiram a identificação das fundações do Mercado da Aguardente (conjunto de estruturas em alvenaria de granito argamassado, que se desenvolviam segundo uma planta rectangular com 28 x 13,80 m de extensão).
Começado a construir em 1883 e adjudicado à “Empresa Industrial Portuguesa”, custou a quantia de 21:000$00 réis, associado com a montagem de um outro mercado no Campo 24 de Agosto.
O mercado do Largo da Aguardente localizava-se no meio da praça, tendo sido inaugurado em 1884 e demolido em 1897.
 
 
Como noticiava “O Comércio do Porto” (ver abaixo) a inauguração oficial do mercado iria ocorrer a 1 de Novembro de 1884, um Sábado.
 
“Ao mercado da praça do Marquês afluiu bastante concorrência de consumidores.
Os indivíduos, que não puderam apresentar-se ontem, tencionam reservar-se para o próximo sábado, inaugurando, por essa ocasião, o mercado com embandeiramento e música.”
 
 
Em sessão camarária de 17 de Julho de 1895, seria proposto a demolição do mercado.
 
"O sr. Ferreira Bahia referiu-se aos mercados do Campo 24 de Agosto e do Largo da Aguardente, declarando que a despesa com eles é bastante grande e o rendimento pequeno. Pede, portanto, a sua supressão."
Do jornal "A Palavra", de 18 de Julho de 1895 - 5ª Feira

 
A decisão da demolição daqueles dois mercados seria resultante de sessão camarária de 4 de Março de 1897.
Diga-se, que, o do Campo 24 de Agosto, estava centrado na área mais a Sul, adjacente à Rua do Bonfim. 
Os materiais resultantes da demolição do mercado da Aguardente tiveram, como destino, o levantamento de um outro mercado, em Aveiro, inaugurado em 1898 e demolido em 1919, do qual nos dá conta o texto seguinte.

 
“O Mercado Manuel Firmino surgiu no final de Oitocentos, em "arquitetura do ferro" e comprada em 2ª mão no Porto, tendo sido instalado na zona ocupada pelos Armazéns de Aveiro até ao Grémio Comercial, vindo a ser demolido com a abertura da Avenida Drº Lourenço Peixinho. Em sua substituição, constrói-se um mercado, popularmente conhecido por praça.”
Fonte: “rotadabairrada.pt”
 
 

Alicerces do Mercado da Aguardente
 

 
Em 1898, o espaço foi ajardinado e construído um coreto.
 
 
 

Jardim do Marquês de Pombal em perspectiva de Sul para Norte, c. 1900 - Ed. Alberto Ferreira - Praça da Batalha
 
 
 

Jardim do Marquês de Pombal em perspectiva de Norte para Sul, c. 1900 - Ed. Arnaldo Soares





Em 1898, uns munícipes ofereceram um coreto em ferro para servir o Jardim do Marquês
 
 
 
O coreto que foi fabricado numa pequena fundição da cidade, a Fundição da Trindade, foi inaugurado em 2 de Abril de 1899, com o concurso das bandas do Regimento de Infantaria 6 e dos Voluntários de Gaia.
 
 
 

Praça do Marquês, em 1910 – Fonte: PortoDesaparecido



 

Igreja de Nossa Senhora da Conceição

 
 
A Igreja de Nossa Senhora da Conceição resulta de um projecto do arquitecto monge beneditino Dom Paul Bellot, tendo sido inaugurada em 8 de Dezembro de 1947, quando o Padre Matos Soares era o pároco. Está decorada com frescos de Dórdio Gomes.
 
 
 

Fonte da Confidente

 
 
A fonte da foto acima veio, para aqui, transferida da Praça D. João I.

 
 

Quiosque


 
O quiosque observado na foto anterior foi  construído em 1931 e chegou a apoiar também um posto de abastecimento de combustíveis a viaturas que posteriormente se deslocou para poente para junto da biblioteca Pedro Ivo.
No canto inferior direito da foto seguinte é possível observar as bombas de gasolina da estação de serviço.







