quinta-feira, 29 de maio de 2025

25.277 Os rabões e o rio Douro

 
Enquanto o carvão extraído nas minas de S. Pedro da Cova (margem direita do rio Douro) tinha como destino principal abastecer as caldeiras da Companhia Carris de Ferro do Porto (depois, Serviço de Transportes Colectivos do Porto), em Massarelos, sendo transportado por cestas que se movimentavam num cabo aéreo de vários quilómetros até ao Monte Aventino (Antas), na cidade do Porto, o carvão proveniente do couto mineiro do Pejão (margem esquerda do rio Douro) era transportado pelos chamados rabões que deslizavam no rio Douro desde de Germunde/Pedorido até à Ribeira do Porto e, daqui, seguia para as várias unidades industriais do país.
Os rabões eram barcos rabelos que ostentavam uma vela preta.
Tanto o couto mineiro de S. Pedro da Cova como o do Pejão, que fazem parte da Bacia Carbonífera do Douro, forneciam a matéria-prima para funcionamento da Central da Tapada do Outeiro (desactivada desde 2004), em Gondomar.
No caso das minas do Pejão, o carvão era transportado para a Central da Tapada do Outeiro por meio de um transportador aéreo de vagonetas e, deste modo, era vencido o atravessamento do rio Douro.
 
 
 
 
Vista de Germunde, vulgo Pejão
 
 
 
Principalmente, o carvão extraído do couto mineiro do Pejão era transferido nas margens do rio Douro para navios costeiros que o transportavam para as fábricas de cimento de Alhandra ou Outão.
Só entre 1953 e 1955, a Empresa Carbonífera do Douro, que explorava o couto mineiro, tinha ao seu serviço 46 rabões e, ainda, 52 barcos de particulares.
Por esta altura, em Outubro de 1952, anunciava-se que a produção de carvão chegava a 300.000 ton/ano e o objectivo era obter 500.000 ton/ano.
 
 
 
 
“As viagens dos rabões eram feitas utilizando as marés: partiam quando elas vazavam, regressando quando começavam a subir.
No inverno, quando o rio ia alto, carregados com 40, 50, 60 toneladas de carvão, os rabões faziam a viagem em 4 a 5 horas. No regresso, era o rebocador “Pejão” que puxava os rabões, já vazios.
No verão, tudo era diferente. Como o rio andava baixo, uma viagem podia demorar 7 a 8 horas, incluindo o tempo dos trasfegos. Nessas adversas circunstâncias de navegação, os rabões partiam de Germunde com cargas menores, dirigindo-se para Pé de Moura/Gondomar. Aí, o carvão era trasfegado para outros barcos, que depois zarpavam para o Porto, regressando os outros rabões a Germunde”.
Fonte: pejao.net
 
 
 
 
Rabões para transporte de carvão (embarcações de vela preta). Os rabelos de vela branca são de transporte de Vinho do Porto

 
 
Rabões, em fila, chegando a Germunde rebocados pelo Pejão

 
 
Quando o rio ia baixo e não permitia que o rebocador “Pejão” (e, mais tarde, o rebocador “Fojo”) rebocasse os rabões, a viagem de retorno do Porto a Germunde fazia-se à vela, à vara e com pás de remar (remos), após a transferência da carga para outras embarcações em Pé de Moura/ Gondomar.
 
 
 
Descarga de carvão, no cais da Cantareira, sendo visível, à esquerda, em cima, a capela de Santa Catarina. O carvão aqui chegava nos rabões ou, por vezes, nas barcaças, para as quais era trasfegado em Pé de Moura

 
 
Navio “SECIL”, na década de 1950, amarrado no lugar do cais da Empresa Carbonífera do Douro, Senhor da Boa Passagem, V. N. de Gaia, diante do edifício da Alfândega do Porto, recebe carvão dos típicos rabões vindos das minas do Pejão, Castelo de Paiva

 
 
O rebocador Fojo, que antes de assim ser rebaptizado se chamava “Mercúrio Segundo”, foi comprado pela Empresa Carbonífera do Douro, quando fazia serviço no rio Douro.
Em finais da década de 1970, há testemunhos de que se encontrava semi-submerso junto da Marina do Freixo (Campanhã) e deve, por essa altura, ter sido desmantelado.

