domingo, 30 de junho de 2024

25.248 Liceus públicos da cidade do Porto

 
Liceu Nacional do Porto, ou Liceu Central do Porto, ou Liceu Portuense
 

Esta escola vai buscar as suas origens ao decreto de 17 de Novembro de 1836, de Passos Manuel, que criou o Liceu Nacional do Porto, que entrou em funcionamento quatro anos depois.
Antes de passar pela Rua de Santa Catarina, na segunda metade do século XIX, pelo edifício conhecido por Palacete dos Castro Pereira ou Palacete do visconde (2º) de Lagoaça e onde, mais tarde, se instalou a Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, bem perto da Rua Formosa, aí funcionando como  Liceu Nacional do Porto (como lhe chamava Alberto Pimentel, que o frequentou e onde leccionou Antero Quental),  passou pela Escola Politécnica e por um palacete da Rua Formosa.
 
 
 
 
 

Palacete dos Castro Pereira, na Rua de Santa Catarina, por onde esteve o Liceu Nacional do Porto - Ed. MAC
 
 
 
Assim, o Liceu Nacional do Porto ou Liceu Portuense foi, então, inicialmente instalado, em 1840, na Escola Politécnica (à Praça dos Voluntários da Rainha ou Praça dos Leões) e, aí funcionou, até 1862, dividindo instalações com a Academia de Belas-Artes e a Escola Politécnica, em condições deficientes, pelo que, em 1847, já se reclamava por outras instalações, o que só se verificaria 17 anos depois.
Assim, a partir de 1861, o Liceu Nacional do Porto esteve instalado, sucessivamente, na Rua Formosa, nº 108-116 (onde esteve até aos nossos dias, a Tipografia “Imprensa Portuguesa”), prédio, à data, pertencente à família Cirne e, a partir de 1866 até 1879, na Rua de Santa Catarina, próximo da Rua Formosa, aí substituindo o Colégio da Guia e, onde, viria a funcionar até ao fim do século XX, a repartição de Obras Públicas.
 
 
 

Palacete da família Cirne, na Rua Formosa, onde esteve o Liceu Nacional do Porto





In “Jornal do Porto” de 26 de Junho de 1866
 
 
 

Entre 1879 e 1884, o Liceu Nacional do Porto ocupou o Palacete dos Cirnes, no Campo 24 de Agosto, pertença de Manuel Carvalho Rebelo, que o recebeu por herança do seu sogro, Francisco Diogo de Sousa Cirne de Madureira, tendo passado, também, por um edifício da Rua de Entreparedes, onde viriam a funcionar os escritórios da Real Companhia Vinícola e o Instituto Comercial e o Instituto de Contabilidade e Administração do Porto.
Aqui, entre 1884 e 1887, tomou o lugar do Colégio de S. Bento, que rumou a S. Lázaro, ao prédio em que tinha estado a Casa de Saúde do Dr. Ferreira.


 
 

Palacete dos Cirne, no Campo 24 de Agosto
 
 
 
 

Entre 1884 e 1887, o Liceu Nacional do Porto esteve no palacete de Campos Navarro, na Rua de Entreparedes - Foto de c.1890
 

 
 
A partir de 1887, a designação do estabelecimento de ensino passou a ser Liceu Central do Porto, ocupando o palacete da Rua de S. Bento da Vitória, da Baronesa da Regaleira, por onde esteve, nos nossos dias, a Polícia Judiciária.



Palacete da Baronesa da Regaleira



Em 1901, é arrendada mais uma casa, contígua à anterior, do mesmo proprietário, seguindo-se mais um arrendamento, em 1903, de uma outra casa contígua, propriedade de Eduardo de Sousa Neves.
Em consequência do aumento da população escolar, o Liceu Central do Porto foi cindido em dois, em 1906.
 
 
 
 
Liceu Nacional Central da 1ª Zona (orienta) ou Liceu Alexandre Herculano
 
 
Em 1895, vem à luz do dia a Reforma Jaime Moniz e, fruto dela e de outras mais, o ensino liceal é alvo de uma intervenção.
Em 1906, é ultimada a cisão do Liceu Central do Porto, originando dois estabelecimentos de ensino.
Um deles, que virá a ser o Liceu Central da 1ª zona (oriental) do Porto e que dará origem ao Liceu Alexandre Herculano, instala-se, em 29 de Setembro de 1905, na Rua de Duque de Loulé, em instalações pertencentes ao Colégio dos Orfãos e, em 17 de Novembro de 1906, é alugada uma casa anexa pertencente também, àquele colégio.
Em Setembro de 1907, parte do liceu muda para a Rua de Santo Ildefonso (entre o Largo do Padrão e o Campo 24 de Agosto), para duas casas contíguas, uma pertencente a Joaquim António Silva e, a outra, a Adolfo Fernando Barbosa.
Abandonadas, definitivamente, em 1910, as instalações da Rua Duque de Loulé, é ainda na Rua de Santo Ildefonso que vai ser alugada mais uma casa, contígua às já ocupadas, pertencente a António Luís de Sousa.
A que se seguiria o aluguer de mais outra, ainda na Rua de Santo Ildefonso, mas situada no troço compreendido entre o Largo do Padrão e a Rua de Passos Manuel, propriedade de Vitorino de Almeida.
Em 1916, as instalações do liceu passam a ocupar, também, por arrendamento, um prédio na Rua do Poço das Patas (Rua Coelho Neto), em frente da Travessa do Poço das Patas, pertencente a José da Silva Baía Júnior.
Em 1908, já  o Liceu Central da 1ª Zona (oriental) do Porto tinha passado a ser o Liceu Central de Alexandre Herculano e, em 1921, ocupará as instalações na Avenida Camilo, como Liceu Alexandre Herculano, em terrenos que tinham feito parte integrante da Quinta de Sacais,
 
 
 
