domingo, 30 de junho de 2024

25.248 Liceus públicos da cidade do Porto

 
Liceu Nacional do Porto, ou Liceu Central do Porto, ou Liceu Portuense
 

Esta escola vai buscar as suas origens ao decreto de 17 de Novembro de 1836, de Passos Manuel, que criou o Liceu Nacional do Porto, que entrou em funcionamento quatro anos depois.
Antes de passar pela Rua de Santa Catarina, na segunda metade do século XIX, pelo edifício conhecido por Palacete dos Castro Pereira ou Palacete do visconde (2º) de Lagoaça e onde, mais tarde, se instalou a Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, bem perto da Rua Formosa, aí funcionando como  Liceu Nacional do Porto (como lhe chamava Alberto Pimentel, que o frequentou e onde leccionou Antero Quental),  passou pela Escola Politécnica e por um palacete da Rua Formosa.
 
 
 
 
 

Palacete dos Castro Pereira, na Rua de Santa Catarina, por onde esteve o Liceu Nacional do Porto - Ed. MAC
 
 
 
Assim, o Liceu Nacional do Porto ou Liceu Portuense foi, então, inicialmente instalado, em 1840, na Escola Politécnica (à Praça dos Voluntários da Rainha ou Praça dos Leões) e, aí funcionou, até 1862, dividindo instalações com a Academia de Belas-Artes e a Escola Politécnica, em condições deficientes, pelo que, em 1847, já se reclamava por outras instalações, o que só se verificaria 17 anos depois.
Assim, a partir de 1861, o Liceu Nacional do Porto esteve instalado, sucessivamente, na Rua Formosa, nº 108-116 (onde esteve até aos nossos dias, a Tipografia “Imprensa Portuguesa”), prédio, à data, pertencente à família Cirne e, a partir de 1866 até 1879, na Rua de Santa Catarina, próximo da Rua Formosa, aí substituindo o Colégio da Guia e, onde, viria a funcionar até ao fim do século XX, a repartição de Obras Públicas.
 
 
 

Palacete da família Cirne, na Rua Formosa, onde esteve o Liceu Nacional do Porto





In “Jornal do Porto” de 26 de Junho de 1866
 
 
 

Entre 1879 e 1884, o Liceu Nacional do Porto ocupou o Palacete dos Cirnes, no Campo 24 de Agosto, pertença de Manuel Carvalho Rebelo, que o recebeu por herança do seu sogro, Francisco Diogo de Sousa Cirne de Madureira, tendo passado, também, por um edifício da Rua de Entreparedes, onde viriam a funcionar os escritórios da Real Companhia Vinícola e o Instituto Comercial e o Instituto de Contabilidade e Administração do Porto.


 
 

Palacete dos Cirne, no Campo 24 de Agosto
 
 
 
 

Entre 1884 e 1887, o Liceu Nacional do Porto esteve no palacete de Campos Navarro, na Rua de Entreparedes - Foto de c.1890
 

 
 
A partir de 1887, a designação do estabelecimento de ensino passou a ser Liceu Central do Porto, ocupando o palacete da Rua de S. Bento da Vitória, da Baronesa da Regaleira, por onde esteve, nos nossos dias, a Polícia Judiciária.



Palacete da Baronesa da Regaleira



Em 1901, é arrendada mais uma casa, contígua à anterior, do mesmo proprietário, seguindo-se mais um arrendamento, em 1903, de uma outra casa contígua, propriedade de Eduardo de Sousa Neves.
Em consequência do aumento da população escolar, o Liceu Central do Porto foi cindido em dois, em 1906.
 
