quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

(Continuação 29)

Aula de Debuxo e Desenho (1779 - 1803)
 
 
Alguns anos depois da criação de Aula de Náutica, a Junta Administrativa da Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro solicitou ao rei a criação de um outro estabelecimento de ensino (a Aula de Debuxo e Desenho), instituída pelo Decreto de 27 de Novembro de 1779, que também indigitou o primeiro “lente da Aula”, António Fernandes Jácome.
A este lente sucedeu o pintor Vieira Portuense, nomeado em 20 de Dezembro de 1800, o qual, passados três anos, se converteu em director do estabelecimento, sucedendo-lhe sucessivamente na docência José Teixeira Barreto, Raimundo José da Costa e, mais tarde, Domingos Sequeira. O ensino ministrado nesta Aula visava, especialmente, o curso de pilotagem, embora também não estivessem ausentes preocupações com a indústria fabril, que ganhava incremento no Porto.
A Aula de Debuxo e Desenho funcionou no Colégio dos Meninos Órfãos, sob administração da Companhia Geral da Agricultura das Vinhas de Alto Douro, até 1803. Neste ano, foi transferida para o Hospício dos Religiosos de Santo António, devido ao elevado número de alunos que a frequentavam.
Acabaria por ser a origem primitiva da Academia de Belas-Artes que, em 22 de Novembro de 1836, passaria a funcionar no convento de Santo António da Cidade, a S. Lázaro.
Importa referir que, pela importância que teve para a pintura portuguesa, Francisco Vieira de Matos (13 Maio 1765 – Madeira, 2 de Maio de 1805) portuense por nascimento, foi o introdutor em Portugal do neoclassicismo.
Filho de um pintor de paisagens e drogueiro, tendo estudado em Lisboa e em Roma, onde adoptaria o nome de “Vieira Portuense”, passaria pela cidade que o viu nascer, mas adoecendo com tuberculose viria a mudar-se para a Madeira, à procura de bons ares onde, no entanto, viria a falecer com apenas 39 anos.
Uma das suas obras mais famosas é aquela em que Filipa de Vilhena arma os filhos cavaleiros.
 
 
“D. Filipa de Vilhena armando os Filhos Cavaleiros”, 1801, Pintura a óleo sobre tela - Autor:   Vieira Portuense; Localização: Obra consumida num incêndio
 
 
 
“D. Filipa de Vilhena armando os Filhos Cavaleiros foi uma pintura a óleo sobre tela de 1801 do artista português da época do neoclassicismo Vieira Portuense (1765-1805), obra que pertenceu a uma coleção particular e que foi destruída por um incêndio em 2007.
A pintura representava o episódio histórico de Filipa de Vilhena, Condessa de Atouguia viúva, que tendo conhecimento dos preparativos que conduziram à Restauração da Independência, ter aconselhado os seus dois filhos, Jerónimo de Ataíde e Francisco Coutinho, a aderir, tendo-lhes entregado as armas, na madrugada de 1 de Dezembro de 1640, e mandando-os combater pela Pátria, dizendo-lhes que não voltassem senão vitoriosos”.
Fonte: “pt.wikipedia.org/wiki”
 
 
“Súplica de Inês de Castro”, 1802, Pintura a óleo sobre tela – Autor: Vieira Portuense; Localização: Colecção Particular







A Academia Real de Marinha e Comércio foi criada em 29 de Julho de 1803, na dependência da Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro (CGAVAD), com o objetivo principal de formar os seus futuros quadros técnicos.
Ao ser criada, a nova Academia absorveu duas escolas já existentes anteriormente, a Aula de Náutica e a Aula de Desenho e Debuxo.
Para instalar a Academia, logo em 1803, foi projetado um novo edifício por José da Costa e Silva, a ser construído no local do antigo Colégio da Graça ou Colégio dos Meninos Órfãos.
A Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro dirigia e administrava os trabalhos do novo estabalecimento.
A construção do edifício que até aí era custeada com os subsídios da Câmara e pelo imposto denominado real do vinho passou a sê-lo pelo chamado subsídio literário.
No entanto, o projeto definitivo seria realizado apenas em 1807, por Carlos Amarante.
A construção do edifício iria prolongar-se por um longo período. Para ajudar ao seu financiamento, a Junta Administrativa da CGAVAD iria lançar o Subsídio Literário, um imposto sobre cada quartilho de vinho vendido no Porto e nas áreas de jurisdição da Companhia. Contribuiria também, para aquela construção, a Câmara Municipal do Porto. A conclusão total do edifício, depois de sucessivas alterações ao projeto original, só viria a ser realizada já em 1930, altura em que o mesmo era já ocupado pela Reitoria e pela Faculdade de Ciências da Universidade do Porto.
Entretanto, na sequência da implantação definitiva do Regime Liberal em Portugal, em 1834, eram extintos os monopólios e privilégios que a Companhia Geral de Agricultura do Alto Douro mantinha, passando a Academia de Marinha e Comércio para a tutela direta do Estado.
Em 1834, devido a necessitar o edifício de reparações em virtude de bombardeamentos ocorridos durante o cerco do Porto, as aulas funcionaram no palacete do 2º visconde de Balsemão no Largo dos Ferradores.
Em 1837, no âmbito da reforma do ensino levada a cabo por Passos Manuel, a Academia Real de Marinha e Comércio é extinta, sendo criada, em sua substituição, a Academia Politécnica do Porto. A Academia Politécnica herda o edifício, os professores e o ensino da antecessora, passando, no entanto, também a ministrar cursos de engenharia e preparatórios para os cursos da Escola do Exército.