“Com o aumento demográfico verificado em finais de oitocentos e, em especial, o acréscimo das exigências sociais do alvor da nova centúria, especialmente emanadas dos círculos republicanos, as entidades competentes viram-se na necessidade de fundar novos estabelecimentos liceais, ao mesmo tempo que desdobravam as zonas escolares entretanto definidas.
Neste panorama traçado para a generalidade do território português, a cidade do Porto seria dividida em duas grandes zonas pedagógicas, instalando-se em cada uma delas um liceu central, por decreto de 4 de Janeiro de 1906. O que ocorreria de imediato, para o caso que nos interessa, como Liceu Central da 1ª zona (oriental) do Porto, em instalações provisórias e pouco apropriadas aos requisitos de um ensino desta natureza, como acima se disse, em edifício alugado na Rua do Sol, até que, passados dois anos, em 1908, e já ostentando a denominação de
Liceu Central de Alexandre Herculano", se procedeu à sua transferência para a Rua de Sto. Ildefonso, onde ocuparia instalações arrendadas para o efeito.
Mas, foi somente com o advento republicano e, mais propriamente, em 1911, que o Parlamento aprovou a proposta apresentada pelo médico e deputado pelo Porto na legislatura das Constituintes desse mesmo ano, Ângelo Vaz, controverso defensor e divulgador do polémico movimento neomalthusiano, emergido entre nós, justamente, no início desta centúria, que mudaria, radicalmente, a História do Liceu. Referimo-nos, em concreto, ao empréstimo governamental de 150 contos para construção de um edifício de raiz.
Não obstante, e depois de ter sido lançada a primeira pedra em 1916, em cerimónia oficial testemunhada pelo presidente da República Bernardino Machado (1851-1944), a conclusão do projecto verificou-se apenas em 1934, da autoria do conhecido arquitecto José Marques da Silva (1869-1947), que viveu em Paris, entre 1889 e 1896, depois de ter cursado na Academia de Belas-artes do Porto, e antes de ter obtido vários prémios de reconhecimento internacional, designadamente no âmbito das Exposições Universais de Paris (1900) e do Rio de Janeiro (1908).
Um longo período pautado por diversas adversidades, não apenas económicas, como, sobretudo, políticas, ditadas, quer pelo envolvimento do país na I Grande Guerra, quer pelos sucessivos tumultos registados entre finais da segunda década, inícios da terceira, culminando no estabelecimento da Ditadura Militar e do Estado Novo, levou a que o LAH só fosse finalizado em 1934, ainda que já fosse frequentado desde o ano lectivo de 1921-1922, reduzido, porém, à ala poente do seu corpo.
Contemplando de início 28 salas de aula, com áreas específicas destinadas ao ensino de Física, Química, Geografia, Desenho e Música, a par de uma biblioteca, anfiteatro para apresentação de teatros e, já num segundo momento, de cinema, cinco pátios de recreio, um de desporto, três ginásios, piscina, cozinha e refeitórios, sanitários, gabinetes médicos, sala de professores, gabinete do médico escolar e três cómodos para o reitor, o projecto denunciava um conhecimento assaz profundo das mais recentes teorias e práticas pedagógicas, designadamente das implementadas além-fronteiras, assim como, certamente, uma colaboração estreita e verdadeiramente exemplar entre arquitecto e pedagogos. As alterações verificadas, desde então, resumiram-se à construção de 8 novas salas de aula e de uma capela, já nos anos sessenta, perante o aumento do número de alunos entretanto registado, amplamente frequentado por destacados membros da sociedade portuense, nomeadamente das suas Artes e Letras”.
Fonte – Site: patrimoniocultural.gov.pt
 
 
 
 

Liceu Alexandre Herculano, em 1930
 
 
 

Liceu Alexandre Herculano

 
 
Ficou célebre o recital de piano e violoncelo executado pelas irmãs Moreira de Sá e Costa, nas instalações do liceu, promovido pelo reitor Sena Esteves, no dia 8 de Dezembro de 1949.
Após a revolução de 25 de Abril, com a extinção dos liceus, o estabelecimento passaria a Escola Secundária Alexandre Herculano e, depois, de um encerramento de seis anos e de durante três anos ter recebido obras de reabilitação e modernização, reabriria as suas portas, em Setembro de 2023, a toda a comunidade educativa, no arranque de mais um ano lectivo. Foi possível, então, constatar a transformação de todo o edificado, respeitando o desenho original, da autoria do arquitecto José Marques da Silva.
 
 
 
Marques da Silva num jardim interior do Liceu Alexandre Herculano
 
 

 
Liceu Nacional Central da 2ª Zona (ocidental), ou Liceu D. Manuel II, ou Liceu Rodrigues de Freitas
 
 
Este estabelecimento de ensino resultou, então, da cisão, em 1906, do Liceu Central do Porto, em duas zonas geográficas, tendo como resultado final o aparecimento de dois estabelecimentos de ensino.
Um estabelecimento toma, à data, a designação de Liceu Nacional Central da 2.ª Zona (ocidental) Escolar do Porto e, por decreto de 9 de Setembro de 1908 passaria a Liceu D. Manuel II.
A outra instituição, que passaria a ter existência, a partir daí, seria o Liceu Nacional Central da 1.ª Zona (oriental) Escolar do Porto, depois, Liceu Alexandre Herculano. 
Este partiria para a zona oriental da cidade e o Liceu D. Manuel II, à data, que passaria após a implantação da República a ser o Liceu Rodrigues de Freitas, continuaria pela Rua S. Bento da Vitória, no Palacete da Baronesa da Regaleira, que ocupava desde 1887.
Logo, no ano de 1912, o governador civil do Porto chegou a visitar o Palácio das Carrancas, indagando da possibilidade de o Liceu Rodrigues de Freitas, nele passar a funcionar, o que nunca veio a acontecer.
 
