11.15 O Mercado do Bolhão
As origens do Mercado do Bolhão, um dos edifícios mais
emblemáticos da cidade, remontam a 15 de Novembro de 1837, quando a Câmara do
Porto decidiu construir um mercado em terrenos de José António de Sequeira,
tendo adquirido por 3600$000 réis dois lameiros chamados de Riba e de Baixo.
Este local era atravessado por um regato que ali formava uma bolha de água, de
que resultou o nome do mercado, “Bolhão”.
O primeiro plano para o mercado do Bolhão, foi traçado por Joaquim Costa Lima Júnior (1807-1864) que, em 25 de Julho de 1853, haveria de ser nomeado arquitecto da Repartição das Obras Públicas da Câmara Municipal do Porto.
Bolhão significa "bolha grande" e tem a origem do
seu nome, no local do próprio mercado, edificado sobre uma nascente de água
(bolhão) que ali existia. Há dois séculos, onde hoje é o coração da baixa do
Porto, ali havia um grande lameiro, parte integrante de uma quinta, onde
serpenteavam ribeiros e algumas serventias, vielas e ruelas já desaparecidas
como, a Travessa do Grande Hotel, a Travessa de
S. Marcos e a Travessa de S. Marçal, das quais
só restam parcos vestígios, e a ainda existente Travessa das Almas.
«Bolhão significa uma
bolha grande, um borbotão de água. E na verdade a origem do topónimo está numa
grande nascente de água que existia - e naturalmente existe - no próprio local
onde hoje se ergue o mercado. Ali, havia, ainda há menos de dois séculos, um
grande lameiro, terras alagadiças, junto a uma quinta de que eram directos
senhorios os condes de S. Martinho.
É de 1741 a primeira
referência que conhecemos ao Sítio do Bolhão. Em 1837 a Câmara decidiu instalar
ali um mercado, mas as respectivas barracas só começaram a edificar-se em 1851,
«com duas frentes alinhadas a todo o correr da praça»
"Toponímia Portuense" de Eugénio Andrea da
Cunha e Freitas
A actual Rua
do Bolhão, não é nenhuma das ruas que circundam o famoso mercado, mas,
fica a noroeste do mesmo, a cerca de poucos metros e liga a Rua Fernandes Tomás à Rua Guedes de Azevedo, tendo como
imediatamente paralelas, a Rua Sá da Bandeira, a oriente, e a Rua do Bonjardim,
a ocidente.
A actual Rua do Bolhão aparece já com o nome de Rua
de São José do Bolhão, num documento da Misericórdia de 1763 e,
pensa-se que, deve o seu nome a uma bica que existiria, por perto, chamada
exactamente de Fonte do Bolhão.
A Fonte do Bolhão seria, mais tarde, retirada e movimentada
para junto do mercado do Bolhão, ficando a ser conhecido por Tanque do Bolhão.
Legenda
1. Rua da Santa Catarina
2. Rua do Bonjardim
3. Rua do Bolhão (Rua Fernandes Tomás)
4. Viela de Fradelos (Rua Sá da Bandeira)
5. Travessa de Fradelos (Rua do Bolhão)
A. Capela das Almas
X. Local de instalação do futuro mercado do Bolhão
B. Fonte do Bolhão
Em tempos, existiu realmente um troço da Rua Fernandes
Tomás, entre a Rua do Bonjardim e a de Santa Catarina, com o nome de Rua
Nova de S. Marçal, depois Rua
Santo António do Bolhão, e finalmente só Rua do Bolhão, mas este
nome não vingou, embora, o tanque à entrada do mercado passasse a ser conhecido
como, Tanque do Bolhão.
Com a construção do mercado do Bolhão, a Câmara pretendeu aí
instalar, todos os mercados espalhados pela cidade, à excepção dos do Anjo e da
Ribeira.
Em 1842, para guardar e manter a ordem no mercado, a Câmara
destacou para o local, um corpo de guarda constituído por um cabo e 3 soldados.
Alguns anos depois, em 1859, esta praça foi melhorada com a
construção de rampas de acesso e barracas de madeira no corredor central do
mercado e começou a substituir o mercado do Anjo na venda de carne de porco e peixe. Entretanto, um novo tanque passou a servir o mercado.
Mercado do Bolhão, c. 1900. Ao fundo, os prédios da Rua Ocidental do Bolhão, futura Rua de Sá da Bandeira
Mais tarde, no início do século XX, os governantes decidiram
construir um novo mercado, de forma a assegurar o abastecimento de alimentos
que permitisse a expansão da cidade.
Foi então, que em 1910, surgiu um ante-projecto do
arquitecto, Casimiro Barbosa, que previa um edifício com duas alas, tendo a Rua
de Sá da Bandeira como eixo central. Este projecto seria abandonado por razões
económicas, acabando por ser construído, em 1914, o actual edifício, num
projecto desenhado pelo arquitecto Correia da Silva. Tratou-se de uma obra de
vanguarda para a época, devido à utilização do betão armado, em conjugação com
estruturas metálicas, coberturas em madeira e cantaria de pedra granítica.
