A antiguidade das feiras é um facto inquestionável, contribuindo a sua realização, decisivamente, para o reforço de algumas concentrações populacionais durante a Baixa Idade Média. Em muitos casos, a sua instituição real servia para reforçar o povoamento.
O Porto não fugiu a essa regra.
Uma das feiras mais antigas, de decisão régia, de que se tem conhecimento, esteve junto à Sé, por determinação de D. Sancho I, em 1186.
Por decreto de D. João I, uma feira franca se estabeleceu na Rua Nova (Rua do Infante D. Henrique), a partir de 1403.
Desde sempre, foi a Praça da Ribeira o centro irradiador de todo o comércio da cidade.
"Ribeira a praça onde se as coisas compram e vendem...Poderão descarregar na Ribeira e praça da dita cidade".
Fonte: Foral dado à cidade em 20 de Junho de 1517
"Da parte de dentro da Porta de Carros abria-se um magnífico Terreiro, limitado pela fronteira do Mosteiro beneditino da Avé-Maria. Nele, semanalmente, se realizava a feira da cidade".
Cortesia do Professor Francisco Ferreira da Silva, In "O Porto e o seu termo"
“A cidade do Porto
obteve autorização em 1582 para realizar uma feira semanal. É verdade. Mas não
é a verdade total: incorreria em erro o leitor que pensasse que a feira foi
imediatamente concretizada. É que o povo receou que, sendo franca a feira, as
receitas fiscais a cobrar sobre as transacções diminuíssem. E nesse caso,
recairia sobre o mesmo povo a obrigatoriedade de rateio contributivo até se
perfazer o total contratado com a Fazenda Real. Daí as objecções dos
Procuradores do Povo que só foram resolvidas nos fins de 1587”.
Fonte: Camilo Castelo Branco, In “Gazeta Litteraria”
Quando escrevia sobre factos históricos, que reportavam à cidade do Porto, que é o caso do anterior texto, Camilo Castelo Branco pensava que Arnaldo Gama seria a pessoa indicada para compilar aquela história.
“Em 1868, nas páginas da “Gazeta Litteraria” Camilo defende a utilidade e a necessidade de se escrever a História da Cidade do Porto. E até aponta o nome da pessoa indicada para tal tarefa: Arnaldo Gama que já havia reunido milhares de cópias de documentos. E acrescenta:
«Obra de tanto fôlego não pode emprehendê-la quem, como o douto scriptor, tem seu tempo captivo, e pautado às necessidades de cada dia. Um frívolo romance tem centenares de leitores espontâneos; a História do Porto, sem subscritores solicitados, seria ao mesmo tempo a “história da ruina d’um literato»”.
Com a devida vénia a Francisco Ribeiro da Silva
A narrativa traçada a seguir por Arnaldo Gama, na sua obra
publicada em 1861, “Um Motim há 100 anos”, dá-nos uma ideia de como decorria o
quotidiano da cidade, às Terças-Feiras, em consequência da chegada de inúmeros
visitantes. Para além deste dia da semana, também as Quintas-Feiras e os
Sábados, os Sábados especialmente, eram dias de grande afluência de lavradeiras
e lavradores nas ruas e lojas do Porto.
