Os escritórios da Régua da “Casa Ferreira” (1928), na Rua
dos Camilos – Ed. Alberto Cerqueira; Fonte: Arquivo Histórico da Casa Ferreira
Após a morte de D. Antónia, em 26 de Março de 1896, o
património vinhateiro da família ficou reunido nesse ano de 1896, na firma “A. A. Ferreira, Sucessores”.
Esta firma, em 1898, dá origem à “Companhia Agrícola e Comercial dos Vinhos do Porto” (sociedade
anónima de responsabilidade limitada), conhecida também por “Casa Ferreirinha”, na qual os dois ramos
de herdeiros, a casa de António Bernardo Ferreira III e a da condessa da
Azambuja dominavam o capital, mas não dispondo da maioria dos votos.
Tudo isto advinha do testamento de D. Antónia, aliás, dos
dois testamentos existentes.
Num primeiro, com data de 2 de Agosto de 1889, na parte
respeitante à distribuição, da “Terça Disponível”(terça parte da herança) os
dois herdeiros principais, os filhos, cuja “Legítima”(duas terças partes dos
bens) foi por eles dividida integralmente (artº 1784 do Código Civil de 1867), seriam
também contemplados numa determinada percentagem, para além de uma série de
empregados, criados e instituições várias de bem-fazer.
No entanto, devido a heranças familiares (provenientes dos
avós maternos e paternos) já acontecidas, verificava-se que a condessa de
Azambuja tinha saído prejudicada, relativamente ao seu irmão, no que à “Terça”
dizia respeito.
Por isso, seria feito um segundo testamento para remediar a
situação, o qual teria como advogado e como escrivão, Francisco José d’ Azevedo
Coutinho, a rogo da testadora.
Serão testamenteiros de D. Antónia Ferreira, os seus
administradores, comercial e não comercial, António José Claro da Fonseca e
Francisco Correia Cardoso Monteiro e Santos.
O período para implementação das determinações do testamento
é fixado em dois anos.
A percentagem na “Terça”, atribuída aos dois herdeiros
directos, seria gozada como usufruto, enquanto vivos, pois, à sua morte, a raiz
passaria para os seus sucessores.
José Claro da Fonseca e Francisco José d’ Azevedo Coutinho farão
parte da 1ª Direcção da firma, durante o primeiro ano e durante três anos de
mandato, respectivamente.
D. Antónia Ferreira
Maria da Assumpção, filha de D. Antónia, tinha-se tornado
condessa de Azambuja, ao casar em 12 de Maio de 1860, com Augusto Pedro de
Mendonça Rolim de Moura Barreto, 3.º conde de Azambuja, filho do Marquês de
Loulé.
Aquele casamento deu brado, na época, pela realização de principescos esponsais tendo o vestido e o véu da noiva custado a fabulosa importância de 30 contos de reis e a grinalda sido para ela executada pelo rei dos floristas de Paris, o não menos famoso transmontano Constantino de Sá e Melo.
Do casamento, o casal viria a ter 12 filhos, quatro rapazes e oito raparigas, a última das quais, Maria Luísa vem a casar com o basco Ramon de Olazábal y Eulate, 2º conde de Arbelaiz y Oria.
Aquele casamento deu brado, na época, pela realização de principescos esponsais tendo o vestido e o véu da noiva custado a fabulosa importância de 30 contos de reis e a grinalda sido para ela executada pelo rei dos floristas de Paris, o não menos famoso transmontano Constantino de Sá e Melo.
Do casamento, o casal viria a ter 12 filhos, quatro rapazes e oito raparigas, a última das quais, Maria Luísa vem a casar com o basco Ramon de Olazábal y Eulate, 2º conde de Arbelaiz y Oria.
Os primeiros anos da nova empresa são orientados por
Wenceslau de Lima, filho da alta burguesia portuense e amigo íntimo do rei D.
Carlos, que tinha casado com uma neta de D. Antónia.
Wenceslau de Lima, casado desde 1879, com D. Antónia
Adelaide Ferreira, filha de António Bernardo Ferreira III, manter-se-á em
funções, até ser convidado para chefiar o Governo, em 1909.
