quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

(Continuação 21) - Actualização em 12/06/2019 e 06/04/2021




A antiguidade das feiras é um facto inquestionável, contribuindo a sua realização, decisivamente, para o reforço de algumas concentrações populacionais durante a Baixa Idade Média. Em muitos casos, a sua instituição real servia para reforçar o povoamento.
O Porto não fugiu a essa regra. 
Uma das feiras mais antigas, de decisão régia, de que se tem conhecimento, esteve junto à Sé, por determinação de D. Sancho I, em 1186.
Por decreto de D. João I, uma feira franca se estabeleceu na Rua Nova (Rua do Infante D. Henrique), a partir de 1403.
Desde sempre, foi a Praça da Ribeira o centro irradiador de todo o comércio da cidade.


"Ribeira a praça onde se as coisas compram e vendem...Poderão descarregar na Ribeira e praça da dita cidade". 
Fonte: Foral dado à cidade em 20 de Junho de 1517


"Da parte de dentro da Porta de Carros abria-se um magnífico Terreiro, limitado pela fronteira do Mosteiro beneditino da Avé-Maria. Nele, semanalmente, se realizava a feira da cidade".
Cortesia do Professor Francisco Ferreira da Silva, In "O Porto e o seu termo"



“A cidade do Porto obteve autorização em 1582 para realizar uma feira semanal. É verdade. Mas não é a verdade total: incorreria em erro o leitor que pensasse que a feira foi imediatamente concretizada. É que o povo receou que, sendo franca a feira, as receitas fiscais a cobrar sobre as transacções diminuíssem. E nesse caso, recairia sobre o mesmo povo a obrigatoriedade de rateio contributivo até se perfazer o total contratado com a Fazenda Real. Daí as objecções dos Procuradores do Povo que só foram resolvidas nos fins de 1587”.
Fonte: Camilo Castelo Branco, In “Gazeta Litteraria”



Quando escrevia sobre factos históricos, que reportavam à cidade do Porto, que é o caso do anterior texto, Camilo Castelo Branco pensava que Arnaldo Gama seria a pessoa indicada para compilar aquela história.



“Em 1868, nas páginas da “Gazeta Litteraria” Camilo defende a utilidade e a necessidade de se escrever a História da Cidade do Porto. E até aponta o nome da pessoa indicada para tal tarefa: Arnaldo Gama que já havia reunido milhares de cópias de documentos. E acrescenta:
«Obra de tanto fôlego não pode emprehendê-la quem, como o douto scriptor, tem seu tempo captivo, e pautado às necessidades de cada dia. Um frívolo romance tem centenares de leitores espontâneos; a História do Porto, sem subscritores solicitados, seria ao mesmo tempo a “história da ruina d’um literato»”.
Com a devida vénia a Francisco Ribeiro da Silva



A narrativa traçada a seguir por Arnaldo Gama, na sua obra publicada em 1861, “Um Motim há 100 anos”, dá-nos uma ideia de como decorria o quotidiano da cidade, às Terças-Feiras, em consequência da chegada de inúmeros visitantes. Para além deste dia da semana, também as Quintas-Feiras e os Sábados, os Sábados especialmente, eram dias de grande afluência de lavradeiras e lavradores nas ruas e lojas do Porto.
 
 
 