 
 
 
Liceu Nacional Central da 1ª Zona (orienta) ou Liceu Alexandre Herculano
 
 
Em 1895, vem à luz do dia a Reforma Jaime Moniz e, fruto dela e de outras mais, o ensino liceal é alvo de uma intervenção.
Em 1906, é ultimada a cisão do Liceu Central do Porto, originando dois estabelecimentos de ensino.
Um deles, que virá a ser o Liceu Central da 1ª zona (oriental) do Porto e que dará origem ao Liceu Alexandre Herculano, instala-se, em 29 de Setembro de 1905, na Rua de Duque de Loulé, em instalações pertencentes ao Colégio dos Orfãos e, em 17 de Novembro de 1906, é alugada uma casa anexa pertencente também, àquele colégio.
Em Setembro de 1907, parte do liceu muda para a Rua de Santo Ildefonso (entre o Largo do Padrão e o Campo 24 de Agosto), para duas casas contíguas, uma pertencente a Joaquim António Silva e, a outra, a Adolfo Fernando Barbosa.
Abandonadas, definitivamente, em 1910, as instalações da Rua Duque de Loulé, é ainda na Rua de Santo Ildefonso que vai ser alugada mais uma casa, contígua às já ocupadas, pertencente a António Luís de Sousa.
A que se seguiria o aluguer de mais outra, ainda na Rua de Santo Ildefonso, mas situada no troço compreendido entre o Largo do Padrão e a Rua de Passos Manuel, propriedade de Vitorino de Almeida.
Em 1916, as instalações do liceu passam a ocupar, também, por arrendamento, um prédio na Rua do Poço das Patas (Rua Coelho Neto), em frente da Travessa do Poço das Patas, pertencente a José da Silva Baía Júnior.
Em 1908, já  o Liceu Central da 1ª Zona (oriental) do Porto tinha passado a ser o Liceu Central de Alexandre Herculano e, em 1921, ocupará as instalações na Avenida Camilo, como Liceu Alexandre Herculano, em terrenos que tinham feito parte integrante da Quinta de Sacais,
 
 
 
“Com o aumento demográfico verificado em finais de oitocentos e, em especial, o acréscimo das exigências sociais do alvor da nova centúria, especialmente emanadas dos círculos republicanos, as entidades competentes viram-se na necessidade de fundar novos estabelecimentos liceais, ao mesmo tempo que desdobravam as zonas escolares entretanto definidas.
Neste panorama traçado para a generalidade do território português, a cidade do Porto seria dividida em duas grandes zonas pedagógicas, instalando-se em cada uma delas um liceu central, por decreto de 4 de Janeiro de 1906. O que ocorreria de imediato, para o caso que nos interessa, como Liceu Central da 1ª zona (oriental) do Porto, em instalações provisórias e pouco apropriadas aos requisitos de um ensino desta natureza, como acima se disse, em edifício alugado na Rua do Sol, até que, passados dois anos, em 1908, e já ostentando a denominação de
Liceu Central de Alexandre Herculano", se procedeu à sua transferência para a Rua de Sto. Ildefonso, onde ocuparia instalações arrendadas para o efeito.
Mas, foi somente com o advento republicano e, mais propriamente, em 1911, que o Parlamento aprovou a proposta apresentada pelo médico e deputado pelo Porto na legislatura das Constituintes desse mesmo ano, Ângelo Vaz, controverso defensor e divulgador do polémico movimento neomalthusiano, emergido entre nós, justamente, no início desta centúria, que mudaria, radicalmente, a História do Liceu. Referimo-nos, em concreto, ao empréstimo governamental de 150 contos para construção de um edifício de raiz.
Não obstante, e depois de ter sido lançada a primeira pedra em 1916, em cerimónia oficial testemunhada pelo presidente da República Bernardino Machado (1851-1944), a conclusão do projecto verificou-se apenas em 1934, da autoria do conhecido arquitecto José Marques da Silva (1869-1947), que viveu em Paris, entre 1889 e 1896, depois de ter cursado na Academia de Belas-artes do Porto, e antes de ter obtido vários prémios de reconhecimento internacional, designadamente no âmbito das Exposições Universais de Paris (1900) e do Rio de Janeiro (1908).
Um longo período pautado por diversas adversidades, não apenas económicas, como, sobretudo, políticas, ditadas, quer pelo envolvimento do país na I Grande Guerra, quer pelos sucessivos tumultos registados entre finais da segunda década, inícios da terceira, culminando no estabelecimento da Ditadura Militar e do Estado Novo, levou a que o LAH só fosse finalizado em 1934, ainda que já fosse frequentado desde o ano lectivo de 1921-1922, reduzido, porém, à ala poente do seu corpo.
Contemplando de início 28 salas de aula, com áreas específicas destinadas ao ensino de Física, Química, Geografia, Desenho e Música, a par de uma biblioteca, anfiteatro para apresentação de teatros e, já num segundo momento, de cinema, cinco pátios de recreio, um de desporto, três ginásios, piscina, cozinha e refeitórios, sanitários, gabinetes médicos, sala de professores, gabinete do médico escolar e três cómodos para o reitor, o projecto denunciava um conhecimento assaz profundo das mais recentes teorias e práticas pedagógicas, designadamente das implementadas além-fronteiras, assim como, certamente, uma colaboração estreita e verdadeiramente exemplar entre arquitecto e pedagogos. As alterações verificadas, desde então, resumiram-se à construção de 8 novas salas de aula e de uma capela, já nos anos sessenta, perante o aumento do número de alunos entretanto registado, amplamente frequentado por destacados membros da sociedade portuense, nomeadamente das suas Artes e Letras”.
Fonte – Site: patrimoniocultural.gov.pt
 
