segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

(Continuação 19) - Actualização em 01/04/2020



“A primeira referência na história da aviação sucedeu no dia 20 de Junho de 1540, quando o sapateiro João Torto saltou da torre da sé de Viseu com um engenho construído por si, numa tentativa falhada para alcançar o céu.
Em 1709, o padre português, Bartolomeu de Gusmão apresentou em Lisboa um evento revolucionário ao rei D. João V onde fez um pequeno balão de ar quente elevar-se no ar.
Bartolomeu de Gusmão foi então o inventor do aeróstato, tendo aberto assim as portas à aerostação e à aviação.
O primeiro aeronauta português foi Abreu de Oliveira quando no dia 17 de Maio de 1884 se elevou num balão a gás na tapada da Ajuda acabando por cair no rio Tejo perto do Cais do Sodré. Apesar de ter sido um voo curto e mal acabado confere a Abreu de Oliveira ter sido o primeiro português a realizar uma ascensão em aeróstato.
Cipriano Pereira Jardim foi o inventor do balão dirigível, tendo assim construído um dirigível com fins militares (a hidrogénio com propulsão de um motor eléctrico), no final do século XIX.
Às primeiras exibições de aviões na zona do Castelo do Queijo (Na área que é hoje o Parque Ocidental da cidade) em 1912, outras iniciativas foram sucedendo ao longo dos anos, nomeadamente no campo de Espinho.
Em 1929 surge o primeiro núcleo associativo, o «Núcleo do Norte do Aero Clube de Portugal» que veio a dar origem ao Aero Clube do Porto.
Visando a criação de um verdadeira pista de aviação, o clube adquiriu em 21 de Março de 1934 uns terrenos, na freguesia da Senhora da Hora, para a construção do Campo de Aviação do Porto. No entanto, tal pretensão foi prontamente chumbada pelas autoridades logo no mês seguinte.
Ainda assim, tal campo foi palco de vários festivais de aviação e era utilizado com alguma frequência até à decisão de construção definitiva do Campo de Aviação do Porto junto à localidade de Pedras Rubras em 1940”.
Mário João Mesquita, In «A Cidade dos Transportes», Porto, 2008




Em 1934 tentou-se então, instalar, em terrenos da Senhora da Hora, um campo de aviação, pretensão que seria recusada pelas autoridades.



Projecto da localização do campo de aviação da Senhora da Hora


Legenda:

1. Campo de aviação
2. Estrada da Circunvalação
3. Rua do Monte dos Burgos
4. Rua da Preciosa
5. Rua da Vilarinha
6. Avenida da Boavista



No mapa acima, é possível ver assinalada a Rua da Preciosa (antiga Rua de Pereiró), que cruza a Estrada da Circunvalação, podendo estabelecer-se que os terrenos do antigo «Campo de Aviação», ficavam sensivelmente em cima da actual Avenida AEP/Marechal Carmona e terrenos do hipermercado Continente.
A via recta que atravessa da direita para a esquerda é a Avenida da Boavista e sobre a direita, a via vertical à estrada da Circunvalação, é a Rua do Monte dos Burgos.
Em 7 de Setembro de 1912, junto do Castelo do Queijo, em terrenos do Conde do Campo Belo e do engenheiro Joaquim Ferreira Pinto Basto, onde hoje se situa o Edifício Transparente, teve lugar uma demonstração de pilotagem aérea, no 1º voo de um aeroplano na cidade do Porto, que teve o seguinte tratamento noticioso:


“Hontem, às 6 horas e 10 minutos da tarde, tendo abrandado forte ventania, levantou o primeiro voo do biplano da creche 'O Comercio do Porto'.
O aparelho, manobrado habilmente por mister Trescartes, ergueu-se garbosamente do aeródromo e cortou o espaço em diversas direcções, subindo a 800 metros".
[...] "a concorrência era numerosíssima, despejando os carros da Companhia Carris e dos Caminhos- de- Ferro do Porto muitíssimas pessoas, não contando com as que foram em automóveis, trens, bicycletas e motocycletas e a pé".
In Jornal de Notícias 8 de Setembro de 1912


Entre os dias 7 e 15 de Setembro, os voos de exibição sucederam-se.