«A terça-feira foi sempre, desde tempos immemoriaes, dia de multidão incommoda nas ruas do Porto, sobretudo nas ruas commerciaes. É o dia em que os aldeãos dos arredores costumam vir feirar à cidade. Logo de madrugada, invadem-n'a em turba por todas as avenidas conhecidas, atroando-a com o borborinho do palavriado vasconço e com o estrépito infernal de cincoenta mil tamancos e socos. Depois a multidão espraia- se pelas ruas, e agita-se aqui e ali; vai e vem em mil direcções oppostas, e redemoinha aos encontrões entre o zumbido atroador e confuso de homens e mulheres e creanças, uns descalços e outros calçados, uns a pé e outros a cavallo, e uns caminhando e outros parados a admirar com espanto parvoo o painel de cavallinhos ou a carapuça vermelha que o adélo pendurou por chibantaria na porta. Este espicaça aqui a mula ronceira e felpuda com espora de ferro capaz de abrir d'um só golpe um penedo ; ali um moço de lavoira, sujo e asselvajado, puxa pela soga d'uns bois, que, a despeito de todo o incitamento, tiram com a natural pachorra um carro carregado até os telhados; acolá uma cachopa menos mal assombrada de corpo e de feições, de chinelas nos pés, saia de rofêgos, collete maiato, lenço cahido para traz das costas, compridas arrecadas de oiro nas orelhas, e ao pescoço dois ou três cordões também de oiro com gigante coração de lilagrana do mesmo metal, — estira-se já lagrimijante, a puxar pela arreata da égua alentada, que, de focinho no ar, orelha tesa, e passo de tenteio, cede com repugnância aos aturados esforços da triste. Aqui este cobre com o abarracado guarda-sol de panninho vermelho a anafada companheira, que carrega com as compras do dia; essoutro vai ali açodado com o guarda-sol debaixo do braço; e acolá, aquelle, de varapau ao hombro, rodeia-se conversando, sem lhe importar se algum olho menos cauteloso passa a geito de soffrer com aquelle modo de fazer uso das bengalas da aldeia. E tudo isto a agitar-se, a caminhar e a redemoinhar aos encontrões nas ruas do Porto. E ali uma padeira de Avintes ou Crestuma abrindo caminho aos cotovelloes por entre o povo, carregando com o cesto das boroas à cabeça; e acolá uma mula de Vallongo com as alterosas canastras bifurcadas no dorso, e a padeira sentada sobre a alta bifurcação, a romper irresistivelmente por entre o gentio, com quem arremette denodada, como os malaios de Calecut arremettiam, nos elephantes encastellados, contra os portuguezes de Cochin».
Arnaldo Gama , In “Um motim há cem anos”; Fonte: “O Porto na Berlinda” de Alberto Pimentel



Em tempos idos, a hortaliça e legumes vinham de Gondomar, a broa vinha de Avintes e o pão tinha a proveniência de Valongo.
Entretanto, a cidade ia definindo vários locais distintos para os seus mercados nas transacções das especiarias e de outros materiais de necessidade humana.
Desde essas épocas remotas, foram utilizados e alterados vários locais para feiras com características específicas, tais como:
-A Feira de S. Miguel, primeiro na Cordoaria e que passaria para o Largo da Boavista e depois para a Arca d’Água;
-A Feira de carvão, palha e lenha, varas de madeira, tamancos e caixas de madeira de pinho no Largo dos Ferradores;
- A Feira das Caixas na praça de Carlos Alberto;
-A Feira de carvão, palha e lenha, varas de madeira no Largo do Mirante;
-A Feira da Madeira em carros na Trindade;
-A Feira dos Moços começada no Anjo, Praça do Bolhão e Cordoaria, sucessivamente, depois Praça Carlos Alberto e, mais tarde, em 1877, na Boavista, em 1899, na Corujeira e, em 1903, na Arca d'Água, deixando de se realizar em 1935, quando a Câmara acabou com ela.
Em 1962, no entanto, parece que o encontro entre amos e serviçais, ainda tinha lugar, informalmente, lá para os lados da Areosa.
Durante aquela feira, o ajuste entre o “moço” e o lavrador era celebrado com a "cabrita" - uma caneca de vinho que o amo pagava ao criado, umas vezes e outras, uma refeição bem regada aos parentes do criado a contratar;
- A Feira do Peixe, inicialmente na praça da Ribeira, posteriormente em frente à Cadeia da Relação ou junto ao mosteiro de S. Bento da Vitória e por fim no mercado do peixe, no local onde actualmente é o Palácio da Justiça;
- A Feira das Flores, Hortaliça e Fruta, junto ao antigo largo da rua da Fábrica com a rua de Aviz e junto à estação de S. Bento;
- A Feira da Erva e da Palha na praça Nova (actual Praça da Liberdade), na Trindade e na praça Coronel Pacheco, Praça da Batalha, Mercado do Bolhão, Alameda do Postigo do Sol e por fim novamente Mercado do Bolhão;
- A Feira de Carne de Porco salgada e Queijo nos Largo dos Lóios;
- A Feira dos Carneiros na Trindade (actual estação do metro);
- A Feira do Linho, Fruta e Hortaliça e ainda galinhas na rua do Souto;
- A Feira dos Porcos na praça da Alegria;
- A Feira da Olaria e Louças, no jardim de S. Lázaro (ainda antes da sua existência) e na rua da Assunção;
- A Feira do Gado ou Feira dos Bois no Largo dos Ferradores e depois no Poço das Patas e depois na Póvoa de Cima;
-A Feira dos Cavalos no Campo 24 de Agosto e depois na Corujeira;
A Feira da Farinha e Cereais, na praça (dos Leões) Gomes Teixeira; 
A Feira do Pão, na praça Guilherme Gomes Fernandes, antiga praça Santa Teresa;
-A Feira das Flores na zona do antigo Largo do Ermitão em frente à igreja dos Clérigos;
-A Feira diária das frutas, cebolas, flores e pão de milho que funcionava à entrada da Rua de Santo Ildefonso na Praça da Batalha;
-A Feira das hortaliças (diária), no Largo de Santo André.




