Lado SUL
A sul, a Praça D. Pedro era limitada pelo Palácio das
Cardosas, um edifício neoclássico dos finais do século XVIII, com o rés-do-chão
adaptado a diversos estabelecimentos comerciais e que, quando começou a ser
construído, se destinava a ser um convento dos padres Lóios.
Após o Cerco do Porto e a vitória dos liberais, na guerra
civil então acontecida, e da sequente extinção das ordens religiosas, o
edifício passou para as mãos de uma família, cujo patriarca era Manuel Cardoso
dos Santos e, posteriormente, para a sua viúva e filhas, passando a ser
conhecido, no futuro, pelo Palacete das Cardosas.
Fachada do Convento dos Loyos – Ed. Joaquim Cardoso Villanova
1833
Panorâmica tirada da Torre dos Clérigos
A foto acima é uma vista da torre dos Clérigos, à volta de
1860.
“Trata-se de uma vista
rica em pormenores interessantes. Como que dividindo a foto a meio, temos o
enfiamento da rua dos Clérigos, praça de D. Pedro (hoje, da Liberdade) -- o
chamado passeio das Cardosas -- e subida da rua de Santo António (hoje, de 31
de Janeiro), até à igreja de Santo Ildefonso, no topo.
Ao centro da imagem,
destaca-se a igreja dos Congregados e o edifício anexo, a ala do antigo
convento, com frente para a praça de D. Pedro. Após a extinção das ordens
religiosas em 1834, o edifício original foi vendido em lotes e ocupado por
vários negócios, entre os quais os famosos botequins e cafés: Guichard,
Camanho, Suíço, entre outros. Um pouco mais acima, vê-se ainda uma zona de
campos e, ao fundo, as traseiras dos prédios da rua de Santa Catarina. À data
da foto já se tinha aberto a rua de Sá da Bandeira (no troço que hoje tem o
nome de Sampaio Bruno) e, pouco depois, toda esta área estaria também
urbanizada.
Do lado direito da
imagem, a torre sineira da igreja do mosteiro de São Bento de Ave-Maria e a sua
cerca. Delimitada, do lado esquerdo, pela muralha fernandina (são visíveis as
ameias da muralha), ao fundo e à direita, por altos muros. Cerca de três
décadas mais tarde, aqui abrir-se-iam os túneis que trariam os comboios vindos
de Campanhã e o convento daria lugar à estação ferroviária com traço de Marques
da Silva, que hoje conhecemos”.
Com a devida vénia a “Porto Desaparecido”.
Vista para a Rua dos Clérigos. Na foto, um Fiacre e um
Americano
Praça D. Pedro e o Americano
“O Pasmatório dos Lóios” depois “O Real Clube dos Encostados”, eram nomes pelos
quais era conhecido o local, onde um conjunto de homens durante longas horas, conversando,
iam admirando quem passava, encostados ao Palacete das Cardosas.
De notar, que nessa época, o rés-do-chão do edifício era
ocupado praticamente na totalidade, por um conjunto de estabelecimentos
comerciais dos mais variados ramos.
O edifício das Cardosas e o “Real Clube de Encostados”
Horácio Marçal deixou-nos uma exaustiva descrição sobre o
lado sul da Praça D. Pedro, no último quartel do século XIX.
Assim, segundo ele, o lado sul da praça era praticamente ocupado pelo Palacete das Cardosas. Começando um périplo pela sua fachada, voltada para a Praça Almeida Garrett, encontrávamos a relojoaria de João Vieira, a tabacaria Martins & Brito e uma confeitaria de Avelino Teixeira da Mota que foi, mais tarde, incorporada no Café Astória.
Assim, segundo ele, o lado sul da praça era praticamente ocupado pelo Palacete das Cardosas. Começando um périplo pela sua fachada, voltada para a Praça Almeida Garrett, encontrávamos a relojoaria de João Vieira, a tabacaria Martins & Brito e uma confeitaria de Avelino Teixeira da Mota que foi, mais tarde, incorporada no Café Astória.
Ultrapassado, o cunhal do edifício, seguia-se a tabacaria
Sá Reis que, em 1895, já por lá se encontrava, uma alfaiataria a que se
seguia uma camisaria de Teles & Marques e por aí, se instalaria,
durante muitos anos, o Café Astória.
Logo aparecia uma casa de fazendas de Abreu & Irmão,
o restaurante
Internacional, sucedendo-lhe
a casa
bancária Sousa, Cruz & Cia, a camisaria de Guilherme de José d’Oliveira
passada de trespasse a Manuel Caetano d’Oliveira, ocupado mais tarde, pelo Interposto
Comercial e Industrial do Norte, Lda.
