segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

(Continuação 3) - Actualização em 11/12/2018, 17/07/2019 e 07/02/2020


“Os primeiros botequins chegam a Portugal em pleno século XVIII. No entanto, antes de 1755 o hábito português de frequentar estes estabelecimentos ainda não se encontrava muito enraizado, verificando-se uma afluência mais generalizada entre os negociantes estrangeiros, que desenvolviam os seus negócios na cidade de Lisboa. A capital portuguesa será, portanto, o berço da tradição dos cafés em Portugal, que se irá, ulteriormente, expandir pela cidade do Porto e depois, por todo o país. Na cidade de Lisboa notabilizaram-se, neste período de finais da primeira metade do século XVIII, e como verdadeiros pioneiros do café como estabelecimento de comércio em Portugal, o Botequim do Rosa na Rua Nova dos Mercadores e o Botequim de Madame Spencer, ambos fundados por volta de 1740. Mas será com o violento terramoto de 1755 e a ulterior reorganização urbana da cidade lisboeta, levada a cabo pelo Marquês de Pombal, que os botequins passarão a ter um valor relevante na Baixa Pombalina”.
Fonte - Nuno Fernando Ferreira Mendes; In: Dissertação de Mestrado em História da Arte Portuguesa


Por sua vez, os cafés portuenses dos séculos XIX e XX foram, verdadeiros locais de intervenção social, cultural, económica, política e até religiosa. Encarados como espaços sociais que se enquadram na sua época e mentalidade, conferindo pertinência à reconstituição das suas clientelas mais fiéis, os cafés do Porto do Século XIX, foram frequentados por clientes, que se enquadravam em classes sociais ou estatutos profissionais diferenciados, levando a que estes estabelecimentos se ajustassem as estas condicionantes, compreendendo-se, assim, “a existência de cafés de elite económica, de contestação, do operariado, de pequenos comerciantes, de marítimos ou de professores”.
Na sua grande maioria, concentravam-se nos espaços de maior acessibilidade, como por exemplo, a Praça de D. Pedro (antiga Praça Nova e actual Praça da Liberdade), mas em muitos casos a sua vocação era em larga medida decorrente da proximidade dos focos de origem da clientela (o Pepino e o Amaro eram frequentados por marítimos, enquanto o Âncora d’Ouro era o pouso dos estudantes).



"O viajante experimentado e fino chega a qualquer lugar, entra no café, observa-o, examina-o, estuda-o, e tem conhecido o país em que está. O seu Governo, as suas Leis, os seus Costumes, a sua Religião. Levem-me de olhos tapados onde quiserem. Não me desvendem senão no Café e prometo-lhes que em menos de 10 minutos, lhes digo a terra em que estou, se for país sublunar”.  
Almeida Garrett


O Botequim do Pepino de António Pereira Porto ficava no Muro dos Bacalhoeiros na Ribeira. 
António Porto faleceu aproximadamente em 1850, mas a viúva conservou o célebre botequim (mas já muito decadente) até 1871, data da demolição daquela rua e das ruas adjacentes.
Em 18 de Outubro de 1845 o “Periódico dos Pobres no Porto “ dava conta de que, António Porto tinha casado em 16 de Outubro:
"Anteontem de tarde atravessava a todo o trote a Praça de S. Lázaro um cabriolé a quatro, carregado de pessoas do sexo feminino em grande luxo, e acompanhado de cavaleiros. Era o botequineiro Pepino de Cima do Muro que tinha ido casar, e que se recolhia a casa em grande estado”.



Um leitor de “ O Tripeiro” escrevia também, no mesmo jornal:


"O Botequim do Pepino, em Cima do Muro, era muito concorrido da marinhagem estrangeira e de mulheres de má nota do Forno Velho e immediações. As desordens alli eram frequentes. O predio, juntamente com os demais do mesmo lanço do muro, foi demolido, quando se construiu a rua que segue da dos Inglezes para a Alfandega. O botequim transferiu-se para o Forno Velho. Não sei se ainda lá existe ou algum seu descendente. O Rodrigues Sampaio, o Sampaio da Revolução, era accusado pela imprensa adversaria por ter sido freguez do mesmo cafe, quando era guarda da Alfandega ou coisa que o valha. Cito este facto de memória mas creio não estar em erro”.
Um tripeiro da gêmma, baptisado em S. Nicolau



Arnaldo Gama, no seu livro O Génio do Mal, escreve: 
“O Botequim do Pepino tinha as traseiras imundíssimas voltadas para um pequeno largo, que por uma travessa sempre suja comunica com o  Cima do Muro".