«A terça-feira foi
sempre, desde tempos immemoriaes, dia de multidão incommoda nas ruas do Porto,
sobretudo nas ruas commerciaes. É o dia em que os aldeãos dos arredores
costumam vir feirar à cidade. Logo de madrugada, invadem-n'a em turba por todas
as avenidas conhecidas, atroando-a com o borborinho do palavriado vasconço e
com o estrépito infernal de cincoenta mil tamancos e socos. Depois a multidão
espraia- se pelas ruas, e agita-se aqui e ali; vai e vem em mil direcções
oppostas, e redemoinha aos encontrões entre o zumbido atroador e confuso de
homens e mulheres e creanças, uns descalços e outros calçados, uns a pé e
outros a cavallo, e uns caminhando e outros parados a admirar com espanto
parvoo o painel de cavallinhos ou a carapuça vermelha que o adélo pendurou por
chibantaria na porta. Este espicaça aqui a mula ronceira e felpuda com espora
de ferro capaz de abrir d'um só golpe um penedo ; ali um moço de lavoira, sujo
e asselvajado, puxa pela soga d'uns bois, que, a despeito de todo o
incitamento, tiram com a natural pachorra um carro carregado até os telhados;
acolá uma cachopa menos mal assombrada de corpo e de feições, de chinelas nos
pés, saia de rofêgos, collete maiato, lenço cahido para traz das costas,
compridas arrecadas de oiro nas orelhas, e ao pescoço dois ou três cordões
também de oiro com gigante coração de lilagrana do mesmo metal, — estira-se já
lagrimijante, a puxar pela arreata da égua alentada, que, de focinho no ar,
orelha tesa, e passo de tenteio, cede com repugnância aos aturados esforços da
triste. Aqui este cobre com o abarracado guarda-sol de panninho vermelho a
anafada companheira, que carrega com as compras do dia; essoutro vai ali
açodado com o guarda-sol debaixo do braço; e acolá, aquelle, de varapau ao
hombro, rodeia-se conversando, sem lhe importar se algum olho menos cauteloso
passa a geito de soffrer com aquelle modo de fazer uso das bengalas da aldeia.
E tudo isto a agitar-se, a caminhar e a redemoinhar aos encontrões nas ruas do
Porto. E ali uma padeira de Avintes ou Crestuma abrindo caminho aos cotovelloes
por entre o povo, carregando com o cesto das boroas à cabeça; e acolá uma mula
de Vallongo com as alterosas canastras bifurcadas no dorso, e a padeira
sentada sobre a alta bifurcação, a romper irresistivelmente por entre o gentio,
com quem arremette denodada, como os malaios de Calecut arremettiam, nos
elephantes encastellados, contra os portuguezes de Cochin».
Arnaldo Gama , In “Um motim há cem anos”; Fonte: “O Porto na
Berlinda” de Alberto Pimentel
“Em tempos idos, a hortaliça e legumes vinham de Gondomar, a broa vinha de Avintes e o pão tinha a proveniência de Valongo.
Entretanto, a
cidade ia definindo vários locais distintos para os seus mercados nas transacções
das especiarias e de outros materiais de necessidade humana.
Desde essas
épocas remotas, foram utilizados e alterados vários locais para feiras com
características específicas, tais como:
-A Feira de S. Miguel, primeiro na Cordoaria e que passaria para o
Largo da Boavista e depois para a Arca d’Água;
-A Feira de carvão, palha e lenha, varas de madeira, tamancos e caixas de madeira
de pinho no Largo dos Ferradores;
- A Feira das Caixas na praça de Carlos Alberto;
-A Feira de carvão, palha e lenha, varas de madeira no
Largo do Mirante;
-A Feira da Madeira em carros na
Trindade;
-A Feira dos Moços começada no Anjo, Praça do Bolhão e Cordoaria,
sucessivamente, depois Praça Carlos Alberto e, mais tarde, em 1877, na Boavista, em 1899, na Corujeira e, em 1903, na Arca d'Água, deixando de se realizar em 1935, quando a Câmara
acabou com ela.
Em 1962, no entanto, parece que o encontro entre amos e serviçais, ainda tinha lugar, informalmente, lá para os lados da Areosa.
