A construção do
Porto de Leixões, que começaria por ser um porto de abrigo, consistiu na
construção de dois molhes, um a norte e outro a sul, situados na foz do rio
Leça.
Nessa tarefa tiveram um desempenho fundamental duas gigantescas máquinas, deslizando sobre carris, denominadas de Titans.
Nessa tarefa tiveram um desempenho fundamental duas gigantescas máquinas, deslizando sobre carris, denominadas de Titans.
Construção de um
molhe por um Titã
Titã em trabalho - Ed.
Emílio Biel
Na foto acima de
Emílio Biel (In Porto de Leixões, fotografias de Domingos Alvão. Emílio Biel
APDL 1998), observa-se a construção do Molhe do Norte visto dos rochedos de
Leixões.
Intervieram na
construção do porto 2 guindastes do género da foto, e que, devido ao seu porte,
foram denominados de Titãs.
Eram accionados a
vapor produzido numa caldeira instalada no seu cimo, o que pode ser visto na
foto.
Ao longo dos anos,
os Titans foram chamados a proceder a reparações dos molhes danificados por
grandes temporais. Foi o caso de um, ocorrido nos inícios do século XX, de
cujos danos o fotógrafo Alvão deixou o seu registo para a posteridade.
Construção do molhe
sul por um Titan, c. 1885
Danos sofridos pelo
molhe sul do Porto de Leixões no início do século XX
Molhe sul (reparado) do Porto
de Leixões e farolim
Após uma longa inactividade, em 12 de Abril de
2012 aquando da desmontagem do Titã localizado a Sul, (que, segundo um
responsável da APDL -Administração dos Portos do Douro e Leixões- obstava à construção da estação de passageiros no Terminal
de Cruzeiros, colidindo, portanto, com a construção desse edifício, a que acrescia o
estado de degradação da estrutura, muito instável e com um elevado nível de
corrosão), ocorreu um acidente que provocou o colapso de parte da estrutura,
seguido de um incêndio, provocando inclusive, uma vítima mortal.
Titã ou Titan, molhe
sul, 1927
Este Titã, ou o que
dele restava, esteve, durante cerca de oito anos, num amontoado de ferros
dentro do porto, em área adjacente à Rua Heróis de França.
Em 27 de Novembro de 2020, a Administração dos Portos do Douro, Leixões e Viana do Castelo (APDL) anunciaria o restauro do icónico Titan de Leixões. O Projecto "Titan – O Renascer" seria coordenado, cientificamente, pelo historiador Joel Cleto e executado pela empresa Macwide. O conjunto do investimento infraestrutural e de programação, orçado em cerca de €2 milhões de euros, permitirá possibilitar a visita à infraestrutura e contará com um programa que envolve toda a comunidade escolar e artística da região. A inauguração decorreu em 7 de Outubro de 2021.
Quanto ao situado no
molhe Norte, é bem visível, também, o seu estado de degradação, que pode ser
bem de perto observável, uma vez por ano, quando é permitida pela APDL a visita
anual às instalações portuárias, no dia do Porto de Leixões.
Este Titã, em 1892, cairia ao mar, devido a um temporal ocorrido na noite de 22 para 23 de Dezembro de 1892, sendo recuperado, mais tarde, em meados de 1896, depois de muitos estudos, esforços e tentativas. Acabaria por retomar a actividade e acompanhado pelo seu gémeo, continuariam na tarefa de construção dos cais de embarque.
Em 27 de Novembro de 2020, a Administração dos Portos do Douro, Leixões e Viana do Castelo (APDL) anunciaria o restauro do icónico Titan de Leixões. O Projecto "Titan – O Renascer" seria coordenado, cientificamente, pelo historiador Joel Cleto e executado pela empresa Macwide. O conjunto do investimento infraestrutural e de programação, orçado em cerca de €2 milhões de euros, permitirá possibilitar a visita à infraestrutura e contará com um programa que envolve toda a comunidade escolar e artística da região. A inauguração decorreu em 7 de Outubro de 2021.
Intervenção no Titan
do molhe sul – Fonte: APDL
Titan depois de
recuperado, no molhe sul, junto ao Terminal de Cruzeiros – Fonte: Jornal
Público (07/10/2021)
Este Titã, em 1892, cairia ao mar, devido a um temporal ocorrido na noite de 22 para 23 de Dezembro de 1892, sendo recuperado, mais tarde, em meados de 1896, depois de muitos estudos, esforços e tentativas. Acabaria por retomar a actividade e acompanhado pelo seu gémeo, continuariam na tarefa de construção dos cais de embarque.
