sexta-feira, 4 de outubro de 2024

25.254 Festas de antigamente da burguesia portuense

 
A burguesia portuense, na segunda metade do século XIX e no dealbar do século XX, tinha as suas festas privativas que aconteciam, normalmente, no recato das suas casas ou dos seus palacetes, com procedimentos muito próprios.
Pode apontar-se, organizados pela burguesia, os bailes, os bailes de máscaras, as soirées dançantes, as récitas, os "garden party " e as festas de Verão.
 
 
 

Reunião burguesa
 
 
 
Em 1849, Camilo Castelo Branco, um frequentador assíduo dos salões de baile, escrevia, sob o nome de Saragoçano:
 
 
« (…) O Ex.mo conde de Casal deu ontem um baile de ‘costumes’. Foi brilhante a concorrência, e tudo esteve lindo, e digno de ser tratado na crónica com a seriedade de escritor judicioso como tenho a glória de ser. Reputo por mo haverem dito, como soberanas em delicadeza, as senhoras condessas; e se elas o não forem, que carácter distintivo poderão aparentar que as torne excêntricas à plebe!? O sangue ‘azul’ é líquido que flui a ocultas lá no maquinismo vascular, por consequência mister é que hajam actos externos, que tenham o valor daquele “in hoc signo vinces” dos cruzados novos.
Esta ideia está um pouco metafísica, mas é que eu mesmo estou em grandes operações psicológicas, a ponto de recear uma metempsicose.»
Saragoçano (Camilo Castelo Branco), In Eco Popular, de 17 de Fevereiro de 1849
 
 
 
Passados três dias, Camilo Castelo Branco já estava a escrever no “Nacional", não voltando, mais, ao Eco Popular.
Dizem alguns que tal se teria ficado a dever a questões de política e, outros, a altercações entre o escritor e um pretendente à mão de Ana Plácido, D. António Frutuoso Ayres de Gouveia Osório (1828-1916).
Camilo terá conhecido Ana Plácido, precisamente no dia 13 de Fevereiro de 1849, durante um baile, dos muitos que se realizavam pelos salões dos palacetes da burguesia da cidade e, dos quais, o escritor era um assíduo frequentador.
Sobre essa época, ou seja, o fim da década de 1840, no Porto, o mesmo Camilo Castelo Branco na sua obra “Coração, Cabeça e Estômago”, (1862), traça o perfil da portuense burguesa:
 
 
“A mulher do Porto, como ela era há quinze anos, estava por adelgaçar, gozava-se de cores ricas de bom sangue; era redonda e brunida em todas as suas formas; o ofegar do seu peito comprimido pelas barbas do colete era como a oscilação duma cratera que vai romper à superfície; dardejava com os olhos; ria francamente com os lábios inteiros; deixava ver o esmalte dos dentes e o rosado das gengivas; meneava os braços com toda a pujança dos seus músculos reforçados; pisava com gentil desenvoltura; dizia com toda a lisura as suas primeiras impressões; ria-se com os chistes dos galãs que tinham graça; ouvia sentimentalmente as tristezas dos cépticos; doidejava nas vertigens da valsa; bebia o seu cálice de Porto; comia com angélico despejo uma dezena de sanduíches; tornava para as danças com redobrado ardor; e, ao repontar da manhã, quando as flores da cabeça lhe caiam murchas e as trancinhas da madeixa se empastavam com o suor da testa, a mulher do Porto era ainda formosa, mais formosa ainda pelo cansaço, a disputar lindeza à aurora, que nascera para lhe disputar a beleza”.
 
 
Aproveita também o escritor para comparar o comportamento feminino e masculino durante as sessões dançantes:
 
