Na esquina das ruas Ciríaco Cardoso e Carlos Dubini, está
situada uma casa, que se descobriu ter sido projectada pelo arquitecto Raúl
Lino (1879 – 1974), e que corre o risco de desaparecer.
Será, por certo, única obra projectada para a cidade do
Porto, por aquele famoso arquitecto.
Com projecto de 1930, aquela descoberta foi feita por Carla
Garrido de Oliveira, em 2014, durante a elaboração da sua tese de doutoramento,
e dedicada à obra daquele arquitecto.
Durante as suas investigações, Carla Garrido revelou que o
projecto fora uma encomenda do médico João de Almeida, tendo sido assinado pelo
arquitecto José dos Santos e não, por Raul Lino, por razões que se desconhecem,
mas usuais na actividade.
Estando em marcha um processo para demolição do imóvel, e
reconversão do espaço que ocupa, para um novo empreendimento imobiliário,
várias personalidades portuenses, entre elas, Alexandre Gamelas, Carlos Machado
e Moura, Francisco Queiroz, José Costa Marques, José Pedro Tenreiro, Nuno Gomes
Oliveira, Nuno Quental, Paulo Ferrero, Sérgio Braga da Cruz e Virgílio Marques
enviaram uma mensagem de alerta para o Presidente da Câmara, começando por
dizer:
“Esta casa, embora
actualmente abandonada e vandalizada, é um exemplar de referência na obra de
Raul Lino, tendo sido por este arquitecto destacada no livro Casas Portuguesas por si
escrito. É de notar que existem poucas obras de Raul Lino na região Norte,
sendo esta uma das poucas casas edificadas neste território e a única conhecida
na região do Porto”.
Raúl Lino (Lisboa, 1879 - Lisboa, 1974) fez os seus estudos
na Grã-Bretanha e Irlanda, para onde se deslocou com 10 anos de idade e, depois
de 1893, na Alemanha, onde trabalhou no atelier de Albrecht Haupt, com quem
manteve uma longa amizade.
Da sua vasta obra, destacam-se a “Casa da Quinta da Comenda”
(1903), em Setúbal, a “Casa dos Patudos”(1905), em Alpiarça e o Teatro Tivoli
(1925), em Lisboa.
“Raul Lino regressou a
Portugal em 1897, onde continuou os seus estudos. Foi uma personalidade única
no que se refere ao panorama das artes em Portugal, muito devido ao facto de
ter conseguido articular a tradição portuguesa com as inovadoras correntes
europeias, do início do séc. XX. Com 70 anos de atividade profissional, Lino é
autor de mais de 700 obras. Também é importante referir que apesar do seu leque
de projetos, ele também foi um homem com uma vasta obra teórica ou escrita, o
que se tornou muito determinante, para os seus seguidores ao longo de décadas
em Portugal.
(…) Desempenhou cargos
no Ministério das Obras Públicas e foi Superintendente dos Palácios Nacionais.
Foi membro fundador da Academia Nacional de Belas Artes, sendo seu presidente
no momento da sua morte. No setor da imprensa, foi colaborador artístico em
diversas publicações periódicas, nomeadamente nas revistas: Atlantida
(1915-1920), Homens Livres (1923), Ilustração (1926) e na Revista Municipal de
Lisboa (1939-1973).”
Fonte: “pt.wikipedia.org”
Casa de Raúl Lino, com vista obtida a partir da Rua Carlos
Dubini – Ed. Google maps
Aspecto da fachada voltada para a Rua Ciríaco Cardoso – Ed.
Manuela Campos
Desenhos de projecto inserido na obra de Raúl Lino,
intitulada “Casas Portuguesas” – Cortesia de Abel Coentrão, In jornal “Público”
de 28 de Fevereiro de 2019
Capa do livro “Casas Portuguesas” de Raúl Lino
Sobre este achado, mais uma joia a acrescentar a muitas
outras para o engrandecimento da história da arquitectura da cidade do Porto,
qualquer portuense, que se preze, deve defender que, pelas suas características
e pela sua raridade, a obra de Raúl Lino deverá ter, da parte das autoridades, uma
protecção patrimonial.