Das feiras acima apontadas, a Feira dos Bois era uma das mais antigas e importantes. 
As notícias apontam para que terá começado a realizar-se de modo organizado e com recinto designado nos Ferradores (Praça Carlos Alberto) e em meados do século XVIII, já estava no Poço das Patas (Campo 24 de Agosto).


"Feira dos Bois, que se fazia no sítio dos Ferradores donde se mudou, por ordem do Senado da Câmara, em três de Janeiro de mil setecentos e quarenta e sete e, ultimamente, por ordem do mesmo Senado, para o Souto do Poço das Patas".
Fonte: (Das Memórias Paroquiais  da freguesia de Santo Ildefonso, ano de 1758); Cit. de Guido de Monterey, "O Porto 3"


"Foi extraordinária a concorrência de gado ao mercado do Poço das Patas no dia de ontem; houveram bastantes vendas."
In jornal "Braz Tisana" de 18 de Janeiro de 1854; Cit. de Guido de Monterey, "O Porto 3"


Feira dos Bois (local não identificado)




A Feira dos Bois seria transferida, em 1868, para o Largo da Póvoa de Cima (Praça Rainha D. Amélia).


"Em sessão de 9 de Julho, deliberou a exª Câmara que a feira do gado que, até agora, tinha lugar no Campo 24 de Agosto, fosse transferida para um largo na Póvoa de Cima."
In "O Comércio do Porto"de 15 de Julho de 1868; Cit. de Guido de Monterey, "O Porto 3"

Deve observar-se que a mudança nada tinha que ver com pressões de ordem urbanística, mas, apenas, com uma política de organização e gestão dos espaços, pois as áreas abandonadas continuavam a ser utilizadas em funções semelhantes.


"Resolvida a mudança da feira de gado vacuum do Campo 24 de Agosto para o lugar da Póvoa de Cima, a contar da primeira terça-feira de Agosto em diante, continuando a ter lugar, no Campo 24 de Agosto, as feiras de gado muar, cavalar e asinino na forma do costume".
In "O Comércio do Porto" de 31 de Julho de 1868; Cit. de Guido de Monterey, "O Porto 3"


Em sessão camarária de 20 de Outubro de 1891 seria tomada uma posição importante no que ao sector das feiras dizia respeito.
Os diversos mercados iriam passar a realizar-se na Corujeira, a partir de 1892.
A própria Feira dos Moços, para aí seria deslocada em 1898.
As vozes que se opunham, em surdina, diziam que a tomada de decisão seria para servir afilhados.


