Na “Toponímia
Portuense” de Eugénio Andrea da Cunha Freitas pode ler-se:
“No ano de 1662,
havia em Fradelos uma quinta que era senhorio directo o Dr. João Freire de
Melo, com uma capela de invocação de Santa Catarina Martir. Essa quinta partia
de banda de nascente “com o caminho que vai de Fradelos para a Porta de Cima
de Vila”. Este caminho é o mais remoto antepassado que conhecemos da actual
Rua de Santa Catarina… Já designada Rua Nova de Santa Catarina a
encontramos mencionada em certo documento da Misericórdia em 1748. No Plano de
Urbanização proposto por João de Almada e Melo em 1784, inclui-se o
prolongamento da rua até à Aguardente (hoje Praça Marquês de Pombal). A este
novo troço da artéria se chamou Rua Bela da Princesa… Também por
urbanizar estavam todos os terrenos compreendidos entre Santo António, Santa
Catarina, a viela da Neta e a das Pombas (onde está hoje o Grande
Hotel do Porto). Eram quintas e terrenos pertencentes a D. Antónia Adelaide Ferreira,
a “Ferreirinha”, e a Francisco da Cunha Guimarães, onde mais tarde se rasgaram
as ruas de Sá da Bandeira e Passos Manuel.”
A Rua de Santa Catarina é um arruamento situado nas
freguesias de Santo Ildefonso e Bonfim que, viria a substituir um caminho que
do sítio de Fradelos rumava à Porta de Cima de Vila, já na segunda metade do
século XVIII.
É a artéria mais comercial da baixa do Porto, estando grande
parte dela hoje vedada ao trânsito automóvel, e reservada apenas a peões.
A rua foi buscar o seu nome inicialmente à capela existente
em Fradelos do Dr.
João Freire de Melo, de invocação de Santa Catarina Mártir e reforçou-o
com o aparecimento da chamada Capela das Almas, também da invocação de
Catarina de Alexandria ou Santa Catarina Mártir.
Foi rasgada através de uma quinta enorme conhecida como Quinta do Adro ou Casal do Adro. Uma das mais importantes parcelas da quinta era o Campo da Nogueira que confrontava a
poente com a viela que ia para a Fonte da Neta.
A primeira iniciativa para a urbanização da Quinta do Adro surgiu em 1706 por
intermédio do bispo D. Frei José de Santa Maria.
A abertura duma nova artéria, só se dá, no entanto, 65 anos
depois pela mão do bispo D. Frei Rafael de Mendonça, e começou por se chamar Rua
Nova de Santa Catarina.
Gravura com vista para a torre dos Clérigos a partir de
Santa Catarina
Em finais do século XVIII também se falava por estas bandas,
na Quinta do Pinheiro.
Era uma enorme propriedade rural que já existia com aquela
designação em 1774. Tinha o seu começo junto à igreja de Santo Ildefonso e
estendia-se a Nascente pelo sítio da actual Rua de Santa Catarina, até à antiga
Travessa
do Grande Hotel, hoje Rua de António Pedro e por Poente confrontava com
o que é hoje a Rua de Sá da Bandeira.
Consta de uma antiga descrição que a Quinta do Pinheiro:
"era uma
propriedade toda cercada de muro com terras de lavradio, hortas, árvores de
fruta e de vinho, suas ramadas e uma fonte; parte de nascente com a Rua de
Santa Catarina e de poente com o cano da água que vai para as religiosas de S.
Bento (convento de S. Bento da Ave-Maria, onde agora está a estação ferroviária
de S. Bento); e do norte com o caminho que vai para a Viela da Neta (actual Rua
de Sá da Bandeira, junto ao Bolhão)”.
Antes da Rua Nova de Santa Catarina ter existência, o
caminho que da Batalha partia para Norte, começou por se chamar Viela
dos Matos e depois Viela do Adro e partia nesses tempos
recuados da Batalha, e passava pela Viela das Pombas (Travessa
do Grande Hotel ou mais recentemente Rua António Pedro).
Da Viela dos Matos, que corria quase paralela à actual Rua
de Santa Catarina, fazia parte a actual Travessa das Almas que corre nas
traseiras da capela com o mesmo nome e a actual Travessa de S. Marcos que fica
um pouco acima daquele templo.
A Travessa das Almas foi, assim, em tempos Viela
dos Matos e também se chamou Viela do Adro.
Um curioso caminho de acentuado declive que liga a Travessa
das Almas a Santa Catarina, antes da se chegar à Rua Firmeza, é a Travessa de São Marcos que em tempos
era a Viela da Coelheira e que a partir de 1814 foi Travessa
de S. Marçal.
