terça-feira, 9 de julho de 2019

25.56 Antigos lugares da cidade do Porto


Pretende-se com a apresentação do que resta de alguns lugares e aldeias do Porto, sensibilizar, quem de direito, mas sobretudo os portuenses, para a defesa de um património que está quase a desaparecer.
Há que estudar, de conluio com os arquitectos e paisagistas, formas de, sem entravar o progresso, preservar também o passado.



Lugares do Porto



1. Nevogilde


“Nevogilde surge como Lovygildus nas Inquirições de 1258, composto por uma igreja ou freguesia do Julgado de Bouças, com casais povoados ou não: 4 regalengos, 5 do mosteiro de Santo Tirso, 2 da Ordem dos Hospitalários, 1 da Igreja de Vermoim (Maia), 2 do mosteiro de S. João de Tarouca e 2 do mosteiro de Macieira de Sarnes.
Através da doação de D. João I em 1399, o primeiro alcaide-mor do Porto, João Rodrigues de Sá, o “Sá das Galés”, fica com o senhorio direto de prazos em Nevogilde, que foram passando para os seus descendentes. Estes casais ou quintas foram emprazadas e subemprazadas a famílias que as mantinham produtivas, germinando à sua volta aldeias e lugares.
O lugar de Nevogilde cresceu junto ao Casal da Igreja, que no século XVIII foi sendo emprazado parcelarmente, originando a Quinta do Padrão, prazo que passou para os descendentes de Tomás Pereira Morais, que por casamento ficaram unidos aos Andrade Vilares e depois aos Lacerda Lobo.
Da existência de uma igreja primitiva apenas se tem a informação que seria noutro local, a pouca distância e talvez românica. A atual construção (barroca) foi obra impulsionada pelo abade Pedro de Barros Ribeiro e atribuída ao mestre Domingos da Costa. Foi construída entre 1729 e 1750 e sofreu uns acrescentos entre 1934 e 1935. Está classificada como monumento de interesse público.”
Fonte: Jornadas Europeias do Património — 2016


Lugar de Nevogilde e ocupação habitacional, em 1892, na planta de Telles Ferreira. A igreja de Nevogilde está identificada com o nº 1



 Traseiras da Igreja de S. Miguel de Nevogilde e adro



Largo de Nevogilde



2. Passos


“O lugar de Passos está ligado à passagem dos mouros pela zona, pois apesar de surgir como uma das quatro aldeias das Memórias Paroquiais (1758), poderá ser bem mais antigo. Até ao século XX, no meio da aldeia ou lugar, existia uma capela dedicada a S. Paio (ou Pelágio), mártir do século X, menino de 10 anos, sobrinho do bispo de Tui que é aprisionado pelo emir de Córdova. O culto a este mártir é introduzido em Leão e Oviedo pelos moçárabes.
Seria um dos 20 casais que os Hospitalários detinham em 1258, comprovado por um dos marcos divisórios existentes na rua de Fez.
A capela desaparece com o arranjo da rua de Passos (depois rua de Fez), mas não a total ruralidade da área, sobejam alguns imóveis com características típicas de quintas de produção. Neste lugar nasceu o lavrador Manoel da Silva Passos e seus pais casaram na capela de S. Paio, a 5 de abril de 1761. Este lavrador é o pai de dois vultos da política nacional: José da Silva Passos (Passos José) e Manoel da Silva Passos (Passos Manuel)”.
Fonte: Jornadas Europeias do Património — 2016


Manuel da Silva Passos (Guifões, 5 de Janeiro de 1805 – Santarém, 16 de Janeiro de 1862), criador do 1.º Código Administrativo, mais conhecido por Passos Manuel e José da Silva Passos (Passos José) eram filhos de um outro Manuel da Silva Passos, que morreu em 25 de Novembro de 1825 e de Antónia da Silva, nascida na freguesia de S. Martinho de Aldoar.


 

Em 1940, a casa em S. Martinho de Guifões (Matosinhos), onde nasceram os irmãos Passos

 
Passos Manuel foi uma figura importante ligada ao liberalismo vintista e, mais tarde, uma figura chave do Setembrismo.
Parlamentar brilhante, foi ministro do reino com funções na área da educação, nos anos de 1836 e 1837.
Em 13 de Janeiro de 1837, Passos Manuel decreta a transformação da Academia Real da Marinha e Comércio em Academia Politécnica do Porto.
Casado em 1838, com uma rica herdeira, passa a viver em Santarém. Nos anos seguintes seria parlamentar e, voltando ao Porto, participaria ao lado do irmão na Patuleia.




