Em 1918, D. Ana Emília Maia dos Reis Costa Braga, já viúva
do conselheiro Artur Costa Braga, vendeu à Confraria da Santa Casa do Bom Jesus
de Matosinhos o seu magnífico palacete, onde foi instalado o Asilo de Nossa
Senhora da Conceição (actual Internato de Nossa Senhora da Conceição).
O referido palacete, situado bem perto da igreja de
Matosinhos, era mais uma das casas erigidas para sumptuosas residências, em
Matosinhos, mandadas construir por brasileiros de torna-viagem, que tinham
enriquecido na América do Sul.
Neste caso, foi mandado edificar pelo conselheiro Artur
António da Costa Braga.
À esquerda, c. 1930, observa-se um pouco da fachada do
palacete que foi, até 1918, de Ana Emília Maia dos Reis Costa Braga, situado na
Avenida Vitória, actual Avenida Afonso Henriques
“Este palacete foi
mandado construir na parte sul dos jardins da Confraria de Matosinhos por
Arthur Antonio da Costa Braga, marido de Anna Emilia Maia dos Reis (Costa
Braga) que era filha do médico-cirurgião Jose Ventura dos Santos Reis Junior,
tendo ela o 'vendido' em 1918, após o falecimento do seu marido antes de 23/12/1910,
por uma quantia simbólica de 4 contos, quando o seu real valor seria de dezenas
de contos, à Confraria do Santo Crucifixo de Matosinhos do Bispado do Porto,
hoje Santa Casa da Misericórdia do Bom Jesus de Matosinhos”.
Fonte: José Rodrigues
Rua de Santana de acesso da margem do rio Leça à Avenida
Vitória (Avenida Afonso Henriques), c. 1930. À esquerda, a igreja de
Matosinhos.
O pai da benfeitora Ana Emília Maia dos Reis Costa Braga,
Jose Ventura dos Santos Reis foi personalidade de grande destaque em
Matosinhos, então, ainda concelho de Bouças.
José Ventura dos Santos Reis (1840 – 1901), cirurgião, foi chefe
do Partido Regenerador de Bouças e presidente da Câmara Municipal desde 2 de Janeiro
de 1899.
Foi o fundador da Associação de Socorros Mútuos
Matosinhos-Leça.
Teve acção notável como jornalista, no jornal “O Comércio
Português”, que passou a chamar-se “Onze de Janeiro”, a 29/01/1890, como
protesto contra o Ultimatum inglês, e que se transformou, a 19/04/1890, no
jornal “República” e, a 09/05/1891, no jornal “Voz Pública”.
Por outro lado, o Asilo de Nossa Senhora da Conceição tinha
sido fundado, a 1 de Janeiro de 1896, por iniciativa do Dr. Albano Sá Lima, num
prédio do antigo Largo do Areal, doado pela viscondessa de Santa Cruz do Bispo,
há muito desaparecido em virtude das obras de expansão do Porto de Leixões.
In jornal "A Voz Pública" de 3 de Janeiro de 1896
O Dr. Albano Sá Lima foi uma personalidade de relevo tendo
ficado conhecido por ter desempenhado o cargo de administrador do concelho de
Bouças.
Por sua vez, Maria Dias de Sousa (Santa Cruz do Bispo:
30/12/1816; Matosinhos: 12/03/1899), a viscondessa de Santa Cruz do Bispo, foi
uma benemérita que, por isso, ficou com o seu nome para sempre ligado a
Matosinhos e a Santa Cruz do Bispo, a sua terra natal.
“Maria Dias de Sousa
nasceu a 30/12/1816 na freguesia de Santa Cruz do Bispo: descendia de família
pobre e era analfabeta.
Casou em Santa Cruz do
Bispo a 24/02/1837 com Antonio Francisco Pereira, um marítimo que foi capitão
da Marinha Mercante e conhecido pela alcunha de 'Mirão'.
Herdou avultada
fortuna do Brasil, legada pelo seu tio José Dias de Sousa, falecido em Porto
Alegre no Brasil em 1865.
Viveu a maior parte da
sua vida no lugar da Ponte, na freguesia do Salvador de Matosinhos, mas esteve
profundamente ligada à vida social e religiosa da sua terra natal.
(…)
A 30/06/1892, foi
concedido o título de Viscondessa a D. Maria Dias de Sousa, por el-rei D.
Carlos I: Mercê nova. Alvará de 30 de Junho de 1892. As suas armas:
"Escudo. Lisonja partida em pala; a primeira em campo de oiro, e a segunda
de vermelho com uma cruz de prata lisa e dentro dela uma pequena cruz negra.
