A cidade do Porto está intimamente ligada à figura de S.
João, mas o santo não é o padroeiro da cidade.
"Desde o início
da nacionalidade e desde o início da cidade enquanto couto do Porto e enquanto
burgo, a padroeira é Nossa Senhora. Aliás, nos mais antigos brasões da cidade
aparece “civitas virginis”, “cidade da virgem".
A mais indesmentível prova dessa devoção está nas invocações
constantes.
Assim, Nossa Senhora da Vandoma estava na porta com este
nome, que existia onde está a calçada com o mesmo nome; Nossa Senhora das
Verdades, junto das escadas que ainda ostentam esse nome; Nossa Senhora do Ó na
Porta da Ribeira; Nossa Senhora do Socorro na Porta Nobre em Miragaia; Nossa
Senhora das Virtudes na porta desta invocação; Nossa Senhora da Batalha na
porta a que correspondia este topónimo. Nossa Senhora aparece-nos ainda como
padroeira de muitas capelas públicas ou particulares: Senhora da Piedade do
Terreiro no Largo do Terreiro; Nossa Senhora da Consolação no convento dos Lóios;
Nossa Senhora de Agosto da confraria dos alfaiates, à entrada da Rua do Sol.
Nos mosteiros o culto da Senhora, mais importante, era o da
Senhora da Conceição em S. Francisco.
Nossa Senhora não foi, contudo, a única padroeira do Porto.
Num período entre 1025 e 1453, foi São
Vicente (é o Santo Padroeiro de Lisboa) e a partir daí, o título foi
dado a S. Pantaleão.
A partir de 1954 é a Nossa Senhora da Vandoma.
S. Pantaleão tinha sido médico em Nicomedia, na Arménia,
converteu-se ao cristianismo e foi martirizado na sua cidade natal no ano 320
no tempo dos Imperadores Diocliciano e Maximiniano. O seu corpo seria então
levado para Constantinopla e aí venerado, até que, Constantinopla foi
conquistada pelos turcos em Maio de 1453 e alguns cristãos rumaram com as
relíquias do santo e em fuga ao ocidente da Europa, tendo entrado na barra do
Rio Douro, por aqui se estabeleceram.
"A população
atribuiu o facto de a cidade ter sido salva da peste em 1453, à presença da
relíquia de S. Pantaleão", que começou por ficar na Igreja de S. Pedro
de Miragaia, sendo transferida em 1499 para a Sé catedral.
Imagem de S. Pantaleão na Sé
Nas comemorações do Ano Jubilar de Nossa Senhora da
Conceição, em 1954, Nossa Senhora de Vandoma seria instituída por D. António
Ferreira Gomes como padroeira da cidade, até hoje.
Deve então, notar-se que, apesar
da predilecção portuense pelo S. João, ele nunca foi o padroeiro do Porto.
"O S. João nunca
assumiu a função de padroeiro por uma razão muito simples: é que a festa de S.
João é uma festa pagã mascarada…e o facto de 24 de Junho ser o feriado
municipal do Porto, é uma questão pacífica precisamente por a festa de S. João
não ser religiosa”.
Com a devida vénia a Hélder Pacheco
A Igreja Católica, de uma forma muito hábil e sensível,
colocou a celebração de S. João, o Baptista, no dia do nascimento, e não da
morte, porque é o dia mais próximo do solstício de Verão, notando que a Igreja
habitualmente celebra a data da morte dos santos e não do nascimento.
Há ainda hoje, alguma controvérsia entre os historiadores
sobre que S. João é celebrado nas festas do Porto: S. João Baptista, o que
batizou Jesus Cristo, ou S. João de Terzónio, um eremita que viveu no século
nove em Tui, onde era conhecido por S. João do Porto, em alusão à cidade onde
nasceu?
Alguns historiadores admitem mesmo que o S. João do Porto
seja a "fusão" dos dois santos: o “Baptista”, que nasceu em 24 de Junho,
e o “Eremita”, que morreu também em 24 de Junho.
Está descartada a hipótese de o santo da cidade ser um outro
João, o “Evangelista” que foi apóstolo de Jesus.
"Não deixa de ser
significativo (e fascinante) atender ao facto de os santos Joões -- o
Evangelista e o Baptista -- serem consagrados por alturas dos solstícios de
inverno e de verão…
S. João nunca teve na
cidade o prestígio de Nossa Senhora, ou até do S. Pantaleão…
Não é nada de espantar
que o S. João nunca tenha sido o padroeiro, porque de facto ele nunca foi
assumido nessa função. Ele foi assumido na função de ser uma espécie de manto
protector de uma celebração pagã".
Com a devida vénia a Hélder Pacheco
Entre todas as festas populares, não há dúvidas que aquela
que tem a primazia no coração dos tripeiros é o S. João.
O S. João do Porto é uma festa popular que tem lugar de
23 para 24 de Junho. Oficialmente trata-se de uma festividade
católica em que se celebra o nascimento de S. João Baptista, que se centra
na missa e procissão de S. João no dia 24 de Junho.
As pessoas antes deste modo de celebrar este dia, festejavam a
fertilidade, associada à alegria das colheitas e à abundância.