"Todos os mercados e feiras de gado, de qualquer natureza, que tenham lugar no concelho do Porto, realizar-se-ão do dia 1 de Janeiro de 1892 em diante no mercado da Corujeira, em Campanhã.
Foi aprovado por unanimidade."
In jornal "A Palavra de 21 de Outubro de 1891; Cit. de Guido de Monterey, "O Porto 3"


Feira dos Bois na Corujeira - Ed. Emílio Biel


A feira dos criados ou moços e moças da lavoura realizava-se na primeira 3ª Feira de Abril e no Dia de Todos os Santos, quando os amos e serviçais se encontravam para fazerem os ajustes para os trabalhos agrícolas.
Parece, que no seu começo, elas teriam lugar para os lados do Anjo, tendo passado, já no século XIX, para a Praça do Bolhão e, em 28 de Março de 1854, para a Cordoaria.

“Na primeira 3ª Feira de Abril costumam vir os moços e as moças das partes das Terras da Feira assoldadar-se com os lavradores da Comarca da Maia e se juntam ao pé do Recolhimento do Anjo, onde com eles celebram os seus contratos”.
Das “Memórias Paroquiais da freguesia de Santo Ildefonso, ano de 1758

“Foi hoje a feira dos moços na praça do Bolhão”.
In jornal “Braz Tisana”, de 5 de Abril de 1853 – 3ª Feira

“Os habitantes perto da Cordoaria pediram à exmª câmara para que mudasse o local da feira dos moços de trabalho para a Cordoaria e conseguiram-no. De hoje por diante, será sempre lá esta feira.
In jornal “O Portugal”, de 28 de Março de 1854 – 3ª Feira

Em 1858, a feira dos moços iria para a Praça Carlos Alberto (antigo Largo dos Ferradores).

“Foi mudada este ano, por ordem da exmª Câmara, a Feira dos Criados da Cordoaria para a Praça Carlos Alberto”.
In jornal “O Direito”, de 6 de Abril de 1858 – 3ª Feira


Em 1877, a Feira dos Criados muda-se para a Boavista e, em 1899, passaria para a Corujeira e, finalmente, em 1936, deixava de se realizar para sempre.




“Verificou-se ontem, 27 de Março, na rotunda da Boavista, a primeira feira de criados de lavoura, que se prolonga até ao fim de Abril, realizando-se todas as terças-feiras.
A concorrência de ontem foi diminuta. Talvez devido ao tempo que, a todo o instante, ameaçava chuva.
Os criados, que concorrem a estas feiras, contactam-se por toda a estação do verão, isto é, desde o mês de Abril até ao fim de Setembro.
No fim de qualquer ajuste, costumam os patrões pagar a “cabrita” aos pais e parentes dos criados.
A “cabrita” consiste em uns e outros comerem bem e beberem melhor, pagando os primeiros”.
In jornal “O Comércio do Porto”, de 28 de Março de 1877 – 4ª Feira


“Teve ontem uma inauguração festiva, na Corujeira, a primeira feira de moços ali realizada.
Os carros americanos iam e vinham repletos.
In Jornal “ A Província”, de 5 de Abril de 1899 – 4ª Feira


