O antigo e denominado "quarteirão da Casa Forte"
situava-se próximo do Mercado do Bolhão, sendo delimitado pelas ruas de Sá da
Bandeira, Formosa e Bonjardim e Travessa do Bonjardim, e atravessado pela
Travessa da Rua Formosa, compreendendo uma área com 28.500 metros quadrados,
tendo sido previsto para ele um parque habitacional para 100 famílias e, ainda,
a criação de áreas comerciais, com lojas nos pisos térreos, construção de um
parque de estacionamento e de um hotel, num investimento de 27 milhões de
euros.
O projecto em execução, durante alguns anos, está
praticamente concluído.
Todo o conjunto edificado manteve o traço das fachadas voltadas
para a Rua de Sá da Bandeira.
Naquele quarteirão, na Rua de Sá da Bandeira, 261-281,
ficava a Casa Forte, praticamente, fronteiro aos bazares Paris e Londres (agora
uma loja de telemóveis).
Confluência da Rua de Sá da Bandeira e Rua Formosa, junto do
Mercado do Bolhão, observando-se a primitiva Casa Forte
A Casa Forte haveria de expandir a sua primitiva loja e a
sua actividade para outros espaços contíguos, a montante e a jusante da Rua de
Sá da Bandeira.
Casa Forte observando-se, a meio da foto, a entrada (por um
arco) pela Rua de Sá da Bandeira para a Travessa da Rua Formosa
Pelo anúncio anterior, podemos observar que a “Casa Forte”
tinha, à data, uma filial na Rua de Santa Catarina.
A velha Casa Forte fechou em 2004. É uma memória de um Porto
de outros tempos mais, propriamente, desde a década de 20 do século XX,
dedicando-se ao comércio de confecções e vestuário, e de malas e carteiras.
A Casa Forte, "forte
nos sortidos, fraca nos preços" (era o slogan), chegou a abrir uma
outra loja, mas de artigos de desporto e campismo, na Travessa da Rua Formosa
(ligava a Rua de Sá da Bandeira à Rua Formosa), próxima da loja mãe,
praticamente nas suas traseiras, que era o único troço restante da antiga Viela
da Neta.
Um outro estabelecimento, de nome “Lã Maria”, era uma
espécie de “tem tudo para o lar” e,
ainda, apresentava um grande sortido de lãs, numa altura em que os centros
comerciais e as grandes superfícies eram uma miragem. Acabaria por ficar no
imaginário de muitos portuenses, tendo pertencido a uma família conhecida da
cidade – Os Aires Pereira.
Antes, no local onde esteve a “Lã Maria”, tinha estado o
alugador de trens ou alquilador Raimundo
dos Santos Natividade.
De comum, tanto a Casa Forte como a “Lã Maria”, tinham
traseiras para a Travessa da Rua Formosa, como foi dito, já extinta.
“Casa Forte” - secção de campismo, à esquerda na Travessa da
Rua Formosa – Ed. “carlaeangelo.blogspot.pt/”
Na foto acima, observa-se a entrada da Travessa da Rua
Formosa, já entaipada e, à direita, já encerradas, as instalações da Casa Forte
que iam, para montante, até à Ourivesaria do Bolhão situada na esquina das ruas
de Sá da Bandeira e Formosa.
Na esquina era a Ourivesaria do Bolhão, a que se seguiam, no
sentido descendente, as diversas lojas da “Casa Forte”, na Rua de Sá da
Bandeira - Ed. “portosombrio.blogspot.pt”
À esquerda, a entrada na Travessa da Rua Formosa pela Rua
Formosa, junto da Lã Maria - Fonte Google Maps
À direita, na área delimitada pelo taipal, era o prédio da
“Lã Maria”
A fachada, voltada para a Rua Formosa, do prédio dos Armazéns Lã Maria abandonado desde do fim da década de 70 do século XX, seria alvo
de uma derrocada, em 5 de Outubro de 2009, pelas 23 horas.
Derrocada do prédio, à direita, que tinha albergado a “Lã
Maria” – Ed. Álvaro Vieira; Jornal Público
“Ali mesmo, junto a Sá
da Bandeira, em frente ao palacete do Conde do Bolhão, o que resta há uns
largos meses do que já foi uma das lojas que atraía muita gente à rua
Formosa.
No primeiro andar
existiam, nos anos sessenta consultórios médicos, entre os quais o do
Doutor Celestino Maia.
Ah! o nome diz-vos
qualquer coisa, bem me parecia. Talvez o nunca tenham visto mas era o
autor do livro de Geologia que se usava no ensino liceal a partir
do terceiro ano, se não me engano. Também era o médico das Caldas do
Gerez.
Como ainda tenho
algumas recordações deste médico e professor, aqui hei-de deixar mais
algumas linhas mais tarde.
Sobre a "Lã
Maria" tenho a impressão que nunca lá entrei, mas há sete ou oito
anos encontrei um antigo empregado desta casa comercial que me contou que
nas caves do dito edifício existiam longas passagens subterrâneas que
levavam a um rio subterrâneo. Será verdade? Será aquele ribeiro que descia
ali pela rua do Bonjardim, que passava perto da Cancela Velha?”
Com a devida vénia a Teo Dias, administrador de
“ruasdoporto.blogspot.pt” (4 Novembro de 2012)
Muitos portuenses que eram jovens, em meados do século XX,
ainda se lembram de apreciar a cascata de S. João da loja Lã Maria, que ocupava
duas ou três montras e tinha um comboio eléctrico a circular.
Sobre a “Lã Maria”
e, também, sobre a sua cascata Sanjoanina, é o texto que se segue.
“Atravessando a Rua Sá
da Bandeira em direcção ao Bonjardim temos a popular lojas de miudezas, tecidos
e artigos de borracha a “Lã Maria”.
Estabelecimento que
toda a população do Porto e arredores conhece. Como devoção, na quadra das
festividades Sanjoaninas, numa das montras, já por anos, era armada uma
cascata, com figuras, em movimento onde além do S. João estão os diversos
motivos da vida, quotidiana do Porto e dos concelhos limítrofes.
Na decoração não
faltavam aquelas figuras, típicas do dia-a-dia da cidade do Porto: os carros
puxados por bois; o aguadeiro; a figura do Zé Povinho, imortalizada pelo
Bordalo Pinheiro; as noras de retirar água dos poços circundada pelo piso
circular que o boi ou a vaca “pachorrentamente”, através da força bruta, do
poço, fazia trazer os baldes, amarradas a correntes, transbordando a água
cristalina do fundo do poço até ao tabuleiro que ligado a um rego riscado no
meio do milheiral ou batatal.
Essa bênção da água
fazia dos campos jardins verdes nos arrabaldes do Porto. Magotes de pessoas,
todos os dias, admiravam a montra decorada da “Lã Maria” e, tradicionalmente,
já nas orvalhadas da madrugada da noite do alho-porro, manjerico e da cidreira,
antes de o tripeiro recompor as energias despendidas durante a noite de folia, muitos
destes, depois da tigela de caldo verde, com a tora de chouriço, nas barracas
de comes e bebes das Fontainhas ou numa outra tasca encontrada no caminho,
antes de se acomodar, ainda passava pela Rua Formosa e, já de olhos piscos,
olhava a montra da “Lã Maria”.
Cortesia: José Martins in “lusosucessos.blogspot.com”
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