Segundo Pinho Leal (vol. VI - p. 62 - do seu Portugal Antigo e Moderno), o Botequim do Pepino situava-se a poente do Postigo dos Banhos.



Postigo dos Banhos. O Botequim do Pepino ficaria num dos prédios do canto inferior esquerdo





Por sua vez, o Botequim do Amaro existiu, assim, por cima do Muro da Ribeira no qual foi fundado, em 4/11/1876, o Clube Fluvial Portuense.
Sobre o Botequim do Amaro, é o texto seguinte:


“Não se sabe a data da sua fundação, todavia este botequim terá existido até muito depois de 1876 (data em que aí se constitui o Fluvial).
Situava-se na Rua de Cima do Muro da Ribeira, logo ao alto da sinuosa escada que, vinda do fundo da Rua de S. João, dá acesso a este muro.
Teve igualmente como designações a de Botequim ou Café Rio Douro (parece que por esta altura com outro/s proprietário/s) e a de Café de Cima do Muro, devido à sua localização.
Este botequim pertencia a José Pereira de Santo Amaro, que veio a ser o 2.º presidente da direcção do Real Clube Fluvial Portuense.
Numa dependência deste botequim fundou-se o Real Clube Fluvial Por­tuense (em 4/11/1876) – que por aí estanciou durante dois anos - pelos adeptos de remo David José de Pinho e pelo próprio Amaro. Passou depois, este clube, para a Travessa de S. João n.º 13, no 2.º andar”.
Cortesia de Rui Manuel da Costa Perdigão da Silva Fiadeiro Duarte (de Cifantes e Leão)



Também pela Ribeira, ficava a Taberna Vidraças”.
A 13 de Outubro de 1833 abria na Rua Nova dos Ingleses o Café do Comércio na casa onde mais tarde se instalaria a sede da Companhia de Seguros Garantia. Este café, anos depois, viria a mudar-se para a Praça da Batalha com o nome de Café Águia Douro.
Em meados do século XIX, a Praça D. Pedro no Porto era já o "ponto predileto de reunião dos homens da política e do jornalismo, do comércio e dos brasileiros".
Aqui predominavam os botequins Porto Clube, Europa, Antiga Cascata, Internacional, entre outros, progressivamente desaparecidos.
Na área onde se situava a antiga Porta de Carros, desapareceram o Botequim da Porta de Carros também conhecido pelo Botequim do Senhor Frutuoso.
Por aquele local havia também o Café Brasil, que ainda hoje, se encontra de portas abertas.
Por outros locais da cidade estavam espalhados os cafés e botequins.
O Botequim das Hortas (esteve na esquina da Rua do Almada com a Rua da Fábrica), o Guichard (situado na Praça Nova), o Botequim da Porta do Olival (no Olival), o Botequim de S. Lázaro (próximo do jardim e que depois, foi Café América), estes dois últimos os preferidos pela juventude e intelectuais, o Botequim do Martinho (situava-se no que é hoje, a actual Praça Parada Leitão) e o Botequim da Rua de Santo António.
O Botequim da Rua de Santo António, inaugurado em 1851, tinha a sua entrada naquela rua, pela porta de acesso ao Teatro Circo, depois Príncipe Real, do lado esquerdo quem sobe. Aquela porta daria também acesso mais tarde, ao Teatro de Sá da Bandeira, e manteve-se durante muitos anos.
Era um café luxuoso e o preferido dos libertinos da época e, 13 anos depois, em 1864, passou a chamar-se Café da Neve, quando começou a servir sorvetes.
Este café, que também era conhecido por Café Circo, uma vez que se encontrava no acesso àquele reconhecido e emble­mático Teatro Circo, era dotado de salão de bilhares e por ele transitaram muitos dos actores que declamavam nos vizinhos Teatro Circo e Baquet. Desconhece-se a data do seu encerramento. 
Sobre o Botequim da Rua de Santo António o Dr. Artur de Magalhães Basto diz-nos, no “O Tripeiro”, Série VI, Ano IV:    

                     

”Era a inveja dos lisboetas pelo seu gosto e luxo e um viveiro de “libertinos”; quem ali entrasse a tomar capilé e demorasse dez minutos saía cínico. Havia quem fosse lá para jogar “candidamente”, o quino e o bilhar, mas, em geral, quem se sentava àquelas mesas marmórias espostejava “a sã moral”… como cadáver combalido em teatro anatómico”.



