Aula de Debuxo e
Desenho (1779 - 1803)
Alguns anos depois da criação de Aula de Náutica, a Junta
Administrativa da Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro
solicitou ao rei a criação de um outro estabelecimento de ensino (a Aula de
Debuxo e Desenho), instituída pelo Decreto de 27 de Novembro de 1779, que
também indigitou o primeiro “lente da Aula”, António Fernandes Jácome.
A este lente sucedeu o pintor Vieira Portuense, nomeado em
20 de Dezembro de 1800, o qual, passados três anos, se converteu em director do
estabelecimento, sucedendo-lhe sucessivamente na docência José Teixeira
Barreto, Raimundo José da Costa e, mais tarde, Domingos Sequeira. O ensino
ministrado nesta Aula visava, especialmente, o curso de pilotagem, embora
também não estivessem ausentes preocupações com a indústria fabril, que ganhava
incremento no Porto.
A Aula de Debuxo e Desenho funcionou no Colégio dos Meninos
Órfãos, sob administração da Companhia Geral da Agricultura das Vinhas de Alto
Douro, até 1803. Neste ano, foi transferida para o Hospício dos Religiosos de
Santo António, devido ao elevado número de alunos que a frequentavam.
Acabaria por ser a origem primitiva da Academia de Belas-Artes que, em 22 de Novembro de 1836, passaria a funcionar no convento de Santo António da Cidade, a S. Lázaro.
Importa referir que, pela importância que teve para a
pintura portuguesa, Francisco Vieira de Matos (13 Maio 1765 – Madeira, 2 de
Maio de 1805) portuense por nascimento, foi o introdutor em Portugal do
neoclassicismo.
Filho de um pintor de paisagens e drogueiro, tendo estudado
em Lisboa e em Roma, onde adoptaria o nome de “Vieira Portuense”, passaria pela
cidade que o viu nascer, mas adoecendo com tuberculose viria a mudar-se para a
Madeira, à procura de bons ares onde, no entanto, viria a falecer com apenas 39
anos.
Uma das suas obras mais famosas é aquela em que Filipa de
Vilhena arma os filhos cavaleiros.
“D. Filipa de Vilhena armando os Filhos Cavaleiros”, 1801, Pintura
a óleo sobre tela - Autor: Vieira Portuense;
Localização: Obra consumida num incêndio
“D. Filipa de Vilhena
armando os Filhos Cavaleiros foi uma pintura a óleo sobre tela de 1801 do
artista português da época do neoclassicismo Vieira Portuense (1765-1805), obra
que pertenceu a uma coleção particular e que foi destruída por um incêndio em
2007.
A pintura representava
o episódio histórico de Filipa de Vilhena, Condessa de Atouguia viúva, que
tendo conhecimento dos preparativos que conduziram à Restauração da
Independência, ter aconselhado os seus dois filhos, Jerónimo de Ataíde e
Francisco Coutinho, a aderir, tendo-lhes entregado as armas, na madrugada de 1
de Dezembro de 1640, e mandando-os combater pela Pátria, dizendo-lhes que não
voltassem senão vitoriosos”.
Fonte: “pt.wikipedia.org/wiki”
A Academia Real de Marinha e Comércio foi criada em 29 de Julho
de 1803, na dependência da Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto
Douro (CGAVAD), com o objetivo principal de formar os seus futuros quadros
técnicos.
Ao ser criada, a nova Academia absorveu duas escolas já
existentes anteriormente, a Aula de Náutica e a Aula de Desenho e Debuxo.
Para instalar a Academia, logo em 1803, foi projetado um
novo edifício por José da Costa e Silva, a ser construído no local do antigo
Colégio da Graça ou Colégio dos Meninos Órfãos.
A Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro dirigia
e administrava os trabalhos do novo estabalecimento.
A construção do edifício que até aí era custeada com os
subsídios da Câmara e pelo imposto denominado real do vinho passou a
sê-lo pelo chamado subsídio literário.
No entanto, o projeto definitivo seria realizado apenas em
1807, por Carlos Amarante.
A construção do edifício iria prolongar-se por um longo
período. Para ajudar ao seu financiamento, a Junta Administrativa da CGAVAD
iria lançar o Subsídio Literário, um
imposto sobre cada quartilho de vinho vendido no Porto e nas áreas de jurisdição
da Companhia. Contribuiria também, para aquela construção, a Câmara Municipal
do Porto. A conclusão total do edifício, depois de sucessivas alterações ao
projeto original, só viria a ser realizada já em 1930, altura em que o mesmo
era já ocupado pela Reitoria e pela Faculdade de Ciências da Universidade do
Porto.