 
 
“Imediatamente após a implantação da República em Portugal, a 23 de Outubro de 1910, o governo provisório decretou a designação de Liceu Rodrigues de Freitas, em homenagem a José Joaquim Rodrigues de Freitas, político, jornalista e professor de Comércio e Economia Política na Academia Politécnica do Porto e eleito, em plena monarquia (1870), o primeiro deputado republicano português.
Desde 1906, em que o Liceu Central da 2ª Zona (ocidental), que daria origem ao actual Liceu Rodrigues de Freitas apareceu, até ocupar as instalações actuais junto à igreja de Cedofeita, andou por vários prédios alugados.
O actual edifício, situado na Praça de Pedro Nunes, data de 1932-1933 e é da autoria do arquitecto José Marques da Silva, tendo sido em 1958, alvo de intervenção segundo projeto do Arquitecto Manuel Lima Fernandes de Sá.
Para além das suas grandes dimensões, o edifício é dotado de diversas infra-estruturas, pouco habituais nas construções escolares da época, nomeadamente um museu da ciência, um observatório meteorológico, diversos laboratórios de química, física e biologia, quatro ginásios (um deles exterior), uma biblioteca, um teatro, três salas de desenho, cantina e bar, para além de numerosas salas de aula e outros equipamentos.
Em 1945, o estabelecimento de ensino regressou à designação de Liceu D. Manuel II e, após o 25 de Abril de 1974 assumiu, definitivamente, o nome de Escola Secundária Rodrigues de Freitas”.
Fonte: pt.wikipedia.org/
 
 
Em anexo a esta escola funciona, há alguns anos, o Conservatório de Música do Porto.

 
 

Liceu Rodrigues de Freitas - Fonte: pt.wikipedia.org



 
 
Liceu Carolina Michaëlis e Liceu Rainha Santa Isabel
 
 
Liceu Carolina Michaëlis e o Largo do Mirante
 
 
Em 1914/15, entra em funções o Liceu Nacional Feminino do Porto como uma Secção Feminina dos Liceus do Porto, que teve como primeira instalação o nº 441, da Rua de Cedofeita, no edifício conhecido como a residência antiga da família Sandeman e, também, como Palacete do visconde de Barreiros, tendo sido, depois, esquadra da Polícia de Segurança Pública.

 
 
 
À direita, em 1º plano, o local de instalação do Liceu Nacional Feminino do Porto, na Rua de Cedofeita
 
 
 
 
O Liceu Rodrigues de Freitas manifestou um grande interesse no desenvolvimento desta secção feminina, ao contrário do Alexandre Herculano, talvez, por que, a sua localização se encontrava um pouco distante da sua área de influência.
O Liceu Nacional Feminino do Porto teve como patronos, sucessivamente, Castilho (1919), Sampaio Bruno (1919-1926) e, a partir de 1926, Carolina Michaëlis.
Mantendo-se o liceu nas instalações primitivas da Secção Feminina dos Liceus do Porto, em Cedofeita, até 1921, mudaria, neste ano, para o Largo do Coronel Pacheco para um palacete mais amplo, que fora o local de residência da família Braga.
No século XVII, a área em que seria implantado o Largo do Coronel Pacheco (antigo Largo do Mirante) fazia parte da Quinta dos Carvalhos do Monte, da qual era  senhorio directo o Cabido da Colegiada de Cedofeita e cujo domínio útil foi exercido, a partir de determinado tempo, pelos avós maternos de António e José Ribeiro Braga que, acabariam, até hoje, por deixar o seu nome ligado ao local, no topónimo de Rua dos Bragas, aberta em 1832. Esta via liga as ruas de Cedofeita e dos Mártires da Liberdade e a área para a sua implantação foi oferecida pelos dois irmãos.
A mãe deles, Maria Josefa Martins, era filha de uns abastados lavradores, que detinham a posse da Quinta dos Carvalhos do Monte, tendo contraído matrimónio com Custódio Ribeiro Braga, um familiar do Santo Ofício e Depositário Geral da Décima do Porto.
O filho primogénito do casal era José Ribeiro Braga (?-1854), que haveria de ser, a partir de 1784, cavaleiro professo da Ordem de Cristo, quando morava com os seus pais na Calçada do Corpo da Guarda. Em 1789, os dois irmãos já são dados como sendo os possuidores da referida Quinta dos Carvalhos do Monte. 
José Ribeiro Braga foi casado com Isidora Rita dos Santos, de cujo casamento, duas das filhas do casal se juntaram a outras famílias de relevo na cidade. Assim, Camila, a mais velha, casou com Eugénio Ferreira Pinto Basto, dono da quinta de Entre-Quintas e Emília casaria com Nicolau de Clamouse Browne, filho do cônsul de França no Porto.
Por sua vez, António Ribeiro Braga fez parte da Junta Provisória, após a passagem dos invasores franceses, em 1808.
 
 
 

José Ribeiro Braga, em 1832, teria residência, também, na Rua de Cedofeita, nºs 376-378, na casa (projecto de 1825) onde esteve localizada a Fonte de Cedofeita – Fonte: Planta de Telles Ferreira de 1892

 
 
Na residência referida, na planta acima, teria funcionado provisoriamente a Câmara, aquando do Cerco do Porto.

 

Pelo edifício, à direita, passou o Liceu Nacional Feminino do Porto, na Praça do Coronel Pacheco – Fonte: Google maps
 
 
 
Na foto acima, ao meio, vemos a Rua do Mirante e, à esquerda, o local onde em 1859, estava instalado o Colégio de Madame Podestá e que, depois, veio a ser a morada do Colégio de Santa Maria, até 1910 e, até 1975, do Colégio Almeida Garrett, tendo o edifício, ao longo dos anos, sido alvo de contínuas obras de ampliação. 
A Rua do Mirante e a Praça do Mirante (Praça Coronel Pacheco) devem o topónimo, de facto, à existência de um miradouro, aí existente.
Já, em 1758, o abade de Cedofeita enviava ao autor do "Diccionário Geográfico" a seguinte informação:

 
"Há também (na dita freguesia) o Mirante dos Ingleses, donde estes e o povo da cidade do Porto vão ver o mar e a mesma entrada e saída de navios; acha-se ao presente sem telha, existe a pedraria".
 