“Abriu-se um café na rua de Santo Antonio, da cidade do Porto, que dizem os jornaes e correspondências ser uma coisa que á vista do Marrare de Lisboa é o mesmo que comparar o Salitre a S. Carlos! A architectura, a mobília e o serviço são de um luxo e gosto de primor. Lá chamam-lhe o Marrare por ironia. Quando teremos nós disto em Lisboa? // Devia ser o café contiguo ao portão do Circo. Que ingénuos tempos lá vão! Os portuenses, afeitos à pirangaria do ‘Guichard’, acharam sumptuoso o novo botequim da rua de Santo Antonio; e os lisboetas invejavam-no com uma pontinha de ironia mansa”.
Fonte: Alberto Pimentel, In “A Praça Nova”. Porto: ‘Renascença Portuguesa’, 1916, p. 174


“O botequim da rua de Santo António era um cardume de libertinos: quem ali entrasse a tomar um capilé, e se demorasse dez minutos, saía cínico. E Innocencio, começando a frequentar aquella caverna com o cândido intento de jogar o quino, passou depois ao bilhar, e d’aqui ás mezas marmóreas onde a sã moral era espostejada como cadáver combalido em amfi­theatro anatómico”.
Cortesia de Rui Manuel da Costa Perdigão da Silva Fiadeiro Duarte (de Cifantes e Leão); Fonte: Camilo Castelo Branco, In “O sangue”. 3.ª Ed. Lisboa: Parceria António Maria Pereira, 1907, pp. 99-100




O Café da Neve, propriedade de Francisco Corrêa que também o era do Teatro Circo (Teatro Sá da Bandeira), c. 1865, já apresentava sinais de alguma vetustez, passando a ser frequentado por gente modesta: empregados do comércio, pequenos negociantes, artistas e luveiros, para além dos actores e actrizes dos Teatros Baquet e Circo.
Ao nível do piso térreo, o café apresentava um espaço com mesas marmóreas para tomar café e, ao fundo, um outro para a prática do bilhar e do quino. 
O nome deste café teve origem nos sorvetes que vendia, segundo alguns jornais da época uns dos melhores sorvetes da cidade. Tinha uma sala privada para “as senhoras e famílias particulares tomarem neve”.  Ficou, inclusivamente, para a história como uma das raras excepções de cafés portuenses que possuíam sala privada para as mulheres.
Em 1873, o Café da Neve ou Café da Rua de Santo António, como também era conhecido, reabriu portas após obras de beneficiação.


In "Jornal do Porto" de 29 de Maio de 1873



Quanto ao Botequim de S. Lázaro, ele já existia em 1851, entre o Largo da Ramadinha e o Largo de Santo André (Praça dos Poveiros). 
Pelo menos entre 1884 e 1901, foi seu proprietário José de Lima Lobo e, em 1904, já tinha mudado para Café América, mantendo-se aberto, segundo Horácio Marçal, seu habitual frequentador, até meados do XX.
Era um local conhecido por nele se jogar o dominó e as cartas e Alberto Pimentel referia, também, o “Trinta e um”.
Aquele botequim era frequentado por José Maria da Graça Strech, uma figura típica do Porto, da época, conhecido pelo “Desgraça”.
Na Praça de D. Pedro como se vê em anúncio abaixo, em 1859, existia o Café dos Dous Amigos.



In “O Jornal do Porto”, 21 junho 1859


O Botequim “O Pátria” ficava na Porta do Olival e era frequentado pelos lentes da Academia Politécnica e da Escola Médica.
Nas proximidades da Escola Politécnica existiu também o Botequim do Adães que se pensa ter existido no mesmo local do Botequim da Porta do Olival, ainda hoje existente.
O jornalista e historiador Fir­mino Pereira acerca do Botequim do Adães, dizia que nele era frequente encontrarem-se, "encostados ao botequim de Adães os galegos em mangas de camisa, que espe­ravam os fretes dos armadores do bairro". 
Na Cordoaria havia ainda, em tempos, o Botequim da Graça e bem perto, em frente à Igreja dos Carmelitas, o Botequim da Pomba vizinho da célebre “Estalagem A Lisbonense”.



