quarta-feira, 21 de maio de 2025

25.276 Casa Museu Fernando Castro

 
No prédio n.º 716 da Rua de Costa Cabral, no Porto, viveu e morreu Fernando de Castro (1888-1946) e, aí, continuou a viver a sua irmã Maria da Luz de Araújo Castro.
Em 15 de Dezembro de 1951, através do Decreto-lei 38.560, nº261-I Série, a Casa-Museu Fernando de Castro passa a ficar anexa ao Museu Soares dos Reis; em 24 de Janeiro de 1952, é feita uma escritura de doação onde Maria da Luz de Araújo Castro (irmã de Fernando de Castro) doou ao Estado dois prédios urbanos, o 704 e o 716, na Rua de Costa Cabral, bem como todo o seu artístico e valioso recheio.
Na revista “O Tripeiro”, V.ª Série, VII Ano, Abril 1952, pág. 268, Hugo Rocha, alguém que conheceu pessoalmente Fernando Castro, faz a sua fotografia.
 
 
“Com os seus altos colarinhos engomados, os seus negros cabelos encaracolados, a sua impecável calça de fantasia, a sua vistosa flor ao peito, os seus polainitos de Verão e de Inverno, o se chapéu de coco, a sua bengala de dandy, Fernando Castro era uma das figuras mais características e distintas da cidade e uma das sensibilidades e inteligências mais apuradas e fascinantes que tenho conhecido”.

 
 
Fernando de Castro
 
 
 
Dois prédios com o seu recheio foram doados, então, ao Estado, bem como as obras de arte reunidas ao longo dos anos por Fernando Castro.
Com aquela doação, seria montada a Casa–Museu Fernando Castro, que ficaria sob administração do Museu Soares dos Reis.

 
 
Casa-museu Fernando Castro – Cortesia de Pedro Figueiredo
 
 
 
Possivelmente, a ligação e a paixão pela arte teria raízes no pai de Fernando Castro, igualmente com o seu nome completo.
Tendo vivido na freguesia da Sé, Fernando António Castro (pai), um empreendedor, decidiu mudar-se para a zona das Antas em 1893.
Esta é a data de aprovação da casa que mandou construir com dois pisos, na Rua de Costa Cabral, a que se sucedeu uma ampliação em 1908, incluindo uma cozinha junto à sala de jantar no primeiro piso e a construção de um terceiro piso para quatro quartos e duas salas.
Os caixotões dos tectos, os lambris e demais elementos arquitectónicos da casa correspondem à época da sua construção, pelo que Fernando António Castro (pai) teria já um gosto pela arte, que teria transmitido ao seu filho.
Faleceria em 1918 e, após a sua morte, questões familiares conduziram à ocultação de todos os documentos referentes à herança transmitida, em 1918, aos seus dois filhos, Maria da Luz e Fernando de Castro, o herdeiro da casa.
Sobre Fernando António Castro (pai) é o texto seguinte.
 
 
“A decoração interior da Casa-Museu é dominada por uma atmosfera revivalista, onde sobressai o trabalho da talha e domina a arte sacra, transmitindo ao espaço um certo espírito de antiquário, em consonância com o culto dos estilos nacionais e das antiguidades em finais do século XIX. Constitui por isso um dos raros ambientes do romantismo tardio na cidade do Porto.
Estudos recentes indicam que a decoração fixa da casa corresponde à época da sua construção, entre 1893 e 1908, incluindo lambris de madeira entalhada, de fabrico moderno ou restaurada, tetos de caixotão, espelhos, mobiliário, papéis de parede, lustres e lanternas. Este revestimento original parece resultar de um verdadeiro projeto de interiores, concebido com ostentação e dentro de um gosto atualizado seguido pelo fundador da casa, Fernando António de Castro. É de notar que este negociante da Rua das Flores provinha de um ambiente instruído, sendo filho de um tabelião e membro da família Campos Melo, próspera nos lanifícios da Covilhã.
Fonte: museusemonumentos.pt
 
 
 
 
Fernando de Castro (filho) um poeta e desenhador, reconhecido caricaturista irá, ao longo da sua vida, reunir um riquíssimo espólio de arte dos mais variados estilos e que, hoje, podemos apreciar.
Para alguns foi um coleccionador compulsivo.
A Casa Museu, propriamente dita, é um edifício oitocentista de planta em L, de três frentes, com quatro pisos, sendo dois deles uma cave semi-enterrada e um piso acrescentado.
Em Abril de 1952, a Casa-Museu era descrita, na revista “O Tripeiro”, V.ª Série, VII Ano, Abril 1952, pág. 268, por Hugo Rocha, como segue.
 