É naturalmente aceite, que as festividades sanjoaninas se
perdem na memória do tempo. É a celebração do solstício
de Verão, culto pagão e de adoração ao Deus Sol.
Os romanos
festejavam já o solstício de Verão.
Mais tarde a Igreja cristianizou essa festa pagã, e atribuiu o S. João
como padroeiro do solstício de Verão.
Não se conhece com rigor quando teve início a festa do S. João do
Porto, porém, por registos do Século XIV, sabe-se que, já Fernão Lopes por essa
altura se terá deslocado ao Porto para preparar uma visita do Rei, e tendo
chegado na véspera do S. João, deixou escrito na Crónica de D. João I, que no
Porto era dia de "maior folgança da cidade", festas "cheias
de animação e entusiasmo desabrido".
É, no entanto possível, que essa festa fosse mais antiga, pois existia uma
cantiga da época que dizia ”té os moiros da moirama” festejam o S.
João.
Era também no dia de S. João que a Câmara do Porto se reunia em
Assembleia Magna, que corresponderia à actual Assembleia Municipal, reunião
essa, realizada no Claustro do Mosteiro de S. Domingos, que pelo seu grande
espaço, era onde se procedia à eleição dos “vereadores” e onde se tomavam
as decisões mais importantes para a cidade”.
Festa cíclica, de raiz pagã, as festas assentam,
fundamentalmente em “sortes” amorosas, encantamentos e divinações que se devem
relacionar, por um lado, com o casamento, a saúde e a felicidade, mas que andam
também estreitamente ligadas aos antigos cultos pagãos do Sol e do fogo e às
virtudes das ervas bentas, ao orvalho, às fogueiras, à água dos rios, do mar e
das fontes.
Muitas ervas têm virtudes na madrugada de S. João, mas,
algumas exigem práticas pouco ortodoxas para que a virtude que lhes é
atribuída surta efeito. Acontece, por exemplo, com a erva moliana ou
valeriana, que deve ser roubada. Planta-se depois num vaso e espera-se que
reverdeça. Dá uma flor em forma de uma caneta, que dará sorte a tudo o que com
ela se escrever.
Quanto ao
alho-porro, diz a lenda e alguns conhecedores, que a tradição do alho- porro na
noite de S. João vem de tempos longínquos. Terá sido um símbolo fálico que os
rapazes usavam para passar pelo nariz das raparigas que lhes agradavam. Há 50
anos já os dois sexos os compravam e batiam com a flor, por vezes mesmo com a
cebola, na cabeça do próximo. Outros afirmam que se tratava de uma erva
aromática com virtudes mágicas e terapêuticas e que se pretendia desejar boa
saúde e amizade aos outros brincalhões.
Ainda hoje há quem
os compre para dependurar atrás da porta de casa para afastar a má sorte, e só
na noite de S. João do ano seguinte, o substituem.
De qualquer forma, é
um elemento indispensável para o divertimento na noite de 23 para 24 de Junho.
Ao lado de Santo António e de S. Gonçalo, S. João também é
considerado um santo casamenteiro. As moças pedem-lhe que as ajudem a
encontrar noivo. Um desses pedidos, que tem de ser feito na noite de S. João,
obedece ao seguinte ritual. A moça colhe três folhas de uma oliveira e em cada
uma delas, escreve o nome de um homem. À meia-noite, deita as folhas na
fogueira de S. João enquanto recita esta quadra: "Ó meu rico S. João, / ouvi-me que eu sou solteira; /destinais o
meu marido / nestas folhas de oliveira". O nome escrito na folha que
arder primeiro será o do futuro marido da jovem.
As orvalhadas têm a ver com a fecundidade. Uma mulher que se
rebole de madrugada sobre a erva húmida dos campos fica apta para conceber.
Segundo um conceito antigo as orvalhadas eram entendidas como o suor ou a
saliva dos deuses da fertilidade e possuíam poderes mágicos. Uma outra velha
tradição assegura que os namoros arranjados pelo S. João são muito mais
duradouros do que os que se formam pelo Carnaval “que não vêm chegar o Natal”.
“Cedofeita, no Porto,
era um dos sítios mais procurados pelos romeiros de S. João, por causa das
orvalhadas. O bairro, por meados do século XIX, ainda não estava totalmente
urbanizado. Ao redor da bela quinta do Priorado, onde vivia o senhor prior da
Colegiada, havia pinhais, campos de cultivo e pomares. Era ali que se iam tomar
as orvalhadas: "Na noite de S. João / é bem tolo quem se deita;/ sem tomar
as orvalhadas, / nos campos de Cedofeita ". Ranchos de raparigas
dirigiam-se para os campos de Cedofeita a partir da meia-noite. Acendiam fogueiras
e esperavam pelas orvalhadas que, segundo crença antiga, começavam a cair
pelas quatro horas da madrugada, já com os primeiros alvores do dia. Como se
sabe, a noite de S. João é a mais pequena do ano. As orvalhadas deviam ser
tomadas antes do nascer do sol, do seguinte modo: molhar as mãos na erva
orvalhada e com elas lavar a cara. Acreditava-se que o orvalho tirava as sardas
e rejuvenescia os rostos.