 
“As damas portuenses são muito mais iluminadas que os homens portuenses.
Entra-se num salão e admira-se o desembaraço das senhoras e o encolhimento canhestro dos galãs. O mais audaz encosta-se ao batente da porta e não ousa transpor o limiar sem que a rebecada do coro, núncia da primeira contradança, autorize a entrada em gorgolões, como a dos rapazes pela escola dentro.
Este acanhamento, porém, é de bom agouro.
Homens de talento e espírito são os que mais se acovardam diante de senhoras. No Porto há muito talento e espírito por força.
Os patetas, os lorpas, os atiradiços, são por via de regra os mais festeiros e festejados na sociedade, umas vezes com a cristã virtude da indulgência, outras com o riso zombeteiro da ironia.
Há por cá de tudo. Deus louvado!
E bom é que haja para que os tédios da uniformidade não volvam o mundo elegante às fórmulas dorminhocas da sociedade velha, em que o casquilho tomava a quinta chávena de chá, a pedido da dona da casa, e torcia um tendão a dançar o minuete, enquanto a menina fazia tossir ao cravo notas roufenhas, com grande aplauso e grandes abrimentos de boca, de seis velhas entendidas em cravo”.
 
 
 
Mas, em 1862, para Camilo Castelo Branco a imagem da portuense tinha-se degradado como atestam os parágrafos que se seguem, ainda insertos na obra literária atrás referida:
 
 
“Estas meninas de quinze anos, que eu hoje conheço no Porto, são as filhas das robustas donzelas, que me enchiam de satisfação os olhos na minha mocidade. Que degeneração! Vê-las numa sala é ver as virgens lagrimosas e lívidas, que se pintam nas criptas dos mosteiros góticos. Que tristeza de olhar e que dengoso fastio no falar! Quando se reclinam nas almofadas dum sofá parece que desmaiam narcotizadas; quando polcam, e se deixam ir arrebatadas nos braços dos parceiros, afigura-se-me que de sua parte não há mais acção nem movimento que o das asas, do ar que lhe agita a orla do vestido, volátil e vaporoso como éter. Que degeneração!
Ó mulheres do Porto, ó virgens saudosas da minha mocidade, ó santas da natureza como Deus as fizera, que é feito de vós, que fizeram de vós os romances, e o vinagre, e a Lua, e o pó de telha, e as barbas do colete, e os jejuns, e a ausência completa do boi cozido, que vossas mães antepuseram às mais legítimas e respeitáveis inclinações do coração?!”
 
 
 
Célebres ficariam, entre muitas outras, as festas realizadas nos palacetes do visconde Pereira Machado e do conde do Bolhão, à Rua Formosa, ou as levadas a cabo por Barroso Pereira, na Praça de Santa Teresa ou pelo visconde de Pinhel, à Carvalhosa.
 
 
 

Palacete do visconde Pereira Machado, na Rua Formosa

 
 
Palácio do conde do Bolhão, à Rua Formosa – Cortesia: viva-porto.pt




Palacete (desaparecido) Barroso Pereira, na Praça Guilherme Gomes Fernandes
 


 

Palacete do visconde de Pinhel, à Carvalhosa – Fonte: Google maps
 
 
 
Todas essas casas eram frequentadas e participava nas festas nelas levadas a cabo o escritor Camilo Castelo Branco, que nos deixaria, a propósito, bons nacos de prosa.
Numa das suas muitas referências mencionava os bailes realizados na casa do inexistente barão de Bouças, como malevolamente o escritor se referia ao político Passos José, com morada na Quinta da Torre, para os lados da Viela da Neta, mas que viria a erguer seu palacete, na Rua Formosa, a poucos metros da Cancela Velha.
 
 
“Vi no baile do barão de Bouças as três herdeiras mais ricas da sociedade portuense. Das três, a mais velha e rica era viúva e regularmente feia. A mais nova tinha uns longes sedutores: mas, examinada ao pé, era uma cara sem vida, coisa muito parecida com a alvura de leite, encarnada nas maçãs do rosto, como as bonecas de olhos de vidro, e beiços purpurinos de malagueta. A terceira era uma verdadeira mulher, trigueira como as predilectas de toda a gente”.
Camilo Castelo Branco, In “Coração, Cabeça e Estômago”


 
No romance “Um Homem de Brios” (1862), Camilo Castelo Branco dá conta de todas as peripécias ocorridas num baile em casa do barão de Bouças, durante o qual dois comendadores devoraram, irmãmente, um pastelão de ostras, acompanhando cada um deles com três pães.
Nessa obra, numa breve passagem o escritor referia que o barão de Bouças nem seria um dos piores representantes da classe dos barões, como se pode ler a seguir:
 