 
Nesse local, desde 1921, o Liceu Carolina Michaëlis ocuparia o edifício da direita da foto (antes ocupado, na transição de séculos, pelo Colégio de Miss Hennessey ou das Inglesinhas), que também foi pretendido, sem sucesso, pela Faculdade de Medicina para nele montar uma maternidade, anexa à faculdade, e pelo Liceu Rodrigues de Freitas, que para aqui queria deslocar-se e abandonar as instalações da Rua da Vitória. 
Mais tarde, e após o abandono das instalações pelo Liceu Carolina Michaëlis, elas seriam ocupadas pelo Departamento de Minas da Faculdade de Engenharia.
Em 1 de Dezembro de 1951, o Liceu Carolina Michäelis é inaugurado, acabando por ocupar as instalações de um edifício construído de raiz, na Quinta do Meio, à Ramada Alta, local onde ainda permanece, cujo projecto é do arquitecto José Sobral Branco.
 
 
 
Liceu Carolina Michaëlis, em 1951 – Fonte: AHMP
 
 
 
“Foi o primeiro liceu de raparigas do Porto e, durante décadas e décadas, teve como imagem de marca o elevado nível de exigência. Muitos viam ali uma escola de elite e, até aos anos 80, ainda era comum chamarem-lhe, não sem alguma ironia, a "Universidade da Carvalhosa". Atual sede de agrupamento, a escola Carolina Michaëlis está a celebrar cem anos. E deve o seu nome a uma mulher que provavelmente nem passou por lá.
O que se sabe é que a escritora e crítica literária nascida em Berlim vivia no Porto e era casada com Joaquim de Vasconcelos, professor no Liceu Nacional Central da 2.ª Zona Escolar do Porto (mais tarde Rodrigues de Freitas). Foi em 1926, no período da Ditadura Militar e pouco depois de Carolina ter falecido, que a escola assumiu o seu nome, abandonando a republicana designação Sampaio Bruno.
«Não se sabe o motivo da escolha do nome, nem se sabe que ligação ela tinha à escola. Pensa-se que terá lecionado cá em 1915», refere-nos Ângela Marques, coordenadora da equipa que está a desenvolver o programa comemorativo do centenário. Ora, esse foi precisamente o ano em que a escola foi criada - com a designação de Liceu Nacional Feminino do Porto - e na sua génese esteve a Secção Feminina do Liceu.
A lei que previa os institutos de ensino secundário para o sexo feminino era de 1888, e Lisboa viu surgir o Liceu Maria Pia em 1906. O Porto ainda teria de esperar mais nove anos, não obstante a pressão exercida pela Câmara e o empenho dos republicanos que viam na criação da escola para raparigas uma forma de prestigiá-las e de enaltecer o seu papel na sociedade. «Mas, mesmo entre os republicanos, havia quem questionasse essa ideia do prestígio. A questão não era pacífica», sublinha Ângela Marques.
Curiosamente, essa resistência viria a manifestar-se anos mais tarde no sentido inverso. «A nível nacional, foi o liceu que mais tardiamente recebeu rapazes», recorda aquela responsável. Só cinco anos após o 25 de Abril é que o Carolina passou a ser uma escola mista (o Rainha Santa Isabel foi bem mais cedo). E, no primeiro ano, apenas se matricularam dez rapazes. «Era um liceu muito mais tradicional e muito mais fechado, com uma cultura muito própria», acrescenta.
«Entre 1915 e 1926, não houve tempo para a escola se afirmar como vanguardista», sublinha, lembrando que, durante o Estado Novo (instituído em 1933), o Carolina Michaëlis baixou consideravelmente o número de alunas: «Não interessava que houvesse muitas raparigas a estudar. Era só uma elite». Nada que se comparasse aos áureos anos 80, em que a escola chegou a ter mais de três mil inscritos. Hoje, tem cerca de 900.
Já depois de ser um estabelecimento misto, o Carolina «manteve a mesma imagem de grande exigência» que teve desde a primeira hora. Em paralelo, granjeou invejas. Ângela Marques lembra que expressões como «meninas bem», «privilegiadas» e «Universidade da Carvalhosa» foram epítetos que acompanharam, do lado de fora, a vida da escola. Até que, em 2004, foi dada «a primeira machadada no peso da instituição», quando se aventou a hipótese de encerramento. Tal acabou por não acontecer, mas a polémica afastou muitos alunos. Depois, o Carolina passou a fazer parte de um agrupamento de escolas. «Os agrupamentos acabaram com as imagens de marca das instituições. A identidade diluiu-se», remata aquela responsável”.
Fonte : Isabel Peixoto, In Jornal de Notícias
 
 
 
Ao longo dos anos, entre muitos outros professores de sucesso do Liceu Carolina Michaëlis, destaca-se a professora de matemática Marília Monteiro.
 
 
“Data da década de sessenta do século XX a criação de três instrumentos de cálculo inéditos, o Quadrante de Cálculo, o Calculador Analógico e o Radiciador Parabólico pela professora de Matemática dos liceus, Marília Monteiro. O primeiro foi construído no Laboratório Nacional de Engenharia Civil e exposto em salões de inventores, de Bruxelas em 1963 (ainda em esquema) e de Lisboa em 1964, onde obteve primeiros prémios.
Em missão oficial do Ministério da Educação Nacional, Marília Monteiro apresentou este instrumento em alguns liceus, institutos industriais e escolas técnicas das três cidades universitárias do País. O Calculador Analógico resultou de uma amplificação de uma das facetas do Quadrante de Cálculo, com vista a melhorar o grau de aproximação das leituras a efetuar e a valorizar a sua eficiência. Este foi galardoado com uma medalha de ouro no XIV Salão Internacional de Inventores, realizado em Bruxelas de 5 a 14 de Março de 1965. O Radiciador Parabólico foi apresentado no salão de inventores do ano seguinte (onde foi exposto, de 11 a 20 de Março de 1966), sendo concedido um diploma de medalha de ouro.”
Cortesia de Anabela Teixeira
 
 
Com a evolução tecnológica, na década de 1970, apareceram as calculadoras eletrónicas, instrumentos mais cómodos e precisos, com preços acessíveis, e rapidamente os instrumentos de cálculo, até aí concebidos e usados, ficaram ultrapassados.
 
 
 
 
 

Cortesia de Anabela Teixeira
 


 
Liceu Rainha Santa Isabel
 

Este estabelecimento de ensino arranca, em 1933, como uma Secção do Liceu Carolina Michaëlis.
 