Quem saltar a fogueira
na noite de S. João, em número ímpar de saltos e no mínimo três vezes, fica por
todo o ano protegido de todos os males.
O ritual do fogo é
importante elemento das festas de S. João. A origem das fogueiras no ritual
são-joanino anda ligada à descrição bíblica da visita de Maria, mãe de Jesus,
a sua prima Isabel, mãe de João Baptista. Embora vivessem relativamente perto
uma da outra, Isabel prometeu a Maria que, mal desse à luz, a avisaria do
acontecimento, acendendo uma fogueira que Maria veria facilmente. No Porto, a
mais célebre fogueira foi a que se fez durante anos e anos a fio no recinto das
Fontainhas. Esse ritual deu origem a muitas cantigas, uma das quais se cantava
desta forma:
"Donde vindes S.
João / com a capa de estrelinhas; / Venho de ver as fogueiras / do largo das
Fontainhas”.
Diz a tradição que as
cinzas de uma fogueira de S. João curam certas doenças de pele. Para certos
males, são benéficos os banhos que se tomem na manhã do dia de S. João, mas
antes do Sol nascer. No Porto, os que se tomavam nas praias do rio Douro
ou nos areais da Foz, valiam por nove...
A noite de S. João é
considerada mágica desde a Idade Média. Diz-se que as "mouras
encantadas" deixam a forma de cobras, com que vivem todo o ano, e vêm à
tona da água com figura humana.
Em 1834, o Porto
vivia com intenso júbilo a sua vitória no cerco. Nesse ano, o S. João foi
festejado na cidade com enorme euforia. Houve arraiais na Lapa, Campo de Santo
Ovídio (hoje Praça da República), na Rua Nova do Almada e dos Caldeireiros
diante do velho Hospital de S. João instalado na Confraria de Nossa Senhora da
Silva.
Por esse tempo
festejavam-se três S. Joões no Porto: o de Cedofeita, que era miguelista; o da
Lapa, constitucional, e o do Bonfim, republicano. Cantava-se então:
Fui ao S. João à
Lapa
Da Lapa fui ao
Bonfim.
Estava tudo
embandeirado
Com bandeiras de
cetim…
O despique
político era a tónica dominante dos festejos sanjoaninos, logo após a vitória
dos liberais. Os miguelistas não se davam ainda por vencidos.
E aproveitavam a
festa para mandar recados:
O S. João da Lapa
Escreveu ao do
Bonfim.
Visse bem o que
fazia
Que a coisa não
ia assim…
O S. João das
Fontainhas ainda não existia. Só começaria a despontar 35 anos depois, quando
um morador do sítio resolveu montar na alameda uma monumental cascata, ao redor
da qual se vendia cabrito assado com arroz de forno, arroz-doce e aletria, e
café quente acompanhado de pão com manteiga. Os ranchos que cirandavam pela
cidade, deslocaram-se ao célebre miradouro para apreciar a novidade e a
curiosidade transformou-se em rotina. Os romeiros cantavam:
Abaixai-vos
carvalheiras
Com a rama para o
chão;
Deixai passar as
romeiras
Na Lapa, o
arraial fazia-se na alameda, onde agora está o hospital. Em 1844, dez anos
depois da vitória dos liberais, escrevia-se nos jornais que o S. João da
Lapa levou a palma a todos os outros… Entre danças e descantes, vendiam-se
espetadas, peixe frito, tripas à moda do Porto, regueifas de Valongo, pão de
Paranhos, doce da Teixeira. Nesse ano, houve uma novidade: o vinho era de
Amarante…
A Irmandade da Lapa
levava para a alameda os bancos da sacristia, que alugava a quem quisesse
assistir comodamente ao fogo-de-artifício. Rezam as crónicas que o fogueteiro
desse ano foi muito aplaudido.
Em 1845, o
despique é entre os S. Joões de Cedofeita e do Bonfim. Moços e moças passavam
em ranchos a cantar:
Não diga que tem
saúde
Quem nesta noite
se deita;
Sem tomar as
orvalhadas
Nos campos de
Cedofeita.
A velha igreja
românica era, a esse tempo, um monumento isolado rodeado de quintas e pinhais
onde os festeiros da cidade acampavam com as suas merendas.
O senhor D. Prior
de Cedofeita franqueava a sua quinta aos romeiros que por ela se espalhavam a
cantar:
Que é aquilo,
Que é aquilo,
Que é aquilo?
É S. João a caçar
um grilo…
Em 1849 começaram
a organizar-se comissões de moradores em certas ruas e locais. Faziam-se
subscrições cujo produto revertia a favor das festas. No Bonfim iluminavam-se
as ruas, como nunca antes acontecera em parte alguma. O S. João é festejado
sobretudo nos quintais com luminárias, foguetes, fogo de ar e preso. Dançava-se
por entre as bichas de rabiar, os buscas-pés, as bombas. Nas ruas o povo
suava e acotovelava-se… O S. João era nas ruas. Ainda estava muito longe o S.
João do Palácio de Cristal. Pela simples razão de que o Palácio ainda não
existia.