Lugar de Passos e ocupação habitacional, em 1892, na planta de Telles Ferreira




Passos, também foi, por aqui – Fonte: Google maps


À direita, o pouco que resta de Passos. Estamos na Travessa de Passos - Ed. Manuela Campos (2019)



Ao centro, à margem da Travessa de Paços, o pouco que resta de Passos, actualmente - Fonte: Google maps






3. Vilarinha


“Aldoar, cuja origem é controversa, está envolto em lendas relacionadas com a ocupação árabe. Surge nas Inquirições de 1258 como igreja do Julgado de Bouças, composto por 3 casais regalengos e 20 dos Hospitalários. Um pequeno templo, com invocação a S. Martinho de Tours (o mata-mouros), foi dotado no século X e consagrado pelo bispo do Porto, D. Godesendo. Nessa altura já existiria um pequeno cenóbio misto e nas imediações o “castro Mafamudi”, identificado pelo Dr. Carlos Alberto Ferreira de Almeida.
Nas Memórias Paroquiais de 1758, entre as 4 aldeias nomeadas, está a da Vilarinha que poderá corresponder à zona envolvente à igreja e junto à antiga estrada romana, depois caminho para Santiago de Compostela, com passagem pelo Bom Jesus de Bouças.
Durante o Cerco do Porto (1832-1833), nas imediações deste lugar, esteve alocado o “Reduto da Vilarinha”. E a partir de 1990, o núcleo rural é integrado nos 45 hectares que fazem parte do espaço verde, que é hoje o Parque da Cidade, tornando-se a sua entrada oriental.”
Fonte: Jornadas Europeias do Património — 2016


Lugar da Vilarinha e ocupação habitacional, em 1892, na planta de Telles Ferreira. A velha igreja de Aldoar está identificada com o nº 1 e, com nº 2, o edificado principal do lugar, de que hoje resta, apenas, um núcleo rural do Parque da Cidade



Vista aérea do actual núcleo rural do Parque da Cidade, ou seja, do que resta da antiga Aldeia da Vilarinha






Vilarinha, defronte da antiga igreja de Aldoar – Fonte: Google maps



4. Vila Nova

Situava-se este lugar, na área que, hoje, foi parcialmente ocupada pelo Hospital da CUF.
Ainda existe uma Rua de Vila Nova e um aglomerado habitacional degradado que faz lembrar o antigo lugar.


“Entre os 3 casais regalengos e 20 Hospitalários das Inquirições de 1258 pertencentes à igreja de Aldoar do Julgado de Bouças, está o lugar ou aldeia de Vila Nova.
Nas Memórias Paroquiais de 1758, surge como uma das quatro aldeias da freguesia, para no século XIX (1892) aparecer já na Carta Topográfica da Cidade do Porto, levantada e dirigida por Augusto Gerardo Telles Ferreira, como lugar de Vila Nova de Cima.
Cercada de campos de produção agrícola, foi perdendo parte da sua feição rural no século XX, embora ainda mantenha um traçado característico.”
Fonte: Jornadas Europeias do Património — 2016


Lugar da Vila Nova e ocupação habitacional, em 1892, na planta de Telles Ferreira, em que o nº 1, identifica a Estrada da Circunvalação


Por aqui, ficava Vila Nova – Fonte: Google maps



5. Ouro


“O Ouro, lugar com ocupação remota, durante a romanização corresponderia a um ponto de travessia fluvial, utilizada como ponto de passagem para a via romana e mais tarde caminho medieval, que ligava o litoral ao norte.
Junto a esta zona ficava, na época medieval, uma granja cisterciense, em volta da ermida de Santa Eulália (Ovaia). Em 1395, D. João I doa aos marinheiros de Lordelo do Ouro, um terreno para a construção de um orago a Santa Catarina. Pela sua localização no topo do monte, desde sempre serviu de baliza para a navegação.
Zona piscatória, com areal extenso, cedo demonstrou ter as condições propícias para a construção naval, desenvolvida principalmente a partir do século XVI. Os ofícios ligados a esta atividade crescem e agrupam-se, concentrando-se os cordoeiros na Cordoaria, e marinheiros, calafates e mestres no Ouro. Cria-se o Arsenal ou Trem da Fazenda Nacional, mesmo em frente aos estaleiros.”
Fonte: Jornadas Europeias do Património — 2016



Lugar do Ouro e ocupação habitacional, em 1892, na planta de Telles Ferreira


Legenda

1. Companhia Portuense de Iluminação e Gasómetros
2. Rua das Condominhas
3. Nova Companhia da Fundição do Ouro
4. Rua do Aleixo