 
 

“Um homem de brios” de Camilo Castelo Branco

 
 
 
Em termos de clubes e associações recreativas a burguesia portuense frequentava, na segunda metade do século XIX, a Assembleia Portuense, o Clube Portuense e o Ateneu Comercial de acordo com os diversos estatutos sociais.
Aqueles foram tempos em que as danças predilectas da mocidade eram a Polca, a Mazurca, a Valsa e as Quadrilhas (Francesa, Lanceiros, Príncipe e Princesa), mas um baile tinha de ter, obrigatoriamente, quadrilhas e iniciavam-se, sempre, com uma quadrilha de honra na qual tomavam parte as pessoas de maior prestígio presentes nessa festa.
As quadrilhas tinham quatro pares dançantes que se movimentavam à voz de um marcador.
Mas, de facto, o verdadeiro rei era o “Cotilhão” ou “Cotillion” que, muito usado nos salões da aristocracia francesa, de movimentos complicados e variados, tinha muitos adeptos entre a burguesia portuense e, normalmente, encerrava as sessões dançantes.
 
 
“Nas festas da alta sociedade do séc. XIX e até anos 20 do século passado, as meninas levavam um “carnet de bal” no qual iam anotando o nome dos cavalheiros que as convidavam para dançar e que elas aceitavam.
Alguns eram muito luxuosos e mostravam a riqueza da família a que pertenciam. Por vezes causava dissabores ou revolta entre os candidatos, ou porque pretendiam antecipar a sua vez ou mesmo porque lhes era negada a dança pelos pais ou pela pretendida. Não era raro uma menina aceitar sucessivamente a inscrição do mesmo cavalheiro, o que era logo notado e comentado pela assistência. Estamos persuadidos que em casos extremos terá levado a algum duelo.”
Cortesia de Rui Cunha 
 

 

“Carnet de Bal” ou “Dance Card”


 
 

“Carnet de Bal” – Cortesia de Rui Cunha

 
 
Mas havia outro tipo de carnet. Em certos bailes era distribuído um, à entrada, com a sequência das obras que iam ser executadas, seguidas de uma linha onde era anotado o respectivo convidado.
Por outro lado, convém lembrar que os hábitos da época eram em tudo diferentes dos actuais e as regras da etiqueta cumpridas escrupulosamente.
Assim, como ninguém apareceria em festas e reuniões onde se dançasse, mesmo que se tratasse de um casino ou club, sem usar luvas, também nenhum rapaz seria capaz de convidar uma jovem para dançar consigo, sem que antes fosse apresentado aos pais ou pessoas de família que a acompanhavam.
 
 
“Eram presenças habituais dessas reuniões dançantes Xisto Lopes, e nelas se faziam ouvir periodicamente alguns conhecidos amadores da cidade como, por exemplo, o tenor Franck de Castro, o barítono Henrique Carlos de Meireles Kendall, o baixo Heitor Guichard, Marques Pinto, D. Sílvia Owen Pinto, D. Berta Arroyo, D. Alexandrina Castagnoli, D. Leonor Chelmiky.
(…) No dia 3 de Fevereiro de 1901, um Domingo, pela 1 hora da tarde, as senhoras D. Maria Guilhermina e D. Maria Adelaide Barbosa de Sousa Faria ofereceram, na sua residência situada na Rua de Santo António, por cima da Joalharia Reis & Filhos, uma festa de dia, a que se deu o nome de "matinée", com o programa seguinte:
Primeira Parte:
1 - Minuette em bemol- Dreyschok, para piano, por Xisto Lopes.
2 - Preghiera de Florenzo - para duas harpas, por D. Henriqueta Pauli e Paulo Navone.
3 - Romania - do 1º acto da ópera "A Tosca" de Pucini, pelo sr. Peireni.
4 - Canção espanhola - pela srª Galan.
Segunda Parte:
1 - Castagnette - Ketten - para piano, por Xisto Lopes.
2 - Antonine - de John Thomas, para harpa, por Paulo Navone.
3 - Duetto da ópera "Cavalaria Rusticana" - de Mascagni, pela srª Galan e pelo sr. Peirani.
4 - Romanzado último acto da ópera "Tosca" de Pucini, pelo sr. Peirani.
 