Também o Conde de Rezende abria a sua bela
Quinta de Santo Ovídio para os festeiros aí passearem, descansarem e comerem
nessa noite.
Já em 1851 em vários pontos da cidade
estalejou foguetório na véspera de S. João. A Rua de Trás, de Santo António,
das Hortas, agora do Almada e outras estavam iluminadas, embandeiradas, e foi
lançado fogo preso etc.
Na madrugada de S.
João vão as mouras estender os seus tesouros à orvalha do campo. Esses tesouros
ficam aí encantados sob a forma de figos. Se alguém passa, apanha e não os
come, transformam-se em verdadeiros tesouros.
Se, porém, a pessoa
que os apanha os come, reduzem-se logo a carvão”.
Com a devida vénia a Germano Silva
“O S. João era a oportunidade dos poetas fazerem
quadras, ligadas, em grande parte, ao amor e ao casamento. São conhecidas as
quadras, cantadas, que referem as festas nos locais acima, tais como:
Orvalhadas, orvalhadas, orvalhadas…
E viva o rancho das mulheres casadas.
Orvalhudas, orvalhudas, orvalhudas…
E viva o rancho das mulheres viúvas”.
In
portoarc.blogspot.pt/
Em 1858, a propósito
do S. João, escrevia “O Comércio do Porto”:
In jornal “O
Comércio do Porto” de 26 de Junho de 1858, pág. 2
A partir da Idade
Média, começou a substituir-se a festa de cariz pagã, a comemoração do
solstício de Verão, pela do nascimento de S. João Baptista, que se festeja na
noite de 23 para 24 de Junho.
Santo Elói, já no
século VII, proclamava do seu púlpito aos fiéis que o ouviam: “Eu vos
peço...que na festa de S. João e em outras solenidades dos santos, se não faça
uso do solstício; que não se entreguem a danças, a jogos, a corridas, a coros
diabólicos…”.
Na foto abaixo, a Rua Mouzinho da Silveira, em 1886,
engalanada para os festejos desse ano.
Rua Mouzinho da Silveira
Na foto abaixo
vê-se, em 1908, a Rua D. Pedro engalanada durante as festas de S. João que,
nessa data, se chamavam “Festas de Verão”.
Noutras ocasiões, os
festejos sanjoaninos seriam integrados nas chamadas “Festas da Cidade”.
Rua D. Pedro ornamentada
para as “Festas de Verão”, em 1908. Esta rua desapareceria com a abertura da
Avenida dos Aliados, a partir de 1916
Rua das Carmelitas
engalanada para as “Festas de Verão”, em 1908
"Festas de Verão", na
Rua do Almada, em 1908
"Festas de Verão", na
Rua de Santa Catarina, em 1908
Rua de Sá da Bandeira preparada para as “Festas de Verão”, em 1908
Fogo-de-artifício
lançado no rio Douro, na Ribeira, durante as “Festas de Verão”, em 1908 – Ed.
“Illustração Portugueza”
Em 1910, as “Festas
de Verão” tiveram a organização do Clube Fenianos.
Rua D. Pedro nas
“Festas de Verão” de 1910 – Ed. Illustração Portugueza, de 18 de Julho de 1910
Participantes numa
prova de tiro durante as “Festas de Verão” da cidade, em 1910, que integrava
também os festejos sanjoaninos, com organização, nesse ano, do Clube dos
Fenianos - Ed. Illustração Portugueza, de 18 de Julho de 1910
Para além da prova
de tiro, a que alude a foto acima, as festas de Verão apresentaram, ainda, um
concurso hípico e uma tourada, tendo esta sido realizada na praça de touros da
Rua da Alegria.
Artigo de fundo
sobre “Festas de Verão” organizadas pelos Fenianos, em 1910 - Ed. Illustração
Portugueza, de 18 de Julho de 1910
Um santo austero
Pelas ruas do Porto não vemos muitas manifestações de devoção a este santo. Na iconografia portuense vemos mais o Santo António, o S. José e a Nossa Senhora.
Ninguém, numa hora
de aflição, pede ajuda a um santo que está ligado a uma atitude
lúdica e hedonista da vida.
Mas aqui nasce uma incongruência. É que o S. João era tudo menos um homem
dado às coisas alegres, cinzento, austero, místico. S.
João Baptista retirava-se para o deserto para períodos de recolhimento e
alimentava-se de gafanhotos…
Como é que alguém
assim se transformou num símbolo rapioqueiro?
Ninguém sabe.
Feriado desde 1911
Nos primeiros anos do século XX as Festas de S. João tinham
uma designação mais laica, sendo conhecidas, como as “Festas de Verão”.
Apesar de o S. João ser festejado desde há séculos, só é
feriado municipal desde 1911. Com o advento da República,
as câmaras municipais são convidadas a escolherem um dia para o seu
feriado local.
No Porto, o “Jornal de Notícias” toma a iniciativa de fazer
um referendo à população para auscultar o sentimento
das pessoas. O resultado não podia ser mais conclusivo. O S.
João ganhou por maioria absoluta, vindo atrás dele o dia 1 de Maio e, a
seguir, o dia 8 de Dezembro.