 
 
 

Liceu Alexandre Herculano, em 1930
 
 
 

Liceu Alexandre Herculano
 
 
 
Após a revolução de 25 de Abril, com a extinção dos liceus, o estabelecimento passaria a Escola Secundária Alexandre Herculano e, depois, de um encerramento de seis anos e de durante três anos ter recebido obras de reabilitação e modernização, reabriria as suas portas, em Setembro de 2023, a toda a comunidade educativa, no arranque de mais um ano lectivo. Foi possível, então, constatar a transformação de todo o edificado, respeitando o desenho original, da autoria do arquitecto José Marques da Silva.
 
 
 
Marques da Silva num jardim interior do Liceu Alexandre Herculano
 
 

 
Liceu Nacional Central da 2ª Zona (ocidental), ou Liceu D. Manuel II, ou Liceu Rodrigues de Freitas
 
 
Este estabelecimento de ensino resultou, então, da cisão, em 1906, do Liceu Central do Porto, em duas zonas geográficas, tendo como resultado final o aparecimento de dois estabelecimentos de ensino.
Um estabelecimento toma, à data, a designação de Liceu Nacional Central da 2.ª Zona (ocidental) Escolar do Porto e, por decreto de 9 de Setembro de 1908 passaria a Liceu D. Manuel II.
A outra instituição, que passaria a ter existência, a partir daí, seria o Liceu Nacional Central da 1.ª Zona (oriental) Escolar do Porto, depois, Liceu Alexandre Herculano. 
Este partiria para a zona oriental da cidade e o Liceu D. Manuel II, à data, que passaria após a implantação da República a ser o Liceu Rodrigues de Freitas, continuaria pela Rua S. Bento da Vitória, no Palacete da Baronesa da Regaleira, que ocupava desde 1887.
Logo, no ano de 1912, o governador civil do Porto chegou a visitar o Palácio das Carrancas, indagando da possibilidade de o Liceu Rodrigues de Freitas, nele passar a funcionar, o que nunca veio a acontecer.
 
 
 