Realizando-se a “Feira dos Moços” de lavoura, em Abril, para o estabelecimento dos contratos de Verão, para os trabalhos de Inverno, essas contratações, muito menos numerosas, ocorriam no sector, em Novembro.
A Feira dos Moços, em Abril, era muito concorrida. Apareciam os lavradores e os criados que pretendiam trabalho.
Havia um diálogo entre eles e quando chegavam a acordo davam um aperto de mão e tomavam um copo de vinho acompanhado de pão ou broa, que era oferecido pelo patrão, seguindo de imediato para os locais de trabalho. 
Há cerca de 140 anos, na Praça da Boavista, havia um amplo logra­douro público, rodeado por muros que de­limitavam hortas e campos de cultivo, onde se realizavam algumas das mais im­portantes feiras que se faziam no Norte do país como, por exemplo, a Feira de S. Miguel, que se realizava na Cordoaria des­de, pelo menos, 1682 e que, em 1876, veio transferida para a Rotunda da Boavista. 
O dia grande era e, continua ser, a 29 de Setembro.
Sobre a feira de S. Miguel que se realizava, na Cordoaria, diz Firmino Pereira no livro “O Porto d’Outros Tempos” que para os lados do Carregal, negociavam-se as cebolas, os largos chapéus bragueses, os varapaus e os gadanhos; junto ao hospital da Misericórdia os tamancos e as cabeçadas e jugos para os carros de bois; na Rua do Anjo as barracas de comes e bebes com as espetadas, os doces de Paranhos e as barracas de nozes; junto da Roda estavam as diversões e próximo à Rua de Trás era a atracção do cosmorama a antecipar o cinema; nos baixos do edifício da Academia as louças de todos os géneros e feitios.
A Feira de S. Miguel também era conhecida por “Feira dos Bonecos” e realizada durante anos na Cordoaria, em 1876, passou para a rotunda da Boavista.

“Abriu-se a feira anual de S. Miguel que, como os demais anos, tem lugar na Praça da Cordoaria.
São bastantes as barracas onde se vendem quinquilharias, assim como as que se vende o clássico peixe frito e vinho; as das nozes também não são em pequena quantidade.”
In jornal “Restauração”, de 2 de Outubro de 1865 – 2ª Feira

“Relancemos a vista, antes de mais nada, por estas barracas formando ângulo com a entrada da Academia Politécnica. Estão aqui acantonadas as vendedeiras das nozes.
Ao longo do passeio da praça, fronteira ao edifício da Relação, as barracas estão expostas do lado esquerdo. Na primeira vendem-se candeeiros.
Seguem-se a esta, barracas em que há sortimento completo de brinquedos para crianças. Soldadinhos de pau, sardões, bonecos de chiar, espadas e muitas outras coisas.
Fronteiras a esta parte do abarracamento, estacionam algumas vendedeiras de doce, dedais, pentes de vintém e outras miudezas.
No lado ocidental da praça estão dispostas as barracas ao longo da antiga estação das farrapeiras, na parte posterior do mercado do peixe. Bonecos, mantas e adornos feminis, objectos de verguinha feitos na ilha da Madeira, doces, vinhos, etc.
À direita são as barracas-restaurantes. Os artigos de venda são vinho, peixe frito e pão.
Deste lado temos as vendedeiras de espetadas.”
In jornal “O Comércio do Porto”, de 6 de Outubro de 1867 – Domingo

“Começou hoje, nos passeios em volta da Cordoaria, o levantamento das barracas para a feira que, anualmente, ali se costuma fazer.
O primeiro dia de feira é no dia 26 deste mês. A feira durará, segundo o costume, duas semanas.”
In “Diário da Tarde”, de 21 de Setembro de 1871 – 5ª Feira

Por deliberação da Câmara, em 1876, foi decidido transferir a Feira de S. Miguel para a rotunda da Boavista o que levou à oposição de alguns feirantes. Assim, nesse ano, realizou a Feira de S. Miguel em dois locais distintos.

“Este ano há duas feiras de S. Miguel. Uma no Palácio de Cristal, que é dos feirantes dissidentes, a outra dos concorrentes que concordam em aceitar o local da Rotunda da Boavista.
No Palácio de Cristal efectuou-se ontem, 26 de Setembro, a abertura da feira, na parte destinada a utensílios de lavoura, que esteve bastante concorrida, fazendo-se muitas transacções.
A abertura geral de toda a feira realiza-se amanhã.
Na rotunda da Boavista também se abriu ontem a feira, porém só na parte que se destina a utensílios de lavoura.
Amanhã efectua-se a abertura geral de toda a feira.”
In “O Comércio do Porto”, de 27 de Setembro de 1876 – 4ª Feira


Sobre a feira de S. Miguel lê-se no “O Tripeiro” série VI, Ano X. 