Coroa da Viscondessa. Timbre: uma estrela de oiro”.
Fonte: José Rodrigues
Na foto (obtida a partir da ponte de 19 arcos), acima, à
esquerda, o palacete do Conde S. Salvador de Matosinhos e, atrás, o palacete do
Conde do Alto do Mearim. Por aqui esteve, também, a morada da viscondessa de
Santa Cruz do Bispo, na Alameda Passos Manuel, há muito desaparecida.
Largo do Areal. Pela esquerda, seguia a Rua Conde Alto do
Mearim e, pela direita, a Rua 13 de Fevereiro
O edifício da família Costa Braga foi alvo de remodelações e
ampliações (em imóveis anexos), posteriores, com o objectivo de aumentar a
capacidade de internamentos e, hoje, é o Internato
Nossa Senhora da Conceição, gerido pela Santa Casa da Misericórdia do Bom
Jesus de Matosinhos.
Palacete da família Costa Braga, na Avenida D. Afonso
Henriques, nº 365, c. 1930 – Fonte: Google maps
A referida família Costa Braga haveria de ficar com o seu
nome ligado a um outro edifício icónico de Matosinhos, que se situava na Rua
Brito Capelo e, hoje, é património classificado.
Na foto abaixo, o eléctrico passa à porta da residência da
família Costa Braga, na Rua Juncal de Cima (Rua Brito Capelo), que acabou sendo
propriedade do industrial Edmundo Ferreira (fundador do “Hotel Porto-Mar”
localizado do outro lado da rua). Nesse prédio, alojar-se-ia, em meados do
século XX a Biblioteca Municipal e, após legado a favor do Lions Clube de
Matosinhos, acabaria por ser cedido à Associação Empresarial do Concelho de
Matosinhos, tendo alojado, ainda, a Escola de Comércio daquela associação e a
Universidade Sénior Florbela Espanca.
Ainda, nos dias de hoje, a Associação Empresarial do
Concelho de Matosinhos tem a sua sede naquele prédio, dividindo instalações com
a Universidade Florbela Espanca.
Antes, entre 1909 e 1962, a Associação Empresarial de
Matosinhos esteve na esquina das ruas França Júnior e Conde S. Salvador,
conforme visualização da foto acima.
“A Associação
Empresarial do Concelho de Matosinhos foi fundada em 10 de Outubro de 1901, com
a denominação de Associação Comercial de Bouças.
Após a publicação em
Maio de 1909, do Decreto-Lei que alterou o nome do Concelho de Bouças para o de
Matosinhos, em Assembleia-geral de Julho do mesmo ano, foi deliberado que fosse
adotada a designação de Associação Comercial e Industrial de Matosinhos.
Em 1938, depois de um
período de transição, a Associação teve que transformar-se no Grémio do
Comércio do Concelho de Matosinhos.
Com o 25 de Abril de
1974, voltou a adquirir o seu antigo estatuto de Associação constituída
livremente pelos seus associados, passando a denominar-se Associação Comercial
do Concelho de Matosinhos.
Finalmente, em
Assembleia-geral de 27 de Fevereiro de 2003, foi deliberado por unanimidade, que
passasse a denominar-se Associação Empresarial do Concelho de Matosinhos”.
Fonte: “aecm.pt/aecm/breve-historia”
No prédio, que tinha sido da família Costa Braga, esteve a Biblioteca
de Matosinhos, na Rua de Brito Capelo – Foto: 1955
Ainda no âmbito da acção da Misericórdia de Matosinhos,
alguns anos antes, em 3 de Maio de 1898, tinha sido criado o Hospital Asilo de
Santa Violante, o qual viria a ser o expoente máximo da assistência praticada pela
Misericórdia de Matosinhos, resultado de diversas dádivas materiais e
financeiras, destacando-se as de Jose Ventura dos Santos Reis e José Nogueira
Pinto, que ofereceram à Câmara Municipal de Bouças quantias consideráveis para
a sua construção.
Inicialmente, o primitivo Hospital Asilo de Santa Violante
foi instalado na Casa dos Milagres (construída no último quartel do séc. XIX,
por João José dos Reis – Conde de S. Salvador de Matosinhos, junto da igreja de Matosinhos), no espaço que
hoje constitui o Salão Nobre da Misericórdia e, no qual, havia uma escada
interior para os serviços de apoio situados no rés-do-chão.
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