Em 1884, os
empreiteiros Dauderni & Duparchy, que tinham sido contratados para levantar
os molhes do Porto de Leixões, construíram, em 1884, para a Companhia das Docas
do Porto, uma linha ferroviária para o transporte de pedra desde as pedreiras de
S. Gens até à zona do porto de abrigo, com bitola de 900 milímetros, a chamada Linha
de S. Gens.
Em 1884, seria
começada a construir a Ponte de Ferro ou Ponte do Comboio, para fazer chegar a
pedra ao molhe norte.
Esta ponte tinha 60
m de comprimento e unia a zona da actual Rua Heróis de França (antes, Rua da
Praia ou Rua João Chagas) em Matosinhos, à Rua da Praia em Leça da Palmeira.
A pedra destinada ao
molhe sul ficava pelo estaleiro levantado junto do cruzeiro do Senhor do
Padrão.
A pedra que começou
por ter origem nas pedreiras de Aguiar (na margem direita do rio Leça), em Santa Cruz do Bispo, cedo esgotaria
o seu stock, razão pela qual, se passou a recolher aquele material nas
pedreiras de S. Gens (na margem esquerda do rio Leça).
A importância da
exploração dos recursos das pedreiras de S. Gens foi de tal ordem que o Governo
de Sua Majestade, em 1885, mandou edificar, nas proximidades do Monte de S.
Gens, um barracão com serventia hospitalar para prestar assistência médica aos
operários, que na pedreira trabalhavam, devido ao surto de cólera que tendia a
alastrar-se no país.
Em tempos anteriores
à retirada da pedra para a construção dos molhes do Porto de Leixões, podia
observar-se um belo monte que tinha sido dotado de uma “atalaia” (vigia) e no
seu cume de uma capelinha da evocação de Nossa Senhora de S. Gens e que, mais
tarde, após uma remodelação, passou a evocar Nossa Senhora da Nazaré.
A instalação da
atalaia tinha sido uma decisão de D. João II, em Agosto de 1484.
Hoje, face a anos e
anos de retirada do granito das pedreiras de S. Gens, o terreno, nada mais é
que uma enorme cratera, tendo desaparecido, como é óbvio, a referida atalaia e
a capelinha.
Situado num ponto
privilegiado, a 137 metros de altitude, deste Monte de S. Gens ou Monte de
Custóias, como também era chamado, podia avistar-se uma vasta extensão em
redor, pelo menos até à serra de Valongo.
Sobre a referida e
desaparecida capela, dizia Pedro Vitorino, “poucos
se lembrarão já do perfil imponente do seu vulto, rematado no alto por uma
capelinha recolhida à sombra de dois enormes pinheiros mansos. (…) Atacado por
máquinas e fendido por pólvora, aos migalhos, abriu-se em princípio e
multiplicou escombros que afastaram as aprazíveis digressões”.
Sobre o Monte de S.
Gens, Dorothy Wordsworth, filha do famoso escritor e poeta romântico inglês
William Wordsworth descreve, na sua obra “Diário de uma viagem a Portugal e ao
Sul de Espanha”, o local quando o visitou em 1845.
Em 16 de Novembro de
1891, foi publicada uma portaria que estabeleceria as condições para o arrendamento
da antiga Linha de S. Gens, à Companhia do Caminho de Ferro do Porto à Póvoa e
Famalicão.
A partir da
conclusão da construção do Porto de Abrigo de Leixões, em 1892, a população de
Matosinhos mobilizou-se na exigência do aproveitamento da linha para serviço
público de transporte de passageiros e mercadorias até à estação da Senhora da
Hora que pertencia à Linha da Póvoa de Varzim.
Em 6 de Maio de
1893, aproveitando a estrutura da Linha de S. Gens, iniciou-se, então, um
serviço ferroviário de passageiros, tendo o transporte de mercadorias sido
autorizado por uma portaria de 2 de Junho daquele ano. À Linha de S. Gens sucedia,
assim, aquela que foi conhecida por Ramal de Leixões, ou Ramal de
Matosinhos, ou Linha de Leça.
O Ramal de
Leixões apenas seria encerrado no dia 30 de Junho de 1965, com o argumento
que, por causa do seu traçado urbano, causava muitos acidentes na sua passagem
pelas principais ruas de Matosinhos.
Percurso inicial do ramal de Leixões
Pelo arruamento (sem trânsito) da foto acima, passava, em
tempos, o comboio do Ramal de Leixões vindo das pedreiras de S. Gens, depois de atravessar a Senhora da Hora, a caminho
da zona da Vilarinha (na estrada da Circunvalação), tendo por destino final a
foz do rio Leça, onde descarregava o granito que transportava e, depois, os
veraneantes.