Estava consagrado em feriado o sentir e
a predilecção do povo portuense por este dia.
Foi também no dia de S. João que foi lançada a primeira
pedra da construção do edifício da câmara municipal e também foi
neste dia que ela foi inaugurada, em 1957.
“Em 1854,
constituiu-se, na então chamada Rua das Hortas, uma comissão de moradores
encarregada de organizar os festejos daquele ano em honra de S. João. E saiu-se
muito bem, a comissão, porque, segundo os relatos jornalísticos da época,
"as festas da Rua das Hortas levaram a palma a todos as outras".
Houve uma originalidade no S. João da Rua das Hortas. Os da comissão mandaram
alcatifar a rua com ervas aromáticas como a cidreira, o rosmaninho e o alecrim
e com cravos-rubros, criando «um gracioso tapete».
O ano de 1869 é o
começo da romaria às Fontainhas.
Alguns moradores do
sítio tomaram a iniciativa de montar uma cascata. Junto dela serviam "por
preços módicos" anho assado no forno, café quente e pão com manteiga. Foi
um sucesso. Quem naquele ano foi às Fontainhas por curiosidade voltou nos anos
seguintes por devoção ao santo da cascata. E as Fontainhas, com o rodar dos
anos, transformaram-se na Meca do S. João do Porto. Ainda hoje não há rusga nem
tocata que não passe pelas Fontainhas”.
Fonte: Germano Silva
Das noitadas de S. João nos iam dando conta os diversos jornais que se publicavam na cidade.
"Jornal do Porto" 24 de Junho de 1869
"Jornal do Porto" 24 de Junho de 1875
"Jornal do Porto" 24 de Junho de 1891
Embora um pouco
longo, o texto do eminente médico portuense Ricardo Jorge, então com 61 anos de
idade, escrito em Paris no dia 23 de Junho de 1919, tem o maior interesse em
ser dado a conhecer.
“…No meu tempo o
S. João de Cedofeita andava já a tocar ao viático, prestes a desaparecer.
O da minha
infância era o da Real Capela onde jaz o coração do dador, como se dizia em
estilo do tempo; tão ardente fora o seu culto que os negociantes das Hortas,
mercadores de ferro e linho, projectaram erguer-lhe ao norte da alameda templo
próprio de que se viam ainda então os primeiros panos gretados e musgosos, onde
se espetavam as varas dos silvados e faziam tocas as osgas e sardaniscas, que
nós, os rapazes do colégio da Lapa, fisgávamos á pedrada.
A novena de S.
João cantava-se ao sol fora com singular e pitoresco acompanhamento: em vez do
organista, dois matulões da Ribeira, trajando a rigor á moda de Redondela
rufavam no tamboril e sopravam na gaita de fole.
O arraial
armava-se na alameda da Lapa, donde a vista se espraia até á orla luzente do
mar, alameda hoje atravancada por um hospital merencório que bem podia ter ido
pousar-se noutro sítio, sem empecer um dos mais saudosos logradoiros
panorâmicos da cidade— coisas do Porto. Doces de Paranhos, negros e duros de rilhar
— barracas de lona onde se fregem com fragor e fumarada as espetadas e as
postas de pescada tão amada do tripeiro e se empipa no carro de bois o verde de
Amarante e o preto da Companhia, bebidos em tigelas vermelhas de
Aveiro, — as regueifas de Valongo sobre as canastras, a filarmónica do
Pau-Teso, e um burburinho de ensurdecer onde estridulam as
gaitas de chumbo sopradas pelos rapazes. Na clareira as raparigas da Maia de pé
descalço e saia arregaçada, dançam ao som da chula a Cana-verde e o Regadinho.
Noite de patuscada, até que para essa meia-noite, aos gritos de “”ó careca””, a
isca incendeia as dobadoiras pirotécnicas do Devezas, saudadas de palmas quando
se exala a centelha do último caniço da árvore de fogo consumida e
morta.
Os madrugadores
desandavam então para o Campo de Santo Ovídio; os ranchos de viola, requinta,
violão e flauta, enfiavam pelo portão amplo da quinta do Pamplona — o solar dos
condes de Resende, sempre aberto fidalgamente ao povo. Ao romper da aurora
colhiam-se as plantas míticas, a que o orvalho da manhã do santo servia de água
benta — o alecrim, o louro, o azevinho, o alho-porro. Uma rua, não sei de quê,
atravessa e sepulta hoje esta que foi uma estância paradisíaca, derrubando os
balaústres do palacete, os tanques onde boiavam os velhos barbos, as magnólias
negras de flores de neve, as sebes das japoneiras, os álamos frondentes, as
murtas arbóreas, os loureiros estroncados, que bracejavam as rancas idosas
pelos caminhos e maciços do parque, donde se soltavam os silvos aflautados dos
melros.
ladrão do negro melro
Onde foi fazer
seu ninho…
Há vinte e cinco
anos, antes do meu exílio, assisti com a emoção bucólica do herbanário de Júlio
Diniz a este arboricídio que me levava as sombras viridentes onde se esbateu a
minha desinquieta meninice.