Durante aquela feira, o ajuste entre o “moço” e o
lavrador era celebrado com a "cabrita" - uma caneca de vinho que o
amo pagava ao criado, umas vezes e outras, uma refeição bem regada aos parentes
do criado a contratar;
- A Feira do Peixe, inicialmente na praça da Ribeira, posteriormente em frente à Cadeia da
Relação ou junto ao mosteiro de S. Bento da Vitória e por fim no mercado do
peixe, no local onde actualmente é o Palácio da Justiça;
- A Feira das Flores, Hortaliça e Fruta, junto ao antigo largo da rua da Fábrica com
a rua de Aviz e junto à estação de S. Bento;
- A Feira da Erva e da Palha na praça Nova (actual Praça da Liberdade),
na Trindade e na praça Coronel Pacheco, Praça da Batalha, Mercado do Bolhão,
Alameda do Postigo do Sol e por fim novamente Mercado do Bolhão;
- A Feira de Carne de Porco salgada e Queijo nos Largo dos Lóios;
- A Feira dos Carneiros na Trindade (actual estação do metro);
- A Feira do Linho, Fruta e Hortaliça e ainda
galinhas na rua do Souto;
- A Feira dos Porcos na praça da Alegria;
- A Feira da Olaria e Louças, no jardim de S. Lázaro (ainda antes da sua
existência) e na rua da Assunção;
- A Feira do Gado ou Feira dos Bois no Largo dos Ferradores e depois no Poço das Patas e depois na Póvoa
de Cima;
-A Feira dos Cavalos no Campo 24 de Agosto e depois na Corujeira;
- A Feira da Farinha e Cereais, na praça (dos Leões) Gomes Teixeira;
- A Feira do Pão, na praça Guilherme Gomes Fernandes, antiga praça Santa Teresa;
-A Feira das Flores na zona do antigo Largo do Ermitão em frente à igreja dos Clérigos;
-A Feira diária das frutas, cebolas, flores
e pão de milho que funcionava à
entrada da Rua de Santo Ildefonso na Praça da Batalha;
-A Feira das hortaliças (diária), no Largo de Santo André.
Das feiras acima apontadas, a Feira dos Bois era uma das mais antigas e importantes.
As notícias apontam para que terá começado a realizar-se de modo organizado e com recinto designado nos Ferradores (Praça Carlos Alberto) e em meados do século XVIII, já estava no Poço das Patas (Campo 24 de Agosto).
"Feira dos Bois, que se fazia no sítio dos Ferradores donde se mudou, por ordem do Senado da Câmara, em três de Janeiro de mil setecentos e quarenta e sete e, ultimamente, por ordem do mesmo Senado, para o Souto do Poço das Patas".
Fonte: (Das Memórias Paroquiais da freguesia de Santo Ildefonso, ano de 1758); Cit. de Guido de Monterey, "O Porto 3"
"Foi extraordinária a concorrência de gado ao mercado do Poço das Patas no dia de ontem; houveram bastantes vendas."
In jornal "Braz Tisana" de 18 de Janeiro de 1854; Cit. de Guido de Monterey, "O Porto 3"
A Feira dos Bois seria transferida, em 1868, para o Largo da Póvoa de Cima (Praça Rainha D. Amélia).
"Em sessão de 9 de Julho, deliberou a exª Câmara que a feira do gado que, até agora, tinha lugar no Campo 24 de Agosto, fosse transferida para um largo na Póvoa de Cima."
In "O Comércio do Porto"de 15 de Julho de 1868; Cit. de Guido de Monterey, "O Porto 3"
Deve observar-se que a mudança nada tinha que ver com pressões de ordem urbanística, mas, apenas, com uma política de organização e gestão dos espaços, pois as áreas abandonadas continuavam a ser utilizadas em funções semelhantes.
"Resolvida a mudança da feira de gado vacuum do Campo 24 de Agosto para o lugar da Póvoa de Cima, a contar da primeira terça-feira de Agosto em diante, continuando a ter lugar, no Campo 24 de Agosto, as feiras de gado muar, cavalar e asinino na forma do costume".
In "O Comércio do Porto" de 31 de Julho de 1868; Cit. de Guido de Monterey, "O Porto 3"
Em sessão camarária de 20 de Outubro de 1891 seria tomada uma posição importante no que ao sector das feiras dizia respeito.
Os diversos mercados iriam passar a realizar-se na Corujeira, a partir de 1892.
A própria Feira dos Moços, para aí seria deslocada em 1898.
As vozes que se opunham, em surdina, diziam que a tomada de decisão seria para servir afilhados.
"Todos os mercados e feiras de gado, de qualquer natureza, que tenham lugar no concelho do Porto, realizar-se-ão do dia 1 de Janeiro de 1892 em diante no mercado da Corujeira, em Campanhã.