“Prolongava-se esta feira por uns dias (um mês, aproximadamente) e nela apareciam à venda as alfaias agrícolas, os tamancos, os jugos e cangas, os móveis de madeira de pinho em cru,  os cestos, varapaus, chapéus de palha, louça-de-barro grosseiro, cereais,  muita cebola e muita abóbora, os típicos doces de Paranhos e da Teixeira, as fritadas, todo o género de quinquilharias, etc.
As barracas de comes e bebes também não faltavam no recinto bem assim como as diversões. Em matéria de comestível, além das regueifas de Valongo e das nozes, sobrelevavam-se aos restantes produtos, as características espetadas, constituídas por carne de porco assada em espetos e vendida ao público, espetada num pauzinho.” 


Por deliberação de 1906, foi decidido que a feira passasse para a Arca d’Água, o que não foi acatado e ela passaria a estar, então, no terreno alugado pelos feirantes onde tinha estado uma praça de touros na Praça da Boavista, o Coliseu Portuense.
Foi, a feira de S. Miguel, transferida em 1909, para a Arca d’Água, onde esteve até 1917, depois de uma tentativa gorada, para o fazer, em 1903. 



“Em virtude de resolução camarária de ante-ontem, 6 de Agosto, uma comissão de feirantes e proprietários do largo da Arca d’Água pediu ao digno director da companhia Carris de Ferro o prolongamento da linha desde da esquina da Rua do Campo Lindo à Arca d’Água.”
In jornal “O Primeiro de Janeiro de 8 de Agosto de 1903 – Sábado


Sobre a sessão camarária de 3 de Setembro de 1903 (5ª Feira), dava conta o “Primeiro de Janeiro”.


“Todas as propostas foram aprovadas e a feira de S. Miguel passa, assim, a realizar-se na Arca d’Água.”



Feira de S. Miguel, na Cordoaria pintura do Barão de Forrester de 1835



“A Cordoaria foi, podemos dizê-lo, um local de concentração de feiras que se estendeu no tempo.
Já vimos as mais importantes, mas outros mercados existiram por aqui.
Sabe-se que em 1833, em plena crise do Cerco do Porto, todas as manhãs aqui se vendia o peixe, os miúdos de bovinos e aves vivas. Havia também local definido para a venda de hortaliças e frutas.
E quando a Câmara decidiu que a feira das hortaliças deveria mudar para a zona hoje das Carmelitas, logo uma verdadeira guerra estalou, com vitória das hortaliceiras, que não aceitaram e lavraram um protesto escrito, com peso tal, que a Câmara recuou”.
In marabo2012.wordpress.com

Sobre a feira de S. Miguel lê-se no "O Tripeiro" série VI, Ano X. 

“Prolongava-se esta feira por uns dias (um mês, aproximadamente) e nela apareciam à venda as alfaias agrícolas, os tamancos, os jugos e cangas, os móveis de madeira de pinho em cru,  os cestos, varapaus, chapéus de palha, louça-de-barro grosseiro, cereais,  muita cebola e muita abóbora, os típicos doces de Paranhos e da Teixeira, as fritadas, todo o género de quinquilharias, etc.
As barracas de comes e bebes também não faltavam no recinto bem assim como as diversões. Em matéria de comestível, além das regueifas de Valongo e das nozes, sobrelevavam-se aos restantes produtos, as características espetadas, constituídas por carne de porco assada em espetos e vendida ao público, espetada num pauzinho. 
Na feira de S. Miguel do ano de 1906, como novidade sensacional e como número de invulgar atracção, apareceu o primeiro animatógrafo ou cinematógrafo portuense – o salão High Life – instalado num modesto barracão de madeira coberto de folha zincada, ali mandado construir por Manuel da Silva Neves, que em Novembro desse ano de 1906, depois de terminada a feira de S. Miguel, passou a dar sessões de cinema mudo no largo fronteiro à Torre dos Clérigos, na Cordoaria, onde se conservou bastante tempo e para além da inauguração, em Fevereiro de 1908, do novo salão High-Life, na Praça da Batalha, do mesmo proprietário.
No ano de 1906, a Câmara Municipal anunciou a mudança da feira de S. Miguel para o largo da Arca d’Água. Todavia, os feirantes, de comum acordo e fazendo orelhas moucas, deliberaram tomar de arrendamento um terreno particular na mesma rotunda da Boavista (onde estivera uma praça de touros) e aí continuaram a realizá-la pelo curto período de 2 ou 3 anos”. 