Academia Real de Marinha e Comércio – Ed. J. Victória Villa Nova


Na gravura acima desenhada a partir da actual Praça dos Leões, observa-se uma fachada lateral da Igreja da Graça e instalações envolventes, em 1833.




Esta instituição sucedeu à Academia Real de Marinha e Comércio, e foi precursora, das actuais Faculdades de Ciências e de Engenharia da Universidade do Porto (criada em 1911).
A Academia Politécnica do Porto foi criada por decreto de 13 de janeiro de 1837, em substituição à Academia Real de Marinha e Comércio, extinta pelo mesmo decreto.
Tendo existido de 1837 a 1911, foi um estabelecimento de ensino superior técnico criado pelo governo de Passos Manuel, com o "fim de plantar no país as ciências industriais". A sua localização na cidade do Porto foi justificada considerando que "a populosa e rica cidade do Porto é a localidade mais apropriada pelo seu extenso comércio e outras muitas circunstâncias".
Não estando dotada das instalações necessárias, nem sendo de imediato criadas as cadeiras, isto é os lugares docentes, de que carecia, a Academia Politécnica do Porto teve um arranque lento e difícil. Também não foi alheio a estas dificuldades o não se querer admitir que a nova instituição tivesse um carácter universitário, privilégio então exclusivo da Universidade de Coimbra.


Construção da Politécnica – Ed. J. Villa Nova

Na gravura acima pode ver-se a fachada principal (a poente), do Colégio dos Orfãos (voltada para a actual Praça Parada Leitão), e as obras para a construção da Academia Politécnica em 1833.
A sobrevivência da Politécnica passou muitas vezes pelo concurso do Município do Porto e de outras instituições portuenses, particularmente para resolver a crónica inadequação das instalações, já o que o edifício próprio, só muito mais tarde se materializou.
Esta academia tinha como missão formar engenheiros civis e militares, de todas as classes, tais como de minas, pontes, estradas, construções, e outros domínios, assim como condutores de construções, oficiais da marinha, comerciantes, agricultores, pilotos, directores de fábricas e, em geral, artistas.
Para este ambicioso projecto são criados laboratórios industriais, de química e física, oficinas de maquinaria e metalurgia.
O ensino da engenharia tornou-se no principal núcleo de ensino da Academia, podendo, por isso, ser considerada a primeira escola civil de engenharia do pais .
Eram estabelecidos  4 tipos de engenheiros: Engenheiros de mina; Engenheiros de pontes e estradas; Engenheiros construtores de navios; Engenheiros geógrafos (este curso foi suprimido em 1885).
Para todos estes cursos, assim como para os demais da Academia eram estabelecidas 11 cadeiras, ficando ainda, estabelecido, que os cursos teriam uma duração não inferior a cinco anos.
Os currícula destes cursos estavam todos subordinados às mesmas concepções: a unidade subjacente às diferentes ciências devia traduzir-se na criação de um tronco comum de saberes, vivificados pelo estudo experimental nos laboratórios de química, gabinetes de máquinas, de história natural, no jardim botânico, nas oficinas de metalurgia, e no observatório astronómico.
“Não temos pois um ensino especializado, mas conjuntos de saberes com algumas dominantes”.
Assim no curso de engenharia  de minas encontramos cadeiras de zoologia, botânica, e o engenheiro de pontes e estradas estuda zoologia, botânica, astronomia...