 
“À entrada, na sala minhota, observam-se os tectos e lambris que vieram de Braga do extinto mosteiro dos Remédios, peças de talha oriundas do convento franciscano bracarense de Monteriol”.

 
 
Interior da Casa-Museu Fernando Castro


 

Casa-Museu Fernando Castro

 
 
E continuava Hugo Rocha.
 
 
“A sala de jantar com o tecto e os seus caixotões em talha policrómica e dourada espanhola do século XVIII; os quadros de pintores holandeses, franceses, italianos e portugueses; a mobília em talha de estilo Renascença bem como os seus vidros e porcelanas, surpreendem pela riqueza.
A escada de comunicação com o 1.º andar e a galeria D. João V, ostentam quadros de Grão Vasco, Gaspar Dias, candeeiros faianças em estilo D. João V, tábuas das escolas flamengas e portuguesas.
A sala de leitura apresenta as suas estantes em estilo Renascença, quadros de Sousa Pinto e esculturas de Soares dos Reis e presépios de Teixeira Lopes e obras de Camilo em edições raras.
No 2.º andar destaca-se no quarto de dormir a cama em estilo Rocaille”.
 
 
 

Escadaria de acesso aos andares superiores da Casa-Museu Fernando Castro
 
 
 
 
 

Quarto de dormir – Fonte: museusemonumentos.pt



Por fim, Hugo Rocha descrevia as galerias onde eram exibidas obras dos grandes mestres.
 
 
“Anexo ao edifício, podem observar-se duas galerias.
A maior, com pintura e, a mais pequena, com peças de estatuária sacra, românica e gótica em pedra de Ançã e em madeira.
Na pinacoteca podem observar-se obras de Josefa de Óbidos, Roquemont, Rosa Bonhheur, Daubigny, Bastien, Lefage, Casanova, Silva Porto, Malhoa, Columbano, Carlos Reis, Sousa Pinto, Henrique Pousão, António Carneiro, António José da Costa, Roque Gameiro, Alves de Sá, João Vaz, Acácio Lino, José de Brito, Alberto de Sousa e outros.”

 
 
 
Paisagem do Porto; Tela de Artur Loureiro (1853-1932) - In Casa-Museu Fernando Castro, Porto
 
 
 
Cena de peça de Molière; Tela de Giuseppe Signorini, na Sala de Baile


 
António Soller (Retrato, 1882) – In Casa- Museu Fernando Castro, Porto; Pintor: Francisco José Resende 

 
 
 
Na gravura anterior, observa-se um retrato de António Soller, um pianista e compositor, nascido em Lisboa, em 1840, exposto na Casa Museu Fernando Castro.
Na segunda metade do século XIX, o pianista viveu no Porto e, em 1862, já por lá se encontrava.
Nesse ano, no Teatro Baquet, foi executado um hino, durante uma récita de gala em honra do príncipe Humberto, irmão de D. Maria Pia, escrito por António Soller.
Sobre aquele músico, conta-se que estando ele de visita à Exposição de Paris de 1878 viu o fonógrafo de Edison e não acreditou.
Pediu licença para ir cantar ao bocal do fonógrafo e, segundo as suas próprias palavras:

 
“cantei o Hino de Maria da Fonte! Só depois do fonógrafo repetir o que acabava de cantar, é que me dei por convencido da sublime e esplêndida invenção de Edison”.
António Soller - In revista “O Tripeiro”, V.ª Série, Ano VIII, Abril de 1953, pág. 355

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