A “Mabor - Manufactura Nacional da Borracha”, inaugurada em
6 de Abril de 1946, foi uma empresa que, embora com sede na freguesia de
Lousado, em Famalicão, sempre disse muito aos portuenses e à cidade do Porto,
pois, teve sempre a sua sede nesta cidade, na Avenida dos Aliados e, dada a
relativa proximidade com as instalações fabris, muitos lá trabalharam.
Foi fundada pelo Dr. Júlio Anahori de Quental Calheiros – 3º
conde da Covilhã e presidente do Conselho de administração do Banco Borges
& Irmão. A sigla e marca “Mabor”, radicam no nome de Maria Emília
Fernandes Borges, a esposa do conde, filha do banqueiro Francisco Borges.
O 3º conde da Covilhã tinha enviuvado de um primeiro
casamento, com Vera de Sousa e Cruz, que
faleceu muito nova, filha do banqueiro Sousa e Cruz.
A origem
A freguesia de Lousado, Concelho de Famalicão, naqueles idos
dos anos 30, do século XX, era uma zona muito pobre.
Contam alguns uma estória, de que o nascimento da Mabor
resultará de um pedido do cardeal Cerejeira ao seu amigo, conde da Covilhã,
para levar para aquela freguesia de Famalicão uma indústria. E, assim, com o
apoio da “General Tire and Ruber Company” (empresa americana de pneus), onde o
Conde da Covilhã tinha amizades, nasce a Mabor.
A instalação da fábrica começa uns anos antes, em 1937,
quando é adquirida uma licença pertencente a Carlos Farinha, com o exclusivo de
fabrico de pneus e câmaras de ar.
Só em 1940, haveria de se estruturar o grupo que adquiriu o
alvará citado, com financiamento do Banco Borges & Irmão e o acompanhamento
técnico da “General Tire and Ruber Company”, esta, com 20% do capital. A
sociedade que surgiu, viu a luz do dia em 13 de Junho de 1940.
As instalações fabris começariam a ser construídas em 1942 e
seriam inauguradas em 6 de Abril de 1946.
Nesse mesmo dia, foi apresentado o primeiro pneu da marca e
também o primeiro alguma vez produzido em Portugal.
Instalações fabris da Mabor – Fonte: “restosdecoleccao.blogspot.com”
Fase de fabrico de um pneu na Mabor – Fonte: “restosdecoleccao.blogspot.com”
A 2ª guerra mundial tinha terminado há pouco.
Dificuldades de obtenção de matérias-primas, essenciais para
o fabrico dos pneus, fazem a Mabor optar pela construção de uma fábrica
destinada a produzir telas de reforço dos pneus, que eram, até então,
importadas.
A partir de 1950 a Mabor que até aí importava da “General
Tire and Ruber Company” as telas de reforço dos pneus, passou a adquiri-las na
“Indústria Têxtil do Ave, Sarl”, fábrica mandada construir por Henrique
Malheiro Dias e inaugurada em 1950.
Em 1948, já tinha sido autorizada a exportação para as
colónias.
Quando surge a guerra colonial (15 Março de 1961) tinha já
falecido, há cerca de um mês, o presidente do conselho de administração da
Mabor, à data, Delfim da Silva Fernandes Vinagre (1894/07 Fev 1961), natural de
Barcelos, banqueiro, sócio do Banco Borges & Irmão, grande proprietário
agrícola e casado a 1/12/1920, com D. Lúcia Brenha Borges, (1892/196..),
natural da Vitória, Porto.
Delfim Vinagre, acumulava aquelas funções com uma outra de
grande relevo para a cidade do Porto. Era presidente do conselho de
administração da “Fábrica de Lanifícios de Lordelo do Ouro”, sita na Rua de
Serralves.
Em 1968, a necessidade de aumentar a capacidade produtiva instalada
e de corresponder às novas exigências de ordem técnica, obrigam à inauguração
de uma nova fábrica, mais a norte e expansão para os territórios ultramarinos.
Em breve a empresa sob a marca “Mabor General” começa a
produzir pneus para veículos pesados, “chaimites”, ligeiros, motos e câmaras de
ar e pisos para recauchutagens.
“Indústria Têxtil do Ave” e, à direita, a “Mabor” – Fonte: “restosdecoleccao.blogspot.com”
Linha de fabrico de pneus na Mabor – Fonte: “restosdecoleccao.blogspot.com”
Tabela de preços em 1947 – Fonte: “restosdecoleccao.blogspot.com”
Publicidade à Mabor
A reconversão
Nos anos 80, a Mabor já dava sinais de envelhecimento,
ficando a reestruturação a cargo do grupo “Continental AG” que passaria a ter,
no final do processo, 100% do capital, tendo adquirido também a “Indústria
Têxtil do Ave” e, passando a ser, então, a Continental Mabor- Industria de
Pneus, SA, em 1993.
Para a “Continental Mabor-Industria de Pneus, SA”, a criação
da AutoEuropa é um momento fundamental.
Quando em 1989, a AutoEuropa surge em Portugal e o Estado
obriga à incorporação de componentes feitos no país, a Continental (que já
tinha acções da Mabor) identifica uma oportunidade de negócio e faz uma
joint-venture com a fábrica portuguesa (a Mabor detinha 40% do capital e a
Continental 60%). Estávamos em 1990 e a Continental Mabor torna-se uma
realidade. Depois, demorou apenas três anos para que a multinacional alemã se
tornasse o único accionista da fábrica nortenha.
Em 1999, a Volkswagen ganha exclusividade de distribuição de
pneus Mabor na Alemanha e, em 2002, o volume anual de vendas excede a marca de
1 milhão.
O início da distribuição exclusiva na Europa Oriental e
Áustria acontece em 2007 através da Porsche.
À esquerda um reclame que muitos conheceram na platibanda do
edifício do teatro Rivoli
Presentemente, a “Continental Mabor” é a única empresa
nacional a dedicar-se ao fabrico de pneus, empregando cerca de 1500
trabalhadores e sendo, do grupo alemão, a sua joia da coroa.
Em 2010, a empresa já facturava 650 milhões de euros.
Em 2014, a unidade fabril tinha uma facturação de 794
milhões de euros e resultados líquidos na ordem dos 200 milhões.
A Continental Mabor registaria receitas de 830 milhões de
euros, em 2016, das quais 97,3%, diziam respeito a vendas para o exterior.
Das 20 fábricas de pneus da Continental é, sucessivamente, a
de mais destaque.
A Continental de Lousado abastece 68 países, de um extremo
(Estados Unidos) ao outro do mundo (China), mas a Europa é o seu maior mercado,
com 54% das vendas.
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