“O Liceu Carolina Michaëlis, incapaz de responder à crescente procura, foi autorizado, em 4 de Outubro de 1933, a funcionar com uma secção localizada na zona oriental da cidade, numas instalações situadas na Rua dos Heróis de Chaves, n° 710 (actual Rua D. João IV), passando no ano lectivo seguinte para a Rua de Santa Catarina, 726”.
Fonte: Teresa Maria Morais Moreira - Dissertação de Mestrado em História da Educação
 
 
 
Assim, a situação das acanhadas instalações, arrendadas a particulares, sitas na Rua de Santa Catarina, nº 726, constituídas por rés-do-chão e três andares é denunciada pela vice-reitora Eulália Balacó,
 
"todos os inconvenientes de uma casa que não foi construída para escola. Corredores estreitos, muitas escadas e num local muito movimentado."
Relatório da Secção do Liceu Carolina Michaëlis, ano lectivo 1935/36
 
 
No entanto, em Fevereiro de 1938, o estabelecimento passa para uma casa, também arrendada, sita no gaveto das ruas do Heroísmo e António Carneiro com a porta da entrada por esta última rua, com o nº 8, de rés-do-chão e três andares com uma apreciação mais positiva da vice-reitora Eulália Balacó,
 
 
"estado geral... é bom. É uma casa adaptada, mas as salas são amplas, bem iluminadas e soalheiras".
Relatório da Secção do Liceu Carolina Michaëlis, ano lectivo 1937/38
 
 
Este prédio tinha sido alvo de obras importantes em Julho de 1881 e, à data, situava-se na Rua de Barros Lima, nº 8 (só mais tarde se haveria de chamar, àquele troço, Rua António Carneiro).
Tinha sido, então, solicitada uma licença à Câmara do Porto, por Bartolomeu Pires Zenão que mencionava como proprietário do imóvel, Henrique Ribeiro de Faria (Porto, Sé, 18.11.1827 - Porto, Foz do Douro, 11.01.1888) e, cujo objectivo, era acrescentar um 3º piso ao prédio.
Henrique Ribeiro de Faria era descendente de Francisco José de Barros Lima.
Acontece que, em 1876, 1880, 1900 e 1911, existem pedidos de licenças à Câmara do Porto, mas nos quais o proprietário declarado é Arnaldo Ribeiro de Faria, que faleceria em 1911, viúvo e sem filhos e, em cujo testamento, entre muitos outros, são contemplados  sua sobrinha, a condessa de Campo Belo, uma das filhas de seu irmão Henrique e, ainda, Laura Pereira Leitão, que era usufrutuária da casa de seus avós, sita na Rua de Cedofeita, morada que tinha funcionado como quartel-general de D. Pedro IV. 
A propriedade onde haveria de surgir o Liceu Rainha Santa Isabel acabaria, assim, nas mãos do conde de Campo-Belo, mais propriamente o 2º conde de Campo-Belo, Diogo Leite Pereira de Paiva Távora e Cernache, casado com Maria Jerónima Ribeiro de Faria, a tal sobrinha e condessa.
Em 27 de Outubro de 1937, o conde de Campo Belo arrenda o edifício que vai servir como uma secção do Liceu Carolina Michaelis por 2500$00 mensais, com a obrigatoriedade de o senhorio concluir a edificação dum 3.º andar, no ângulo das ruas António Carneiro e do Heroísmo, até ao começa da capela existente.


Edifício onde funcionou inicialmente o Liceu Rainha Santa Isabel - Desenho do escultor Antero Sousa



A Secção do Liceu Carolina Michaelis, até 1946, funcionaria em instalações do prédio, atrás descrito, que tinha anexo um quintal, que se prolongava por uma mata e que, em tempos idos, tinha constituído a célebre Quinta de Barros Lima.
Em 12 de Outubro de 1946, a Secção do Liceu Carolina Michaelis autonomizou-se, tornando-se no Liceu Rainha Santa Isabel, pelo Decreto-Lei 35 905.
Assim, em 21 de Novembro de 1946, a Dr.ª Hermengarda Malvar Guedes tome posse como reitora do Liceu Rainha Santa Isabel.
Neste ano, seriam executadas obras de beneficiação, e o estabelecimento de ensino passa a anexar o edifício contíguo, com entrada pela Rua do Heroísmo, nº 218, que, até essa data, tinha albergado o Colégio Nun’Álvares (colégio de rapazes).
Portanto, a partir do ano lectivo 47/48, as aulas passaram a ser dadas, simultaneamente, no primitivo edifício e no edifício contíguo do antigo Colégio Nun’Álvares e ainda, num outro, separado por um espaço, (que funcionava como recreio) que tinha funcionado como cavalariça.
 
 
 

Fachada, do primitivo edifício do Liceu Rainha Santa Isabel, voltada para a Rua António Carneiro – Fonte: Google maps
 
 
 
 

Fachada, voltada para a Rua do Heroísmo, do primitivo edifício do Liceu Rainha Santa Isabel
 

 
Em terrenos, situados na Rua António Carneiro, contíguos às instalações primitivas, iria surgir, na década de sessenta do século XX, um outro edifício para ampliação do estabelecimento.


 
 

Inauguração das novas instalações do Liceu Feminino Rainha Santa Isabel – Fonte: AHMP
 
 
 
Na foto acima, várias personalidades aguardam a chegada do Chefe de Estado, Almirante Américo Tomás, que acompanhado pelos Ministros do Interior, Alfredo dos Santos Júnior e das Obras Públicas, Arantes e Oliveira, irá proceder no dia 18 de Junho de 1964, à inauguração das novas instalações do Liceu Feminino Rainha Santa Isabel.
Américo Tomás era aguardado pelos representantes da cidade, o Presidente da Câmara Municipal, Nuno Pinheiro Torres e o Vice-Presidente da Câmara Municipal, Veiga de Faria; o Bispo do Porto, Dom Nuno Ferreira Gomes, para benção do edifício, e pela população, com destaque para as jovens da Mocidade Portuguesa.