Academia Politécnica em 1866 (fachada a sul), voltada para a Cordoaria

Apesar de todas as atribulações de percurso, os cursos de engenharia foram-se sempre reforçando. Em 1868 era criada a cadeira de Mecânica Aplicada às Construções Civis, com dois anos de duração. Em 1869 reforça-se a componente matemática.
Contudo, por volta de 1880 subiam de tom já as críticas em relação ao ensino ministrado. Ele era demasiado teórico. Na sessão inaugural do ano lectivo de 1880/81, o então conselheiro director, referindo-se ao ensino prático da Academia, afirmava:
"Nos nossos estabelecimentos de instrução superior tem sido, até há pouco tempo, o ensino eivado desta grande falta -- muita teoria e quase só teoria".
O assunto era comum a todos os outros estabelecimentos de ensino da altura.
Em 1885 processa-se a mais importante reforma deste ensino. Os cursos, tal como as cadeiras estavam desfasadas dos progressos científicos e técnicos do tempo, o ensino prático não tinha tido qualquer importância especial.  A Nova Reforma aumenta de 11 para 18 as cadeiras da Academia, reestrutura os seus conteúdos, suprime cursos e reforça o ensino da engenharia, embora haja suprimido o de Engenheiros Geógrafos.
Na Academia passavam a existir agora apenas três cursos de engenharia, correspondentes às principais áreas de actividade do norte do país: Curso de engenheiros Civis de Obras Públicas; Curso de engenheiros Civis de Minas; Curso de engenheiros Civis Industriais.
A duração destes cursos foi agora fixada em seis anos, sendo quatro de preparação (ciências matemáticas, físico-química, etc), e dois de aplicação. Adoptava-se um modelo de ensino inspirado nas escolas Belgas de engenharia, e na Escola Politécnica do Rio de Janeiro.
A Reforma atribuiu um decisivo impulso ao ensino prático e, nesse sentido, reforçou a importância dos Gabinetes, Laboratórios, do Jardim Botânico e do Observatório Astronómico.
O ensino para Directores de Fábricas e Artistas foi suprimido em 1885, bem como o Ensino de Agricultura e o Ensino de Pilotos.
Por outro lado, no que dizia respeito ao comércio, na Academia Politécnica do Porto, herdeira da antiga Academia Real da Marinha e Comercio, continuou-se o seu ensino, com o ministrar do antigo Curso de Comercialistas, com três anos de duração.
Nesse curso a única cadeira comercial, tratava de "Comércio, Geografia Comercial e Economia Industrial".
Apenas em 1857, a 15 de Julho, será criada uma nova cadeira integrada nesta área e que versava "Economia Política e Princípios de Direito Comercial e Administrativo", com a duração de dois anos, e dividida em cinco partes: 1. Economia Politica. 2.Economia e Legislação Rural; 3. Economia e Legislação Industrial; 4. Princípios Administrativos e Direito Administrativo; 5. Princípios de Direito Comercial.
Este curso foi suprimido em 1897, quando esta cadeira foi substituída pela de Tecnologia Industrial.
Na Reforma de 1885 os cursos  preparatórios para o exército e a marinha e outros cursos superiores, tinham a seguinte duração ou estruturação: Escola do Exército (4 anos); Escola Naval (3 anos); Escolas Médico- Cirúrgicas (5 cadeiras); Escola de Farmácia (3 cadeiras). Em 1895, os preparatórios para a Escola do exército foram de novo reformados.
Em 1901 são criadas novas cadeiras, a de físico-matemática,  e a de mineralogia, acentuando, assim, a vertente das ciências fundamentais na Academia.
Com a implantação da República, a Academia desdobra-se na Faculdade de Ciências do Porto, e na Faculdade Técnica que funcionava em anexo.
O ensino que ministrava foi evoluindo ao longo dos anos, sendo reformulado, por diversas vezes, num processo em que o Conselho Académico da instituição foi em geral liderante. A última grande reforma do ensino implantada na Academia Politécnica do Porto foi decretada em 1885, e revista em 1893, 1895 e 1897, ano em que, surgiu pela primeira vez no país o ensino da Electrotecnia, incluída na cadeira de Tecnologia Industrial do curso de Engenheiros Civis Industriais.
Com a criação em 1911 da Universidade do Porto (uma das primeiras grandes reformas da Primeira República Portuguesa), a Academia Politécnica do Porto ficou anexa à nova instituição, constituindo, na sua maior parte, a Escola de Engenharia anexa à Faculdade de Ciências da nova Universidade, sendo, nela, totalmente integrada em 1915. 

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