Iam-se os olhos
nas cascatas onde o santo precursor e o carneiro branco troneiam, debaixo duma
arcada de ramalhoça e sobre um monte de escórias e areia, povoado de monos de
barro pintado, adquiridos nas lojas de traz dos Clérigos — imaginária popular
tão curiosa, a reproduzir as cenas triviais da vida rústica, fabril e
doméstica. Espécie de presépios, mais variados e movimentados, pois que os
anima a minúscula catarata dum veio de água: gira a roda do moleiro da azenha,
bate o malho do ferreiro na bigorna, sai do túnel o comboio, volteja o burrinho
da nora, faz vaivém a serra do madeireiro... Que pequenas maravilhas de cenário
e de hidráulica se não engenhavam para o engodo e alegria dum dia!
Há hoje
justamente quarenta anos que fiz a ultima noitada de S. João com um grupo de
rapazes divertidos, meus camaradas da Escola Médica.
Não sei se alguns
deles, ainda a rememorará, porque aqueles que me lembram, só nas loisas tomarão
as orvalhadas.
Havia festa rija
e fogo preso na Rotunda da Boavista, e de lá vamos cear aos Caldos de galinha
do Carmo.
Nova estação no
mercado do Anjo, todo iluminado, empavesado e enramado, onde as colarejas á
roda da fogueira, foliam danças e descantes abrejeirados. Ao Santo que pagava
com a cabeça as suas austeras imprecações contra a dança lúbrica da Salomé,
tocam os restos do culto fálico e fescenino, de mescla com o S. Hilário e o S.
Gonçalo de procazes alusões populares:
Repenica,
repenica, repenica,
S. João a m… em
bica.
Repenica, e
tornar a repenicar,
S. João sempre a
m…
O último passo
era nas Fontainhas, onde de madrugada convergiam de toda a parte os bandos e as
ranchadas, na frente o harmónio ou a banza e os pares em fila, de cravo ao
peito e de grandes chapéus de palha feitos na Cadeia, entrapados em lenços de
chita berrante:
Orvalheiras,
orvalheiras, orvalheiras,
Viva o rancho das
mulheres solteiras.
E os compassos
esfusiantes do hino popular do S. João a retinir sempre, até ao lusque-fusque
da manhã a palhetar de rosicler as agulhas da rotunda fronteira do Pilar e as
arestas dos penhascos que se empinam sobre o fosso onde escorre fundo e lobrego
o veio do Douro - a paisagem severa e solene que Herculano dizia ter sido
lavrada por Miguel Ângelo.
Sol fora enfim,
sol alegre a bailar, como é de tradição neste dia solsticial, em que o homem e
a natureza se abraçam panteisticamente numa convulsão de alegria:
Se S. João bem
soubera
Quando era o seu
dia,
Descera do céu á
terra
Para dançar de
alegria
Ricardo Jorge
Mole humana, Ornamentações, Cascatas, Manjericos, Balões e Carrosséis
As festividades do S. João sempre estiveram ligadas ao mais
forte sentir popular e, por isso, é que nas ilhas e nos bairros mais
tradicionais a festança sempre foi mais intensa.
Desde as Fontainhas às Eirinhas, do Bairro do Herculano a S.
Vítor, era uma imensa mole humana que com os alhos-porros, os manjericos,
as cascatas, fizeram da festa uma celebração única à escala mundial.
Notícia de 23 de Junho de 1865
Barracas de louças na Alameda das
Fontainhas, no S. João de 1940
Divertimentos na Alameda das Fontainhas, no S. João de 1940
Nas Fontainhas, em
1940
O rebanho, em 1940,
é conduzido para o matadouro improvisado com funcionamento perto da Rampa da
Corticeira
Rua dos Clérigos no
S. João de 1947
Rua de Sá da Bandeira ornamentada para as festas de S. João, em 1947
Rua de Sá da Bandeira enfeitada para as festas de S. João, em 1947
Rua de Fernandes Tomás ornamentada para as festas de S. João, em 1947
Praça da Liberdade, em 1947, ornamentada para os festejos de S. João
Fogo-de-artifício em 1948, durante a noite de S. João
Sobre o S. João em 1950, integrado nas chamadas “Festas da
cidade” dizia, em editorial, o jornal “Comércio do Porto”:
Em 24 de Junho de 1950, era inaugurada a 1ª Feira Popular do
Palácio de Cristal, iniciativa integrada nas “Festas da Cidade”, de que faziam
parte também, os festejos S. Joaninos
Sobre o assunto dizia o jornal “O Comércio do Porto”:
Noitada de S. João, em 1960
Mole humana, em 1963, ao cimo da Rua 31 de Janeiro, em noite
de S. João
No início da segunda metade do século XX, o manjerico e a
sua quadra popular, acompanhado pela cidreira e o alho-porro eram os adereços
mais simbólicos nas festas de S. João.
Gravura no jornal “O Comércio do Porto”, em 24 de Junho de
1950. Viviam-se tempos após a 2ª Grande Guerra
Foi antes dos "martelinhos barulhentos
"substituírem o alho-porro.