“Imediatamente após a implantação da República em Portugal, a 23 de Outubro de 1910, o governo provisório decretou a designação de Liceu Rodrigues de Freitas, em homenagem a José Joaquim Rodrigues de Freitas, político, jornalista e professor de Comércio e Economia Política na Academia Politécnica do Porto e eleito, em plena monarquia (1870), o primeiro deputado republicano português.
Desde 1906, em que o Liceu Central da 2ª Zona (ocidental), que daria origem ao actual Liceu Rodrigues de Freitas apareceu, até ocupar as instalações actuais junto à igreja de Cedofeita, andou por vários prédios alugados.
O actual edifício, situado na Praça de Pedro Nunes, data de 1932-1933 e é da autoria do arquitecto José Marques da Silva, tendo sido em 1958, alvo de intervenção segundo projeto do Arquitecto Manuel Lima Fernandes de Sá.
Para além das suas grandes dimensões, o edifício é dotado de diversas infra-estruturas, pouco habituais nas construções escolares da época, nomeadamente um museu da ciência, um observatório meteorológico, diversos laboratórios de química, física e biologia, quatro ginásios (um deles exterior), uma biblioteca, um teatro, três salas de desenho, cantina e bar, para além de numerosas salas de aula e outros equipamentos.
Em 1945, o estabelecimento de ensino regressou à designação de Liceu D. Manuel II e, após o 25 de Abril de 1974 assumiu, definitivamente, o nome de Escola Secundária Rodrigues de Freitas”.
Fonte: pt.wikipedia.org/
 
 
Em anexo a esta escola funciona, há alguns anos, o Conservatório de Música do Porto.

 
 

Liceu Rodrigues de Freitas - Fonte: pt.wikipedia.org



 
 
Liceu Carolina Michaëlis e Liceu Rainha Santa Isabel
 
 
Liceu Carolina Michaëlis
 
 
Em 1914/15, entra em funções o Liceu Nacional Feminino do Porto como uma Secção Feminina dos Liceus do Porto, que teve como primeira instalação o nº 441, da Rua de Cedofeita, no edifício conhecido como a residência antiga da família Sandeman e, também, como Palacete do visconde de Barreiros, tendo sido, depois, esquadra da Polícia de Segurança Pública.

 
 
 
À direita, em 1º plano, o local de instalação do Liceu Nacional Feminino do Porto, na Rua de Cedofeita
 
 
 
 
O Liceu Rodrigues de Freitas manifestou um grande interesse no desenvolvimento desta secção feminina, ao contrário do Alexandre Herculano, talvez, por que, a sua localização se encontrava um pouco distante da sua área de influência.
O Liceu Nacional Feminino do Porto teve como patronos, sucessivamente, Castilho (1919), Sampaio Bruno (1919-1926) e, a partir de 1926, Carolina Michaëlis.
Mantendo-se o liceu nas instalações primitivas da Secção Feminina dos Liceus do Porto, em Cedofeita, até 1921, mudaria, neste ano, para o Largo do Coronel Pacheco para um palacete mais amplo, que fora o local de residência da família Braga.
No século XVII, era senhorio directo da Quinta dos Carvalhos do Monte, onde se situavam estes terrenos, o Cabido da Colegiada de Cedofeita e pertencia a Maria Gonçalves, mulher de Lourenço Alvares, que foram os ascendentes directos de António e José Ribeiro Braga que a habitavam desde 1827 e que, acabariam até hoje por deixar o seu nome ligado ao local, no topónimo de Rua dos Bragas.
 
 
 

A família Ribeiro Braga acabaria por fixar residência, na Rua de Cedofeita, nºs 376-378, na casa onde esteve localizada a Fonte de Cedofeita – Fonte: Planta de Telles Ferreira de 1892
 
 
 
 

Pelo edifício, à direita, passou o Liceu Nacional Feminino do Porto, na Praça do Coronel Pacheco – Fonte: Google maps
 
 
 
Na foto acima, ao meio, vemos a Rua do Mirante e, à esquerda, o local onde em 1859, estava instalado o Colégio de Madame Podestá e que, depois, veio a ser a morada do Colégio de Santa Maria, até 1910 e, até 1975, do Colégio Almeida Garrett, tendo o edifício, ao longo dos anos, sido alvo de contínuas obras de ampliação. 
A Rua do Mirante e a Praça do Mirante (Praça Coronel Pacheco) devem o topónimo, de facto, à existência de um miradouro, aí existente.
Já, em 1758, o abade de Cedofeita enviava ao autor do "Diccionário Geográfico" a seguinte informação:

 
"Há também (na dita freguesia) o Mirante dos Ingleses, donde estes e o povo da cidade do Porto vão ver o mar e a mesma entrada e saída de navios; acha-se ao presente sem telha, existe a pedraria".
 