Entretanto, na sequência da implantação definitiva do Regime
Liberal em Portugal, em 1834, eram extintos os monopólios e privilégios que a
Companhia Geral de Agricultura do Alto Douro mantinha, passando a Academia de
Marinha e Comércio para a tutela direta do Estado.
Em 1834, devido a necessitar o edifício de reparações em
virtude de bombardeamentos ocorridos durante o cerco do Porto, as aulas
funcionaram no palacete do 2º visconde de Balsemão no Largo dos Ferradores.
Em 1837, no âmbito da reforma do ensino levada a cabo por
Passos Manuel, a Academia Real de Marinha e Comércio é extinta, sendo criada,
em sua substituição, a Academia Politécnica do Porto. A Academia Politécnica
herda o edifício, os professores e o ensino da antecessora, passando, no
entanto, também a ministrar cursos de engenharia e preparatórios para os cursos
da Escola do Exército.
Academia Real de Marinha e Comércio – Ed. J. Victória Villa
Nova
Na gravura acima desenhada a partir da actual Praça dos
Leões, observa-se uma fachada lateral da Igreja da Graça e instalações
envolventes, em 1833.
Esta instituição sucedeu à Academia Real de Marinha e Comércio,
e foi precursora, das actuais Faculdades de Ciências e de Engenharia da
Universidade do Porto (criada em 1911).
A Academia Politécnica do Porto foi criada por
decreto de 13 de janeiro de 1837, em substituição à Academia Real de Marinha e Comércio,
extinta pelo mesmo decreto.
Tendo existido de 1837 a 1911, foi um estabelecimento de
ensino superior técnico criado pelo governo de Passos Manuel, com o "fim de plantar no país as ciências
industriais". A sua localização na cidade do Porto foi justificada
considerando que "a populosa e rica
cidade do Porto é a localidade mais apropriada pelo seu extenso comércio e
outras muitas circunstâncias".
Não estando dotada das instalações necessárias, nem sendo de
imediato criadas as cadeiras, isto é os lugares docentes, de que carecia, a
Academia Politécnica do Porto teve um arranque lento e difícil. Também não foi
alheio a estas dificuldades o não se querer admitir que a nova instituição
tivesse um carácter universitário, privilégio então exclusivo da Universidade
de Coimbra.
Construção da Politécnica – Ed. J. Villa Nova
Na gravura acima pode ver-se a fachada principal (a poente),
do Colégio dos Orfãos (voltada para a actual Praça Parada Leitão), e as obras
para a construção da Academia Politécnica em 1833.
A sobrevivência da Politécnica passou muitas vezes pelo
concurso do Município do Porto e de outras instituições portuenses,
particularmente para resolver a crónica inadequação das instalações, já o que o
edifício próprio, só muito mais tarde se materializou.
Esta academia tinha como missão formar engenheiros civis e
militares, de todas as classes, tais como de minas, pontes, estradas,
construções, e outros domínios, assim como condutores de construções, oficiais
da marinha, comerciantes, agricultores, pilotos, directores de fábricas e, em
geral, artistas.
Para este ambicioso projecto são criados laboratórios
industriais, de química e física, oficinas de maquinaria e metalurgia.
O ensino da engenharia tornou-se no principal núcleo de
ensino da Academia, podendo, por isso, ser considerada a primeira escola civil
de engenharia do pais .
Eram estabelecidos 4 tipos de engenheiros:
Engenheiros de mina; Engenheiros de pontes e estradas; Engenheiros construtores
de navios; Engenheiros geógrafos (este curso foi suprimido em 1885).
Para todos estes cursos, assim como para os demais da
Academia eram estabelecidas 11 cadeiras, ficando ainda, estabelecido, que os
cursos teriam uma duração não inferior a cinco anos.
Os currícula destes cursos estavam todos subordinados às
mesmas concepções: a unidade subjacente às diferentes ciências devia
traduzir-se na criação de um tronco comum de saberes, vivificados pelo estudo
experimental nos laboratórios de química, gabinetes de máquinas, de história
natural, no jardim botânico, nas oficinas de metalurgia, e no observatório
astronómico.
“Não temos pois um
ensino especializado, mas conjuntos de saberes com algumas dominantes”.
Assim no curso de engenharia de minas encontramos
cadeiras de zoologia, botânica, e o engenheiro de pontes e estradas estuda
zoologia, botânica, astronomia...
