Desde que se tornou proprietário da “Têxtil do Bonfim”, no
início do século XX que Manuel Pinto de Azevedo procurou adquirir terrenos nas
imediações para expansão daquela unidade industrial.
Assim, foram construídos dois edifícios nos anos de 1916 e
1918, situados na Rua António Carneiro, a poucos metros da unidade industrial,
considerados no Porto como Património Arquitectónico e Industrial por terem
sido construídos no estilo de Arte Nova e dotados de linhas curvas e esbeltas,
graciosidade e beleza, e decorados com painéis de azulejos.
Os 2 prédios na Rua António Carneiro – Fonte: Google maps
Com fins específicos, o primeiro, licenciado em Novembro de
1916, teve a dupla função: de armazém, no piso inferior, e como centro político
no restante espaço.
Este edifício serviu essencialmente de armazém, dotado de
amplos espaços abertos, com excepção de dois compartimentos de divisões
reservados a serviços de secretaria e de reuniões de direcção.
Em 1940, o nº 375 da Rua António Carneiro, estava ocupado pela fábrica de cartonagem "A Nova Industrial".
Em 1940, o nº 375 da Rua António Carneiro, estava ocupado pela fábrica de cartonagem "A Nova Industrial".
Peças desenhadas de prédio mais a jusante da rua
A parte referenciada de centro político tratava-se do Centro Republicano do Bonfim, criado
para intervenção cívica e política na vida local e da cidade.
Traseiras do edifício, mais a jusante, na Rua António Carneiro
– Ed. “floret.pt/”
O segundo edifício, aprovado em 25 de Julho de 1918, teve
como objecto específico a higiene e o bem-estar dos seus operários, com a
criação de uma cantina e uma pequena creche, balneários e dormitório.
Peças desenhadas de prédio mais a montante da rua
Traseiras do edifício a montante na Rua António Carneiro –
Ed. “floret.pt/”
Os dois edifícios referidos acabaram por, ao longo dos anos,
virem a ser acoplados e ocupados por actividades diversas e, também com o
decorrer dos anos, os serviços de apoio da Fábrica Manuel Pinto de Azevedo
perderam a ligação física que se fazia pelo interior do quarteirão à Rua do
Bonfim.
Abandonados durante muitos anos os edifícios seriam alvo de
uma intervenção profunda de recuperação e, em 2012, estavam dignos de serem
vistos.
Desenho da fachada do que foi o Centro Republicano
Democrático do Bonfim da autoria de “Floret – Arquitectura”
Todo o quarteirão que circunda a Rua do Bonfim, a Rua
António Carneiro e o que actualmente é a Avenida Camilo, foi terreno adquirido
por Manuel Pinto de Azevedo, onde mandou construir as imponentes garagens, uma
das quais é, hoje, um supermercado.
Os Centros Democráticos e Republicanos tiveram existência,
alguns, um tempo antes de eclodir o 5 de Outubro de 1910, normalmente de modo
clandestino, em que a sede normalmente era a habitação de um dos membros e
outros, logo após a instituição da República.
O Centro Republicano e Democrático do Bonfim nasceria pela
mão de Manuel Pinto de Azevedo, um operário do sector têxtil, na Fábrica de
Tecidos de Algodão do Bonfim que se tornaria seu proprietário em 1900.
Entrada da Têxtil do Bonfim, na Rua do Bonfim, nº 326
«Em 1852, a freguesia
do Bonfim tornava-se a líder laboral com 2027 operários e de 150 unidades em
estabelecimentos industriais, superando todas as outras freguesias centrais ou
periféricas da Invicta.
O fulgor industrial do
Bonfim, que o colocou como a freguesia com maior número de unidades fabris e de
operários da cidade do Porto, no séc. XIX prolongou-se pela primeira metade do
séc. XX.
Em 1890, estava
identificada uma fábrica de algodão (fiação e tecelagem), com 14 funcionários,
na rua do Bonfim. Era uma entre muitas que por ali existiam, nalguns casos de
dimensões bem superiores, tanto nas instalações como em funcionários.
Tinha como número de
porta o nº 326 e era dirigida por Carlos da Silva Ferreira, um pequeno
industrial que a edificou em 1882 após autorização camarária.
Nos finais do séc.
XIX, mais propriamente em 1894, surgiu o bonfinense Manuel Pinto de Azevedo,
que de operário têxtil ascendia a director da Fábrica de Tecidos do Bonfim,
pertencente a Carlos da Silva Ferreira, e que passaria para as suas mãos, em
1901, tomando as rédeas de um negócio que se transformaria num império.
Em 1928 adquiriu
outras unidades têxteis, a Fábrica de Fiação e Tecidos de Sá, em Ermesinde,
concelho de Valongo e a Fábrica de Tecidos Aliança, na Giesta, em Rio Tinto, no
concelho de Gondomar. Na primeira e mantendo com os seus objectivos sociais, há
registos de ter criado uma cantina, e fundado “uma padaria na fábrica destinada exclusivamente ao fornecimento de pão
aos operários e de uma cooperativa de consumo, onde eles poderiam abastecer-se
de géneros de primeira necessidade a preços muito mais baixos”(...)»
