quinta-feira, 13 de julho de 2017

(Continuação 3)



“A abertura da Rua de Álvares Cabral, ligando o então Campo da Regeneração à Rua de Cedofeita, ficou concluída em 1898. No entanto, esta rua, assim como o local onde ela foi rasgada, tem uma história que merece ser conhecida.
Em 1837, o então presidente da câmara, Luciano Simões de Carvalho, mostra o interesse e o empenho da câmara na abertura de arruamentos que ligassem o então Jardim de Santo Ovídio (Praça da República) à já citada Rua de Cedofeita.
Estas necessidades eram motivadas pelo facto de o Porto se ter tornado uma cidade em constante crescimento, motivado por uma dinâmica económica invejável, obrigando os poderes públicos a encetar os processos que conduziam à modernização e remodelação urbanística.
Em 1881, o então governador do Porto, José Augusto C. Barros, voltou a manifestar interesse na abertura da rua, mas teriam ainda de passar 17 anos para que tal acontecesse.
Se analisarmos o mapa do Porto referente ao ano de 1865 (mapa de Perry Vidal), vemos que próximo da Praça da República existia uma quinta que ocupava um vasto terreno que ia desde dessa praça até Cedofeita, tendo a Rua da Boavista a limitá-la a norte”.
Fonte: César Santos Silva, In “porto-desaparecido”


Primitivamente a quinta atrás referida, era conhecida pela denominação de Quinta da Boavista. Pertenceu ao desembargador João Carneiro de Morais, que nela mandou construir uma capela dedicada a S. Bento e Santo Ovídio, há muito desaparecida.
Os herdeiros venderam a quinta, na segunda metade do século XVIII, a Manuel de Figueiroa, contador da Fazenda Real. A Travessa da Figueiroa existe em memória deste fidalgo.
A quinta que era da Boavista, começou então, a ser conhecida por Quinta dos Figueiroas.
Em 1784, seria Manuel Pamplona Figueiroa, 1º visconde de Beire,  que deu gratuitamente à Câmara parte da sua propriedade para abertura de uma rua que foi aquela que tomou o nome da quinta ou seja, Rua da Boavista, entre o Campo de Santo Ovídio e as Águas Férreas.
O troço da Rua da Boavista para poente só foi aberto depois do cerco do Porto e chamou-se primitivamente Rua dos Jasmins, tendo tomado a partir de 1835 o topónimo de Rua 25 de Julho em memória daquele dia do ano de 1833, em que se travou durante o cerco do Porto, uma importante refrega junto da Pasteleira. 


“Após a morte de Manuel Figueiroa em 1775 a quinta passou para o seu descendente e afilhado D. Manoel de Pamplona Carneiro Rangel Veloso Barreto Miranda de Figueiroa (1774-1849) 1º Visconde de Beire, que comandou o regimento de Infantaria n.º18 durante a Guerra Peninsular e Vereador na cidade do Porto. Foi este proprietário que mandou edificar o palacete e traçar e plantar os seus jardins. Nos finais do século XVIII, foi este Figueiroa que cedeu o terreno no limite norte da sua propriedade para a abertura da rua destinada a ligar o Campo de Santo Ovídio com a rua de Cedofeita (rua dos Jasmins, rua 25 de Julho e finalmente rua da Boavista), a que não é alheio o facto de desempenhar o cargo de Vereador. A Quinta era então conhecida como Quinta do Pamplona.
A sua filha D. Maria Balbina Pamplona Carneiro Rangel Veloso Barreto de Figueiroa (1819-1890), condessa de Rezende pelo casamento com D. António Benedito de Castro (1820-1865), 4º Conde de Rezende, e a filha destes, Maria Emília de Castro Eça de Queiroz (1857-1934), casou em 1886, na capela da quinta com o escritor José Maria Eça de Queiroz (1845-1900). A Quinta foi por isso também conhecida como Quinta dos Resende”.
Fonte: Blogue “doportoenaoso”



O escritor Eça de Queiroz casou, no dia 10 de Fevereiro de 1886, na capela da quinta, com D. Emília de Castro Pamplona, filha dos condes de Resende.