 
 
 
O rebocador “Mercúrio Segundo”

 
 
O rebocador “Mercúrio Segundo”, junto de duas barcaças, numa excursão à Quinta da Fonte da Vinha, Oliveira do Douro, em 05/07/1953, organizada pelo Clube Fluvial Portuense /O Comercio do Porto

 
 
 
Nas minas do Pejão, era extraído carvão do tipo antracite A, que fazia parte da Bacia Carbonífera do Douro. Este carvão era usado como combustível, substituindo a lenha em fogões, caldeiras e comboios, por exemplo.

 
 
Rabões no rio Douro
 
 
 
Com o incremento da corrida ao carvão mineral e o início da exploração da Bacia Carbonífera do Douro, em meados do século XIX, acentua-se o interesse no território a sul do Douro, nomeadamente, no denominado Couto Mineiro do Pejão constituído pelas minas do Choupelo, Fojo e Germunde.
 
 
 
 
“A história do Couto Mineiro do Pejão começa em 1859, quando o Concelho d’Obras Públicas e Minas decidiu examinar e reconhecer a existência de uma mina de carvão situada no Monte das Cavadinhas, no Pejão, freguesia de São Pedro do Paraíso, concelho de Castelo de Paiva. As Minas do Pejão começaram a ser exploradas em 1884, data a partir da qual se iniciaram os trabalhos de prospeção, pesquisa e consequente exploração subterrânea. Entre 1908/1917, as minas foram exploradas pela Companhia Portuguesa de Carvão e pela Anglo-Portuguesa Colliers, Lda. No entanto, em 1917 foi fundada a Empresa Carbonífera do Douro, Lda, a qual passou a explorar aquela concessão.
Em 1933, a Empresa Carbonífera do Douro faliu e foi adquirida por um grupo belga liderado por Jean Tyssen. Foi durante o período da sua administração que a empresa sofreu uma enorme evolução, quer na produção, quer a nível de desenvolvimento de infraestruturas e, sobretudo, a nível social.
Durante a Segunda Guerra Mundial e nos primeiros anos pós-guerra, a Empresa atravessou um período de grande desenvolvimento com as duas minas em exploração contínua.
Em 1977, a exploração foi adquirida pelo Estado Português e em 1984 passa para as mãos da Ferrominas, através de um convénio celebrado entre o IPE e aquela entidade.
Em 31 de Dezembro de 1994, as Minas do Pejão foram encerradas oficialmente. Decisão imposta pelo Governo da época, em que milhares de pessoas ficaram no desemprego, numa zona deprimida por si só, uma zona que vivia à custa da mina e onde não havia mais nada”.
Cortesia de André Ramalho

 
 
Endereços dos escritórios da Empresa Carbonífera do Douro, Lda

 
 
 
Endereços dos representantes da Empresa Carbonífera do Douro, Lda
 
 
 
 
Germunde, vulgo Pejão, em 1951
 
 
 
O Couto Mineiro do Pejão chegou a ser servido por uma linha de caminho de ferro utilizada para transportar a produção das minas de carvão de Pedorido até um cais fluvial no Rio Douro, junto a Germunde.
Esse caminho de ferro era do sistema Decauville, com uma bitola de 600 mm, sendo para além do comboio da Praia do Barril, e do Minicomboio da Caparica, uma das poucas linhas em Portugal a utilizar este sistema.
O caminho de ferro incluía uma ponte na localidade de Pedorido, que foi construída pela Empresa Industrial Portuguesa em 1893.
 