A quadra agora é mais política e menos brejeira. O manjerico
continua algumas semanas a perfumar as janelas ou as varandas.
Manjericos e quadras populares
A água, pelo S.
João, seja de fontes, lagos ou rios, também tem virtudes especiais. Por
exemplo: pode-se saber se a nossa vida vai ser longa ou breve. Para isso, há
que colher, da fonte mais próxima, logo ao cair da noite de S. João, água numa
bacia, que será colocada toda a noite ao ar livre. Naquele espaço de tempo
compreendido entre a meia-noite e o nascer do sol, a pessoa que foi à fonte
vai tentar ver o seu rosto refletido na água com que encheu a bacia. Se isso
acontecer, é sinal de que vai ter uma longa existência; se, pelo contrário, não
vir o seu rosto no fundo da bacia, é mau agoiro e não terá mais do que um ano
de vida.
Uma outra tradição
centenária eram as cascatas.
Em 20 de Junho de 1946, ocorre o 1.º Concurso de Cascatas de S. João, no Porto.
Em 20 de Junho de 1946, ocorre o 1.º Concurso de Cascatas de S. João, no Porto.
“A cascata (…) nas ruas e nas casas ou seus
quintais era obrigatório haver uma. Infelizmente é uma das mais belas tradições
que se está perdendo. Os nossos filhos e netos já não as fazem.
Em nossa casa, desde muito pequenos,
guardávamos, de ano para ano, algumas figuras imprescindíveis e quando íamos à
feira do Senhor de Matosinhos comprávamos as que eram novidade ou se tinham
partido.
Encostado a um muro ou parede construíamos um
monte de terra e cobríamo-lo com musgo.
No cimo estava o S. João com o seu cordeiro e
pela rampa abaixo figuras como carneiros, pastores, uma banda de música, uma
procissão aproveitada do presépio, lavadeiras, vendedeiras e muitas outras
figuras típicas em barro. Também não faltava um pequeno lago com uma figura de
um pescador. Por vezes era um espelho redondo muito usado nesse tempo, como
publicidade de casas comerciais. O que divertido era a forma tão entusiasmada
com que eram construídas estas cascatas.
Assim que ficava noite nosso pai e tios
traziam algum fogo-de-artifício tal como bichas de rabiar, pirilampos, estrelinhas
e outros pouco perigosos. Mas os momentos mais emocionantes eram o fogo preso,
os vulcões e pequenos foguetes que faziam muito barulho e eram muito lindos no
ar.
Só nos deitávamos depois da meia-noite,
depois de lançados para o ar os coloridos balões de ar quente”.
Descrição de
anónimo.
“Cascata, segundo os dicionários, significa
"queda de água, cachoeira". E não há cascata de S. João que não tenha
um rio a correr por entre rochas. Constituem um dos mais expressivos símbolos
das festas são-joaninas do Porto.
Aparecem geralmente cobertas de ramos de
carvalheiras, com caminhos feitos de saibro, a igreja em destaque, a procissão
e o povo representado em figuras singelas de barro nas suas mais variadas
ocupações. Em regra, são feitas por rapazes que junto delas, com o santo na
mão, vão pedindo uma moeda para o padroeiro. O produto do peditório destina-se
a melhorar a cascata”.
Fonte: Germano Silva
Cascata de S. João
Cascata de rua
Cascata do Museu de Etnografia e História em 1961 – Cliché
de Teófilo Rego
Cascata em 1965, na
Rua Luz Soriano - AHMP
Cascata da
Associação dos moradores da Lomba; 1º prémio em 2016
Nas festas de S. João, os balões sulcando os céus, os
carrosséis de cavalinhos, carrinhos de choque, cestas voadoras e aviões, eram e
continuam a ser uma atracção.
Carrossel das cestas voadoras
Pista de carrinhos de choque - Ed. MAC
Balões decorativos de S. João
Balão de S. João, de ar quente – Ed. Site: porto24.pt
As sardinhas e os martelos
Como curiosidade só a partir de 1947, no Palácio de Cristal, é que começaram a aparecer as sardinhas assadas associadas às festas de S. João e, a partir de 1963, surgiram os martelos que, rapidamente, ganharam milhares de adeptos.
As quadras, outra tradição tão ligada à festividade,
começaram a ter concurso próprio a partir de 1929.
Hoje o S. João é diferente. O centro histórico despovoou-se
e muita da alma da cidade transmutou-se para a periferia.
E, como diz o investigador Hélder Pacheco, sem gente não há
tradições, usos e costumes e “…por isso é
que, em nome do futuro, temos que
defender este passado”.
A bela sardinha assada
História dos
martelinhos
“O martelo de S. João
foi inventado em 1963 por Manuel António Boaventura, industrial de Plásticos do
Porto, que tirou a ideia num saleiro/pimenteiro que viu numa das suas viagens
ao estrangeiro. O conjunto de sal e pimenta tinha o aspecto de um fole ao qual
adicionou um apito e um cabo vindo a incorporar tudo no mesmo conjunto e
dando-lhe a forma de um martelo.