Foi aprovado por unanimidade."
In jornal "A Palavra de 21 de Outubro de 1891; Cit. de Guido de Monterey, "O Porto 3"
A feira dos criados ou moços e moças da lavoura realizava-se
na primeira 3ª Feira de Abril e no Dia de Todos os Santos, quando os amos e serviçais se encontravam para fazerem os ajustes para os trabalhos agrícolas.
Parece, que no seu começo, elas teriam lugar para os lados
do Anjo, tendo passado, já no século XIX, para a Praça do Bolhão e, em 28 de
Março de 1854, para a Cordoaria.
“Na primeira 3ª Feira
de Abril costumam vir os moços e as moças das partes das Terras da Feira
assoldadar-se com os lavradores da Comarca da Maia e se juntam ao pé do Recolhimento do Anjo, onde com eles
celebram os seus contratos”.
Das “Memórias Paroquiais da freguesia de Santo Ildefonso,
ano de 1758
“Foi hoje a feira dos
moços na praça do Bolhão”.
In jornal “Braz Tisana”, de 5 de Abril de 1853 – 3ª Feira
“Os habitantes perto
da Cordoaria pediram à exmª câmara para que mudasse o local da feira dos moços
de trabalho para a Cordoaria e conseguiram-no. De hoje por diante, será sempre
lá esta feira.
In jornal “O Portugal”, de 28 de Março de 1854 – 3ª Feira
Em 1858, a feira dos moços iria para a Praça Carlos Alberto
(antigo Largo dos Ferradores).
“Foi mudada este ano,
por ordem da exmª Câmara, a Feira dos Criados da Cordoaria para a Praça Carlos
Alberto”.
In jornal “O Direito”, de 6 de Abril de 1858 – 3ª Feira
Em 1877, a Feira dos Criados muda-se para a Boavista e, em
1899, passaria para a Corujeira e, finalmente, em 1936, deixava de se realizar
para sempre.
“Verificou-se ontem,
27 de Março, na rotunda da Boavista, a primeira feira de criados de lavoura, que
se prolonga até ao fim de Abril, realizando-se todas as terças-feiras.
A concorrência de
ontem foi diminuta. Talvez devido ao tempo que, a todo o instante, ameaçava
chuva.
Os criados, que
concorrem a estas feiras, contactam-se por toda a estação do verão, isto é,
desde o mês de Abril até ao fim de Setembro.
No fim de qualquer
ajuste, costumam os patrões pagar a “cabrita” aos pais e parentes dos criados.
A “cabrita” consiste
em uns e outros comerem bem e beberem melhor, pagando os primeiros”.
In jornal “O Comércio do Porto”, de 28 de Março de 1877 – 4ª
Feira
“Teve ontem uma
inauguração festiva, na Corujeira, a primeira feira de moços ali realizada.
Os carros americanos
iam e vinham repletos.
In Jornal “ A Província”, de 5 de Abril de 1899 – 4ª Feira
Realizando-se a
“Feira dos Moços” de lavoura, em Abril, para o estabelecimento dos contratos de
Verão, para os trabalhos de Inverno, essas contratações, muito menos numerosas,
ocorriam no sector, em Novembro.
A Feira dos Moços,
em Abril, era muito concorrida. Apareciam os lavradores e os criados que
pretendiam trabalho.
Havia um diálogo
entre eles e quando chegavam a acordo davam um aperto de mão e tomavam um copo
de vinho acompanhado de pão ou broa, que era oferecido pelo patrão, seguindo de
imediato para os locais de trabalho.
Há cerca de 140
anos, na Praça da Boavista,
havia um amplo logradouro público, rodeado por muros que delimitavam hortas e
campos de cultivo, onde se realizavam algumas das mais importantes feiras que
se faziam no Norte do país como, por exemplo, a Feira de S. Miguel, que se
realizava na Cordoaria desde, pelo menos, 1682 e que, em 1876, veio
transferida para a Rotunda da Boavista.
O dia grande era e, continua ser, a 29 de Setembro.