Uma outra feira, a Feira de S. Bento, tinha lugar junto ao convento de S. Bento da Ave-Maria e realizava-se à terça-feira supondo-se ter começado em 1587 por acordo da Câmara e da Casa dos 24.
Manuel Pereira de Novais já a ela se refere em 1690. A partir de 1736 passou a ser diária. Em 27/7/1838 foi extinta tendo os feirantes passado para o novo Mercado do Bolhão. Por alguma razão esse local foi conhecido por Largo da Feira de S. Bento.
Em 1862 ainda se realizava no Largo de S. Roque ou Largo de Sant’Ana a Feira dos Panos, mas, a 5 de Fevereiro daquele ano, por deliberação da Câmara, ela haveria de ser transferida para o mercado do Bolhão.
Para as bandas, do Campo 24 de Agosto, em tempos, havia duas feiras - a do gado bovino, que se realizava às terças e sextas-feiras, já funcionava em 1833 e passou, em 1868, para o Largo da Póvoa de Cima, actual Praça da Rainha D. Amélia e a feira de cavalos, que era mensal e que só em 1892 foi mudada para a Praça da Corujeira.

“Desde tempos imemoriais, mas não sempre no mesmo sítio se efectuavam nesta cidade duas feiras anuais de moços e moças da lavoura. Uma para os trabalhos de verão; outra para os de inverno. A primeira realizava-se no mês de Abril; a segunda em Novembro. Como é mais ou menos sabido, um dos lugares em que mais tempo se conservou esta feira, foi no Largo dos Ferradores (actual Praça de Carlos Alberto), para onde tinha sido removida em Abril de 1858. No ano de 1876, todavia, por determinação camarária, levaram-na para a Rotunda da Boavista; e, mais tarde, estacionou ainda na Praça da Corujeira.
Igualmente no Largo dos Ferradores em tempos mais recuados (1676), se efectuava uma feira de gado, feira esta que também conheceu vários locais. Em 1838, por exemplo, realizava-se no Campo Grande, próximo do Poço das Patas.
Já que falamos em feiras, diremos que a feira da erva e palha funcionou, durante longos anos, juntamente com a feira da madeira, na Praça das Hortas. Daqui, em 1823, transitou para a Praça do Mirante, actual Praça do Coronel Pacheco (Os terrenos desta Praça, assim como aqueles em que se abriu a Rua dos Bragas, pertenciam a um casal rústico chamado dos Carvalhos do Monte já referido em documentos da Misericórdia do Porto de 1508 - «casal de Carvalhos do Monte, prez da cidade» à beira da estrada de Braga).
Anos depois, implantaram-na na Praça da Batalha e a seguir foi para o mercado do Bolhão.
Em Outubro de 1838, saltou ainda para a Alameda do Postigo do Sol, junto do mirante das freiras de Santa Clara e, por último, voltou novamente para o Bolhão onde finalmente se conservou até à sua extinção.
Desde não se sabe quando até 1843, funcionou no Largo dos Ferradores, às terças e sextas- feiras uma feira de carvão, palha e lenha, varas de madeira, tamancos e caixas de madeira de pinho e por isso esse largo foi chamado de Largo da Feira das Caixas. A partir de 1843 só os tamancos e caixas serão vendidos aí, passando os restantes artigos para a Praça do Mirante.
A da madeira em carros passou para a Praça da Trindade por edital de 28 de Dezembro de 1838.
Com a abertura dos mercados do Anjo e do Bolhão estas feiras foram perdendo importância.