A Travessa de S. Marçal julga-se que
se estendia e, corria também, pela actual Rua de Alexandre Braga, e dela, hoje,
resta apenas um pequeno troço, apelidado de Beco de S. Marçal.
Aquela Travessa de S. Marçal começaria assim, junto da Viela
da Neta onde hoje entroncam a Rua de Sá da Bandeira e a Rua Formosa, seguia em
curva, passava junto ao que é hoje o Beco de São Marçal e tomava a direcção da Viela
das Laranjeiras, chamada actualmente Travessa de S. Marcos e, a partir
da Travessa das Almas para cima, continuava pela Viela do Preto, que se
estendia até às propriedades dos padres congregados no Monte dos Congregados.
Em 1846 existia
ainda a denominada Viela do Ribeiro,
que comunicava com a Rua de Santa Catarina pela Viela das Laranjeiras.
Planta de Joaquim da Costa Lima em 1839, junto ao mercado do
Bolhão
Legenda:
1- Rua do Bonjardim
2- Rua Formosa
3- Rua de Santa Catarina
4- Viela das Pombas
5- Travessa da Rua Formosa
6- Viela da Neta
7- Viela dos Tintureiros
8- Viela da Coelheira
9- Rua Nova de S. Marçal ou Rua de Santo António do Bolhão
10- Actual Rua do Bolhão
Na planta acima com o nº 15, entre a Rua Fernandes Tomás e a
Rua Formosa, ficava na Rua de Santa Catarina, a Fábrica do Sabão no local hoje ocupado pelo espaço comercial, Via
Catarina.
Planta da zona do Bolhão de Baldwin & Cradock - 1833
Legenda:
1- Troço da Travessa de S. Marçal (Rua Alexandre Braga)
2- Viela da Coelheira
3- Viela da Neta
4- Fradelos
5- Praça Nova
6- Viela do Anjo da Guarda
7- Rua do Bispo
Obs: Como se pode ver na planta de 1833, a rua que passava nos terrenos a norte do que viria a ser o Mercado do Bolhão (a decisão da sua implantação é de 1837) era a Rua do Bolhão, pois, o topónimo Fernandes Tomás ainda não lhe tinha sido atribuído.
O Beco de São Marçal
tem esta designação em virtude de um oratório ou nicho que aí existiu de
invocação daquele santo, perto de uma abundante nascente. Por isso, também aí
existiu a Travessa do Rio que, em 1850 foi vedada ao trânsito.
A Rua Fernandes Tomás no troço entre a Rua Santa Catarina e
a Rua do Bonjardim chamava-se em 1801, Rua Nova de São Marçal, depois foi Rua
Santo António do Bolhão e mais tarde Rua do Bolhão.
Cruzamento da Rua Fernandes Tomás com Santa Catarina. Ao
fundo, a Igreja da Trindade
Mesmo cruzamento em 1927
Perspectiva actual de foto anterior
Rua de Santa Catarina junto à Praça da Batalha
Vista actual e aproximada de foto anterior – Fonte Google maps
Por comparação das últimas fotos se conclui, que até ao
actual edifício das Galerias Paladium, os prédios são os mesmos, dotados dos
respectivos melhoramentos.
Próximo da linha do horizonte uma fiada de casas da Rua de
Santa Catarina e os seus quintais c. 1865
Na foto acima obtida a partir da Torre dos Clérigos, é
visível a igreja dos Congregados e uma nesga da Rua de Santo António.
Rua de Santa Catarina no carnaval de 1905, sensivelmente no mesmo local de penúltima foto
O local da foto anterior já com a ourivesaria Reis - Fonte:
Google Maps
Na penúltima foto é interessante verificar que a fachada característica da Ourivesaria
Reis ainda não existia.
É digno de destaque nesta rua as fachadas Arte Nova da
Livraria Latina e da antiga Ourivesaria Reis & Filhos, localizadas à
entrada da rua vindo da Praça da Batalha, à direita e à esquerda, respectivamente,
nas fotos seguintes.
Ourivesaria Reis (já encerrou)
Livraria Latina e busto de Camões no ângulo das fachadas
Em 15 de Fevereiro de 1942 ocorre a inauguração da Livraria
Latina, no cimo da Rua 31 de Janeiro. O busto de Luís de Camões na fachada, que
chama a atenção dos turistas, foi encomendado por 700 escudos ao então jovem
artista António Cruz, que mais tarde ganhou notoriedade como aguarelista do
Porto, para conferir um toque de originalidade ao estabelecimento.