Sobre a feira de S. Miguel que se realizava, na Cordoaria,
diz Firmino Pereira no livro “O
Porto d’Outros Tempos” que para os lados do Carregal, negociavam-se as cebolas,
os largos chapéus bragueses, os varapaus e os gadanhos; junto ao hospital da
Misericórdia os tamancos e as cabeçadas e jugos para os carros de bois; na Rua
do Anjo as barracas de comes e bebes com as espetadas, os doces de Paranhos e
as barracas de nozes; junto da Roda estavam as diversões e próximo à Rua de
Trás era a atracção do cosmorama a antecipar o cinema; nos baixos do edifício
da Academia as louças de todos os géneros e feitios.
A Feira de S. Miguel também era conhecida por “Feira dos Bonecos” e realizada durante
anos na Cordoaria, em 1876, passou para a rotunda da Boavista.
“Abriu-se a feira
anual de S. Miguel que, como os demais anos, tem lugar na Praça da Cordoaria.
São bastantes as
barracas onde se vendem quinquilharias, assim como as que se vende o clássico
peixe frito e vinho; as das nozes também não são em pequena quantidade.”
In jornal “Restauração”, de 2 de Outubro de 1865 – 2ª Feira
“Relancemos a vista,
antes de mais nada, por estas barracas formando ângulo com a entrada da
Academia Politécnica. Estão aqui acantonadas as vendedeiras das nozes.
Ao longo do passeio da
praça, fronteira ao edifício da Relação, as barracas estão expostas do lado
esquerdo. Na primeira vendem-se candeeiros.
Seguem-se a esta,
barracas em que há sortimento completo de brinquedos para crianças. Soldadinhos
de pau, sardões, bonecos de chiar, espadas e muitas outras coisas.
Fronteiras a esta
parte do abarracamento, estacionam algumas vendedeiras de doce, dedais, pentes
de vintém e outras miudezas.
No lado ocidental da
praça estão dispostas as barracas ao longo da antiga estação das farrapeiras,
na parte posterior do mercado do peixe. Bonecos, mantas e adornos feminis,
objectos de verguinha feitos na ilha da Madeira, doces, vinhos, etc.
À direita são as
barracas-restaurantes. Os artigos de venda são vinho, peixe frito e pão.
Deste lado temos as
vendedeiras de espetadas.”
In jornal “O Comércio do Porto”, de 6 de Outubro de 1867 –
Domingo
“Começou hoje, nos
passeios em volta da Cordoaria, o levantamento das barracas para a feira que,
anualmente, ali se costuma fazer.
O primeiro dia de
feira é no dia 26 deste mês. A feira durará, segundo o costume, duas semanas.”
In “Diário da Tarde”, de 21 de Setembro de 1871 – 5ª Feira
Por deliberação da Câmara, em 1876, foi decidido transferir
a Feira de S. Miguel para a rotunda da Boavista o que levou à oposição de
alguns feirantes. Assim, nesse ano, realizou a Feira de S. Miguel em dois
locais distintos.
“Este ano há duas
feiras de S. Miguel. Uma no Palácio de Cristal, que é dos feirantes
dissidentes, a outra dos concorrentes que concordam em aceitar o local da
Rotunda da Boavista.
No Palácio de Cristal
efectuou-se ontem, 26 de Setembro, a abertura da feira, na parte destinada a
utensílios de lavoura, que esteve bastante concorrida, fazendo-se muitas
transacções.
A abertura geral de
toda a feira realiza-se amanhã.
Na rotunda da Boavista
também se abriu ontem a feira, porém só na parte que se destina a utensílios de
lavoura.
Amanhã efectua-se a
abertura geral de toda a feira.”
In “O Comércio do Porto”, de 27 de Setembro de 1876 – 4ª
Feira
Sobre a feira de S.
Miguel lê-se no “O Tripeiro” série VI, Ano X.
