domingo, 12 de fevereiro de 2017

(Continuação 25) - Actualização em 14/02/2019



A ideia da construção do que viria a ser o Mercado do Anjo, no local da Capela de S. Miguel-o-Anjo, começou a ser acarinhada em 1834, logo a seguir à vitória do Liberalismo. Com efeito, em Fevereiro desse ano, a Câmara do Porto aprovou em sessão da Vereação a planta do novo mercado. Mas, o projecto, só viria a ter concretização cinco anos depois.
A construção do Mercado do Anjo, junto do que é hoje a Rua das Carmelitas, aparece na sequência do considerável aumento da população que se começou a registar no Porto logo nos começos do século XIX.
A cidade que se caracterizara pelo seu cariz fortemente comercial estava a transformar-se, por esse tempo, também, num importante pólo industrial.
O acréscimo da população resultava sobretudo do cada vez mais elevado número de pessoas que deixavam as terras do interior e se vinham fixar no Porto, com o objectivo de aqui encontrar um meio de subsistência mais rendoso.
O novo mercado proporcionaria o mais fácil abastecimento de uma população em franco crescimento, como possibilitaria um meio eficaz do controlo dos preços dos géneros alimentícios que devido à falta de mão-de-obra e com a fuga da gente dos campos para as cidades, se inflacionavam cada vez mais.
A escolha do local para a construção do mercado, o terreno do antigo Recolhimento do Anjo, não foi feito ao acaso.




Vista do Mercado do Anjo a partir da Praça dos Leões – Fonte: “aportanobre.blogs.sapo.pt”





A Câmara ao seleccionar o sítio em causa procurou corresponder a uma antiga directiva municipal, segundo a qual, "os mercados públicos devem ser construídos em praças ou lugares desembaraçados em que se possam depositar as fazendas e se possam livremente vender sem incómodo dos vendedores e compradores…"




Interior do Mercado do Anjo



O mercado do Anjo e a sua entrada a poente




À direita da foto está o mercado do Anjo, possivelmente anterior a 1911, já que, o edifício da Universidade não tinha sido concluído.





Interior do mercado do Anjo




Hortaliceiras no mercado do Anjo - Ed. Alberto Ferreira, Praça da Batalha





Vendedeiras no mercado do Anjo - Ed. desconhecido



Vista aérea do Mercado do Anjo




Vendedeiras em 1912 no exterior do mercado do Anjo a poente - Ed. AMP



Vendedeiras em 1940 no exterior do mercado do Anjo a poente - Ed. AMP



Entrada a nascente do mercado do Anjo já em meados do século XX




Passaram a integrar o novo espaço do mercado do Anjo pequenos mercados de levante que funcionavam em vários sítios da cidade como, por exemplo, os de frutas e legumes que funcionavam na então designada Praça de S. Bento e no Largo do Correio e o da Praça da Batalha onde se vendiam frutas, cebolas e pão de milho.
Para o mercado do Anjo foram também transferidas, nos começos do século XX, as vendedeiras de pão que tinham as suas bancas na então chamada Praça da Feira do Pão, a actual Praça de Guilherme Gomes Fernandes, que passaram a ocupar a parte sul do mercado.
Em 1911 a Câmara transferiu para o Mercado do Anjo as vendedeiras de flores que tinham o seu mercado específico ao cimo da Rua dos Clérigos.
Em 1936, dada a degradação do mercado, seria proposto em sessão de Câmara a formação de uma Comissão para proceder aos estudos para encerramento do Mercado do Anjo.

“O velho 'mercado do Anjo' será transferido para o atual local do mercado do Peixe e terrenos anexos, a oeste do jardim da Cordoaria. Por sua vez, o que está atualmente ocupado pelo mercado do Anjo, numa área de 6.000 metros quadrados, por exigências de urbanização e de salubridade, será transformado numa nova e formosa praça ajardinada, a que muito bem poderemos chamar 'Praça da Universidade'.
Teremos assim desafogado e valorizado dois grandes e imponentes edifícios citadinos: O Palácio da Universidade e o Templo dos Clérigos e ainda um terceiro, o da Relação todos de momento amesquinhados pela vizinhança insalubre dum conjunto de miseráveis barracas que formam esse mercado do Anjo!”
João de Paiva de Faria Leitão Brandão (vereador), 4 Fevereiro de 1937 – Fonte: “aportanobre.blogs.sapo.pt”


Apesar dos esforços envidados, só dez anos mais tarde o mercado seria fechado e transferido para um outro, provisório, no local onde existira a Roda, paredes meias com o mercado do Peixe.


Gravura com Mercado do Peixe visível a meio e no canto inferior esquerdo o Chalet onde esteve no começo do século XX o Café Chaves


Obras junto ao Mercado do Peixe para instalação provisória do mercado vindo (1947) do Anjo


Vista de mercado provisório (vindo do Anjo) ao lado do Mercado do Peixe




Aqueles mercados (o do peixe e o provisório do Anjo) mudar-se-iam para o Mercado do Bom Sucesso, inaugurado em 1952.
O mercado do Peixe foi demolido para no seu lugar se construir o Palácio da Justiça.



Interior do Mercado do Anjo já em processo de demolição



Imagem da demolição do mercado do Anjo


Praça de Lisboa


Na foto acima está o espaço que ocupava o mercado do Anjo antes da sua demolição.
Aquela área passaria, então, a ter o topónimo de Praça de Lisboa, e funcionaria como parque de estacionamento a céu aberto.


O antigo Anjo em foto aérea, aqui como Clérigos Shopping com parqueamento subterrâneo – Fonte: Google maps


Passeio do Clérigos actualmente – Fonte: Google maps


Nas fotos aéreas acima, vemos o antigo Anjo (actualmente ainda com o topónimo de Praça de Lisboa), primeiro ocupado pelo shopping “Passeio dos Clérigos” e na foto seguinte, ocupado pelo “Passeio dos Clérigos”, com as suas oliveiras alusivas ao antigo “Campo do Olival”.
Em ambas as ocupações o espaço foi munido, de parqueamento subterrâneo.

Sem comentários:

Enviar um comentário