Cortesia de
“manueljosecunha.blogspot.com”
Alçado Principal (estudo inicial) do nº 326 da Rua do Bonfim
“A par da sua
actividade profissional, assume, em 1914 o cargo de vereador da Câmara
Municipal do Porto, ao lado de Eduardo Ferreira dos Santos Silva, António de
Sousa Lello, Jaime Zuzarte cortesão, Aurélio da Paz dos Reis, Luís Ferreira Alves, entre outros.
Virá de novo a ser eleito
em 1919, cargon que desempenhou até 1921. Foi ainda presidente da Junta de
Freguesia do Bonfim até 1926 e fundador da instituição social Bonfim
Beneficiente.
(…) Manuel Pinto de
Azevedo será uns dos opositores ao regime instalado com o golpe de 28 de Maio
de 1926.
(…) Manuel Pinto de
Azevedo, nascido em 27 de Abril de 1874, faleceu em 17 de Fevereiro de 1959. O
cortejo fúnebre estendeu-se ao longo da Rua do Bonfim, até ao cemitério da
freguesia…”
Cortesia de Maria da Luz Braga Sampaio, In “Porto- Roteiros
Republicanos”
Manuel Pinto de Azevedo teve ainda ligação ao sector das
conservas (Continental – Sociedade de Conservas, de Matosinhos, a partir de
1929), ao sector da cortiça (Corticeira Robinson, de Portalegre), banca (Banco
Borges & Irmão), seguros (“A Mutual do Norte”), sector eléctrico (União
Eléctrica Portuguesa), sector vitivinícola com quintas em Amarante, Régua,
Macedo de Cavaleiros e para além do jornal “O Primeiro de Janeiro”, no sector
da comunicação social, “O Norte” e o “Jornal de Notícias”.
Manuel Pinto de Azevedo, faleceu em 17 de Fevereiro de 1959, na sua
casa, conhecida por “Vila Prado”, sita na Estrada da Circunvalação.
Notícia do falecimento de Manuel Pinto de Azevedo no jornal “Diário de
Lisboa” – Fonte: “casacomum.org/”; Fundação Mário Soares
A “Vila Prado”, última residência de Manuel Pinto de
Azevedo, localizava-se na Estrada Exterior da Circunvalação, um pouco antes
desta via chegar ao mar.
A montante, durante muitos anos, estiveram um posto da
Guarda Fiscal, a conhecida fundição “Oliveira & Ferreirinhas” e a “Fábrica
de redes de Pesca” – Lusandesa.
A "Vila Prado", a residência
de Manuel Pinto de Azevedo, situava-se neste local, ao fundo da Estrada
Exterior da Circunvalação, no limite do chamado Prado de Matosinhos - Fonte:
Google maps (2009 e 2022)
A Estrada Exterior da Circunvalação, após a “Vila Prado”,
chegava à Praça da Cidade de S. Salvador, um topónimo que pretendia homenagear
a capital do Estado da Baía, no Brasil e que vigorou, desde 1948, até aos
nossos dias (2005).
Presentemente é conhecida como a “Rotunda da Anémona” por
referência à obra de arte da escultora norte-americana Janet Echelman, que a
apelidou de "She Changes".
Junto da antiga Praça de S. Salvador, à entrada da Rua Brito
Capelo existiu, até aos nossos dias, um restaurante icónico, muito frequentado
– o “Caninhas Verdes”.
Localizada junto à antiga ribeira do Prado, na actual Rua
Brito Capelo, nº 1495, o já desaparecido estabelecimento de restauração, a “Adega
Caninhas Verdes” foi fundada em 1910 por Angelina da Conceição Soares. Em 1964,
passou de adega a restaurante sob a gerência de Henrique Torres que, no
entanto, passado um ano, por desentendimentos, abandonaria o projecto. O
restaurante, situado próximo de uma seca de bacalhau existente ao fundo da
Circunvalação, era muito frequentado pelos seus trabalhadores e por pescadores.
Entretanto, Henrique Torres haveria, mais tarde, de abrir,
nas imediações, o Restaurante Proa.
À direita, no começo da Rua Brito Capelo, observam-se as
instalações do restaurante “Caninhas Verdes”
Prado de Matosinhos e Ribeira do Prado, resultante da
reunião da Ribeira da Riguinha e da Ribeira de Carcavelos, em 1909 - Ed. Emílio
Biel
Voltando à figura de Manuel Pinto de Azevedo, o seu
falecimento foi notícia em todo o País.
Excerto da notícia do funeral de Manuel Pinto de Azevedo, In jornal “Diário de Lisboa” de 18 de Fevereiro de 1959 - – Fonte: “casacomum.org/”; Fundação Mário Soares
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