 
Em casa destas duas ilustres senhoras, muitos foram os bailes e outras reuniões que fizeram história na cidade, que no Verão residiam na Foz, à Rua Senhora da Luz.
D. Maria Guilhermina faleceu em 1913, enquanto sua irmã, D. Maria Adelaide veio a falecer nesta cidade, em 1919.
A Foz tornara-se, com o tempo, num dos pontos mais frequentes de reuniões da sociedade e algumas das mais atractivas recepções foram dadas por D. Emília Champalimaud, residente na Rua do Passeio Alegre, por D. Júlia de Lima Barreto, na actual Avenida de Montevideu, pela condessa de Aris, na esplanada do Castelo, por D. Maria Joaquina Pestana da Silva, na Rua da Senhora da Luz, e por D. Carlota Barreiros de Champalimaud Pacheco, na Rua do Gama.
Um outro local, também situado na Foz, e que durante anos foi considerado como um verdadeiro centro de elegância e distinção e na memória de muitos ficaram as festas e os bailes que aí se realizaram, foi o Club da Foz (depois chamado Assembleia).
Ao lado do Club da Foz, encontrámos o Casino Internacional, cujas festas aí organizadas ficaram marcadas pela presença assídua de muitos portuenses ilustres. A matinée de caridade de Maio de 1910, e o baile organizado em Fevereiro de 1911, foram considerados na época como dois eventos elegantíssimos muito concorridos, que contaram com as presenças entre de elementos da nobreza e da burguesia da cidade, como a viscondessa da Ermida e sua filha D. Lucrécia e a viscondessa de Godim e suas filhas, D. Maria Sofia e Guilherme Wandschneider, D. Fernanda e Fernando Van Zeller, entre muitos outros.”.
Cortesia de Maria José de Sousa Ferraria, In “Percursos Burgueses na cidade do Porto (1910 – 1926)”
 
 
Pela Foz do Douro, começaram a proliferar os pequenos clubes, que surgem com o intuito de animar as quentes noites de Verão da burguesia trazendo algum bulício e promovendo o encontro de amigos.
 
"Dava sobre a praia dos banhos o terraço da Assembleia, cuja principal entrada abria para a rua dos Banhos Quentes. Foi n´essa Assembleia que nasceu a primeira rolêta da Foz.
Alberto Pimentel, In “O Porto há 30 anos” (1893)
 

 
Naqueles bailes e reuniões era frequente surgir a oportunidade de se fazerem ouvir alguns talentos que, de outro modo, teriam ficado no segredo das famílias.
No Restaurante/Casino de Cadouços, ao fundo do Largo de Cadouços, no antigo edifício da Companhia Carris de Ferro, foi dado a conhecer aos presentes a belíssima voz de D. Cândida da Nova Monteiro que, mais tarde, viria a casar com o eng° Alfredo de Carvalho Kendall.


 
 

Restaurante/Casino de Cadouços onde se realizavam espectáculos musicais e de teatro e onde deve ter cantado Cândida da Nova Monteiro



Publicidade ao Casino de Cadouços, no jornal “A Voz Pública”, em 12 de Agosto de 1909


 
A seguir, a crónica jornalística que o jornal “A Voz Pública” fez no dia seguinte à festa acima publicitada.






“Partiu para o Rio de Janeiro, onde conta fixar-se por algum tempo, a notável amadora de canto e de piano, a sr. D. Cândida da Nova Monteiro Kendall. Acompanhou-a seu esposo e nosso amigo, o sr. engenheiro Alfredo Kendall”.
In revista, “Arte Musical” 15 de Agosto de 1910
 