 
Nesse local, desde 1921, o Liceu Carolina Michaëlis ocuparia o edifício da direita da foto (antes ocupado, na transição de séculos, pelo Colégio de Miss Hennessey ou das Inglesinhas), que também foi pretendido, sem sucesso, pela Faculdade de Medicina para nele montar uma maternidade, anexa à faculdade, e pelo Liceu Rodrigues de Freitas, que para aqui queria deslocar-se e abandonar as instalações da Rua da Vitória. 
Mais tarde, e após o abandono das instalações pelo Liceu Carolina Michaëlis, elas seriam ocupadas pelo Departamento de Minas da Faculdade de Engenharia.
Em 1951, o Liceu Carolina Michäelis acabará por ocupar as instalações de um edifício construído de raiz, na Quinta do Meio, à Ramada Alta, local onde ainda permanece, cujo projecto é do arquitecto José Sobral Branco.
 
 
 
Liceu Carolina Michaëlis, em 1951 – Fonte: AHMP
 
 
 
“Foi o primeiro liceu de raparigas do Porto e, durante décadas e décadas, teve como imagem de marca o elevado nível de exigência. Muitos viam ali uma escola de elite e, até aos anos 80, ainda era comum chamarem-lhe, não sem alguma ironia, a "Universidade da Carvalhosa". Atual sede de agrupamento, a escola Carolina Michaëlis está a celebrar cem anos. E deve o seu nome a uma mulher que provavelmente nem passou por lá.
O que se sabe é que a escritora e crítica literária nascida em Berlim vivia no Porto e era casada com Joaquim de Vasconcelos, professor no Liceu Nacional Central da 2.ª Zona Escolar do Porto (mais tarde Rodrigues de Freitas). Foi em 1926, no período da Ditadura Militar e pouco depois de Carolina ter falecido, que a escola assumiu o seu nome, abandonando a republicana designação Sampaio Bruno.
«Não se sabe o motivo da escolha do nome, nem se sabe que ligação ela tinha à escola. Pensa-se que terá lecionado cá em 1915», refere-nos Ângela Marques, coordenadora da equipa que está a desenvolver o programa comemorativo do centenário. Ora, esse foi precisamente o ano em que a escola foi criada - com a designação de Liceu Nacional Feminino do Porto - e na sua génese esteve a Secção Feminina do Liceu.
A lei que previa os institutos de ensino secundário para o sexo feminino era de 1888, e Lisboa viu surgir o Liceu Maria Pia em 1906. O Porto ainda teria de esperar mais nove anos, não obstante a pressão exercida pela Câmara e o empenho dos republicanos que viam na criação da escola para raparigas uma forma de prestigiá-las e de enaltecer o seu papel na sociedade. «Mas, mesmo entre os republicanos, havia quem questionasse essa ideia do prestígio. A questão não era pacífica», sublinha Ângela Marques.
Curiosamente, essa resistência viria a manifestar-se anos mais tarde no sentido inverso. «A nível nacional, foi o liceu que mais tardiamente recebeu rapazes», recorda aquela responsável. Só cinco anos após o 25 de Abril é que o Carolina passou a ser uma escola mista (o Rainha Santa Isabel foi bem mais cedo). E, no primeiro ano, apenas se matricularam dez rapazes. «Era um liceu muito mais tradicional e muito mais fechado, com uma cultura muito própria», acrescenta.
«Entre 1915 e 1926, não houve tempo para a escola se afirmar como vanguardista», sublinha, lembrando que, durante o Estado Novo (instituído em 1933), o Carolina Michaëlis baixou consideravelmente o número de alunas: «Não interessava que houvesse muitas raparigas a estudar. Era só uma elite». Nada que se comparasse aos áureos anos 80, em que a escola chegou a ter mais de três mil inscritos. Hoje, tem cerca de 900.
Já depois de ser um estabelecimento misto, o Carolina «manteve a mesma imagem de grande exigência» que teve desde a primeira hora. Em paralelo, granjeou invejas. Ângela Marques lembra que expressões como «meninas bem», «privilegiadas» e «Universidade da Carvalhosa» foram epítetos que acompanharam, do lado de fora, a vida da escola. Até que, em 2004, foi dada «a primeira machadada no peso da instituição», quando se aventou a hipótese de encerramento. Tal acabou por não acontecer, mas a polémica afastou muitos alunos. Depois, o Carolina passou a fazer parte de um agrupamento de escolas. «Os agrupamentos acabaram com as imagens de marca das instituições. A identidade diluiu-se», remata aquela responsável”.
Fonte : Isabel Peixoto, In Jornal de Notícias
 