“Foi assim que o Jornal de Notícias registou aquele que estava anunciado como o primeiro voo de avião em Portugal, feito a partir de um aeródromo improvisado junto ao Castelo do Queijo, no sábado 7 de Setembro de 1912.
Na verdade, o primeiro voo tinha sido realizado dois anos antes, por Julien Mamet, num Blériot XI, em Lisboa.
Mas foi uma primeira vez para a multidão, 60 mil pessoas segundo as crónicas, que quis ver a desengonçada máquina levantar voo.
Segundo Nunes da Ponte, em "Recordando o Velho Burgo", até no Monte Castro, em Gondomar, se aglomerou "uma verdadeira pilha humana" para tentar ver o avião.
Depois de um teste, no primeiro voo oficial o biplano MF4 elevou-se a 300 metros e, após algumas voltas sobre o campo, seguiu em direcção ao Porto, passando por cima do rio Douro, Praça da Liberdade, Marquês do Pombal e Torre dos Clérigos. Permaneceu no ar durante 16 minutos.
Angariar dinheiro para a construção da obra social das Creches "Comércio do Porto" foi o pretexto para este gesto pioneiro. A lembrança foi do industrial António da Silva Marinho, que adquiriu o avião militar em Paris, fazendo transportar até Leixões a bordo de um paquete. À iniciativa aderiram numerosas entidades e pessoas, tentando rentabilizar ao máximo o evento, num gesto percursor da verdadeira acção de marketing a que hoje os portuenses podem assistir. O "desportista" Henrique Marinho transportou aviador e mecânico no seu "magnífico automóvel Fiat"; o governador civil mandou montar guarda no Palácio de Cristal, cedido para a montagem do aparelho e para servir de local de exposição; os chefes militares emprestaram as suas bandas militares para animarem o espaço que foi devidamente engalanado com bandeiras e flores.
As visitas ao Palácio serviram para reunir um bom montante para a obra social do "Comércio", mas a verdadeira festa foi no improvisado aeródromo do "Castelo do Queijo", com a multidão que pagou bilhetes que iam dos 100 reis (peões ao sol) até aos 500 réis (bancada). Um sucesso que depois seria repetido em Lisboa.
O avião pilotado por Trescartes era um MF-4 construído pelo francês Maurice Farman, antigo campeão de ciclismo e fabricante de automóveis e aviões. O biplano militar, com motor Renault, voava a 80 km/h. Foi num destes aviões que Gago Coutinho fez o baptismo de voo com o piloto Sacadura Cabral. No Museu do Ar existe uma réplica.
 "A receita das ascensões ficou longe de cobrir o custo do biplano", escreveu Bento Carqueja, proprietário do "Comércio", mas foi vendido ao Estado por dois mil réis e António Marinho ofereceu o dinheiro às creches”. 
David Pontes, In Jornal de Notícias (1 de Setembro de 2007)



O biplano das Creches “ O Comércio do Porto” - Ed. amaroporto2.blogs.sapo.pt



Estereograma do biplano - Ed. Irineu de Vasconcelos



No estereograma acima pode ver-se o biplano, cuja tripulação era constituída pelo aviador Leopold Trescartes, pelo piloto Farman e pelo mecânico Bouvier.
No mesmo, pode ver-se ainda, o edifício da subestação de abastecimento da rede eléctrica pertencente à Companhia de Carris de Ferro do Porto.
Até à inauguração em 1945 do aeroporto de Pedras Rubras, a cidade do Porto seria servida, em termos de transportes aéreos, pelo aeródromo de Espinho, construído em 1935 pela Aeronáutica Militar.



Biplano MF-4 no Palácio de Cristal - Ed CMP, Arquivo Histórico Municipal



Em 25 de Março de 1917 milhares de pessoas assistiram à aterragem num campo improvisado junto ao Castelo do Queijo, enquadrado por forças de Cavalaria da Guarda Republicana e sinalizado com bandeiras e, num dos seus topos com uma grande fogueira de rama de pinheiro, do primeiro avião militar que sulcou os ares do Porto, que era tripulado pelo capitão Norberto Guimarães e pelo tenente da Armada Trindade. O avião fez o percurso Figueira da Foz-Porto em uma hora e vinte minutos. 
O nosso País estaria no arranque do século XX, ligado a alguns feitos notáveis da aviação mundial.
Assim, em 1922 Sacadura Cabral e Gago Coutinho, realizam aquele que viria ser o mais importante feito da Aviação Portuguesa: a Primeira Travessia Aérea do Atlântico Sul. A viagem foi uma aventura plena de peripécias. Apesar do primeiro avião utilizado, um Fairey III-D (o “Lusitânia”), não ser o da chegada, esta ocorreu num outro Fairey, baptizado de “Santa Cruz”. A viagem foi um tremendo êxito, nomeadamente pela precisão da navegação aérea demonstrada. Gago Coutinho utiliza um sextante de marinha a que tinha sido adaptado um horizonte artificial de sua concepção, e que representou um passo inovador senão mesmo revolucionário para a época.
Por outro lado, em 1924 Sarmento de Beires realiza, juntamente com Brito Pais e Manuel Gouveia, o Raide Aéreo a Macau, a bordo de um bi-plano 16 Bn2, baptizado o “Pátria”.
Três anos depois, em 1927, o mesmo Sarmento de Beires, a bordo do hidroavião Dornier Wal, o “Argos”, na companhia de Jorge Castilho e Manuel Gouveia cumpre com sucesso a Travessia Nocturna do Atlântico Sul. Esta travessia efectuada de noite, com ajudas de navegação rudimentares, é talvez um dos mais extraordinários feitos da Aviação em Portugal.