Novas instalações do Liceu Rainha Santa Isabel
 
 
Em 29 de Agosto de 2003, o Liceu Rainha Santa fecharia as suas portas.

sexta-feira, 28 de junho de 2024

25.247 Observatório Meteorológico da Serra do Pilar

 
 
“Em Portugal, as primeiras referências a observações meteorológicas surgiram no século XVII, de uma forma isolada e individualizada. De entre os estudiosos de meteorologia destacou-se o médico portuense Dr. José Bento Lopes que no ano de 1792, recolheu dados meteorológicos diários na cidade do Porto.
Na sua maioria, as observações eram feitas por académicos, médicos ou professores de Física, que faziam leituras meteorológicas associadas à Saúde Pública. Na Academia Real da Marinha e Comércio também se faziam observações mas ligadas ao estudo da náutica e da astronomia.
No sentido de melhorar as observações que até então se faziam e as instalações onde as mesmas eram efetuadas - na sua maioria careciam de qualidade relativamente às existentes fora do país - foi criada em 1853, na ala Sul do Hospital de Santo António, na antiga sede da Escola Médica, uma estação meteorológica, designada por Observatório da Escola Médica do Porto. Constituiu o “primeiro estabelecimento oficial onde se começaram a fazer observações meteorológicas regulares”, desempenhando um importante papel no ensino das ciências médicas, em especial a disciplina de Higiene.
O objetivo de criar um Instituto meteorológico onde se pudessem fazer seguidas e ininterruptas observações, como já se faziam noutros países cientificamente mais desenvolvidos, foi conseguido em 1854”.
Fonte: “memoriasgaiensesbibliotecadegaia.blogspot.pt”


 
 

Hospital de Santo António, em 1833
 
 
 
Vai ser na ala do hospital, à esquerda da foto acima, em 1853, que será montado o Observatório Meteorológico da Escola Médica do Porto.
 
 
 

Observatório Meteorológico da Escola Médica do Porto (lá bem no alto) a funcionar no Hospital de Santo António. À esquerda, o jardim da Cordoaria




Destacando-se do telhado observam-se parte das instalações do Observatório Meteorológico da Escola Médica do Porto
 
 
 
Em 1854, é criado um Posto Meteorológico, em Lisboa, anexo ao Observatório Meteorológico do infante D. Luís que, no final do século XIX, vai dar origem a uma estrutura muito mais ambiciosa.
Entretanto, com a necessidade dos comerciantes da cidade do Porto terem o conhecimento atempado das condições meteorológicas para saberem das possibilidades de embarque e desembarque das matérias que eram movimentadas nos cais do rio Douro, em 1885, na sequência da experiência já vivida desde 1854, em Lisboa, é criado um Posto Meteorológico autonomizado em relação ao da capital nascendo, assim, o “Posto Meteorológico e Casa Magnética do Porto”, inaugurado em 9 de Julho de 1885.
Este, um pouco mais tarde, seria rebaptizado como “Observatório Princesa D. Amélia”.
 

 

Edifício primitivo do “Posto Meteorológico e Casa Magnética do Porto”
 
 
 
Largo Actor Dias com perspectiva sobre a Serra do Pilar e do “Observatório Princesa D. Amélia”, c. 1900
 
 
 
O 1º Director do observatório será o capitão-de-fragata José Maria Soares Ferreira, tendo a Academia Politécnica do Porto, no início do século XX, acabado por englobar a estrutura existente e, quando, em 1911, a Academia dá lugar à Universidade do Porto, ela vai acabar por pertencer à Faculdade de Ciências.
Em 1913, finalmente, o observatório toma o nome pelo qual é conhecido dos portuenses, se bem que, oficialmente, desde 1946, ele seja designado por, “Instituto Geofísico da Universidade do Porto”.
Em 20 de Fevereiro de 1926, toma posse nas funções de director interino do Observatório da Serra do Pilar, o Dr. Álvaro Machado, 1.º assistente da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, conforme notícia do jornal “O Comércio do Porto” de 26 de Fevereiro.
 
 
 

“O Comércio do Porto” de 26 de Fevereiro de 1926







Serra do Pilar, em vista aérea, em 1950
 
 
 
Em 1º plano, na foto anterior, é possível ver o edifício do observatório da Serra do Pilar.
O edifício actual deriva do existente no século XIX, com intervenções sucessivas, realçando-se a efectuada na década de 30 do século XX.
De referir que, no início da década de 60, foi possível construir nos terrenos do observatório, com o apoio dos USA, um “bunker” (inaugurado em 1962) de uma rede extensa a nível mundial, onde uns sismógrafos registavam qualquer abalo sísmico, inclusive os ocorridos em virtude de ensaios nucleares da União Soviética.
Até 1993, funcionou esse serviço que implicava, que técnicos do Instituto, ao fim de cada dia, entregassem os registos junto do consulado dos USA no Porto. Hoje, aquela unidade de registo encontra-se exclusivamente ao serviço do Instituto.

 
 
 

Observatório Meteorológico da Serra do Pilar

 
 
O Instituto Geofísico da Universidade do Porto, ou Observatório Meteorológico da Serra do Pilar, é um estabelecimento dependente da Faculdade de Ciências da U. Porto. Fundado em 1833 e anexado à Academia Politécnica do Porto em 1911, acumula as funções de investigação e de ensino. O Instituto integra a Rede Meteorológica Nacional (estação 08546), para a qual fornece diariamente dados sobre temperatura do ar (termómetro seco e molhado), temperatura da relva, pressão, humidade, precipitação, velocidade do vento, nebulosidade e horas de insolação.
O edifício principal, que dispõe de dois pisos com um alto pé direito e uma área de implantação de cerca de 300 m2, foi construído em finais do século XIX numa elevação a oeste da Ponte D. Maria, na Serra do Pilar, em Vila Nova de Gaia.
"O seu aspecto exterior é dignamente concebido com as suas janelas emolduradas a granito. É muito cuidado tanto nos aspectos construtivos como na composição das fachadas. Sobre os panos de parede rebocados e pintados de cor clara, rasgam-se amplas janelas, todas iguais e alinhadas vertical e horizontalmente. Fora deste esquema repetitivo de composição sobressai apenas a porta principal do edifício, colocada a meio das maiores fachadas, sobrepujada por um janelão com o qual se unifica por moldura de granito."
As actividades que o Instituto Geofísico exerce em domínios como os da Sismologia, Climatologia e Meteorologia desenrolam-se noutros edifícios, situados no terreno circundado por um muro ao longo de toda a sua extensão.
A torre do Observatório apresenta as seguintes coordenadas: latitude 41º 08' 19'' N, longitude 8 º 36' 09'' W, altitude 93,515 m”.
Fonte Site: “sigarra.up.pt/up/pt”
 
 
Há cerca de três anos (2014) foi executada uma reabilitação do Instituto Geofísico (Observatório Meteorológico da Serra do Pilar - uma das duas únicas estações climatológicas seculares existentes no país).
 