 
 
Ponte Ferroviária de Pedorido, na foz do rio Arda, hoje, de uso pedonal
 
 
 
“Para o transporte do minério foram empregues comboios rebocados por locomotivas a vapor, às quais não foram dados números mas nomes.
Uma das locomotivas, denominada de Choupelo, foi construída pela firma Orenstein & Koppel, tendo sido utilizada pelo exército alemão durante a Primeira Guerra Mundial, e depois adquirida pela companhia do Pejão. Outra locomotiva a vapor, chamada de Pejão, foi construída pela empresa britânica Robert Hudson, utilizada no Reino Unido durante a Primeira Guerra Mundial e depois transferida para Portugal.
Após o final da exploração mineira, tanto esta locomotiva como a Choupelo passaram para a gestão da Direção Geral de Minas, tendo sido levadas para as oficinas da Companhia dos Caminhos de Ferro Portugueses em Campanhã.
A Pejão foi guardada no Museu Nacional Ferroviário, no Entroncamento, enquanto que a Choupelo foi preservada primeiro no Núcleo Museológico de Estremoz, e depois levada também para o Entroncamento. Uma outra locomotiva, denominada Pedorido, pode ser encontrada à entrada do edifício da Junta de Freguesia do mesmo nome. Existiu pelo menos uma outra locomotiva a vapor, conhecida como Germunde”.
Fonte: pt.wikipedia.org

 
 
 
Estação Ferroviária do Fojo e comboio, em primeiro plano

 
 
 
Locomotiva Pedorido – Cortesia de J. J. Roseira, In mapio.net
 
 
 
 
 
No que diz respeito ao complexo habitacional das minas do Pejão, remete-se para o texto seguinte.

 
 
“Contrariamente ao que se verifica noutros complexos mineiros, no “Couto Mineiro do Pejão”, as habitações agrupavam-se em bairros dispersos pela serra, destacando-se três grandes conjuntos habitacionais construídos pela Empresa, Folgoso, Santa Bárbara e Germunde, constituindo um universo de 287 habitações -construídas entre 1949 e 1957-, nas quais a simplicidade e banalidade das construções, bem como a harmoniosa relação que as suas implantações estabelecem com a topografia acentuada do terreno, determinam o seu valor identitário.
A arquitectura que caracterizava as habitações mineiras assentava numa grande adaptação à ruralidade, fomentando a continuidade da ligação do mineiro à terra. O trabalho de lavoura era entendido como uma segunda actividade a desenvolver no seio familiar e que, segundo a Empresa Carbonífera, devia ser conservada. Na maior parte dos bairros, manteve-se a lógica do comunitarismo agrário através de equipamentos comunitários como o forno do pão ou os lavadouros. Noutros, verificou-se mesmo a sua reprodução. A ocupação dos tempos livres devia ser canalizada para o ambiente familiar, evitando as discussões políticas de café ou até mesmo actividades grevistas.
Também às políticas habitacionais promovidas pela Empresa se deveu a construção e recuperação das habitações dos trabalhadores das minas que, através de um “fundo especial de empréstimos e comparticipações”, do provisionamento de um “modelo arquitectónico adequado” e do fomento da autoconstrução, tornavam possível a aspiração de o mineiro de possuir casa própria”.
Cortesia de Daniela Pereira Alves Ribeiro
 
 
 
Bairro de Santa Bárbara, 1955 – Cortesia de Daniela Pereira Alves Ribeiro


 
Após o encerramento das minas, têm sido especificadas algumas propostas de reutilização das estruturas mineiras.
Principalmente, é de destacar o projecto para levantamento de um Museu do Carvão & das Minas do Pejão e, um outro, para um aldeamento turístico.
Hoje, porém, os edifícios habitacionais encontram-se à venda, individualmente, e sem qualquer pretensão de desenvolvimento enquanto conjunto.
Mantêm-se, no entanto, a perspectiva do museu.
Para os edifícios industriais tenta-se adaptá-los a instituições culturais.
 
 
 
Oficina abandonada do complexo das minas do Pejão – Cortesia de Armando Ramalho
 
 
 
Cavalete do Fojo, estrutura mineira localizada em Folgoso e desactivada em 1968, esperando intervenção promovida, em 2022, pela Câmara Municipal de Castelo de Paiva
 
 
 
 
Proposta de solução para a recuperação do cavalete do Fojo

 
 
Mineiros do Pejão, estátua de homenagem situada à face da EN222 – Cortesia de Armando Ramalho

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