Aeroporto de Pedras Rubras


O Aeroporto Francisco Sá Carneiro também chamado Aeroporto do Porto (código IATA: OPO; código ICAO: LPPR) e que começou por ser Aeroporto de Pedras Rubras, localiza-se no Grande Porto, na zona de confluência entre os concelhos da Maia, Matosinhos e Vila do Conde, com entrada em Pedras Rubras na Maia. É na actualidade o aeroporto português com maior área de influência (catchment area).
Foi inaugurado em 1945 com a designação de Aeroporto de Pedras Rubras. As obras de arranque deste aeroporto começam em 1942 com a construção de duas pistas relvadas e em 1945 teve início a construção da aerogare, que foram concluídas em 1947, tendo-se nessa altura alcatroado as duas pistas.
O aeroporto foi inaugurado a 3 de Dezembro de 1945, com um voo proveniente de Lisboa, de um aparelho da Companhia de Transportes Aéreos.
Esta companhia aérea foi fundada em 19 de Julho de 1945, quando a Sociedade Continental de Transportes Aéreos é transformada na C.T.A. – Companhia de Transportes Aéreos, com o objectivo de explorar linhas aéreas no território nacional ou fora dele, apresentando nesse mesmo ano, a filiação na I.A.T.A. (International Air Transport Association).
A maioria do capital accionista fica detida pela Sociedade Geral de Comércio, Industria e Transportes Limitada e por Manuel de Mello, ficando aquela holding da CUF, no comando da nova empresa.
Será, no dia 2 de Dezembro de 1945, inaugurada oficialmente pelo Presidente da República Óscar Carmona e demais membros do Governo, a carreira Lisboa-Porto-Lisboa.



Logotipo da CTA



“A sua frota era constituída por um Percival Proctor, e por três bimotores DeHavilland DH-89 cujas matrículas eram as seguintes: CS-ADI, CS-ADJ e CS-ADK, todos adquiridos na Inglaterra. Posteriormente um destes bimotores foi adquirido pela Aeronáutica Militar em 1950, podendo ser vista hoje no Museu do Ar em Sintra. Mais tarde são ainda adquiridos à Força Área dos Estados Unidos dois Douglas C-47A (CS-TDX e CS-TDZ) sendo a sua adaptação aviação civil sido feita por pessoal das Oficinas Metalomecânicas da CUF. A C.T.A. vai construir toda uma infra-estrutura de apoio às suas rotas aéreas, para isso constrói hangares privativos nos Aeroportos de Lisboa e Porto, com oficinas, armazéns, operações de voo, equipamento de rádio, salas de pessoal navegante, cantinas etc.
Por essa altura o pessoal ao serviço da C.T.A. deveria de rondar o numero de 70 pessoas, número que teria tendências a subir com a expansão da Companhia. Havia já planos de expansão delineados por fases, em 1946 o objectivo seria inaugurar uma carreira Lisboa-Madrid com um serviço diário, pedindo autorização para tal ao Governo, sendo esta recusada, ficando outros projectos na gaveta, como as Linhas Internacionais no Continente Europeu, e obviamente aquilo que então se designava pelas Linhas Imperiais de modo de ligar a Metrópole com as principais cidades do seu Ultramar. Para essa expansão tinha já a C.T.A. pensado adquirir 4 Douglas DC-4 "Skymaster" e também Douglas DC-6 aviões já de grande capacidade e com maior alcance aéreo.”
Cortesia de Ricardo Ferreira (“industriacuf.blogspot.com/”)



Percival Proctor



Bimotor De Havilland DH-89 exposto no Museu do Ar (Polo de Sintra) – Fonte: “pt.wikipedia.org/”



Informação da CTA distribuída aos passageiros – Fonte: “industriacuf.blogspot.com/”




Talão de bagagem da CTA - – Fonte: “industriacuf.blogspot.com/”




Por decisão e vontade política do governo da altura, pela mão do Secretário da Aeronáutica Civil Humberto Delgado, foi dada preferência à empresa TAP - Transportes Aéreos Portugueses, na qual o Estado tinha metade do capital social e, assim, a C.T.A., acabaria por sucumbir, em 1949, após a interrupção em 1947, das ligações entre Porto e Lisboa.
Por sua vez, a TAP é criada em 14 de Março de 1945 e o seu primeiro director é Humberto Delgado.
A sua frota começa com dois Dakota DC-3, aparelhos militares adaptados a funções civis, com capacidade para 21 passageiros.