Continuando para poente, com a Torre dos Clérigos no
horizonte, aparecer-nos-ia a Papelaria Central fundada, em 1885,
por João Dias Alves Pimenta, na Rua de Sampaio Bruno e que, por aqui, se
instalou em 1895, acabando na gerência do seu filho, um armazém de tecidos de Alves,
Costa & Cia., os bancos Peninsular e Angola e Metrópole,
a Casa
Baptista, uma confeitaria
que se transformou em café, o Banco Ferreira Alves & Pinto Leite, Lda.,
que ocupou o lugar de a alfaiataria Pinho & Lima, a Camisaria
Passos e Ourivesaria Soares dos Reis
que, anos depois, passou a casa Campeão & Cia, o Banco Pinto &
Sotto Mayor ocupando o lugar de três outras, a camisaria Freitas Guimarães,
Suc., a confeitaria Reis &
Olimpo, fundada em 1902, o corrector de fundos Alberto Gonçalves, que deu lugar à Papelaria Guimarães, a Casa Laporte (artigos de caça e
desporto).
Continuando para poente, tínhamos a casa de modas Silva Monteiro,
depois Barbearia Petrónio, o armazém
de fazendas João da Costa & Silva
Magalhães & Filhos, que deu lugar à casa bancária Pinto da Fonseca
& Irmão e depois ao Banco
Comercial, a camisaria de José Amorim.
Na área destes dois últimos espaços comercias desde há
muitas dezenas de anos, ainda hoje, está instalada a Farmácia Vitália.
Resta a Camisaria Central que sucedeu à
firma Prata & Irmão e onde, desde meados do século XIX, esteve a Livraria
Moré.
Praça D. Pedro, nos finais do século XIX, durante a realização
de um desfile
Na foto acima, é
possível observar-se a nível do 2º andar, os escritórios da Sociedade Protectora
dos Animais, e alojadas nos baixos do Palacete das Cardosas, da esquerda
para a direita, as firmas Soares Reis & Filho, no nº 25, A
Confeitaria
Luzo-Brazileira no nº 26, Papelaria Guimarães no nº 28 e Casa
Laporte.
Esta última firma comercializaria talvez, artigos
relacionados com a caça, pois, vê-se uma réplica de uma espingarda por cima das
padieiras das portas, e seria alvo da notícia que se segue, no jornal O
Velocipedista em 1894:
“Está exposta na casa Laporte, á Praça de D. Pedro, uma bicycleta
fabricada na serralheria do snr. Figueiredo Junior, á rua do Campo Pequeno. É
muitíssimo elegante na sua forma e de uma confecção fóra do usual, no
esqueleto, pois é de prancheta e não de tubo de ferro, não chegando a pesar 20
kilos, destinando-se a passeio. Pertence ao snr. Camillo d’Almeida que, vendo,
com outros amigos, no snr. Figueiredo, um industrial empreendedor e laborioso,
lhe incutiu a ideia de tentar este género de construcções. Merece todos os
elogios o hábil artista porque desempenhou satisfactoriamente o encargo,
apresentando um artefacto em condições de realçar os seus merecimentos
artísticos”.
Esquina do Largos dos Lóios
“Na esquina do largo
dos Lóios, ficava a melhor livraria do Porto, — a More, — onde, além dos
livros, se vendiam «quinquilharias» várias; a esquina da More foi um lugar célebre
de cavaco. Em frente deste vasto prédio, ao longo da valeta, viam-se durante o
dia barracas de pano cru e mesas volantes, sobre as quais estendiam a sua
sombra protectora gigantescos guarda-sóis de pano branco; encontravam-se ali à
venda, desde o bacalhau às guloseimas, os géneros mais variados e as melhores
pechinchas. Entre esta fila de vendedores e o edifício, corria o passeio
chamado sarcasticamente o Pasmatório dos Lóios(...).
No Passeio das
Cardosas estão instaladas algumas das mais conhecidas casas comerciais, como a “Camisaria
Oliveira, installada com fino gosto no prédio fronteiriço à Câmara…É
uma das camisarias mais bem sortida em roupas brancas, enxovaes, artigos
ligeiros e de novidade para senhoras, homens e creanças…”; a Livraria
Moreira, “uma das mais conceituadas e bem installadas livrarias
do Porto…”; e a casa de Modas e Confecções de F.Rebello &
Coelho, de reputação invejável pelo primor da execução que se observa nas suas
confecções e fina escolha nos artigos que vende…”
Artur Magalhães Basto – O Porto do Romantismo 1932; Fonte: “doportoenaoso.blogspot.pt”
O comércio na Praça D.
Pedro – Fonte: “doportoenaoso.blogspot.pt”
Planta do edifício das Cardosas, em 1892, na planta de
Telles Ferreira
Na planta acima, no nº 25, ficava a firma Soares
Reis & Filho, no nº 28 a Papelaria Guimarães e, no nº 29, a
“Laporte”.
No nº 1, esteve a livraria “Moré”.
Praça D. Pedro e Rua dos Clérigos com árvores do lado
esquerdo c. 1900
À direita a Igreja dos Congregados e o seu varandim
Praça D. Pedro e os Eléctricos
Praça da Liberdade e Palacete das Cardosas à direita
Vista da Rua de Santo António para o Passeio das Cardosas
Panorâmica da Praça da Liberdade obtida a partir do Passeio das Cardosas em 1932
Praça
da Liberdade em 1955 com mesma perspectiva da foto anterior
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