Para esse efeito, a
primeira paragem era junto ao Monumento do Senhor do Padrão, onde descarregava
a pedra que iria servir para a construção do molhe Sul, seguindo depois para
Leça da Palmeira, onde descarregaria o restante granito, para levantamento do
molhe Norte. Esta estação, como serviço de passageiros, tinha por destino as
praias de Matosinhos.
Para a frente do local indicado na foto anterior, o seu
trajecto coincidia, até à chamada “Rotunda dos Golfinhos” (próximo do Hospital
Pedro Hispano), com o actual percurso do Metro.
Entre os pontos 2 e 3, o trajecto do comboio e do Metro é
comum e, entre os pontos 1 e 3, corresponde ao arruamento entre a Rua da
Barranha e a Avenida António Domingos dos Santos – Fonte: Google maps
À esquerda, a Quelha Vitório Falcão, por onde chegava o
comboio à Estrada da Circunvalação (em frente ao teatro da Vilarinha) – Ed.
Google maps
Pela parte do terreno elevado que se vê na foto acima, na
margem da via, na confluência da Estrada da Circunvalação com a Praceta Dom
Nuno Álvares Pereira, vindo da Vilarinha, passava o Ramal de Leixões.
Por onde está agora o portão, na foto acima, vinha o comboio
da Circunvalação que se dirigia para o Senhor do Padrão.
O arruamento central, da foto anterior, é a via por onde o
trajecto do comboio se desenrolava e que desembocava no cruzamento com a actual
Rua D. João I.
Legenda:
1. Rua Manuel Dias da Fonseca confluência com Rua Dr. Afonso
Cordeiro
2. Rua D. João I
3. Rua Brito e Cunha
4. Cruzamento de Rua Brito Capelo com Rua Sousa Aroso
5. Rua Carlos Carvalho
Na vista aérea acima pode ver-se no terreno o sulco natural
por onde passava o Ramal de Leixões, no local designado por “Diagonal”, vindo da Senhora da Hora e
da Vilarinha.
A linha férrea saía da esquina mais próxima, à esquerda da
foto e, em diagonal, dirigia-se pelo canal formado agora por dois blocos
residenciais à direita no sentido da seta.
Presentemente, foi aproveitada a faixa de terreno público,
da antiga linha férrea entre a Rua Afonso Cordeiro e o cruzamento da foto
acima, para levantar um arruamento pedestre denominado “Broadway”.
Em 22 de Setembro de
1897, num descarrilamento acontecido no Senhor do Padrão, voltou-se uma
carruagem de 2ª classe, tendo os passageiros que enchiam o comboio sofrido,
apenas, pequenas escoriações e um grande susto.
Locomotiva do Ramal de Leixões ou Ramal de Matosinhos, em
manobras, em 1964, junto da capela do Senhor do Padrão, em Matosinhos
Percurso ferroviário final do Ramal de Leixões entre o
Senhor do Padrão e o Forte da Senhora das Neves
Estaleiro para
apoiar construção do molhe sul do Porto de Leixões, montado junto do Senhor do
Padrão
Após a conclusão da
construção dos molhes do Porto de Abrigo de Leixões, a linha ferroviária
existente continuou em funcionamento até Leça da Palmeira, junto do forte de
Nossa Senhora das Neves.
Comboio na Rua Heróis
de França (Rua da Praia), junto da lota – Fonte: Vítor Monteiro
Na foto anterior,
vemos Leça da Palmeira, à esquerda, e Matosinhos, à direita, e a unir as
margens, uma ponte pedonal, a Ponte de Pau ou Ponte de Madeira.
Mais para jusante,
já na chegada do rio Leça ao oceano, foi levantada uma outra ponte, que ficou
conhecida pela Ponte de Ferro ou Ponte do Comboio.
Para vencer o rio
Leça, o comboio atravessava, então, a Ponte de Ferro vindo do apeadeiro do
Padrão, junto ao Monumento do Senhor do Padrão, em direcção ao apeadeiro de
Leça da Palmeira onde entrava pela Rua da Praia.
Na foto acima pode ver-se o pormenor de, ao fundo, sobre a esquerda,
ainda ser visível o Senhor do Padrão.
Quando foi
necessário transformar o Porto de Abrigo de Leixões, num verdadeiro porto
comercial, teve que se entrar em desaterros terra dentro, desapareceu a chamada
ponte do comboio e o Ramal de Leixões ficaria por Matosinhos, no Senhor do
Padrão, até à década de 60 do Século XX, transportando pessoas, em especial na
época estival, com os banhistas a deslocarem-se para a praia a partir da
Senhora da Hora.
Já um pouco distante
do estuário do Leça, por outra ponte icónica se desenvolveu a
linha férrea do Minho e que é apresentada na foto seguinte.
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