Academia Politécnica em 1866 (fachada a sul), voltada para a
Cordoaria
Apesar de todas as atribulações de percurso, os cursos de
engenharia foram-se sempre reforçando. Em 1868 era criada a cadeira de
Mecânica Aplicada às Construções Civis, com dois anos de duração. Em 1869
reforça-se a componente matemática.
Contudo, por volta de 1880 subiam de tom já as críticas em
relação ao ensino ministrado. Ele era demasiado teórico. Na sessão inaugural do
ano lectivo de 1880/81, o então conselheiro director, referindo-se ao ensino
prático da Academia, afirmava:
"Nos nossos
estabelecimentos de instrução superior tem sido, até há pouco tempo, o ensino
eivado desta grande falta -- muita teoria e quase só teoria".
O assunto era comum a todos os outros estabelecimentos de
ensino da altura.
Em 1885 processa-se a mais importante reforma deste ensino.
Os cursos, tal como as cadeiras estavam desfasadas dos progressos científicos e
técnicos do tempo, o ensino prático não tinha tido qualquer importância
especial. A Nova Reforma aumenta de 11 para 18 as cadeiras da
Academia, reestrutura os seus conteúdos, suprime cursos e reforça o ensino da
engenharia, embora haja suprimido o de Engenheiros Geógrafos.
Na Academia passavam a existir agora apenas três cursos de
engenharia, correspondentes às principais áreas de actividade do norte do país:
Curso de engenheiros Civis de Obras Públicas; Curso de engenheiros Civis de Minas;
Curso de engenheiros Civis Industriais.
A duração destes cursos foi agora fixada em seis anos, sendo
quatro de preparação (ciências matemáticas, físico-química, etc), e dois de
aplicação. Adoptava-se um modelo de ensino inspirado nas escolas Belgas de
engenharia, e na Escola Politécnica do Rio de Janeiro.
A Reforma atribuiu um decisivo impulso ao ensino prático e,
nesse sentido, reforçou a importância dos Gabinetes, Laboratórios, do Jardim
Botânico e do Observatório Astronómico.
O ensino para Directores de Fábricas e Artistas foi
suprimido em 1885, bem como o Ensino de Agricultura e o Ensino de Pilotos.
Por outro lado, no que dizia respeito ao comércio, na Academia Politécnica do Porto,
herdeira da antiga Academia Real da Marinha e Comercio, continuou-se o seu
ensino, com o ministrar do antigo Curso de Comercialistas, com três anos de
duração.
Nesse curso a única cadeira comercial, tratava de "Comércio,
Geografia Comercial e Economia Industrial".
Apenas em 1857, a 15 de Julho, será criada uma nova cadeira
integrada nesta área e que versava "Economia Política e Princípios de
Direito Comercial e Administrativo", com a duração de dois anos, e
dividida em cinco partes: 1. Economia Politica. 2.Economia e Legislação Rural;
3. Economia e Legislação Industrial; 4. Princípios Administrativos e Direito
Administrativo; 5. Princípios de Direito Comercial.
Este curso foi suprimido em 1897, quando esta cadeira foi
substituída pela de Tecnologia Industrial.
Na Reforma de 1885 os cursos preparatórios para o
exército e a marinha e outros cursos superiores, tinham a seguinte duração ou
estruturação: Escola do Exército (4 anos); Escola Naval (3 anos); Escolas
Médico- Cirúrgicas (5 cadeiras); Escola de Farmácia (3 cadeiras). Em 1895, os
preparatórios para a Escola do exército foram de novo reformados.
Em 1901 são criadas novas cadeiras, a de
físico-matemática, e a de mineralogia, acentuando, assim, a vertente
das ciências fundamentais na Academia.
Com a implantação da República, a Academia desdobra-se na
Faculdade de Ciências do Porto, e na Faculdade Técnica que funcionava em anexo.
O ensino que ministrava foi evoluindo ao longo dos anos,
sendo reformulado, por diversas vezes, num processo em que o Conselho Académico
da instituição foi em geral liderante. A última grande reforma do ensino
implantada na Academia Politécnica do Porto foi decretada em 1885, e revista em
1893, 1895 e 1897, ano em que, surgiu pela primeira vez no país o ensino da
Electrotecnia, incluída na cadeira de Tecnologia Industrial do curso de
Engenheiros Civis Industriais.
Com a criação em 1911 da Universidade do Porto (uma das
primeiras grandes reformas da Primeira República Portuguesa), a Academia
Politécnica do Porto ficou anexa à nova instituição, constituindo, na sua maior
parte, a Escola de Engenharia anexa à Faculdade de Ciências da nova
Universidade, sendo, nela, totalmente integrada em 1915.
Sem comentários:
Enviar um comentário