Durante a construção dos molhes, que durou cerca de onze anos, foram utilizados como auxiliares dos Titans, umas máquinas (a vapor) de movimentação de cargas, as chamadas "caranguejeiras", que faziam o transporte das pesadas pedras de granito, descarregadas nos estaleiros pelo comboio proveniente de S. Gens.
Para o efeito, um estaleiro tinha sido montado no lado sul (junto do Senhor do Padrão) e outro no lado norte (junto do castelo de Leça).
Durante a construção
dos molhes, D. Luiz I faria uma visita às obras do Porto de Abrigo de Leixões,
em 27 de Setembro de 1887, tendo oportunidade de ver a funcionar os Titans.
Placa gravada em
pedra, no molhe Sul do Porto de Leixões, com data de 27 de Setembro de 1887 – Ed.
Mac
Concluídos que foram
os molhes, logo se tornou necessário construir os cais de acostamento dos
navios que recolhiam ao porto de abrigo, entrado em funcionamento.
Um cais acostável no
molhe sul começaria a ser construído em 1914 e estaria completamente concluído
em 1931.
Antes do porto estar
dotado com os cais acostáveis os passageiros eram levados para os vapores, em
lanchas, como se vê no postal acima.
O porto de Leixões, em 1934, antes da construção da Doca nº 1
De porto de abrigo
a porto comercial
“Em Fevereiro de 1895 estavam dados por
concluídos os trabalhos da construção do porto de abrigo. Era no entanto
evidente a utilidade e necessidade de o transformar num verdadeiro porto
comercial. O número de navios que, como vimos, ainda durante a sua construção
se socorreu de Leixões, cresce de uma forma esmagadora desde então. Os 409
navios entrados no porto em 1893 ascenderiam, dez anos depois, a 665. Duas
décadas mais tarde, em 1913, o seu número mais do que duplicara (876 navios). E
em 1926 o Douro já só movimentava 22% do tráfego do conjunto portuário.
Não deixa, contudo, de ser marcante o apego
resistente, quase teimoso, da cidade do Porto aos seus antigos ancoradouros do
Douro. Não obstante a construção em finais do século XIX do porto de abrigo de
Leixões e a sua posterior adaptação a porto comercial, e fazendo por esquecer
os naufrágios que continuavam a ocorrer na barra, como o do vapor alemão
«Dieister» em 3 de Fevereiro de 1929, no qual pereceu toda a sua tripulação
constituída por 24 homens, o Douro mantinha ainda, em 1931, uma actividade
significativa, magistralmente registada por Manoel de Oliveira no seu primeiro
filme: Douro, faina fluvial.
Seriam no entanto os Homens, ou a Natureza
pela mão destes, que a partir dos finais dos anos quarenta do século XX
condenariam a navegabilidade na foz do Douro. Na origem de tal condição esteve
a construção das barragens de aproveitamento hidroeléctrico do rio que,
evitando as repetidas e por vezes gigantescas cheias, contribuiu decisivamente
para a diminuição da limpeza natural da corrente e para o assoreamento do
Cabedelo. E a tonelagem e calado dos navios, em contrapartida, não paravam de
crescer...
O Douro, como porto comercial, desapareceria
durante as duas décadas seguintes. E até embarcações características, como os
barcos rabelos e os rabões carvoeiros, são transformados em elementos
turísticos e decorativos.
Produtos tradicionais ligados desde há
séculos ao rio, como o Vinho do Porto, passam também eles a ser exportados por
Leixões ou por outros meios. Em 15 de Março de 1963, o navio «Silver Valley» é
o intérprete do último grande naufrágio ocorrido na barra. Em 1971 não se
regista nenhum movimento no Cais da Estiva. O de Gaia não lhe sobreviverá muito
mais. E, em 1976, o rio já não representava mais do que 2% do tráfego portuário
do Douro-Leixões. Hoje, uma residual actividade ligada à descarga de cimento no
depósito da Arrábida é a excepção que confirma a regra.
Paralelamente, a história de Leixões é
caracterizada, durante este período, por um ritmo impressionante de construções
e inovações. Como que, no discorrer do século XX, procurasse recuperar da
demora que lhe haviam imposto. Uma autêntica luta contra o tempo que, se em
muitos casos ainda surtiu efeito, em muitos outros revelou-se ser já bastante
tardia...