O objectivo inicial
era criar mais um brinquedo a adicionar à gama de que dispunha. Nesse mesmo ano
os estudantes abordaram o Sr. Boaventura com o intuito de lhes ser oferecido
para a queima das fitas um “brinquedo ruidoso”, ao que o Sr. Boaventura acedeu
oferecendo o que de mais ruidoso tinha...os martelinhos. A queima das fitas foi
um sucesso com os estudantes a dar “marteladas” o dia todo uns nos outros e
logo os comerciantes do Porto quiseram martelinhos para a festa de S. João.
Esse ano o stock era pouco mas no ano seguinte os martelos foram vendidos em
força para esta festa e ao mesmo tempo oferecidos pelo Sr. Boaventura a
crianças do Porto.
Assim o martelinho
entrou nas festas do S. João sendo aceite incondicionalmente pelo povo nos seus
festejos.
A venda fez-se
normalmente durante 5 ou 6 anos até que um dia o Vereador da cultura da Câmara
do Porto, Dr. Paulo Pombo e o Presidente da Câmara do Porto Engº Valadas
chegaram á conclusão de que este brinquedo ia contra a tradição e decidiram
fazer uma queixa ao Governador Civil do Porto Engº Vasconcelos Porto, queixa
esta que foi aceite tendo mesmo o Governador Civil notificado o Sr. Boaventura
de que no ano seguinte estava proibido de vender martelos para a festa de S.
João, mandando avisar que quem fosse apanhado com martelos na noite de S. João
seria multado em 70$00 (na época ganhava-se cerca de 30$00), e mandando retirar
os martelos das lojas comerciais onde estavam á venda. O que é certo, é que o
povo não acatou esta decisão e continuou a usar o martelo nos seus festejos. O
Sr. Boaventura ao ver-se lesado e injustiçado nesta decisão do Governo Civil
levou então a questão a tribunal, perdendo em 1ª e 2ª instância. (estava-se no
tempo de Américo Tomás e Marcelo Caetano e consequentemente da PIDE).
No entanto no ano de
73 recorreu para o Supremo Tribunal e ganhou a questão, podendo assim continuar
a fazer os martelinhos que se tornaram tradição popular não só no S. João do
Porto, como no S. João de Braga, Vila do Conde, Carnaval de Torres Vedras,
Passagens de ano, campanhas de partidos políticos, etc.
Os martelos sofreram
inúmeras alterações ao longo dos anos mas a tradição ficou e a sua história perdeu-se
com o tempo”.
Fonte: martelodesjoao.blogspot.pt
Martelinhos de S. João
Concursos de Quadras de S. João, de Montras e de Rusgas
Quem inventou o
Concurso de Quadras foi um antigo chefe de redacção do Jornal de Notícias, de
seu nome Álvaro Machado que, para além de jornalista era poeta e escrevia,
ainda, peças de teatro. Enganou-se, quando prevendo uma pequena adesão à
iniciativa e uma pequena longevidade, o passar dos anos, vieram desmenti-lo, ao
serem ultrapassadas todas as expectativas.
O primeiro concurso
teve lugar em 1929 e, manteve-se, até hoje, ininterruptamente. Hoje, é o mais
antigo concurso organizado pela imprensa e nele participam alguns milhares de
concorrentes.
Grandes poetas e
gente das letras têm passado pelos sucessivos júris dos concursos, que obedecem
a um regulamento próprio.
Quadra vencedora em
2018
O Concurso de
Montras alusivas ao S. João é uma organização do município portuense,
normalmente com a colaboração da Associação de Comerciantes do Porto, que “tem como objectivos principais impulsionar
o envolvimento do comércio local na tradição cultural da cidade, dinamizar o
sector através da promoção de manifestações artísticas e estimular o espírito
criativo”.
Normalmente, os três
primeiros classificados recebem prémios pecuniários, sendo ainda, distribuídas
menções honrosas.
“O concurso destina-se à participação
exclusiva de lojas com actividade no Porto, abertas ao público e com montras
visíveis. Cada estabelecimento pode candidatar-se a mais do que uma montra,
desde que respeite os seguintes critérios: utilização de elementos decorativos
diferenciados para cada montra a concurso; e formalização de uma candidatura
por cada montra”.
Quanto às rusgas,
foram sempre uma das manifestações de cariz mais populares de cariz, na maior
parte das vezes, espontâneas.
Alguns elementos com
uma determinada afinidade (familiar, de vizinhança ou outra), em grupo e
munidos de instrumentos rudimentares de percussão ou de sopro (testos, panelas,
bombos, gaitas, etc) partiam, em cantorias, de quadras improvisadas,
percorrendo as ruas da cidade.
Aliás, foi numa
tentativa de não serem perdidas essas quadras que foi lançado o Concurso de
Quadras de S. João pelo Jornal de Notícias.
A partir de
determinada altura, essas manifestações populares foram institucionalizadas com
a promoção de concursos, sujeitos a uma regulamentação. A exibição que percorre
algumas ruas da baixa da cidade, tem o seu expoente máximo quando, na Avenida
dos Aliados, os participantes desfilam perante um júri presente numa tribuna,
em frente à Câmara, a organizadora do certame.
Rusga de S. João, em
1957
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