 

Fonte com bica em forma de peixe 


 

Biblioteca Pedro Ivo que passou, mais tarde, a café com esplanada
 
 
 
 
“O Jardim do Marquês, no Porto, teve, durante pouco mais de 50 anos, uma biblioteca. Chamava-se Biblioteca Infantil Pedro Ivo (BIPI) e foi uma das primeiras bibliotecas de bairro do país, inaugurada em 1948. Por ela passaram umas quantas gerações de crianças (ao que parece, uma delas até é hoje um autor desta casa e não estou a falar de mim). Quando começaram as obras do metro, a biblioteca foi encerrada, todo o jardim esteve em risco (se bem me lembro, correram petições pela salvação dos plátanos centenários), e a biblioteca nunca mais reabriu…”
Fonte: Carla Romualdo, In “aventar.eu”

 
 
A biblioteca, cujo traço é do arquitecto Bernardino Basto Fabião, passou a Bar com esplanada e hoje, está ao abandono.
Sobre Pedro Ivo, nascido no Porto, Rua do Bonjardim, em 1842, no prédio que, na década de 1920, tinha o nº 184, e falecido em 1906, na então, Avenida de Carreiros, nº 41, filho de Carlos Lopes, comerciante, vereador na Câmara Municipal do Porto, do pelouro dos Expostos, de 1858 a 1862, e muito conhecido por ser dono de uma livraria e com fama de excelente bibliófilo.
Sobre Pedro Ivo, diz-nos a Infopédia:
 
 
“Escritor português, de nome verdadeiro Carlos Lopes, nascido a 15 de janeiro de 1842, no Porto, e falecido a 4 de outubro de 1906, na mesma cidade. Oriundo de uma família abastada, viveu na Inglaterra e na Alemanha, onde foi educado, traduzindo poesias de Schiller, Goethe, Uhland, Heine e Hoffman, entre outros. Depois de uma estada de dois anos no Brasil, de regresso a Portugal, dedicou-se ao comércio e à atividade bancária, chegando a presidente da Real Companhia dos Caminhos de Ferro de África. Estreou-se na atividade literária com a publicação de Contos (1874), obra elogiada pela crítica, a que se seguiram o romance O selo da roda (1876), igualmente aplaudido, e nova coletânea de contos, Serões de inverno (1880).
(…) Em 1909, Bento Carqueja organizou a antologia póstuma Pedro Ivo, Prosador e Poeta, onde incluiu algumas peças inéditas: contos, traduções de poetas alemães e poesias originais.
Em 1926, foi a vez de Fernando Macedo Lopes, o filho do escritor, organizar a edição de alguns contos inéditos em O Limbo de Pedro Ivo, precedidos de um longo estudo biográfico que inclui fragmentos da correspondência mantida com escritores como Alexandre Herculano, Camilo Castelo Branco e Oliveira Martins, entre outros”.
 
 
Pedro Ivo frequentou, antes de rumar ao estrangeiro, as aulas do professor Alexandre Grant, à Bandeirinha.
Para além das actividades atrás descritas, Pedro Ivo foi guarda-livros, secretário do clube de Agramonte, presidente da Associação Comercial do Porto, Director fundador do Banco Aliança, Vogal da Comissão Reguladora dos Vinhos do Alto Douro, Director da Equidade, Presidente da Assembleia Geral da Associação Comercial de Beneficência, Conselheiro da Misericórdia, Director da Nova Companhia de Utilidade Pública.
Pedro Ivo, como pseudónimo, baseia-se num capitão brasileiro que chefiou a revolução republicana de Pernambuco, de 1848-1849.
No dia 12 de Dezembro de 1918, o Ateneu Comercial do Porto para comemorar o 49º aniversário da sua Biblioteca levou a cabo uma sessão solene de homenagem à memória de Pedro Ivo, acto a que presidiu o Dr. António Simões Pina e em que foram oradores os Drs. Alfredo Coelho de Magalhães e António Coelho Martins de Almeida e para agradecer a homenagem ao seu pai, o Dr. Fernando Macedo Lopes descerrou um retrato do escritor.


 

Avenida de Carreiros (Hoje a Avenida Brasil), nº 41, onde faleceu Pedro Ivo, em 1906. O prédio encontra-se, em 2023, preparado para ser demolido – Fonte: Google maps

 
 
Placa toponímica da Rua de Pedro Ivo

 
 
Desde 17 de Dezembro de 1936, que a Câmara Municipal do Porto, para homenagear o escritor, determinou, por proposta do Dr. Espregueira Mendes, chamar à ligação da Rua de Antero Quental à Rua do Covelo, de Rua de Pedro Ivo.
Desde Abril de 2021, a Câmara do Porto resgatou a "Biblioteca Popular Pedro Ivo", após recuperação das instalações, adaptando o funcionamento do espaço para fins culturais e, a partir de 2022, a programação do mesmo será entregue à comunidade de acordo com um concurso de ideias a ser levado à prática.
A praça, hoje, inclui o jardim romântico, duas taças com jogos de água e um coreto. Densamente arborizada, é muito procurada nos dias de calor e também pelos reformados que disputam aqui as suas partidas de sueca e de dominó.

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