Sobre a livraria Latina, JPortojo diz-nos:
“Henrique Perdigão,
avô, foi o fundador. Morreu durante uma viagem ao Brasil em 1944 sucedendo-lhe
o filho Mário, o neto Henrique e hoje, presumo, faz parte do Grupo Português
Leya.
A Latina foi a
primeira empresa em Portugal a criar um concurso literário com o prémio de 3
mil escudos. Foi seu vencedor o Professor Hermano Saraiva tendo cabido uma das
menções honrosas a Fernando Namora”.
Em 1911, à entrada da Rua de Santa Catarina (foto pintada)
Acima vê-se o mesmo local da foto anterior mas mais antiga
ainda sem a Livraria Latina e o busto de Camões no cunhal do prédio, que só
apareceram a partir de 1942.
A livraria Latina ainda não existia em frente à ourivesaria
Reis
Perspectiva idêntica às das fotos anteriores, sendo o obelisco, que apenas seria retirado em 1920, visível
Na foto acima pode ver-se o início da Rua de Santa Catarina
e, à direita, o antigo acesso à igreja.
A escadaria da foto anterior desapareceu para dar lugar a
lojas
Mais à frente (lado nascente), no cruzamento das ruas de
Santa Catarina e Passos Manuel, encontrava-se o estúdio de fotografia Alvão.
Foto Alvão em 1913
O famoso estúdio fotográfico Alvão situava-se na Rua de
Santa Catarina, na esquina com Rua Passos Manuel (começada a abrir, pelos anos
de 1874-77) e que, por isso, cortou parte da Viela da Neta e da Quinta de
Lamelas.
Para lá daquele
cruzamento, ainda durante parte da segunda década do século XX, a primeira
trintena de metros mostrava um recuo da fachada dos prédios, relativamente ao
eixo da via formando, nesse local, como que um pequeno largo.
A Foto Alvão e, à
direita, o Café Majestic, com as fachadas dos prédios respectivos já situados
no novo alinhamento
Na Rua de Santa Catarina, ainda podemos desfrutar (desde
1921) do Café Majestic, que começou por se chamar Elite, e é um dos principais
pontos turísticos da rua.
Foi o local de reunião da fina-flor da intelectualidade
portuense, nomeadamente de Leonardo Coimbra e seus discípulos.
Café Majestic
Interior do café Majestic nos anos 20 – Fonte:
“portoarc.blogspot.pt”
Ainda, no cruzamento da Rua de Santa Catarina com a Rua de
Passos Manuel, mas do lado poente/sul, o prédio existente chegou a ser a morada das Galerias Palladium, um
projecto de 1914 do arquitecto Marques da Silva, construído para que os Grandes
Armazéns Nascimento, uma firma conceituada fabricante de mobiliário de
qualidade, tivesse uma grande área de exposição e venda ao público.
Entretanto, os Grandes Armazéns Nascimento compraram, no
início da década de 1920, uma fábrica de marcenaria a vapor “A Económica”, na
Rua do Freixo e, em 1927, a loja na Rua de Santa Catarina era oficialmente
inaugurada, embora António Nascimento já não tivesse assistido, pois já tinha
falecido.
Decorridos sete anos, em 6 de Novembro de 1934, um pavoroso
incêndio consumiu as instalações da fábrica de Campanhã e armazéns anexos.
A firma ressentiu-se e os herdeiros de António Nascimento
viram-se na obrigação de vender, em 1939, o prédio da Rua de Santa Catarina, a
um grupo de comerciantes e industriais do Porto, que fizeram a sua adaptação
para o café Palladium, cujo interior foi de autoria do arquitecto Mário Abreu.
O Café Palladium abriria portas em 1940.
“Palladium”, um dos
maiores Salões de Chá e Café da Península que, ontem, abriu as suas portas ao
público.
O acto inaugural
constitui para o Porto um acontecimento sensacional.
Nas novas instalações
do “Palladium” houve a preocupação de adaptar em salão de chá, café e jogos o
rés-do-chão e 1º andar do antigo edifício dos Grandes Armazéns Nascimento, sem
alterar a sua estrutura, obra conseguida pelo arquitecto Mário Abreu.”
In jornal “O Comércio do Porto” de 5 de Novembro de 1940
Na foto acima estão
alguns frequentadores habituais do Palladium, sendo que, da esquerda para a
direita, temos: João Alves, Sant’Ana Dionísio, Carlos Sanches, José Régio,
Jorge de Sena, Alfredo Pereira Gomes, Adolfo Casais Monteiro e Alberto Serpa.