Primeiro logotipo da TAP



A primeira linha comercial da TAP é estabelecida entre Lisboa e Madrid, a partir de 19 de Setembro de 1946, e a chamada “Linha Aérea Imperial”, com a rota Lisboa – Luanda – Lourenço Marques, é inaugurada em 31 de Dezembro daquele ano.



Segundo logotipo da TAP (1947)



Publicidade à TAP




Em 1947, é lançada a linha entre Porto e Lisboa e a certidão de óbito estava passada à CTA.
Entretanto, no que diz respeito ao aeroporto de Pedras Rubras, o primeiro voo internacional teve lugar em 1956, e quatro anos mais tarde, foi dado início ao serviço de voos regulares com destino a Londres.
Como curiosidade diga-se que, em 1934, foi criada a “Aero Portuguesa”, cujo objectivo principal inicial era o de estabelecer ligações aéreas regulares de transporte de passageiros entre Portugal e Marrocos e de serviço postal entre Portugal e Brasil.
A ligação entre Lisboa, Tanger e Casablanca foi iniciada em Outubro de 1934. Em Janeiro de 1936 iniciou-se a ligação aérea postal entre Lisboa e o Brasil.
A ligação da “Aero Portuguesa” entre Lisboa e Casablanca ficou imortalizada no filme Casablanca (1942) com Humphrey Bogart e Ingrid Bergman.
A empresa acabou por terminar as suas operações em 1953 com a integração dos seus serviços na TAP.









As obras para construir o aeródromo de Pedras Rubras começam no início de 1942.



Pavilhão provisório de trabalho no Aeródromo de Pedras Rubras, em 1941



Aeroporto de Pedras Rubras e o início dos trabalhos de construção em 1942



Aerogare do Aeroporto de Pedras Rubras





O aeroporto ainda em construção


A gare primitiva


Os primórdios do aeroporto



Em 1975, dado o crescimento da procura do aeroporto, a pista foi aumentada para 3480 metros. Já em meados da década de 1980 foi inaugurado um terminal de carga. Em 1990 deu-se a inauguração da nova aerogare e na altura a designação das instalações passou de Aeroporto de Pedras Rubras para Aeroporto Francisco Sá Carneiro. Foi assim homenageado o primeiro-ministro Francisco Sá Carneiro, falecido a 4 de Dezembro de 1980 num desastre de avião em Lisboa quando viajava precisamente para Pedras Rubras.



Aeroporto em 1990



Aeroporto Francisco Sá Carneiro actualmente



Actualmente é o melhor aeroporto de Portugal em termos de espaço na aerogare. Em termos de movimentos aéreos de carga e de passageiros, é o segundo maior de Portugal (à frente de Faro e atrás de Lisboa). Este moderno aeroporto tem testemunhado um grande aumento de passageiros e voos, estando também os seus destinos a aumentar cada vez mais, principalmente a nível europeu graças às várias companhias low cost, nomeadamente a Ryanair (que poderá vir a ultrapassar a TAP Air Portugal brevemente, em número de passageiros). A Ryanair anunciou, a 4 de julho de 2009, a abertura da sua 33ª base, no Aeroporto Francisco Sá Carneiro, num investimento de mais de 140M$, fazendo história como a primeira companhia estrangeira a "fixar-se" nesta infra-estrutura com dois aviões permanentes. A Ryanair ligou, pela primeira vez, de forma regular e directa, Porto a Faro, a 26 de Outubro de 2009. Dia 14 de Junho de 2010 a Ryanair anunciou a compra 3 da terceira aeronave para a Base do Porto assim como a criação de sete novas rotas: Barcelona El Prat, Bologna, Bremen, Maastricht, Marrakesh, Munich West (Memmingen) e Valencia.
O aeroporto é constituído por uma pista com as cabeceiras 17/35 com 3.480 m de comprimento e 55m de largura asfaltada, sendo o limite das linhas de pista 45m.
O aeroporto foi pensado para poder ser facilmente expandido. Assim, respondendo ao aumentar do número de passageiros, o aeroporto verá a sua capacidade aumentada de 5 para 10 milhões de passageiros/ano e de 10 para 15 milhões de passageiros/ano no futuro. Proceder-se-á à expansão para locais contíguos ao actual aeroporto. Actualmente a zona de carga está em remodelações.
Recentemente o Aeroporto Francisco Sá Carneiro foi galardoado como o melhor do mundo na categoria de aeroportos até 5 milhões de passageiros.

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