A ideia da construção do que viria a ser o Mercado do Anjo, no local da Capela de S. Miguel-o-Anjo, começou a ser acarinhada em 1834, logo
a seguir à vitória do Liberalismo. Com efeito, em Fevereiro desse ano, a Câmara
do Porto aprovou em sessão da Vereação a planta do novo mercado. Mas, o
projecto, só viria a ter concretização cinco anos depois.
A construção do Mercado do Anjo, junto do que é hoje a Rua
das Carmelitas, aparece na sequência do considerável aumento da população que
se começou a registar no Porto logo nos começos do século XIX.
A cidade que se caracterizara pelo seu cariz fortemente comercial
estava a transformar-se, por esse tempo, também, num importante pólo
industrial.
O acréscimo da população resultava sobretudo do cada vez
mais elevado número de pessoas que deixavam as terras do interior e se vinham
fixar no Porto, com o objectivo de aqui encontrar um meio de subsistência mais
rendoso.
O novo mercado proporcionaria o mais fácil abastecimento de
uma população em franco crescimento, como possibilitaria um meio eficaz do
controlo dos preços dos géneros alimentícios que devido à falta de
mão-de-obra e com a fuga da gente dos campos para as cidades, se inflacionavam
cada vez mais.
A escolha do local para a construção do mercado, o terreno
do antigo Recolhimento do Anjo, não foi feito ao acaso.
A Câmara ao seleccionar o sítio em causa procurou
corresponder a uma antiga directiva municipal, segundo a qual, "os mercados públicos devem ser
construídos em praças ou lugares desembaraçados em que se possam depositar as
fazendas e se possam livremente vender sem incómodo dos vendedores e compradores…"
Interior do Mercado do Anjo
O mercado do Anjo e a sua entrada a poente
À direita da foto está o mercado do Anjo, possivelmente
anterior a 1911, já que, o edifício da Universidade não tinha sido concluído.
Interior do mercado do Anjo
Hortaliceiras no mercado do Anjo - Ed. Alberto Ferreira,
Praça da Batalha
Vendedeiras no mercado do Anjo - Ed. desconhecido
Vendedeiras em 1912 no exterior do mercado do Anjo a poente
- Ed. AMP
Vendedeiras em 1940 no exterior do mercado do Anjo a poente -
Ed. AMP
Entrada a nascente do mercado do Anjo já em meados do século
XX
Passaram a integrar o novo espaço do mercado do Anjo pequenos mercados de levante que funcionavam em vários sítios da cidade como,
por exemplo, os de frutas e legumes que funcionavam na então designada Praça de
S. Bento e no Largo do Correio e o da Praça da Batalha onde se vendiam frutas,
cebolas e pão de milho.
Para o mercado do Anjo foram também transferidas, nos
começos do século XX, as vendedeiras de pão que tinham as suas bancas na então
chamada Praça da Feira do Pão, a actual Praça de Guilherme Gomes Fernandes, que
passaram a ocupar a parte sul do mercado.
Em 1911 a Câmara transferiu para o Mercado do Anjo as
vendedeiras de flores que tinham o seu mercado específico ao cimo da Rua dos
Clérigos.
Em 1936, dada a degradação do mercado, seria proposto em sessão de Câmara a formação de uma Comissão para proceder aos estudos para encerramento do Mercado do Anjo.
Em 1936, dada a degradação do mercado, seria proposto em sessão de Câmara a formação de uma Comissão para proceder aos estudos para encerramento do Mercado do Anjo.
“O velho 'mercado do
Anjo' será transferido para o atual local do mercado do Peixe e terrenos
anexos, a oeste do jardim da Cordoaria. Por sua vez, o que está atualmente
ocupado pelo mercado do Anjo, numa área de 6.000 metros quadrados, por
exigências de urbanização e de salubridade, será transformado numa nova e
formosa praça ajardinada, a que muito bem poderemos chamar 'Praça da
Universidade'.
Teremos assim
desafogado e valorizado dois grandes e imponentes edifícios citadinos: O
Palácio da Universidade e o Templo dos Clérigos e ainda um terceiro, o da
Relação todos de momento amesquinhados pela vizinhança insalubre dum conjunto
de miseráveis barracas que formam esse mercado do Anjo!”
João de Paiva de Faria Leitão Brandão (vereador), 4
Fevereiro de 1937 – Fonte: “aportanobre.blogs.sapo.pt”
Apesar dos esforços envidados, só dez anos mais tarde o
mercado seria fechado e transferido para um outro, provisório, no local onde
existira a Roda, paredes meias com o mercado do Peixe.
Gravura com Mercado do Peixe visível a meio e no canto
inferior esquerdo o Chalet onde esteve no começo do século XX o Café Chaves
Obras junto ao Mercado do Peixe para instalação provisória
do mercado vindo (1947) do Anjo
Vista de mercado provisório (vindo do Anjo) ao lado do
Mercado do Peixe
Aqueles mercados (o do peixe e o provisório do Anjo) mudar-se-iam para o Mercado do Bom Sucesso, inaugurado em 1952.
O mercado do Peixe foi demolido para no seu lugar se
construir o Palácio da Justiça.
Imagem da demolição do mercado do Anjo
Praça de Lisboa
Na foto acima está o espaço que ocupava o mercado do
Anjo antes da sua demolição.
Aquela área passaria, então, a ter o topónimo de Praça de
Lisboa, e funcionaria como parque de estacionamento a céu aberto.
O antigo Anjo em foto aérea, aqui como Clérigos Shopping com
parqueamento subterrâneo – Fonte: Google maps
Passeio do Clérigos actualmente – Fonte: Google maps
Nas fotos aéreas acima, vemos o antigo Anjo (actualmente
ainda com o topónimo de Praça de Lisboa), primeiro ocupado pelo shopping
“Passeio dos Clérigos” e na foto seguinte, ocupado pelo “Passeio dos Clérigos”,
com as suas oliveiras alusivas ao antigo “Campo do Olival”.
Em ambas as ocupações o espaço foi munido, de parqueamento
subterrâneo.
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