“O café
Palladium, aberto em 4 de Novembro… cujas obras foram da autoria de Mário de
Abreu. Tinha salão de jogos, salão de chá e um cabaret. Atraía uma clientela
ligada às artes e às letras, como Jorge de Sena, José Régio, Adolfo Casais
Monteiro, Sant’Ana Dionísio, Alfredo Pereira Gomes, Alberto Serpa, Nadir
Afonso, Júlio Resende, Manuel Pereira da Silva, entre outros, e foi encerrado
nos anos 70.
Fonte: portoarc.blogspot
Inaugurado, então, o café Palladium em 4 de Novembro de 1940, por António Ferro
(1895-1956), director do Secretariado de Propaganda Nacional, uma figura de
proa do Estado Novo, apresentava o salão de café no piso térreo e a sala de chá
no piso sobre-elevado, enquanto, no 1º andar, ficava o salão de jogos e de
bilhares e no 3º andar um "cabaret", com acesso aos andares através,
também, de elevadores exclusivos.
A partir de 1974, após o fecho do famoso Café Palladium, o
prédio passou a albergar uma loja de pronto-a-vestir, as “Galerias Palladium” e
a mostrar um interessante relógio com carrilhão, com figuras que se movimentam
no exterior do edifício.
De três em três horas, saem do relógio e apresentam-se de
frente para Santa Catarina, num patamar do 1º andar, quatro imagens
representando figuras emblemáticas do Porto: S. João, o Infante D. Henrique,
Almeida Garrett e Camilo Castelo Branco. Após um desfile de dois
minutos, ao som do carrilhão, as figuras regressam ao relógio.
Últimamente, o
icónico edifício albergou as firmas C&A e, a partir do ano 2000, a Fnac
que, não conseguindo renovar o contrato de arrendamento, entretanto, já
encerrou.
Na foto acima, o elemento arquitectónico, em ferro e vidro
para protecção das adversidades atmosféricas, denominado "marquise",
à entrada do edifício que alojou o Café Palladium, resulta de um projecto de
1914 do arquitecto Marques da Silva.
Rua de Santa Catarina, no Natal de 1973
Na foto acima, à direita, vê-se o Café Palladium e, na
esquina oposta, a “Casa Inglesa”, de confecções, que nos dias de hoje já não
existe e, cujas instalações, foram ocupadas pelo joalheiro “Marcolino”.
Casa Inglesa
A poucos metros da “Casa Inglesa”, na Rua de Passos Manuel,
quase em frente ao Coliseu, abriria em 12 de Dezembro de 1931 o “Restaurante Escondidinho”, que irá servir os seus clientes até aos nossos dias.
Em 20 de Fevereiro de 1932, o Restaurante Escondidinho vai abrir as suas portas, exibindo o seu novo mobiliário fornecido pelos Grandes Armazéns Nascimento.
Em 1936, o restaurante seria o primeiro a receber duas estrelas Michelin.
“O industrial António
Joaquim da Silva abriu "O Escondidinho" em 12 de Dezembro de 1931, na
Rua de Passos Manuel. O projeto foi de autoria de Manuel Marques e Amoroso
Lopes, discípulos do arquitecto Marques da Silva.
Modelada segundo o
estilo das velhas casas solarengas do norte de Portugal, a sala de jantar,
reproduz na sua traça, o aconchegado conforto das residências do século XVIII,
a que não falta, sob os tectos apainelados, a pujança ornamental das antigas
faianças portuguesas e os vistosos lambris cerâmicos.
Seguiu-se na gerência
Joaquim Araújo e Amarílio Barbosa, tendo ambos conseguido dar continuidade ao
mais apurado bom-gosto da ementa do restaurante até aos dias de hoje”.
Fonte: Wikipédia
“(…) sob os tetos apainelados, a pujança
ornamental das antigas faianças nacionais e os vistosos lambris cerâmicos,
imitando a escola de Delft, cujos azulejos sobressaem pela extraordinária
beleza.
O projecto de Amoroso Lopes, habilmente
executado pelos Grandes Armazéns Nascimento, é de notável concepção artística,
destacando-se a fachada na qual, como nos interiores, se revelam trabalhos
valiosos da Fábrica Constância, dirigida então por Leopoldo Battistini.”
Fonte:
“escondidinho.pt”
Restaurante Escondidinho




























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