O que resta da "Companhia Portuense de Iluminação" e Gasómetros – Fonte: Google maps



6. Regado


“Núcleo de proprietários agricultores, a quinta do Regado surge no século XII como pertença de um cavaleiro da Ordem de Malta que a doou à mitra do Porto. Nas Memórias Paroquiais de 1758, o lugar do Regado é mencionado com 23 vizinhos, um núcleo rural bem mais habitado que o central, o da Igreja. Manteve-se essencialmente agrícola no decorrer do século XX, até que a urbanização e construção da Via de Cintura Interna transformou a paisagem.”
Fonte: Jornadas Europeias do Património — 2016

A igreja referida no texto anterior é a Paroquial de São Veríssimo de Paranhos.
Regado, deverá ter constituído um marco identificativo e limitativo do território doado por D. Teresa ao bispo D. Hugo e, que, à data, foi referido como “Mamoa Pedrosa”. Naquele território, estava englobado a cidade do Porto, centrada no Morro da Pena Ventosa.




O Lugar do Regado e a ocupação habitacional em planta de Telles Ferreira, de 1892, em que a Rua Silva Porto está identificada com o nº 1



Aspecto do local da planta anterior, actualmente



Aldeia do Regado, actualmente, o que ainda resta, com perspectiva obtida de norte para sul, desde a Rua de Silva Porto - Fonte: Google maps



Perspectiva aérea, com a mesma orientação da vista anterior, do que resta da aldeia do Regado - Fonte: Google maps







7. Campo Lindo


O Campo Lindo surge como um desmembramento do medieval Casal do Couto, foreiro ao Cabido da Sé do Porto, por onde passava a Estrada para Braga (antiga via romana).
Nas Memórias Paroquiais de 1758, Couto, surge como um dos quinze lugares da freguesia e um dos mais habitados, a saber, Couto, Agueto, Igreja, Lamas, Tronco, Carvalhido, Vale (ou da Valle), Regado, Cruz da Regateira, Antas, Travessa, Amial, Azenha, Bouça e Cabo.



Em 1892, na planta de Telles Ferreira, era aqui o Largo do Couto, no Lugar do Couto, hoje, a Rua Carvalho Araújo


Em 1864, nos terrenos da família Loureiro, é construída uma capela em madeira, com altar dedicado a Nossa Senhora da Soledade, imagem doada por Manuel Alves de Oliveira Paranhos. Em 1871, é substituída por uma capela em pedra e, em 1873, passa a orago do Senhor dos Passos, passando a ser conhecida como a Capela do Encontro. Em 1887, tem lugar a primeira festa de Nossa Senhora da Saúde, passando a realizar-se anualmente.
Junto à capela, fica a Casa do Campo Lindo que, em 1862, pertence a Aniceto Pinto Monteiro e, que, mais tarde, entra para a família Almeida Garrett, através dos descendentes do irmão do escritor, Alexandre José.
A casa ficou conhecida pelo seu jardim romântico, o Jardim das Camélias.


Campo Lindo e capela da Senhora da Saúde, à esquerda – Fonte: Google maps



Planta do piso 1, da Casa do Campo Lindo – Cortesia da Arquitecta Susana Azevedo Oliveira Santos, Atelier Sucrre


Na gravura anterior está representada, em planta, a Casa do Campo Lindo. Nela, pode ver-se, que a capela da Senhora da Saúde está em cima, no canto esquerdo.


Alçado principal, a Nascente (observável a fonte e o brasão)




8. Lugar da Igreja de Paranhos


“Entre as muitas vilas que pertenciam às Terras da Maia, estava a “villa de paramus”. Terrenos de lavradio, organizados em núcleos de agricultores e senhores (“domini”), que ergueram as suas quintas e casais em redor de uma capela ou igreja também de sua obra, elegendo o santo padroeiro e dando origem a Paranhos, no século X.
As primeiras referências documentais surgem no século XI e XII, entre elas, a carta de doação do couto do Porto, pela condessa D. Teresa ao bispo D. Hugo, que refere a “ecclesia de paramios”. No século XIV, D. Afonso IV confirma à mitra do Porto como sendo couto dos bispos.
Desconhece-se a data de construção da primitiva igreja matriz, podendo já existir no século XI, época em que o culto a São Veríssimo se propaga. Em 1758, é referida como tendo 5 altares, mas em 1845 está em estado de ruína, sucedendo-se uma série de benefícios e acrescentos que percorreram o século XIX até meados do século XX.”
Fonte: Jornadas Europeias do Património — 2016


Ocupação habitacional, no Lugar da Igreja, em 1892, na planta de Telles Ferreira


Legenda

1. Igreja paroquial
2. Rua do Cemitério
3. Rua da Igreja de Paranhos



Largo da Igreja de Paranhos



9. Lamas


Deste lugar, ainda se pode ter um pequeno vislumbre, numa visita à área das traseiras das faculdades de Economia e de Engenharia.