Na esquina entre o Largo dos Ferradores (Praça Carlos Alberto) e a Praça de Santa Teresa, existiam várias mercearias, tendo-se notabilizado a mercearia dos Penas, como a mais famosa na época (“As casas eram quase todas baixas, com um andar e trapeiras”).
Nas escadas que ligavam com a praceta do Moinho de Vento ficava um outro motivo de atração, a Arca (hoje Sá Noronha), que recebia, com a água dos mananciais de Salgueiros, a de Paranhos, “a melhor água do Porto”(…).
No Porto os mercados públicos tiveram sempre grandes tradições, fossem eles de artigos de consumo corrente ou de velharias. 
No século XVIII, mais concretamente em 26 de março de 1784, foi aprovado pela Câ­mara o projeto da construção de uma arcada no Largo de Santo Elói, "para a venda de peixe". Esse projeto nunca foi por diante. Mas funcionaram por ali outros mercados e feiras. Num deles, o mais con­corrido, segundo as crónicas da época, vi­nha de antes de 1822 e nele se vendia “ queijo e carne de porco a retalho”; na atual Praça da Liberdade fazia-se um mercado de pão e de doces; à en­trada da Rua do Souto, onde agora passa a Rua de Mouzinho da Silveira, monta­vam banca as vendedeiras de galinhas e de teias de pano de linho; e no antigo Largo do Correio, agora Rua de Cândido dos Reis, vendiam-se flores e fazia-se o mercado dos ferros-velhos. 
A história do Mercado dos Ferros-ve­lhos, que podemos considerar como an­tecessor da atual Feira de Vandoma, co­meçou em 1839. No relatório da Câmara do Porto desse ano, lê-se o seguinte:
« (...) vendo que uma cidade como a nossa, a segunda capital do reino, e primeira das provindas do Norte, não tem, como a de Lisboa, um sítio para os vendedores am­bulantes exporem e venderem os objetos que não são novos, mas velhos e usa­dos, resolveu destinar para esse fim todo o local junto ao Postigo do Sol, fronteiro ao muro da cidade e sobranceiro aos Guindais, dando-lhe o título de Feira da Ladra.»
Aquele nome de "Ladra" não tem nada a ver com o feminino de la­drão. Tem a ver, sim, com a palavra "lá­zaro" ou "ladro", que têm o significado de "lazarento", ou "miserável". Ainda hoje, quando associamos miséria a imundície, dizemos "lazeira". E as feiras da ladra, em alguns casos, eram esten­dais de miséria. 
A feira junto aos Guindais deve ter du­rado muito pouco tempo, porque, ainda em 1839, já no fim do ano, ela se realiza no tal Largo do Correio, onde já havia um antigo "lugar das adeleiras ou seja das mulheres que vendiam artigos usados.
No bairro das Carmelitas, que era onde ficava o tal Largo do Correio e onde depois se abriu a Rua de Cândido dos Reis, a Feira da Ladra, ou dos Ferros-Velhos, como popularmente era conhe­cida, funcionou até 1901, ano em que foi definitivamente extinta. 
Definitivamente, não. Porque ressur­giu, já nos nossos dias, junto à Sé, na cal­çada de Vandoma, de que tomou o nome. Não tardou a crescer. Estendeu-se pelo terreiro da Sé e, mais tarde, alongou-se até à Rua de D. Hugo. E como não parasse de crescer, mudou-se para as Fontainhas”.
Com a devida vénia a Germano Silva


A Feira de Vandoma foi transferida, depois de muita contestação, em 2016, para a Avenida 25 de Abril, para os lados da Corujeira.

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