A cobertura, que nunca existiu, está no projecto original.
Acontece que nessa proposta original a estrutura pesava 250
toneladas e, como o mercado está construído sobre terrenos pantanosos, ninguém
se arriscou a concretizar aquela cobertura.
Aquela instabilidade do solo, impediu que ela fosse erguida.
Inaugurado o novo
mercado em Julho de 1915, o povo, dada a sua grandiosidade, passou a chamar-lhe
o "Palácio do Repolho".
Em 18 de Maio de
1916, é descerrado o grande grupo escultórico que encima a fachada principal
voltada para a Rua Formosa, no qual as figuras do Comércio e da Agricultura
emolduram as armas da cidade, sobre um fundo de flores e frutos.
Acesso antigo ao Bolhão pela Rua Fernandes Tomás, c. 1910
“Nas fotos anteriores,
podem ver-se as rampas de acesso ao primitivo mercado, destacando-se em cima
(na primeira), a coluna designada por «Memória do Bolhão», inaugurado em 9 de
Julho de 1862 em memória do rei D. Pedro V, constituído por coluna em granito
de sete metros e meio de altura assente num pedestal de quatro faces, rematada
por uma estrela de bronze e rodeada por uma grade de ferro fundido, situada em
frente á antiga Fundição do Bolhão e Estamparia do Bolhão na Rua Fernandes
Tomás”.
In portoantigo.org
O transporte do obelisco, denominado a "Memória do
Bolhão", desde as pedreiras de Águas Santas até Fernandes Tomás demorou 14
dias e empregou 20 juntas de bois e 40 operários.
A «Memória do Bolhão» foi, justamente, retirada em 1914,
quando da construção do novo mercado.
Actualmente, encontra-se no cemitério do Prado do Repouso,
junto ao jazigo dos bombeiros falecidos.
O mercado e as suas barracas em madeira, antes de 1914, visto de cima da
Rua Fernandes Tomás – Ed. Arnaldo Soares
Vista para a Rua Fernandes Tomás, em 1912
Na foto anterior, observa-se o início das demolições para
construção do novo mercado do Bolhão.
Desenvolvido em volta de um chafariz com quatro bicas, o
mercado ficou com dois pisos ligados por várias escadarias e um amplo pátio
central.
Entretanto, a 16 de Julho de 1924, a Estamparia do Bolhão
foi alvo de um pavoroso incêndio, na altura considerado um dos maiores do país,
que destruiria completamente a enorme estamparia e três prédios contíguos.
Na foto acima, os prédios em frente estão na Rua Formosa; à
esquerda (nascente da Rua Alexandre Braga), todo o correr da rua estava ocupado
por casas de modesta construção, intercaladas por alguns quintais pertencentes
a casas da Rua de Santa Catarina. Aquelas casas, na sua maioria, eram ocupadas
por adeleiras, farrapeiras e lojas de louça, cujo artigo pejava a rua; à
direita (poente da Rua Alexandre Braga), estavam, à data, em todo o correr da
rua, as traseiras das barracas em madeira (não visíveis) do mercado do Bolhão.
Junto de algumas, a meio, realizava-se, ao Domingo, uma feira de passarinhos.
“Não havia
portuense, algum que ao Domingo, depois de tomar o seu cafezito, vestir as suas
roupas domingueiras, não fosse à velha praça do mercado dar um passeiozito e
visitar os passarinhos”.
Ao longo da sua história, o mercado foi sofrendo algumas
alterações, ocorrendo, na década de 40, do século XX, a construção do piso que
divide o edifício, fazendo a ligação das entradas entre as ruas Alexandre Braga
e Sá da Bandeira, através de uma galeria coberta.
Na foto acima, pode ver-se que os edifícios a nascente do
mercado, na Rua Oriental do Bolhão actual Rua Alexandre Braga e que antes
tinha sido Rua de S. Marçal, ainda não tinham sido levantados.
Do lado oriental do
antigo mercado do Bolhão existiu, portanto, a Rua Oriental do Bolhão.
Do lado ocidental do
antigo mercado do Bolhão, passava a Rua
Ocidental do Bolhão, por onde, mais tarde, haveria de ser lançado o
prolongamento da Rua de Sá da Bandeira.
O edifício do Mercado do Bolhão, que se
encontrava severamente degradado, foi alvo de uma grande intervenção, durante cerca de quatro anos e, em 15 de Setembro de 2022, abriria completamente renovado. Continuaria a oferecer os produtos comercializados pelos comerciantes tradicionais que, enquanto duraram as obras, estiveram num espaço provisório de um centro comercial (La Vie) localizado na Rua de Fernandes Tomás.
O novo edifício do Mercado do Bolhão apresenta quarenta lojas ao longo do seu perímetro, com porta para as quatro ruas envolventes.
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