sábado, 26 de outubro de 2024

25.257 Um pequeno largo que desapareceu há pouco mais de 100 anos

 
Ed. Domingos Alvão (1872-1946)
 
 
 
Sobre as fotos acima, c. 1918, socorrendo-nos do testemunho de Guilherme Faria, exarado na revista “O Tripeiro”, nº 4, Agosto de 1954, a poucos metros da esquina da Rua de Santa Catarina e da Rua de Passos Manuel, formava-se um pequeno largo fruto do recuo de alguns prédios.
Um pouco mais ao longe, já no alinhamento da rua, nasceu o escritor Arnaldo Gama.
Naquele largo, os artistas de feira montavam os seus espectáculos de rua e, por vezes, no mesmo espaço, eram montados palcos e coretos onde tocavam algumas bandas. Aí, se encontravam as costureiras dos ateliers da zona e as operárias da Camisaria Confiança.

 
 

Guilherme Faria – Fonte: revista “O Tripeiro”, nº 4, Agosto de 1954
 
 
 
 
Na esquina, em primeiro plano, em tempos, houve um marco fontenário da Companhia das Águas.
Partindo dessa esquina, a casa com uma pedra de armas na fachada era a habitação e o consultório de dentista, do Dr. Alfredo Nazaret e, no rés-do-chão, existiu um armazém de gelo e águas de mesa, da Fábrica de Sulfureto da Serra do Pilar.
Seguia-se uma casa (onde antes, teria estado um café) de malas, que seria transferida para a Rua de Cedofeita – Artigos de Viagem de José Álvares. Mais tarde, foi transferida para a Rua Miguel Bombarda.
Depois, encontrava-se a Fotografia Alvão, que  Domingos Alvão aí instalou no dia 2 de Janeiro de 1902 na Rua de Santa Catarina n.º 120, entre o tal estabelecimento de Artigos de Viagem de José Alvares e a casa da Viúva Cunha, sócia de uma casa de câmbios na feira de S. Bento (Praça Almeida Garrett).
 
 
 

Fotografia Alvão, entre a casa de “Artigos de Viagem de José Alvares” e a casa da Viúva Cunha
 
 
 
 
Por fim, duas casas de andar da família Queirós, com os baixos da última, ocupados por uma fábrica de cartonagem.
A casa que fecha o largo estando já no alinhamento, à época, albergava a família Ventura e, no seu rés-do-chão, a casa de panos “Vilaça”.
Passado alguns anos, o prédio recebeu os sócios do Sport Clube do Porto (o que ainda perdura) e, nos baixos, a “Casa das Gabardines”.
Defronte deste último prédio, desde 1865 até 1939, aí existiu a Padaria Faria e, a partir desta data, uma sucursal da Papelaria Araújo & Sobrinho.
Aquela conhecida padaria foi alvo de obras de beneficiação importantes e, após as mesmas, reabriria em 4 de Abril de 1903.
Os fundadores desta padaria foram, Maria Ferreira, cuja família tinha uma loja de venda de cereais (um “farinheiro”) na Rua de Sá da Bandeira, na esquina com a actual Rua Dr. António Emílio de Magalhães, à data, a Travessa de Sá da Bandeira, e Joaquim Pedro de Faria.
A Padaria Faria estava no nº 103, onde nasceria, fruto do casamento do casal mencionado no parágrafo anterior, Alfredo Ferreira Faria, o fundador da revista “O Tripeiro”.
No início da década de 1920, já tinha sido executado o alinhamento dos prédios até então desalinhados, e o pequeno largo desapareceu.
Surgem novos inquilinos para as novas construções, mas a Foto Alvão mantem-se, tendo agora como vizinho, a partir de 1922, o Café Majestic.
Vai ser, em 15 de Agosto de 1921, que a firma Royal Café L.da situada na Rua de Santa Catarina, nº 114 apresentou à CMP um projecto no sentido de reformar a frente do seu estabelecimento.
A nova e elegante fachada do que virá a ser o Café Majestic foi aprovada em Setembro de 1921.
O estabelecimento de cafetaria estava destinado a ser denominado por Café Elite, mas acabaria a partir de 2 de Dezembro de 1922, dia da sua inauguração, por ser até hoje o Café Majestic.
 
 
 
 

A Foto Alvão, entre o Stand da Fiat (à esquerda) e o Café Majestic



No prédio onde se observa, na foto anterior, o Stand da Fiat está, hoje, uma loja “Bruxelas” e imediatamente, a montante (à esquerda), esteve o prédio que albergou a sede do Sport Clube do Porto e a Casa das Gabardines e que desde sempre esteve no alinhamento do edificado.
 
 
 
 

Bruxelas - Fonte: A Vida em Fotos


 
 

Casa das Gabardines, c. 1930


 
 

Alfaiate Pinheiro da Rocha no prédio da Foto Alvão
 


“No 2.º piso do edifício da Casa Alvão estava instalado o estabelecimento Pinheiro da Rocha, fundado em 1920, e que pertencia a Manuel Pinheiro da Rocha (1893-1973), um conhecido e procurado alfaiate, também ele um competente fotógrafo”.
Cortesia do Arquitecto Ricardo Figueiredo

 
 
 

Café Majestic e a sua esplanada, na Rua de Santa Catarina
 
 
 
 

Esquina das ruas de Passos Manuel e Santa Catarina, c, 1940 – Ed. José Mesquita




Escrutínio da publicidade observada na empena do prédio da foto seguinte
 
 
 

Cortesia do Arquitecto Ricardo Figueiredo
 
 
 
Legenda:
 
1. Café “A Brasileira”
2. Jardim Passos Manuel
3. Máquinas de Costura Singer
4. Vinho Verde Gatão (Sociedade dos Vinhos Borges fundada em 1884)
5. “O Senhor Roubado” (peça de teatro de Vitório Trindade Chagas Roquette (1875-1940)
6. Porto Ramos Pinto
7. Borotalco Ausonia
8. Cartaz parcialmente ilegível mostrando mulher segurando numa garrafa
9. PRECIOSA (água de mesa da Companhia de Pedras Salgadas)

 
 
 

Na década de 1970, o interior do Café “A Brasileira” inaugurado em 1903


 
 

Em 1912, a Esplanada do Jardim Passos Manuel inaugurado em 1908
 
 
 
 

“Edifício Singer” situado na esquina das ruas Formosa e Sá da Bandeira, nos primeiros anos do século XX, onde estava a delegação, no Porto, daquela conhecida marca norte-americana e o novo "Edifício Singer", actualmente





Vinho Verde Gatão
 
 
 

Cartaz da peça “O Senhor Roubado”


 
“A peça em 3 actos “O Senhor Roubado” estreou em 19 de Fevereiro de 1916 no “Theatro do Gymnasio” de Lisboa.pela Companhia Maria Mattos (1886-1952) / Francisco Mendonça de Carvalho (1882-1953) e com o popular actor José d’Almeida e Cardoso (1861-1917)”.
Cortesia do arquitecto Ricardo Figueiredo
 
 

Ramos Pinto, em V. N. de Gaia, c. 1910 e actualmente – Cortesia de Gaia à la Carte
 
 
 
 
 

Borotalco Ausonia


 
 

Preciosa – Água de Mesa
 
 
 
Prédio que substituiu, até aos dias de hoje, aquele outro alvo da atenção dispensada à publicidade inserta na sua empena

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