“Os Sinos d’Alpendurada”,
um folhetim de Alberto Pimentel, publicado no “Jornal do Porto”, em 12 de Março de 1870, narra uma estória
passada durante a reconquista cristã da península ibérica com os ingredientes
comuns a muitas outras, afectas a outras regiões, das quais, uma das mais
conhecidas tem que ver com o topónimo e lugar de Montezelo, do concelho de
Gondomar, ligada a uma batalha ocorrida junto ao rio Tinto e outra, conta a
lenda de Gaia, que Almeida Garrett imortalizou.
Aquelas narrativas são, geralmente, lendas, que muitas das
vezes são transmitidas oralmente, de geração para geração, e constituem uma
versão popular de factos históricos.
A sinopse daquelas estórias contempla, regra geral, uma
paixão, correspondida ou não, entre uma cristã e um mouro, contrariada por
alguém com ascendente sobre um dos membros do casal, e que acaba sempre por um
desenlace trágico e mortal, provocado por um dos intervenientes ou,
normalmente, em consequência de um mal-entendido.
Foram tempos, em que o território era ocupado alternadamente
por cristãos e mouros, em surtidas e escaramuças constantes, quando o rio Douro
era uma verdadeira fronteira natural e em que o Porto era uma sentinela
importante, nesse contexto.
A narrativa de Alberto Pimentel reportava-se ao acontecido
em meados do século XI, em Alpendurada, concelho de Marco de Canavezes, e
ter-lhe-ia sido transmitida pela “tia
Agueda”.
Alpendurada dizem, por se encontrar “pendurada” nas rochas
do Monte Arados, entre as margens esquerda do rio Tâmega e a direita do rio
Douro.
O mosteiro de Alpendurada tem origem num oratório a São João
Baptista, em meados do século XI, servindo a Ordem Beneditina e mantendo ainda,
hoje, as celas dos monges a austeridade de outros tempos.
Em 1065, já é um pequeno ermitério (local isolado de
meditação, oração e contemplação e de residência de um eremita) evoluindo, nos
anos seguintes, para um pequeno mosteiro.
“Convento Beneditino,
situa-se na freguesia de Alpendurada e Matos, no concelho de Marco de
Canaveses, entre os rios Tâmega e Douro. Anterior à fundação da nacionalidade,
data da primeira metade do século XI. Foi um convento importante na época de D.
Afonso Henriques que lhe concedeu coutos e honras. Um dos locais mais
importantes na época era a biblioteca, onde se guardavam documentos importantes
do reino”.
Fonte: “infopedia.pt/”
O mosteiro sofreu trabalhos importantes de ampliação e de
restauro nos séculos XVII e XVIII, contudo, ainda mantém muitos dos seus traços
Românicos, como na cozinha medieval, onde hoje se organizam, para turistas,
ceias medievais.
Fachada lateral do mosteiro de Alpendurada, com igreja ao
fundo – Ed. SIPA
Fachada do mosteiro de Alpendurada – Ed. SIPA
A importância desta região, e a sua conexão com o Porto, tem que ver com a expulsão dos muçulmanos c. de 1035, durante o processo de
reconquista cristã, que irá conduzir à refundação da antiga cidade de Cale ou
Gaia, com o nome de Vila Nova e, em sequência, ao renascimento do burgo do
Porto.
Assim, em Alpendurada, entre 1054 e 1059, ocorre a fundação
do Mosteiro pelo abade Velino, em torno de um oratório dedicado a São João
Baptista; em 1059, D. Sisnando Viegas (1049-1085?) consagra a igreja; em 1065,
Velino oferece o pequeno ermitério a Exemeno (monge eremita), entrando na
esfera do monaquismo visigótico; em 1072, o padroado do mosteiro pertence a
Mónio Viegas (não confundir com Moninho Viegas), que introduz melhoramentos,
amplia a igreja e manda fazer uma imagem de São João Baptista, em prata; em
1073, após o falecimento de Gavino Froilaz, os seus bens são deixados ao
mosteiro.
Diga-se que D. Moninho Viegas, algumas décadas antes, em 990,
tinha fundado, bem perto, o Mosteiro de Santa Maria de Vila Boa do Bispo.
Este mosteiro está implantado, tal como o mosteiro de
Alpendurada, na margem esquerda do Tâmega, distando dele, 7 Km.
Mosteiro de Santa Maria de Vila Boa do Bispo – Fonte: “rotadoromanico.com/”
Se é da Ordem de São Bento, uma Ordem monástica, é um Mosteiro e não um Convento.
ResponderEliminarComo sabe, a diferenciação entre convento e mosteiro é feita, muitas das vezes, atendendo à sua localização, fora ou dentro de povoados. Não há uma norma taxativa. No entanto, não deixando de lhe dar razão, irei fazer a reformulação do texto segundo a sua opinião, excepto ao que é da autoria da Infopédia que está, por isso, em itálico. Sinceramente lhe agradeço o reparo e espero continuara a usufruir das suas visitas a este singelo blogue, que construo com muito ânimo.
EliminarOs meus Cumprimentos
Américo Conceição