“Prolongava-se
esta feira por uns dias (um mês, aproximadamente) e nela apareciam à venda as
alfaias agrícolas, os tamancos, os jugos e cangas, os móveis de madeira de
pinho em cru, os cestos, varapaus, chapéus de palha,
louça-de-barro grosseiro, cereais, muita cebola e muita
abóbora, os típicos doces de Paranhos e da Teixeira, as fritadas, todo
o género de quinquilharias, etc.
As barracas de
comes e bebes também não faltavam no recinto bem assim como as diversões. Em
matéria de comestível, além das regueifas de Valongo e das nozes,
sobrelevavam-se aos restantes produtos, as características espetadas,
constituídas por carne de porco assada em espetos e vendida ao público,
espetada num pauzinho.”
Por deliberação de 1906, foi decidido que a feira passasse
para a Arca d’Água, o que não foi acatado e ela passaria a estar, então, no terreno
alugado pelos feirantes onde tinha estado uma praça de touros na Praça da
Boavista, o Coliseu Portuense.
Foi, a feira de S.
Miguel, transferida em 1909, para a Arca d’Água, onde esteve até 1917, depois de uma tentativa gorada, para o fazer, em 1903.
“Em virtude de
resolução camarária de ante-ontem, 6 de Agosto, uma comissão de feirantes e
proprietários do largo da Arca d’Água pediu ao digno director da companhia
Carris de Ferro o prolongamento da linha desde da esquina da Rua do Campo Lindo
à Arca d’Água.”
In jornal “O Primeiro de Janeiro de 8 de Agosto de 1903 – Sábado
Sobre a sessão camarária de 3 de Setembro de 1903 (5ª Feira), dava
conta o “Primeiro de Janeiro”.
“Todas as
propostas foram aprovadas e a feira de S. Miguel passa, assim, a realizar-se na
Arca d’Água.”
Feira de S. Miguel,
na Cordoaria pintura do Barão de Forrester de 1835
“A Cordoaria foi,
podemos dizê-lo, um local de concentração de feiras que se estendeu no tempo.
Já vimos as mais
importantes, mas outros mercados existiram por aqui.
Sabe-se que em 1833, em plena crise do Cerco do Porto, todas as manhãs aqui se vendia o peixe, os miúdos de bovinos e aves vivas. Havia também local definido para a venda de hortaliças e frutas.
E quando a Câmara decidiu que a feira das hortaliças deveria mudar para a zona hoje das Carmelitas, logo uma verdadeira guerra estalou, com vitória das hortaliceiras, que não aceitaram e lavraram um protesto escrito, com peso tal, que a Câmara recuou”.
In marabo2012.wordpress.com
Sabe-se que em 1833, em plena crise do Cerco do Porto, todas as manhãs aqui se vendia o peixe, os miúdos de bovinos e aves vivas. Havia também local definido para a venda de hortaliças e frutas.
E quando a Câmara decidiu que a feira das hortaliças deveria mudar para a zona hoje das Carmelitas, logo uma verdadeira guerra estalou, com vitória das hortaliceiras, que não aceitaram e lavraram um protesto escrito, com peso tal, que a Câmara recuou”.
In marabo2012.wordpress.com
Sobre a feira de S.
Miguel lê-se no "O Tripeiro" série VI, Ano X.
“Prolongava-se
esta feira por uns dias (um mês, aproximadamente) e nela apareciam à venda as
alfaias agrícolas, os tamancos, os jugos e cangas, os móveis de madeira de
pinho em cru, os cestos, varapaus, chapéus de palha,
louça-de-barro grosseiro, cereais, muita cebola e muita
abóbora, os típicos doces de Paranhos e da Teixeira, as fritadas, todo
o género de quinquilharias, etc.
As barracas de
comes e bebes também não faltavam no recinto bem assim como as diversões. Em
matéria de comestível, além das regueifas de Valongo e das nozes,
sobrelevavam-se aos restantes produtos, as características espetadas,
constituídas por carne de porco assada em espetos e vendida ao público,
espetada num pauzinho.
Na feira de S.