 
 
Ao longo dos anos, entre muitos outros professores de sucesso do Liceu Carolina Michaëlis, destaca-se a professora de matemática Marília Monteiro.
 
 
“Data da década de sessenta do século XX a criação de três instrumentos de cálculo inéditos, o Quadrante de Cálculo, o Calculador Analógico e o Radiciador Parabólico pela professora de Matemática dos liceus, Marília Monteiro. O primeiro foi construído no Laboratório Nacional de Engenharia Civil e exposto em salões de inventores, de Bruxelas em 1963 (ainda em esquema) e de Lisboa em 1964, onde obteve primeiros prémios.
Em missão oficial do Ministério da Educação Nacional, Marília Monteiro apresentou este instrumento em alguns liceus, institutos industriais e escolas técnicas das três cidades universitárias do País. O Calculador Analógico resultou de uma amplificação de uma das facetas do Quadrante de Cálculo, com vista a melhorar o grau de aproximação das leituras a efetuar e a valorizar a sua eficiência. Este foi galardoado com uma medalha de ouro no XIV Salão Internacional de Inventores, realizado em Bruxelas de 5 a 14 de Março de 1965. O Radiciador Parabólico foi apresentado no salão de inventores do ano seguinte (onde foi exposto, de 11 a 20 de Março de 1966), sendo concedido um diploma de medalha de ouro.”
Cortesia de Anabela Teixeira
 
 
Com a evolução tecnológica, na década de 1970, apareceram as calculadoras eletrónicas, instrumentos mais cómodos e precisos, com preços acessíveis, e rapidamente os instrumentos de cálculo, até aí concebidos e usados, ficaram ultrapassados.
 
 
 
 
 

Cortesia de Anabela Teixeira
 


 
Liceu Rainha Santa Isabel
 

Este estabelecimento de ensino arranca, em 1933, como uma Secção do Liceu Carolina Michaëlis.
 
“O Liceu Carolina Michaëlis, incapaz de responder à crescente procura, foi autorizado, em 4 de Outubro de 1933, a funcionar com uma secção localizada na zona oriental da cidade, numas instalações situadas na Rua dos Heróis de Chaves, n° 710 (actual Rua D. João IV), passando no ano lectivo seguinte para a Rua de Santa Catarina, 726”.
Fonte: Teresa Maria Morais Moreira - Dissertação de Mestrado em História da Educação
 
 
 
Assim, a situação das acanhadas instalações, arrendadas a particulares, sitas na Rua de Santa Catarina, nº 726, constituídas por rés-do-chão e três andares é denunciada pela vice-reitora Eulália Balacó,
 
"todos os inconvenientes de uma casa que não foi construída para escola. Corredores estreitos, muitas escadas e num local muito movimentado."
Relatório da Secção do Liceu Carolina Michaëlis, ano lectivo 1935/36
 
 
No entanto, em Fevereiro de 1938, o estabelecimento passa para uma casa, também arrendada, sita no gaveto das ruas do Heroísmo e António Carneiro com a porta da entrada por esta última rua, com o nº 8, de rés-do-chão e três andares com uma apreciação mais positiva da vice-reitora Eulália Balacó,
 
 
"estado geral... é bom. É uma casa adaptada, mas as salas são amplas, bem iluminadas e soalheiras".
Relatório da Secção do Liceu Carolina Michaëlis, ano lectivo 1937/38
 