“Era um botequim de antiga fundação e que pelo ano de 1854 ainda se encontrava no mesmo local.
Ficava no Carmo, perto da Estalagem Lisbonense, fronteiro à Igreja e Convento dos frades da Ordem dos Irmãos Descalços de Nossa Senhora do Monte Carmo (Carmelitas). Tirando o local deste botequim quase todos os baixos dos prédios, entre a Travessa do Carmo e a Praça de Parada Leitão, pertenciam ao alquilador Lopes, que aqui e na antiga Viela do Assis, onde vivia, tinha as estrebarias, as cocheiras, as oficinas de ferrador…”
Cortesia de Rui Manuel da Costa Perdigão da Silva Fiadeiro Duarte (de Cifantes e Leão); Fonte: Horácio Marçal  – “Os antigos botequins do Porto”, in O Tripeiro. 6.ª Série, Ano IV, n.º 3. Porto: Março 1964, p. 70



Pela Rua do Bonjardim esteve, segundo Alberto Pimentel, o Botequim dos Macacos.


“Aqui, que me conste, não se tirava a vida a ninguém, mas a bengala e o lenço de assoar tirava-se a toda a gente. Do relógio não falo porque os frequentadores habituais não o tinham, a não ser que tivesse perten­cido aos outros. Esta crónica revela que este espaço era um botequim à ‘moda antiga’, aqui aplicado no dúbio sentido; uma vez que, tal como nal­guns primevos botequins, era um lugar de pouca reputação, por vezes coio de zaragateiros e meliantes de toda a espécie.
Parece que era a este botequim que se referia Firmino Pereira dizendo que aqui, neste antro, na Rua do Bonjardim à entrada da Viela da Neta, escuro e fumacento continuava-se a tradição arruaceira e temerária do Botequim do Pepino”.
Cortesia de Rui Manuel da Costa Perdigão da Silva Fiadeiro Duarte (de Cifantes e Leão)



O Café da Porta de Carros ou Botequim do Senhor Frutuoso localizava-se no Largo da Porta de Carros, “nos baixos de um prédio de primeiro andar, que se achava (no meio de mais dois) encostado à demolida muralha Fernandina”, mesmo em frente à Igreja dos Congregados.
Horácio Marçal informa-nos que, em 1852, aquele estabelecimento já era considerado muito antigo.
Este café pertencia ao senhor Frutuoso, de seu nome completo, Fructuoso José da Silva Ayres ​(1804-1881), casado com Maria Máxima de Gouveia Osório Braga. É este capitalista que funda a Praia da Granja, tal como a conhecemos, como estância balnear, depois de adquirir em hasta pública a propriedade que os crúzios do mosteiro de Grijó possuíam nas praias de V. N. de Gaia.
O citado casal teve como descendentes, o distinto arcebispo de Calcedónia, que foi também ministro da justiça, em 1892, e dos Negócios Estrangeiros, D. António Frutuoso Ayres de Gouveia Osório (1828-1916) e José Frutuoso Ayres de Gouveia Osório (1827-1887), médico e lente da Escola Médica e político e Presidente da Câmara Municipal do Porto em 1886-1887.
António Frutuoso Ayres de Gouveia Osório teria confidenciado a alguns amigos, ser um adorador secreto de Ana Plácido e,  segundo estudiosos camilianos, sob o pseudónimo de Misantropo, teria uma colaboração no periódico “Eco Popular” e, por isso mesmo, tinha uma má relação com Camilo Castelo Branco.
Quanto a José Frutuoso Ayres de Gouveia Osório foi, ainda, redactor das revistas “Gazeta Médica”, da “Saúde Pública” e da “Revista da Sociedade de Instrução do Porto” (1881-1884), sociedade da qual tinha sido fundador.
Este professor da Escola Médica casou (em 16 de julho de 1866) com Virgínia de Brito e Cunha (nascida a 2 de Novembro de 1836 na casa do Ribeirinho, em Matosinhos e falecida a 16 de Agosto de 1905 na praia da Granja) e, desse casamento, tiveram uma filha, Maria Benedita de Brito e Cunha Aires de Gouveia Osório.