Miguel do ano de 1906, como novidade sensacional e como número de invulgar
atracção, apareceu o primeiro animatógrafo ou cinematógrafo portuense – o salão
High Life – instalado num modesto barracão de madeira coberto de folha zincada,
ali mandado construir por Manuel da Silva Neves, que em Novembro desse ano de
1906, depois de terminada a feira de S. Miguel, passou a dar sessões de cinema
mudo no largo fronteiro à Torre dos Clérigos, na Cordoaria, onde se conservou
bastante tempo e para além da inauguração, em Fevereiro de 1908, do novo salão
High-Life, na Praça da Batalha, do mesmo proprietário.
No ano de 1906, a
Câmara Municipal anunciou a mudança da feira de S. Miguel para o largo da Arca
d’Água. Todavia, os feirantes, de comum acordo e fazendo orelhas moucas,
deliberaram tomar de arrendamento um terreno particular na mesma rotunda da
Boavista (onde estivera uma praça de touros) e aí continuaram a realizá-la pelo
curto período de 2 ou 3 anos”.
Uma outra feira, a Feira
de S. Bento, tinha lugar junto ao convento de S. Bento da Ave-Maria e
realizava-se à terça-feira supondo-se ter começado em 1587 por acordo da Câmara
e da Casa dos 24.
Manuel Pereira de
Novais já a ela se refere em 1690. A partir de 1736 passou a ser diária. Em
27/7/1838 foi extinta tendo os feirantes passado para o novo Mercado do Bolhão.
Por alguma razão esse local foi conhecido por Largo da Feira de S. Bento.
Em 1862 ainda se realizava no Largo de S. Roque ou Largo de
Sant’Ana a Feira dos Panos, mas, a 5
de Fevereiro daquele ano, por deliberação da Câmara, ela haveria de ser
transferida para o mercado do Bolhão.
Para as bandas, do Campo 24 de Agosto, em tempos, havia duas
feiras - a do gado bovino, que se realizava às terças e sextas-feiras, já
funcionava em 1833 e passou, em 1868, para o Largo da Póvoa de Cima,
actual Praça da Rainha D. Amélia e a feira de cavalos, que era mensal e que só
em 1892 foi mudada para a Praça da Corujeira.
“Desde tempos imemoriais, mas não sempre no
mesmo sítio se efectuavam nesta cidade duas feiras anuais de moços e moças da
lavoura. Uma para os trabalhos de verão; outra para os de inverno. A primeira
realizava-se no mês de Abril; a segunda em Novembro. Como é mais ou menos
sabido, um dos lugares em que mais tempo se conservou esta feira, foi no Largo
dos Ferradores (actual Praça de Carlos Alberto), para onde tinha sido
removida em Abril de 1858. No ano de 1876, todavia, por determinação camarária,
levaram-na para a Rotunda da Boavista; e, mais tarde, estacionou ainda na Praça
da Corujeira.
Igualmente no Largo dos Ferradores em
tempos mais recuados (1676), se efectuava uma feira de gado, feira esta que
também conheceu vários locais. Em 1838, por exemplo, realizava-se no Campo
Grande, próximo do Poço das Patas.
Já que falamos em feiras, diremos que a feira
da erva e palha funcionou, durante longos anos, juntamente com a feira da
madeira, na Praça das Hortas. Daqui, em 1823, transitou para a Praça
do Mirante, actual Praça do Coronel Pacheco (Os terrenos desta Praça, assim
como aqueles em que se abriu a Rua dos Bragas, pertenciam a um casal rústico
chamado dos Carvalhos do Monte já referido em documentos da Misericórdia
do Porto de 1508 - «casal de Carvalhos do Monte, prez da cidade» à beira da
estrada de Braga).
Anos depois, implantaram-na na Praça da
Batalha e a seguir foi para o mercado do Bolhão.
Em Outubro de 1838, saltou ainda para a Alameda
do Postigo do Sol, junto do mirante das freiras de Santa Clara e, por
último, voltou novamente para o Bolhão onde finalmente se conservou até
à sua extinção.