Mas nem sempre tal preocupação foi evidente.
Caso paradigmático foi o do início da adaptação do porto de abrigo a porto
comercial. Com efeito, se é verdade que quando o primeiro se encontra
concluído, em 1895, era já pacífica e desejada a evolução para o estádio
seguinte, ter-se-ia no entanto que esperar pela República para que tal plano se
concretizasse. Data, com efeito, de 1912 o projecto do Eng. Henrique Carvalho de
Assunção visando tal desiderato. E seria necessário esperar por 1914 para
que os trabalhos se iniciassem. Pelo meio ficava a aprovação, em 23 de
Abril de 1913, de uma lei que previa a transformação de Leixões em porto
comercial e a criação de um organismo que passaria a gerir a construção e
exploração desta estrutura portuária: a Junta Autónoma das Obras Marítimas do
Porto do Douro Leixões. É esta Junta Autónoma, na génese da actual APDL -
Administração dos Portos do Douro e Leixões, que um ano depois contrai um
empréstimo à Caixa Geral de Depósitos com o objectivo de dar início às obras.
Valor do empréstimo: mil contos.
Os trabalhos consistiram na adaptação, no
molhe sul, de um cais acostável, com cerca de 400 metros de comprimento que
permitia a sua utilização por navios que podiam atingir até 23 pés de
profundidade.
Embora fosse fundamental e não se revestisse
de um grau de complexidade muito significativo, se comparado com a edificação
dos molhes pouco tempo antes, a verdade é que a construção do cais se
arrastaria por muitos anos. A 1ª Guerra Mundial e a falta de recursos
financeiros explicam que a obra tivesse sido interrompida de 1916 a 1921.
Mesmo assim, só seria dada por concluída em 1931. Era já, então,
manifestamente insuficiente, além de que, quando a ondulação aumentava de
intensidade, as embarcações tinham, urgentemente, de desatracar...
Havia pois que encontrar uma rápida solução.
E ela surgiu. Mas a estratégia agora era outra. O porto já não era conquistado
ao mar, mas entrava terra adentro, abrindo-se no próprio estuário do Leça...
Desapareciam assim as velhas e seculares margens de Matosinhos e Leça da
Palmeira.
Apenas dois anos depois da conclusão do cais
acostável no molhe sul era, em 1932, iniciada a construção da doca nº 1,
concluída oito anos depois e solenemente inaugurada em 4 de Julho de 1940
com a entrada do navio da marinha de guerra «Bartolomeu Dias». Durante este
período foi iniciada também a construção, na entrada do porto, de um extenso
quebra-mar. A empresa responsável por tal intervenção foi a «Anglo-Dutch
Engineering and Harbour Works Cº Ltd» enquanto a «Sociedad Metroplitana de
Construccion, de Barcelona» ficou com a empreitada da construção da nova doca.
(…) a abertura da doca nº1 foi um caso raro
de rápida idealização e edificação. A verdade é que a ideia de aproveitar o
vale do rio para prolongamento do complexo portuário surgira já pela primeira
vez em 1893 quando tal hipótese é equacionada pela comissão nomeada pelo
governo para estudar a adaptação de Leixões a porto comercial, liderada pelo
engenheiro João Thomaz da Costa e João José Pereira Dinis. Quatorze anos
depois, em 1907, surge um notável projecto, da autoria dos engenheiros Adolpho
Loureiro e Santos Viegas, que desenvolve amplamente a ideia de localizar todo o
conjunto das docas no vale e que, com ligeiras alterações, acabará por servir
de projecto-guia a todo o processo de expansão portuário do século XX. Mas,
apesar de datado de 1907, seria necessário esperar por 1940 para que a doca
nº1, com os seus 550 metros de comprimento por 175 de largura, com dois cais
acostáveis num total de mil metros, fosse inaugurada.
Os números são elucidativos quanto ao que
esta nova doca representou para o crescimento do porto: as 340 mil toneladas
que movimentou em 1941 ascenderam rapidamente a 700 mil em 1949 e a 900 mil em
1959.