Aqui, foi a Porta de Carros



Na foto acima pode observar-se, à direita colado à muralha, o local onde esteve o Café do Senhor Frutuoso. Ao centro vê-se o local do antigo e actual Café Brasil. À esquerda, em frente, a Rua de Santo António.
O Café das Hortas encontrava-se sedeado na Rua Nova das Hortas (actual Rua do Almada), na esquina com a Rua da Fábrica.
Horácio Marçal indica-nos que este café “pertencia a Domingos José Rodrigues e foi fundado no ano de 1820, com secção de bilhares no primeiro andar”.
Além de uma ampla sala de bilhares no primeiro andar, tinha três grandes salões: um para a burguesia, outro para os artistas e o ter­ceiro para a plebe. Um dos mais assíduos fre­quentadores do segundo salão era Camilo Castelo Branco, que aparecia sempre com o seu inseparável cão terra-nova.
Ramalho Ortigão escreve a propósito deste botequim:

“O velho botequim das Hortas em que à noite se jogava o Loto, a vintém o cartão, e que, ao abrir-se uma das suas portas envidraçadas, guarnecidas da cortininha de cassa branca, enchia de um picante perfume de calda de capilé e de café torrado a rua toda”.

Um dos mais assíduos fre­quentadores do Café das Hortas era um tal José Fer­reira, natural do Carvalhido, mas que o Porto conhe­cia, popularmente, pela al­cunha de "O cartolas ", por causa do tipo de chapéu que nunca deixava de usar. Era um notável poeta improvisador.
Segundo um dos seus biógrafos nasceu plebeu, e é bem possível que fre­quentasse o salão, que no referido café, era destinado a esta classe. O "Cartolas" acabou os seus dias como guarda da Fonte das Águas Férreas, muito frequentada pelas meninas dos meados do século XIX, porque as suas águas, dizia-se, provocavam o tom anémico muito em voga naqueles recuados tempos. 
A partir de 1850, no piso superior do café, passou a fun­cionar a Filarmónica Portuense
Em 1 de Março de 1859 o jornal “O Braz Tisana” anunciava que o Café das Hortas, “(…) abriu-se novamente depois de reparados os estragos que sofreu por causa do incêndio que, ultimamente, ali teve lugar”.
O Café das Hortas durou 60 anos.
A partir da década de 80 do século XIX, passou o estabelecimento por várias transformações, inclusive com mudança de donos.

“Este estabelecimento, que jazia nostálgico por incúria dos seus proprietários, reaparece agora, devido a um novo dono, cheio de atraentes e convidativas distracções para deliciar os apetites dos seus frequentadores.
Tem, além do bom e escrupuloso serviço, os agradáveis passatempos que a todos oferece.
O sr. Teixeira Lopes, a quem actualmente pertence o café das Hortas, tem sido incansável em tornar o seu estabelecimento digno de mencionar-se entre os de primeira ordem.
Além do pianista, que todas as noites mimoseia os fregueses daquela casa, tem contractados concertistas e cantores.”
In jornal “O Correio do Porto”, de 20 de Setembro de 1886 – 2ª Feira



Mais tarde, o Café das Hortas foi transformado em restaurante, denominado Restaurante do Porto e os pisos superiores deram lugar ao Hotel Internacional, que ainda hoje subsiste, tendo começado por se chamar Hotel Real.



Local onde existiu o Botequim das Hortas


Pela Praça da Batalha, desde 1857, existiu um café que era o local de encontro de liberais, republicanos e socialistas, denominado Café da Comuna.
Por razões de ordem política, era, aquele, um local de forte vigilância policial, o que levou ao seu encerramento em 1889, após fuga dos seus proprietários às autoridades.
Nesse mesmo ano abriria um outro no seu lugar, mas, obviamente, teve que mudar o nome para Café Leão D’Ouro.
Muitos destes cafés funcionavam também como restaurantes, contando com uma certa clientela fiel que se deslocava da periferia para vir ao Porto, às compras, em especial nos dias de feira: às Terças e Sábados. Os outros, a maior parte, viviam da clientela da noite.
As Terças, como dia de feira, era tão importante que a Companhia de Caminhos de Ferro Portugueses facultou, até aos anos vinte do século XX, um desconto especial a quem se deslocava ao Porto, nesse dia.
Alguns dos cafés portuenses foram também palco de manifestações musicais, quer devidamente programadas, quer a cargo de espontâneos que ao visitavam pontualmente.
Sobre estes últimos espectáculos a revista humorística “O Sorvete” de 1 de Setembro de 1878, N.º 13, 1.º Ano, 2.ª Série, na sua página 104, reproduzia uma banda desenhada alusiva aos mesmos. Findo o espectáculo, quando o artista ia solicitar uma recompensa monetária pela sua, até aí muito cativante actuação, se dava a fuga das assistências.


 











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