A Drª Carla Garrido de Oliveira está de parabéns.
Espera-se que, à
“Casa de Raúl Lino”, não ocorra o mesmo que aconteceu, há poucos meses, com uma
moradia histórica, situada na Rua de Pinto Bessa.
Tendo deixado de
integrar, há 15 anos, a lista de imóveis de interesse municipal, foi
completamente demolida, da noite para o dia, como resultado de alguma magia.
Em Janeiro de 2019,
a Câmara do Porto deu um parecer positivo para novo projecto, mas nada parece
ter sido feito, para de algum modo, ser preservada a memória, que se impunha.
O edifício, de 1913,
tinha arquitectura de Francisco de Oliveira Ferreira (discípulo de Marques da
Silva e Teixeira Lopes), sendo um dos arquitectos que mais marcaram a cidade,
na primeira metade do século.
Francisco de
Oliveira Ferreira, nascido a 25 de Setembro de 1884, projectou a Câmara
Municipal de Gaia e alguns outros edifícios emblemáticos – como o do Clube
Fenianos Portuenses ou a Clínica Sanatorial Heliantia, em Valadares.
Moradia com risco de Francisco Oliveira Ferreira, na Rua de
Pinto Bessa (Desaparecida)
“A moradia da Rua de
Pinto Bessa era o primeiro projecto de habitação do arquitecto Oliveira
Ferreira no Porto e representante de uma “transição entre uma arquitectura
vagamente eclética, com alguns aspectos de arte nova, e uma arte com algumas
marcas portuguesas, como é o caso dos azulejos.” Guardava algumas preciosidades
do trabalho de Oliveira Ferreira com o seu irmão, o escultor José de Oliveira
Ferreira, e era “o último vestígio” de uma certa tipologia de habitação
burguesa no Porto do início do século XX”.
Cortesia de Mariana
Correia Pinto, In jornal “Público” de 17 de Maio de 2019
Azulejos do edifício demolido na Rua de Pinto Bessa - Cortesia de Francisco Queiroz
Há já, alguns anos, que na cidade do Porto, existe um
processo que não se compreende e que vai, sucessivamente, apagando parte da
nossa história edificada.
O primeiro passo, consiste em desafectar da protecção do
“Interesse Municipal” alguns edifícios icónicos da cidade. São exemplo disso,
os dois casos a seguir referidos.
“O Bloco Residencial
Manuel Duarte, do arquitecto Januário Godinho, na rua de Santos Pousada, apeado,
em 2006; ou o edifício
multifuncional (residência, escritório, armazém, fábrica) requerido por João da
Fonseca Carvalho, nos anos 30 do século passado, na Avenida Fernão de
Magalhães, recentemente demolido
para a construção de um hotel.”
Cortesia de Jorge Ricardo Pinto (Doutor, mestre e licenciado
em Geografia pela UP)
Bloco Residencial na Rua de Santos Pousada, de Januário
Godinho
A mesma perspectiva da anterior foto – Fonte: Google maps
Fábrica/Armazém de João F. Carvalho, na Avenida Fernão de Magalhães
- Cortesia de “portosombrio.blogspot.com”
“Foi no início dos
anos 30 do século XX, quando a Avenida Fernão de Magalhães ainda não havia
chegado ao Campo 24 de Agosto que o industrial João da Fonseca Carvalho
requereu licença para a construção deste prédio (…).
Constituído por três
pisos, sob uma linguagem mais austera da Art Deco, o projecto do prédio esteve
a cargo do engenheiro Joaquim de Oliveira Ribeiro Alegre, muito envolvido nos
projectos de urbanização nas colónias portuguesas (principalmente em
Moçambique); continha uma garagem no rés-do-chão e um escritório no primeiro
andar, enquanto as partes restantes serviriam para habitação. O último piso
tornou-se um salão único, servindo de ampliação à fábrica do proprietário que
já funcionava num prédio contíguo, onde foram instalados teares.”
Cortesia de “portosombrio.blogspot.com”
Hoje, este edifício, depois de recuperado, está ocupado por
um hotel.
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