Este processo de expansão impulsionou um
programa audacioso do Eng. Henrique Schrek que, com uma rara visão, previu a
evolução do tráfego marítimo e propôs, em 1955, uma ampliação das estruturas
portuárias ao longo do vale do Leça. Nasceria assim a Doca nº 2, programada
para ocupar uma área de cerca de 500 mil metros quadrados e cujas obras,
iniciadas em 1956, se prolongariam até meados da década de 70. Durante esse
período de tempo, no entanto, a fisionomia do porto e da cidade iria ser
alterada, significativamente. Com efeito Henrique Schreck, prevendo também o
desenvolvimento da crescente articulação do tráfego portuário com o rodoviário,
prestou particular atenção às áreas envolventes do porto, nomeadamente do ponto
de vista das acessibilidades. Assim, além dos canais de acesso e ligação à
doca, e dos longos cais de acostagem, multiplicar-se-iam os armazéns, as amplas
avenidas circunstantes, os viadutos, pontes... Símbolo deste processo é a ponte
móvel que hoje se localiza entre as docas nº 1 e nº 2, ligando Matosinhos a
Leça da Palmeira. Baseada num ante-projecto dos Engenheiros Correia de Araújo e
Campos Matos, foi construída pela empresa L. Dargent e aberta ao trânsito em
1959.
Fonte – Site: “apdl.pt”
Construção da Doca nº 1, em 1936
Obras, em 1940, da construção dos acessos envolventes à Doca nº 1, na confluência com a Rua Brito Capelo, o que implicou a demolição dos prédios da foto
Doca nº 1
Para a construção da
doca nº1 foi necessário fazer a movimentação duma quantidade enorme de terras.
Estas seriam depositadas para lá do farol de Leça da Palmeira, na hoje chamada
Praia do Aterro.
Via-férrea entre o
Porto de Leixões e a Praia do Aterro
Doca nº 1 com o
característico Mercado de Matosinhos, à esquerda
Doca nº 1 inaugurada
em 1940
Ponte do Eléctrico
após construção da Doca nº 1 e antes do levantamento da 1ª Ponte-Móvel (aberta
a peões em 1959 e a veículos em 1961) com Mercado de Matosinhos no horizonte
A 1ª ponte-móvel
sobre o porto de Leixões foi uma ponte metálica basculante, com 58,56 m de vão
livre dividido em 2 tramos.
Construção da 1ª
Ponte-móvel
1ª Ponte-móvel em
funcionamento
1ª Ponte Móvel entre
a doca nº 1 e doca nº 2, aberta aos peões em 1959
Sobre a Ponte Móvel acima é o texto seguinte:
“A sua construção
implicou arranjos urbanísticos e a construção de viadutos de acesso em Leça da Palmeira
e em Matosinhos, que se prolongaram até 1960.
Inaugurada a
20/10/1961 (sexta-feira) com a presença do Presidente da República Américo
Tomaz, embora tenha aberto aos peões em 1959/60, a ponte móvel abriu ao
trânsito de veículos ligeiros a 20/10/1961 e veio substituir as pontes
anteriores que ligavam Matosinhos a Leça da Palmeira e que foram destruídas
pela abertura da Doca n.º 1 do porto comercial de Leixões.
A pensar no futuro
alargamento do porto de mar, optou-se por uma ponte levadiça.
No entanto, esta ponte
acabou por ser encerrada a 08/01/2007 para ser substituída nesse mesmo ano por
uma nova estrutura similar, mas mais alta e larga, para permitir o acesso dos
navios porta-contentores à Doca n.º 4 do porto de Leixões:
a atual Ponte Móvel
foi inaugurada a 30/07/2007, estando em 2006 o início da sua construção
previsto para o 1.º trimestre de 2007.
Atual Ponte Móvel
sobre o porto de Leixões é a 4.ª maior ponte basculante do mundo, com um vão de
92 m e incorporando 1300 toneladas de aço”.
Com a devida vénia a José Rodrigues, In Site: flickr.com
Actual Ponte Móvel – Ed. Site: jf-matosinhoslecapalmeira.pt
Cronologia sobre a
construção do Porto de Leixões e suas imediações
1. Entre 1884 e 1892, é construído o Porto de abrigo e os
molhes Norte e Sul.
2. Em 1914, é iniciada uma intervenção sobre o molhe Sul de
modo a dotá-lo de um cais acostável, que devido a várias vicissitudes, só seria
concluído, definitivamente, em 1931.
3. Entre 1932 e 1940, seria construída a doca nº 1.
4. Em 27 de Maio de 1952, seria inaugurado o novo Mercado de
Matosinhos.
5. Entre 1956 e meados da década de 1970, seria o porto
beneficiado com a doca nº 2 e seria construída, por isso, a 1ª ponte-móvel,
aberta ao trânsito de peões em 1959 e de veículos em 1961.
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