«Após cinco meses de noivado casaram-se Eça de Queirós e D. Emília de Castro Pamplona (Resende), no dia 10 de Fevereiro de 1886, no Oratório particular da Quinta de Santo Ovídio no Porto, pertencente à família da noiva, já desaparecido em virtude da abertura da rua Álvares Cabral, que liga a rua da Cedofeita ao Campo Mártires da Pátria.»

A quinta, com sua vivenda apalaçada, seus belos e bem cuidados jardins, um extenso parque e a enorme propriedade rústica, tinha a entrada principal voltada para o Campo de Santo Ovídio, hoje Pra­ça da República. Era, na opinião de um cronista do século XVIII, "a mais agradá­vel vivenda do Porto".
Os condes de Resende, num gesto fidalgo, franqueavam aos domingos e feriados, os jardins da sua quinta ao público. A frequência era enorme, sobretu­do na noite de S. João. 
A quinta era enorme, povoada de secular arvoredo e, onde hoje está o entroncamento das ruas de Álvares Cabral, Cedofeita e Travessa da Figueiroa tinha no muro de vedação que a envolvia, um amplo portão armoriado.
Será curioso referir, que a água que abastecia a quinta vinha de uma mina situada para os lados de Costa Cabral, seguindo a água por S. Brás e Campo de S. Ovídio, entrando depois na quinta.


Quinta do visconde de Beire na planta de Perry Vidal em 1865


Fachada principal virada para nascente e para o Campo da Regeneração



Palacete de Santo Ovídio em 1833 (fachada poente)

Palacete da Quinta de Santo Ovídio (fachada poente) - Ed. facebook.com/PortoDesaparecido

“Em 1892, os condes de Resende iniciaram o processo que viria a culminar na alienação da quinta, vendida em 144 lotes, o que favoreceu os interesses fundiários orientados para uma clientela rica que podia pagar o alto preço pedido pelos respectivos lotes (entre 750.000 reis e 1.250.000), oferecendo os condes de Resende à Câmara um arruamento que rasgava a quinta de nascente a poente.
A vasta e linda propriedade foi então retalhada e feita a abertura da Rua de Álvares Cabral.
O processo de abertura de uma rua nos terrenos da Quinta dos Pamplonas, originou uma rua aristocrática com belíssimas moradias, muito ao gosto das classes abastadas da época.
Hoje, apesar dos inúmeros desmandos arquitectónicos, a rua ainda mantém um ar elegante, o que a torna única no contexto da zona.
A artéria inicialmente chamava-se Rua dos Pamplonas, mas, depois, a câmara quis imortalizar o descobridor do Brasil Pedro Álvares Cabral.
Este inicialmente chamava-se Pedro Álvares de Gouveia e só depois trocou o último nome por Cabral. Segundo dos sete filhos de Fernão Cabral e Isabel de Gouveia, Pedro Álvares não podia usar o sobrenome do pai. Isso era privilégio apenas do filho mais velho. Quando veio ao Brasil, em 1500, ele usava o sobrenome da mãe. Era Pedro Álvares Gouveia. Ele só ganhou o sobrenome paterno depois da morte do irmão mais velho. O navegador nasceu em Belmonte em 1467 e morreu em Santarém em 1520”.
Fonte: César Santos Silva, In “porto-desaparecido”


Traçado da nova rua, entretanto abandonado por pressão de proprietários

Na planta anterior projectava-se a Rua de Cedofeita com ligação em linha recta à Rua Gonçalo Cristovão.


Quinta dos Pamplonas (fachada poente)

“A fachada poente do palacete, também com dois corpos avançados, abria, por uma porta de acesso coroada por frontão interrompido com volutas, para um terraço com balaústres de onde se descia por uma escadaria que dava acesso ao jardim.
(…) A Alameda central tendo ao fundo um pavilhão com brasão, que dava acesso à Rua de Cedofeita e á igreja de Cedofeita”.
Fonte: Blogue "doportoenaoso"


Praça da República

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