Desde não se sabe quando até 1843, funcionou
no Largo dos Ferradores, às terças e sextas- feiras uma feira de carvão,
palha e lenha, varas de madeira, tamancos e caixas de madeira de pinho e por
isso esse largo foi chamado de Largo da Feira das Caixas. A partir de
1843 só os tamancos e caixas serão vendidos aí, passando os restantes artigos
para a Praça do Mirante.
A da madeira em carros passou para a Praça da
Trindade por edital de 28 de Dezembro de 1838.
Com a abertura dos mercados do Anjo e do
Bolhão estas feiras foram perdendo importância.
Na esquina entre o Largo dos Ferradores
(Praça Carlos Alberto) e a Praça de Santa Teresa, existiam várias mercearias,
tendo-se notabilizado a mercearia dos Penas,
como a mais famosa na época (“As casas eram quase todas baixas, com um andar e
trapeiras”).
Nas escadas que ligavam com a praceta do
Moinho de Vento ficava um outro motivo de atração, a Arca (hoje Sá Noronha),
que recebia, com a água dos mananciais de Salgueiros, a de Paranhos, “a melhor
água do Porto”(…).
No Porto os mercados públicos tiveram sempre
grandes tradições, fossem eles de artigos de consumo corrente ou de
velharias.
No século XVIII, mais concretamente em 26 de
março de 1784, foi aprovado pela Câmara o projeto da construção de uma arcada
no Largo de Santo Elói, "para a venda de peixe". Esse projeto
nunca foi por diante. Mas funcionaram por ali outros mercados e feiras. Num
deles, o mais concorrido, segundo as crónicas da época, vinha de antes de 1822
e nele se vendia “ queijo e carne de porco a retalho”; na atual Praça da
Liberdade fazia-se um mercado de pão e de doces; à entrada da Rua do Souto,
onde agora passa a Rua de Mouzinho da Silveira, montavam banca as vendedeiras
de galinhas e de teias de pano de linho; e no antigo Largo do Correio,
agora Rua de Cândido dos Reis, vendiam-se flores e fazia-se o mercado dos
ferros-velhos.
A história do Mercado dos Ferros-velhos,
que podemos considerar como antecessor da atual Feira de Vandoma, começou em
1839. No relatório da Câmara do Porto desse ano, lê-se o seguinte:
« (...) vendo que uma cidade como a nossa, a
segunda capital do reino, e primeira das provindas do Norte, não tem, como a de
Lisboa, um sítio para os vendedores ambulantes exporem e venderem os objetos
que não são novos, mas velhos e usados, resolveu destinar para esse fim todo o
local junto ao Postigo do Sol, fronteiro ao muro da cidade e sobranceiro aos
Guindais, dando-lhe o título de Feira da Ladra.»
Aquele nome de "Ladra" não tem nada
a ver com o feminino de ladrão. Tem a ver, sim, com a palavra "lázaro"
ou "ladro", que têm o significado de "lazarento", ou
"miserável". Ainda hoje, quando associamos miséria a imundície,
dizemos "lazeira". E as feiras da ladra, em alguns casos, eram estendais
de miséria.
A feira junto aos Guindais deve ter durado
muito pouco tempo, porque, ainda em 1839, já no fim do ano, ela se realiza no
tal Largo do Correio, onde já havia um antigo "lugar das adeleiras ou seja
das mulheres que vendiam artigos usados.
No bairro das Carmelitas, que era onde ficava
o tal Largo do Correio e onde depois se abriu a Rua de Cândido dos Reis, a
Feira da Ladra, ou dos Ferros-Velhos, como popularmente era conhecida,
funcionou até 1901, ano em que foi definitivamente extinta.
Definitivamente, não. Porque ressurgiu, já
nos nossos dias, junto à Sé, na calçada de Vandoma, de que tomou o nome. Não
tardou a crescer. Estendeu-se pelo terreiro da Sé e, mais tarde, alongou-se até
à Rua de D. Hugo. E como não parasse de crescer, mudou-se para as Fontainhas”.
Com a devida vénia a
Germano Silva
A Feira de Vandoma foi transferida, depois de muita
contestação, em 2016, para a Avenida 25 de Abril, para os lados da Corujeira.
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