 
«Cristiano Van Zeller deu inúmeros bailes na sua residência, conhecida como Quinta de Vilar, enquanto Arnaldo Ribeiro de Faria, ofereceu na sua casa, na antiga Quinta de Barros Lima, à Rua de Barros Lima, esplêndidos bailes.
Outro notável do Porto, cujos bailes ficaram nos anais da história desta cidade, foi Manuel Pinto da Fonseca, residente na Avenida da Boavista. O mais célebre dos bailes oferecidos por Manuel Pinto da Fonseca foi o baile pela "Micarême" de 1903, no qual se dançou o cotillion, marcando presença a sra D. Elisa de Lima e Barros e o sr. Fernando Nicolau de Almeida. Nesse baile distribuíram-se valiosas lembranças pelos convidados.
António Júlio Machado, um famoso negociante da Invicta Cidade, apaixonado pela música, e que teve a oportunidade de estudar com Carlos Dubini e Vicenzo Sabbatini, inaugurou numa dependência de sua casa, situada em Belos Ares (Avenida da Boavista), onde se realizaram algumas récitas memoráveis, nas quais participaram alguns talentosos amadores, conseguindo levar à cena a ópera O Barbeiro de Sevilha.
 (…) No palácio de Cristal, a 26 de Janeiro de 1913, uma comissão de rapazes organizou um bal costumé, a que assistiram cerca de quatrocentas pessoas, grande parte das quais envergava fatos alegóricos, reproduzindo, muitos deles variados trajos de épocas históricas passadas. Os carnets deste baile tinham inscritos vinte números de dança, divididos em nove valsas, três quadrilhas, três two-step, três mélanges e dois lanceiros. Na assistência encontrámos alguns dos nomes mencionados anteriormente, todos eles, senhoras e cavalheiros, vestidos a rigor, com trajes de época. As senhoras vestiram-se com fantasias à "Marie Antoinette", à "1846", à "grega" , à "japonesa" , à "travesti de pomba" ou à "ciganas" , não faltando quem envergasse os tradicionais trajes à " espanhola". Entre os cavalheiros, destacaram-se os trajes mais usados foram à "fidalgo veneziano do séc. XVI", à "marechal do Império", à "Lourenço de Médicis" e à “Luís XV".
(…) comissão organizada por rapazes, e que funda, em 1913, uma espécie de Club, cujo número de sócios estava limitado a cinquenta rapazes solteiros e a cinquenta chefes de família, e que às quintas-feiras à noite organizava no Salão de Festas do antigo Jardim de Passos Manuel, animadas sessões de patinagem e várias sessões dançantes, todas elas muito concorridas.»
Cortesia de Maria José de Sousa Ferraria, In “Percursos Burgueses na cidade do Porto (1910 – 1926)”

 
 
Arnaldo Ribeiro de Faria, citado no texto acima, era descendente de uma filha de Francisco José de Barros Lima (membro do Sinédrio e da Junta Suprema do Governo do Reino em 1820, e depois da Junta Provisional Preparatória das Cortes de 1820 e deputado da nação às Cortes de 1820), de seu nome, Rosa Margarida de Lima, casada com Francisco Ribeiro de Faria e que tinham por residência a casa da Rua de Cedofeita, nº 395, que foi quartel-general de D. Pedro IV durante as lutas liberais e do cerco do Porto.
Por essa razão é que, à rua onde morou, foi dado o nome de Barros Lima. Habitou, precisamente, o edifício que, mais tarde, seria arrendado à Secção do Liceu Carolina Michaëla, que se tornaria no Liceu Rainha Santa Isabel, depois de se autonomizar daquele.
Era, aí, que se localizava a Quinta de Barros Lima, onde tinham lugar as festas que ficaram célebres, na altura.
Aquele troço da rua chama-se, hoje, Rua António Carneiro.
António Júlio Machado, também referido no texto acima, foi quem mandou construir, na esquina, a poente, da Rua de Belos Ares e da Avenida da Boavista, um elegante ''chalet'' de veraneio em cujo interior fez um teatro onde se realizaram várias récitas.
O ''chalet'' viria, mais tarde, a ser comprado por Lino Henriques Bento de Sousa (Brasileiro de torna-viagem) e conde de Santiago de Lobão, que ali chegou a residir, tendo a condessa, já viúva (desde 13 de Abril de 1921), legado a propriedade ao Estado.
Presentemente, o “chalet” ainda existe, encontrando-se desocupado, sendo hoje a Direcção-Geral do Tesouro e Finanças, representando o Estado, o proprietário do palacete e anexos.


 
 

Palacete de António Júlio Machado. Fachada voltada para a Avenida da Boavista – Fonte: DGPC

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