“Esta reabilitação teve como pano de fundo a museificação do imóvel classificado. Do edifício anteriormente devoluto foram reconvertidas as salas em gabinetes de trabalho e áreas de investigação e lúdicas sobre a estação meteorológica, prevendo ainda a reactivação da estação meteorológica com a recolha diária de elementos.
Na cave, instalou-se o sismógrafo e a oficina pedagógica, e no rés-do-chão instalou-se uma exposição de  máquinas, cartografia e mapas antigos, sala de leitura e a parte em serviço da estação meteorológica.
Construtivamente o edifício, não obstante encontrar-se anteriormente desocupado, apresentava estado de serviço razoável, tendo-se procedido à reabilitação das fachadas em alvenaria de pedra rebocada, revestimentos interiores nos tabiques existentes, recuperação de carpintarias e soalhos, da estrutura secundária da cobertura, prevendo impermeabilização da mesma, bem como reforços pontuais de padieiras, execução de instalações sanitárias, de um elevador no interior, e ainda estacionamento no terreiro exterior.”
Fonte: “afaplan.com”


 

O Instituto Geofísico da Serra do Pilar, em obras

quinta-feira, 20 de junho de 2024

25.246 O outro S. João

 
O Porto já adorou um outro S. João. Por acaso, era natural desta cidade.
Os frades Lóios viriam a fundar, no Porto, o Convento de Santo Elói, em 6 de Novembro de 1491, tendo recebido sempre muito apoio dos portuenses, até  à extinção daquela ordem religiosa em 1834, após a revolução liberal.
Conta-se que aqueles Padres Lóios do convento de Santo Elói tiveram um papel primordial na divulgação das festas sanjoaninas, pois, diziam possuir uma lasca do crânio de S. João (S. João do Porto ou de Terzon), relíquia do foro da Igreja do lugar de Cabeça Santa, Concelho de Penafiel, igreja, essa, que esteve sob a alçada da congregação dos padres Lóios, a partir de determinada altura.
Acontece que a data dos festejos dedicados a este S. João de Terzon acontecia a 24 de Junho, data do seu falecimento, coincidindo com a do nascimento do S. João Baptista - o rapioqueiro.
 
 

Convento de Santo Elói, em 1833 – Desenho de Joaquim Vilanova
 
 
 
 

Edifício levantado, em 1860, a partir das instalações existentes, em 1833, do antigo convento dos frades Lóios
 
 
 
No canto inferior esquerdo da foto anterior se situava, em tempos, a Porta de Carros (antes postigo) aberta na muralha fernandina.


 
 

Outra perspectiva do local em que se situou a Porta de Carros (à direita) – Cortesia de “Gaia à la carte”

 
 
A igreja de Cabeça Santa, no concelho de Penafiel, atrás referida, foi fundada pela filha de D. Sancho I, a rainha Santa Mafalda. Segundo a tradição, ainda em tenra idade, a infanta, durante uma das suas peregrinações que todos os anos a levavam a alguns dos mais conhecidos santuários do Porto e arredores, resolveu fundar em honra de “Jesus –Salvador dos Homens –“ aquela igreja.
Aquele S. João de Cabeça Santa era,
 
 
 
“O S. João do Porto, um eremita do séc. IX que nasceu no Porto e viveu vida eremítica junto da cidade de Tui e aqui sepultado. São quase inexistentes as notícias deste Santo, de cognome Terzon, Teizon ou Izon, nascido no Porto.
Em 1282, os Dominicanos ergueram em Tui um convento (hoje desaparecido), sobre o lugar duma Igreja Paroquial, onde estava sepultado João. As suas Relíquias encontravam-se ainda no Séc. XVII na dita Igreja Conventual e era invocado pelos Tudenses contra as febres. Muitos duvidaram que a chamada Cabeça Santa de um João não melhor identificado fosse uma Relíquia insigne deste João, Relíquia venerada na Igreja de S. Salvador da Gândara erigida por Mafalda, mulher de Afonso Henriques. Da mesma relíquia foi retirado um pedaço, colocado depois na Capela (da Cabeça Santa), da Igreja da Senhora da Consolação (dos Lóios), no Porto. Ambas as Relíquias, às quais se atribuem muitos milagres, eram veneradas a 24 de Junho, com uma evidente referência a S. João Baptista. Parece-me que estes elementos são suficientemente esclarecedores dum facto que muito deve de interessar a todos os Portuenses, por lhes ter dado do privilégio de poderem contar entre outros factos que os tornam orgulhosos na sua História na própria História de Portugal, com o terem o seu próprio Santo, aqui nascido. Sendo o S. João do Porto o Santo protector contra as febres e sendo, na Idade Média, uma das terapêuticas para a cura das mesmas, o Alho, não será que o povo, ao festejar o seu Santo, quisesse, com o alho na mão, prestar-lhe homenagem significativa, empunhando aquilo que simbolizava a cura das mesmas febres?”
Fernando Moreira da Silva, In revista “O Tripeiro”
 
 
 
 

Igreja da Senhora da Consolação do convento dos Lóios junto do postigo dos Lóios – Ed. Gouvêa Portuense
 
 
 
 
 