“A aldeia de Lamas vem referida no primeiro assento de óbito registado na freguesia (20 de novembro de 1588), embora a quinta de Lamas (ou da Viscondessa, no século XIX), próximo do centro do lugar, tenha sido doada pelo bispo do Porto no século XII, em conjunto com a Fonte do Outeiro, ao mosteiro de Águas Santas.
O lugar de Lamas surge nas Memórias Paroquiais de 1758 com 35 vizinhos, um dos mais habitados da paróquia, o que demonstra o seu crescimento. Em 1834, o coronel Arbués Moreira, na sua Carta Topográfica das Linhas do Porto (Cerco do Porto), indica a existência do forte de Lamas.
Até aos dias de hoje, conseguiu manter o seu aspeto rural, apesar das construções universitárias que o invadem e a autoestrada que lhe retirou a ligação com a Fonte do Outeiro.”
Fonte: Jornadas Europeias do Património — 2016


Lugar de Lamas – Fonte: Google maps


Planta com posições relativas de alguns lugares de Paranhos

Legenda

1. Lugar de Lamas
2. Lugar da Bouça
3. Lugar de Telheiras
4. Lugar da Azenha
5. Rua do Ameal
6. Lugar do Tronco



10. Vila Cova


“No século XI existe a referência a um convento de Agostinhas, na povoação de Rio Tinto. Já no século XII surge como vizinha de “castrum amai”, pertença do rico-homem de Gondomar, o alcaide Mendo Estrema.
D. Afonso Henriques, em 1141, dá foro de couto ao mosteiro (agora da regra beneditina) e à abadessa de Rio Tinto, que englobava entre as diversas aldeias, Vila Cova. Este lugar tinha caseiros foreiros ao Cabido da Sé do Porto, que teve relações tensas com a abadessa no século XIV, por causa das áreas de mato, pasto e cultivo de que dependiam estes caseiros. Este facto demonstra que os limites de Campanhã tinham-se expandido.
Lugar com grande componente rural, ainda nos dias correntes, apresenta alguns exemplares arquitetónicos dos séculos XVII/XVIII.”
Fonte: Jornadas Europeias do Património — 2016


Rua de Vila Cova – Fonte: Google maps



11. Pêgo Negro


“Tal como outros lugares da freguesia de Campanhã, também a aldeia de Pego Negro surge entre as que foram englobadas no foro de couto de D. Afonso Henriques, doado em 1141 ao mosteiro e abadessa de Rio Tinto. Mais tarde, este lugar surge como pertença de Campanhã.
Esta denominação é uma das marcas remotas de atividades artesanais associadas aos cultivos das margens dos rios Tinto e Torto. Pego derivado de “pelagus” designa ribeiro, rio, riacho, lagoa, qualquer agrupamento de água. No entanto, o cónego Arlindo da Cunha associa-o à tarefa de curtir o linho que foi metido na água depois de ripado.
Neste lugar ainda permanecem intactos alguns dos moinhos/azenhas que laboravam nas margens dos dois rios já referidos.”
Fonte: Jornadas Europeias do Património — 2016


Ocupação habitacional, no lugar de Pêgo Negro, na planta de Telles Ferreira, de 1892


Legenda

1. Lugar de Pêgo Negro
2. Estrada da Circunvalação (começada em 1889)
3. Rio Tinto


Pêgo Negro, junto da ponte sobre o rio Tinto – Postal de 1917


Pego Negro – Ed. “cidadedoporto.pcp.pt”


“Na toponímia da Câmara Municipal, lê-se que a mais antiga referência que se conhece ao Pêgo Negro é de 1591, num registo de óbito da Freguesia de Campanhã. Outra referência é de 1785 como Ribeiro do Pêgo Negro.”
Fonte: JPortojo


Os moinhos do Lugar de Pego Negro situavam-se, junto da ponte, sobre o rio Tinto – Ed. JPortojo


A Rua do Pêgo Negro, que herda o topónimo do antigo lugar, começa na Rua das Areias, é interrompida pela moderna Alameda de Azevedo, contorna o Parque Oriental, afunda-se no vale do rio Tinto, faz um gancho apertado, passa sobre o rio e sobe até à Circunvalação.

Sem comentários:

Enviar um comentário