 
Este prédio tinha sido alvo de obras importantes em Julho de 1881 e, à data, situava-se na Rua de Barros Lima, nº 8 (só mais tarde se haveria de chamar, àquele troço, Rua António Carneiro).
Tinha sido, então, solicitada uma licença à Câmara do Porto, por Bartolomeu Pires Zenão que mencionava como proprietário do imóvel, Henrique Ribeiro de Faria (Porto, Sé, 18.11.1827 - Porto, Foz do Douro, 11.01.1888) e, cujo objectivo, era acrescentar um 3º piso ao prédio.
Henrique Ribeiro de Faria era descendente de Francisco José de Barros Lima.
Acontece que, em 1876, 1880, 1900 e 1911, existem pedidos de licenças à Câmara do Porto, mas nos quais o proprietário declarado é Arnaldo Ribeiro de Faria, que faleceria em 1911, viúvo e sem filhos e, em cujo testamento, entre muitos outros, são contemplados  sua sobrinha, a condessa de Campo Belo, uma das filhas de seu irmão Henrique e, ainda, Laura Pereira Leitão, que era usufrutuária da casa de seus avós, sita na Rua de Cedofeita, morada que tinha funcionado como quartel-general de D. Pedro IV. 
A propriedade onde haveria de surgir o Liceu Rainha Santa Isabel acabaria, assim, nas mãos do conde de Campo-Belo, mais propriamente o 2º conde de Campo-Belo, Diogo Leite Pereira de Paiva Távora e Cernache, casado com Maria Jerónima Ribeiro de Faria, a tal sobrinha e condessa.
A Secção do Liceu Carolina Michaelis, até 1946, funcionaria em instalações do prédio, atrás descrito, que tinha anexo um quintal, que se prolongava por uma mata e que, em tempos idos, tinha constituído a célebre Quinta de Barros Lima.
Em 12 de Outubro de 1946, a Secção do Liceu Carolina Michaelis autonomizou-se, tornando-se no Liceu Rainha Santa Isabel, pelo Decreto-Lei 35 905.
Neste ano, seriam executadas obras de beneficiação, e o estabelecimento de ensino passa a anexar o edifício contíguo, com entrada pela Rua do Heroísmo, nº 218, que, até essa data, tinha albergado o Colégio Nun’Álvares (colégio de rapazes).
Portanto, a partir do ano lectivo 47/48, as aulas passaram a ser dadas, simultaneamente, no primitivo edifício e no edifício contíguo do antigo Colégio Nun’Álvares e ainda, num outro, separado por um espaço, (que funcionava como recreio) que tinha funcionado como cavalariça.
 
 
 

Fachada, do primitivo edifício do Liceu Rainha Santa Isabel, voltada para a Rua António Carneiro – Fonte: Google maps
 
 
 
 

Fachada, voltada para a Rua do Heroísmo, do primitivo edifício do Liceu Rainha Santa Isabel
 

 
Em terrenos, situados na Rua António Carneiro, contíguos às instalações primitivas, iria surgir, na década de sessenta do século XX, um outro edifício para ampliação do estabelecimento.


 
 

Inauguração das novas instalações do Liceu Feminino Rainha Santa Isabel – Fonte: AHMP
 
 
 
Na foto acima, várias personalidades aguardam a chegada do Chefe de Estado, Almirante Américo Tomás, que acompanhado pelos Ministros do Interior, Alfredo dos Santos Júnior e das Obras Públicas, Arantes e Oliveira, irá proceder no dia 18 de Junho de 1964, à inauguração das novas instalações do Liceu Feminino Rainha Santa Isabel.
Américo Tomás era aguardado pelos representantes da cidade, o Presidente da Câmara Municipal, Nuno Pinheiro Torres e o Vice-Presidente da Câmara Municipal, Veiga de Faria; o Bispo do Porto, Dom Nuno Ferreira Gomes, para benção do edifício, e pela população, com destaque para as jovens da Mocidade Portuguesa.





Novas instalações do Liceu Rainha Santa Isabel
 
 
Em 29 de Agosto de 2003, o Liceu Rainha Santa fecharia as suas portas.

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