“Siza Vieira deu os primeiros passos da sua profícua
carreira na sua cidade natal – Matosinhos. A edificação do seu projeto “4 Casas
em Matosinhos”, quando era ainda um estudante na Escola Superior de Belas Artes,
abriu lugar à polémica, devido à sua audácia e características inovadoras para
a época. É em Matosinhos que se encontram alguns dos seus trabalhos mais
emblemáticos: a Piscina da Quinta da Conceição (1958-1965), a Piscina das Marés
(1961-1966), a Casa de Chá da Boa Nova (1958-1965) e mais recentemente a
marginal de Leça da Palmeira (2006) que, para além de unir estas duas últimas
obras, resulta num espaço adaptado às suas novas funções e características de
centralidade e de espaço de lazer. Uma das suas obras mais afetivas e
diretamente a ele ligadas é a remodelação da casa dos seus pais em 1961,
recentemente adquirida pela autarquia em sua homenagem, destinada a receber o
testemunho da sua obra através da instalação do Centro de Documentação Álvaro Siza.”
Fonte: “cm-matosinhos.pt”
Siza vieira nasceu em Matosinhos. Em 1961, executou um
projecto de remodelação do prédio da Rua Roberto Ivens, nº 582, para habitação
de seus pais. Em 2009, é ele, novamente, que elabora o projecto de reconversão
do edifício para primeira sede da Casa da Arquitectura.
Casa onde viveram os pais de Siza Vieira na Rua Roberto Ivens
O seu primeiro projecto é denominado de “Quatro Casas” e foi
executado na Avenida Afonso Henriques
em Matosinhos.
Aquele projecto ocorreu em 1954 quando Siza Vieira era ainda
um estudante na Escola Superior de Belas Artes, e abriria uma grande polémica,
devido à audácia das propostas e pela aplicação de características completamente
inovadoras para a época.
As “Quatro Casas de Matosinhos” na Avenida Afonso Henriques
que um jornalista da época denominou de “casinhotos”
“Há 60 anos, o gerente
de uma empresa de pesca ousou chamar um jovem desconhecido, ainda com o curso
de arquitetura por terminar, para lhe desenhar uma casa. Era a primeira
encomenda do primeiro projeto para a primeira casa desenhada por aquele que vem
a transformar-se num dos mais importantes arquitetos do mundo contemporâneo:
Álvaro Siza Vieira.”
Fonte: “expresso.sapo.pt”
O gerente de uma empresa de pesca de seu nome Manuel Neto,
mantinha uma relação de amizade com António Vieira, tio de Álvaro Siza Vieira
que desempenhava funções na conhecida Refinaria Angola.
Entre algumas conversas havidas entre os dois, um dia surge a
revelação de que Manuel Neto comprara um terreno onde pretendia construir casa.
António Vieira pergunta-lhe se já tem arquitecto e, face à resposta negativa,
sugere-lhe a hipótese de entregar a obra ao sobrinho Álvaro.
Na sequência, um dia Álvaro vai falar com Manuel Neto, que o
leva a visitar uma moradia na zona das Antas muito do seu agrado, mesmo se, no
final, as duas casas nada têm a ver uma com a outra. Fica acertado que
avançarão, embora Neto reivindique a prerrogativa de cancelar tudo, caso o
projecto não lhe agrade. Coloca, até, uma condição: teria de haver uma varanda
a todo o correr da casa, virada para a Avenida, por causa das festas do Senhor
de Matosinhos.
Uso da madeira na
fachada nas moradias das de “Quatro Casas de Matosinhos” - Ed. LUCÍLIA
MONTEIRO, in “expresso.sapo.pt”
Cozinha de uma
moradia de “Quatro Casas de Matosinhos” com
referências a Gaudi e Corbusier – Ed. LUCÍLIA MONTEIRO, in “expresso.sapo.pt”
A polémica sobre a primeira obra de Siza Vieira (com projecto
inicial, assinado pelo engenheiro civil Rogério Lobão, dada a circunstância de,
então, Siza ainda não ter autorização para assinar projectos), ficou para a
posteridade num texto publicado no jornal “Comércio do Porto” que falava nas visitas
que estariam a ser feitas a Matosinhos, para ver “os casinhotos” que tinham
sido construídos na Avenida D. Afonso Henriques, perto da Igreja de Matosinhos.
“ (…) como se Matosinhos fosse terra sertaneja
e não houvesse aqui pessoas (…) que têm noções de arte (…) terá desaparecido o
bom senso de gente que tem o dever de velar pela estética da vila e evitar
atentados arquitetónicos como esse (…) numa cidade servida por um porto de mar,
com aeródromo próximo e vizinha da cidade do Porto”.
Duas das obras mais
conhecidas atribuídas ao arquitecto Siza Vieira são a Piscina das Marés e a Casa
de Chá da Boa-Nova, em Leça da Palmeira.
Piscina das Marés, em 1947,
antes da intervenção de Siza Vieira
Piscina das Marés, c. 1970
Piscina das Marés, nos
nossos dias
Casa de Chá da Boa-Nova em construção é uma das mais
conhecidas obras de Siza Vieira
Casa de Chá da Boa-Nova em construção
Casa
de Chá da Boa-Nova
Como curiosidade, diga-se que Siza Vieira viveu num edifício
localizado na esquina das ruas do Arquitecto Marques da Silva (antiga Rua da
Friagem) e Barbosa du Bocage, ao Bom Sucesso, cujo projecto (1959) se ficou a
dever ao arquitecto Alfredo Matos Ferreira (1912-2015), filho de pai médico e
mãe pintora, nascido em Lisboa, mas com as suas raízes profundamente
mergulhadas em Trás-os-Montes.
Na década de 1950, alguns alunos de arquitectura da Escola
de Belas-Artes do Porto, reuniam-se na Sala 35 do edifício do Café Imperial.
Entre eles estavam Siza Vieira, Alberto Neves, António
Menéres, Joaquim Sampaio, Luís Botelho Dias, Vasco Macieira Mendes e, o mais
velho de todos, Alfredo Matos Ferreira.
Mais tarde, alguns dos mencionados mudaram-se para uma outra
sala situada na Rua do Duque da Terceira, mais perto das Belas-Artes e quase
todos acabaram a trabalhar no escritório do arquitecto Fernando Távora.
Alfredo Matos Ferreira, que devia ter outras condições,
estabeleceu-se por conta própria e, só no início da década de 1970, se associou
a Arménio Losa e, entre 1972 e 1981, a Fernando Távora.
Entretanto, tinha estado associado a Mário Abreu.
Após a revolução de 25 de Abril de 1974, Alfredo Matos
Ferreira integrou, entre 1974 e 1976, a equipa que compunha o SAAL (Serviço de
Apoio de Ambulatório Local), juntamente com Beatriz Madureira e Jorge Barros,
para a Associação de Moradores da Lapa, que ele considerou a obra da sua vida.
Em 1976, área de expansão de novos edifícios em fase de
construção, do SAAL, Lapa - Fotografia de Alfredo Matos Ferreira
O auditório da Fundação Eng.º António de Almeida é, também,
da sua autoria.
Alfredo Matos Ferreira teve intervenção decisiva no projecto
final do edifício da sede das Caixas de Previdência, na Rua António Patrício,
cujo projecto inicial (1968) foi de Arménio Losa, para um edifício destinado a
habitação colectiva.
Fora do Porto, nomeadamente, na Régua e em Viana do Castelo,
Alfredo Matos Ferreira deixou, também, a sua marca.
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