No texto anterior, é referido, erradamente, que Mafalda era a mulher de D. Afonso Henriques, mas trata-se, de facto, da filha de D. Sancho I, que também se chamava Mafalda.
Assim, nos séculos XVI e XVII no dia de S. João muita gente da cidade rumava em peregrinação a uma terra do concelho de Penafiel, lugar de Cabeça Santa, na Idade Média conhecida como São Salvador de Gândara, onde existia uma relíquia, autenticada por bula do papa Leão X em 1519. A dita relíquia era o crânio de S. João, em igreja românica datada do século XIII.
Aliás, sabe-se que em Tui em 1666, a 24 de Junho, ainda se realizava uma grande festa, junto dum convento de dominicanos, que o teriam construído sobre uma pequena ermida onde esteve sepultado o S. João do Porto ou S. João de Terzon.
Entretanto, no fim do século XVI os padres Lóios do convento dos Lóios no Porto que nessa altura tinham o padroado e administravam a igreja em Penafiel, tinham adquirido uma lasca desse crânio, relíquia que será venerada a partir desse momento na cidade do Porto, e que desapareceu misteriosamente após a extinção das ordens religiosas.
Por isso, no dia de S. João, em 24 de Junho se realizava, no convento dos Lóios ou convento de Santo Elói, uma cerimónia, em que o pedaço da alegada relíquia de S. João de Terzon, era alvo de todas as atenções dos crentes. Há quem diga, que a tradição das festas sanjoaninas se intensifica e se enraíza com estes acontecimentos, em que a Relíquia de S. João de Terzon, era venerada no mesmo dia da veneração de S. João Baptista, a 24 de Junho.
No entanto, já está documentado que muito antes de tal facto ocorrer, era usual as grandes decisões para a urbe serem tomadas no dia de S. João, no alpendre do Mosteiro de S. Domingos e esse dia já tinha muita importância e relevo entre o povo.
Hoje existe em Lordelo do Ouro uma rua com o topónimo de Rua de São João do Porto.
 
 
“Junto ao convento de Santo Elói existiria, um padrão-o Padrão de Santo Elói.
Por padrão devemos entender um cruzeiro, ou seja, uma cruz com a imagem de Jesus crucificado. Mas não tinha esta simbologia, embora fosse de cariz religioso, o padrão de Santo Elói. Era dedicado a S. João Evangelista, padroeiro dos cónegos seculares da congregação de S. João Evangelista, vulgarmente chamados Lóios.
Santo Elói designava o sítio em que o padrão fora erguido. Sendo essa memória da invocação de S. João Evangelista, pelas razões acima apontadas, era, todavia, em honra de S. João Baptista que, junto dela, a população local fazia, todos os anos, uma animada festa.
Dessa festividade nos fala o beneditino Manuel Pereira Novais, historiador do século XVII. Diz o seguinte: "Apesar de o padrão de Santo Elói ser dedicado a S. João Evangelista, a festa que todos os anos se faz, junto ao cruzeiro, é no dia 24 de junho em honra de S. João Baptista e o arraial estende-se até à portaria do hospital". Trata-se, como é bom de ver, do hospital de Roque Amador, que ficava à entrada da Rua dos Caldeireiros. Não confundir com o hospital de S. João, situado mais acima, também na Rua dos Caldeireiros, mas na confraria da Senhora da Silva, onde também o S. João era rijamente festejado. O sítio onde estava o cruzeiro, digamos assim, muito alterado, claro, ainda existe, mas com outra denominação: é o Largo dos Lóios.
Ora, o tal padrão de Santo Elói ficava já na parte baixa da Rua de Mendo Afonso, numa espécie de largo que se abria perto da antiga Rua do Souto, hoje Rua dos Caldeireiros, em frente à entrada do Hospital de Roque Amador, de que ainda existem vestígios no interior de um pátio com entrada pela Rua dos Caldeireiros, e da Casa da Roda, onde eram abandonadas as crianças recém-nascidas, por não poderem ser criadas pelas próprias mães.
E de Santo Elói, porquê? Por causa do mosteiro de Santo Elói, que soa Lóios, também conhecido por mosteiro novo de Santa Maria da Consolação, aí fundado, no século XV, a partir de umas casas e de uma capela, da invocação daquela padroeira, que uma benemérita, Violante Afonso, "mulher rica e viúva", doara aos cónegos azuis de S. João Evangelista, vulgarmente conhecidos pelos frades Lóios”.
Com a devida vénia a Germano Silva
 
 
Os fadres Lóios tinham S. João Evangelista, como patrono.
Resumindo: no que aos padres Lóios diz respeito e ao dia 24 de Junho, junto do cruzeiro de Santo Elói, dedicado a S. João Evangelista, comemorava-se o S. João Baptista (ou seja o solstício pagão) e o S. João do Porto (o eremita nascido nesta cidade, do qual tinham uma relíquia).
Nos dias de hoje, existe no Museu da Santa Casa da Misericórdia, em exposição, uma “Cabeça Relicário”, que, há quem diga, estar relacionada com a dos padres Lóios.
Existe, no entanto, uma outra versão da história da relíquia da igreja de Cabeça Santa.
Nas Inquirições de 1258, a Igreja é referida sob a designação de igreja de São Salvador da Gândara, denominação que irá manter-se até ao século XVII, quando começa a ser também intitulada de igreja de Cabeça Santa, em referência a um crânio guardado em relicário de prata e exposto em altar próprio, situado na nave da Igreja. Vem já dos tempos após a sua fundação, a sua associação ao tal crânio, origem de muitos milagres.
São Salvador de Gândara tornou-se, assim, local de peregrinação, um sítio de passagem dos romeiros que iam até Santiago de Compostela.
A Cabeça Santa era, de facto, um crânio de uma criança. Ninguém sabe como apareceu, mas terá chegado há vários séculos à localidade de Gândara, hoje, a freguesia de Cabeça Santa.
Naquela versão da história narra-se, também, a actividade já descrita dos padres Lóios, relacionada com essa relíquia, que acabaria por ser roubada, no Verão de 1981, não tendo aparecido até hoje.
 
 
 
 

Fachada lateral da igreja de Cabeça Santa – Fonte: “rotadoromanico.com”

 
 

O Crânio desaparecido – Ed. Leonel de Castro/Global Imagens