sábado, 2 de setembro de 2023

25.200 A demolição do Palácio de Cristal

Sobre o edifício do Palácio de Cristal, é a descrição feita pela escritura/aristocrata inglesa Lady Catharina Carlota Jackson, no livro “A Formosa Lusitana” (1877), na sequência de uma visita em 1873, e que a seguir se faz referência.
 
 


 
 
Para lá do edifício do Palácio de Cristal chamavam a atenção os jardins circundantes.
Em 1866, a Sociedade Gestora do Palácio de Cristal contratou um trompetista húngaro de apelido Holly para formar e dirigir a Banda Marcial do Palácio de Cristal, aos fins-de-semana e aos Domingos à tarde no Coreto e na Concha Acústica.
Antes, para ocupar o cargo de organista residente, foi contratado, em Paris, Charles-Marie Widor.
Em 1868, uma sala de leitura, das referidas no texto acima, já tinha sido transformada num teatro – o Teatro Gil Vicente. Esta sala de espectáculos vai ser a preferida da colónia britânica e, a partir de 1883, do Orpheon Portuense.
Em 1915, colocou-se a hipótese de venda do Palácio de Cristal à Câmara Municipal do Porto, o que não se concretizaria.
Em 21 de Fevereiro de 1916, seria assinada, no cartório do Dr. António Mourão, a escritura de arrendamento do Palácio de Cristal, pelo prazo de 19 anos, a uma parceria de que eram directores César Ramos e Romualdo Torres, este, último, um conhecido jogador de futebol do Futebol Clube do Porto.


 
“Somando sucessivos prejuízos, não foi vendido á C. M. do Porto em 1915 por forte influência do Conde de Samodães. Até que em 9 de Fevereiro de 1934 esta o comprou por 2.000 contos, na esperança de o dinamizar e fazer mais exposições importantes, o que nunca aconteceu. Continuavam-se a fazer bailes de Carnaval e S. João e festas várias. Era então Presidente o Dr. Alfredo de Magalhães. Até que se anunciou o Campeonato Mundial de Hóquei em Patins de Junho de 1952. Por insistência do Delegado no Norte da Direcção Geral dos Desportos, Mário de Carvalho, logo se pensou realiza-lo no Porto. Mas cá não havia recinto e em Lisboa o que havia só continha 5.200 lugares, o que era considerado muito pouco. Após uma acesa luta política entre Porto e Lisboa e mesmo dentro na nossa CMP, presidida por Licínio Presa, foi decidido deitar abaixo o Palácio de Cristal, na reunião de 18/12/1951, embora a votação e aprovação final só tivesse sido conseguida em 9/1/1952. Porém, o antigo palácio já estava a ser demolido desde as 8 h da manhã do Domingo (?) 16/12/1951 e estava completamente desfeito, excepto a frontaria, em 6 de Janeiro seguinte!”
Engº. Francisco de Almeida e Sousa, In O Tripeiro, 7ª. Série, Ano XX, Nº. 12; Fonte: “portoarc.blogspot.pt
 
 
 
As polémicas que precederam a demolição do Palácio de Cristal foram muitas.
Mário de Carvalho (Delegado no Norte da Direcção Geral dos Desportos) diz que os tempos que se viviam eram de modernidade e avaliza a demolição e há quem tente que a “Mama”, como ficaria conhecida à época o actual pavilhão, fosse construído noutro local, como advogavam o Prof. Hernâni Monteiro e o vereador Pinheiro Torres.
Acontece que, já alguns anos antes, quando se começou a colocar a hipótese de deitar por terra o Palácio de Cristal, o arquitecto Artur Andrade apresentou dois projectos que não tiveram aceitação, dizia-se, por razões políticas, em 1946 e 1948.



 

Projecto de Artur Andrade para o Pavilhão dos Desportos, em 1946
 
 
 

Projecto de Artur Andrade para o Pavilhão dos Desportos, em 1948
 
 
 
 
O Pavilhão dos Desportos, que depois seria baptizado como Pavilhão Rosa Mota, é um projecto do arquitecto José Carlos Loureiro que nele tinha previsto levantar outras construções que, por derrapagem do orçamento, ficaram para sempre no papel.
Entretanto, a demolição do Palácio de Cristal iria decorrer em ritmo acelarado para que tivesse lugar o campeonato do mundo de hóquei em patins.
O campeonato começaria em 29/6/1952, mas o novo pavilhão ainda estava por acabar. Foi disputado a céu aberto. A frontaria do Palácio de Cristal ainda estava de pé!
Devido à chuva, que cairia durante dois dias, uma jornada da prova realizar-se-ia em Matosinhos, num armazém adaptado para o efeito.
Portugal sagrou-se Campeão do Mundo ao ganhar à Itália na final por 4-0.
O pavilhão só ficaria completamente pronto, exibindo a sua abóboda, em 10 de Outubro de 1956, e levando a efeito uma Exposição Agrícola, 100 anos depois de uma outra que ocorreu em terrenos da Torre da Marca situados nesse mesmo local.

 
 

Novo Pavilhão dos Desportos, sem a abóboda, em 1952 e visível, ainda de pé (à esquerda), a fachada do antigo Palácio de Cristal
 
 
 

Selos comemorativos do campeonato de Hóquei em Patins de 1952

 
 

Em 1952, a Selecção de Hóquei em Patins: Raio, José Dias, Correia dos Santos, Cruzeiro e Emídio Pinto

 
 

Demolição do interior do Palácio de Cristal

 
 

Demolição do Palácio de Cristal


 

Fim dos trabalhos de demolição do Palácio de Cristal

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