Sucederam-se várias intervenções na gestão da firma, com
destaque para a acção do basco Ramon de Olazábal e outras intervenções na gestão
dos negócios, por exemplo, nos anos 20, de Jorge Viterbo Ferreira e, depois, do
seu filho Jorge Cabral Ferreira, bisneto e trisneto de Dona Antónia Adelaide
Ferreira, respectivamente.
Jorge Viterbo Ferreira foi Presidente substituto da Câmara
Municipal do Porto, Director do Instituto do Vinho do Porto e Presidente do
Grémio dos Exportadores do Vinho do Porto.
Vinho do Porto (1830) - A.
A. Ferreira, Succrs
Vinho do Porto (1877) da “Companhia Agrícola e Commercial dos Vinhos do Porto – Sucessora de D.
Antónia Adelaide Ferreira”
Expositor da “Companhia Agrícola e Commercial dos Vinhos do
Porto – Sucessora de D. Antónia Adelaide Ferreira”, durante a Exposição
Agrícola e Industrial do Porto, no Palácio de Cristal, inaugurada por el-rei D.
Carlos a 17 de Agosto de 1903
Sobre a vida de D. Antónia Ferreira muito mais há para contar.
Ao lado da sua actividade comercial, poder-se-ia também
falar da que dedicou a obras de assistência social.
«As preocupações
sociais de Dona Antónia ultrapassavam em muito o apoio concedido às famílias
dos trabalhadores das suas terras e adegas, estando bem patentes no
investimento feito na construção de quilómetros de estradas e de
caminho-de-ferro na região, que chegou a dar trabalho a mais de mil operários,
ou no seu contributo para a edificação dos hospitais de Peso da Régua, Vila
Real, Moncorvo e Lamego, para além da ajuda à Misericórdia do Porto e a muitas
outras instituições de solidariedade social. Ela enunciava, aliás, uma máxima
elucidativa: "Cada um na sua
terra deverá fazer tudo o que seja para bem da Humanidade".»
Fonte: “istoedinheiro.com.br/”
Poder-se-ia referir, noutro âmbito, o caso que D. Antónia
protagonizou, em 1854, quando fugiu com a sua filha para Inglaterra, para
impedir os assédios do Marechal Saldanha (presidente do Conselho de Ministros
de Portugal em 1835, entre 1846-1849 e 1851-1856 e, em 1870) que, à força,
desejava que a jovem, apenas de 11 anos, casasse com um seu filho.
No ano anterior, ano da morte de seu pai, o seu filho
António Bernardo Ferreira III havia casado com a irmã de Ana Plácido,
casamento esse que não aprovou, tendo inclusive levado a tribunal o padre da paróquia da Vitória, que o celebrou.
Será este filho (agraciado a 12 de Agosto de 1854 com a
comenda de Cristo), que integrando um bando a mando do Marechal Saldanha, vai
tentar raptar a irmã.
Antes, uma comitiva do Marechal constituída pelo Conde de
Saldanha (o pretendente à mão da menor), sua irmã, a Condessa de Tavarede e um
primo, D. Rodrigo de Almeida, apresenta-se para negociar os termos do enlace,
que D. Antónia rejeita. Em sequência, surge a hipótese do rapto.
Em 24 de Agosto, pelas duas horas da madrugada, começa a
desenrolar-se a acção na Quinta de Travassos, mas naquela morada está, apenas,
a avó da visada, Margarida Rosa Gil.
D. Antónia, sabendo atempadamente do que estava em marcha,
havia fugido com a sua filha para a Régua, para a casa de Ana Máximo Silva
Pereira. Daqui, foge para Lamego onde tenta o refúgio no convento das Chagas, o
qual lhe será negado.
Depois de passar pela casa de um familiar de um
administrador da Casa Ferreira na Régua, volta a casa de Ana Máxima.
Em 8 de Setembro, D. Antónia parte para Vila Real
acompanhada por António José Claro, um seu gestor de confiança, Inácio Pinto
Saraiva (administrador dos Tabacos em Vila Real) e pelo seu compadre Luís
d’Araújo.
Ali tira o passaporte e é recebida pelo Governador Civil, partindo,
logo que foi possível para Vigo, com escala em Ourense e seis dias de viagens.
Francisco José da Silva Torres, que virá a ser o segundo
marido de D. Antónia, apresenta-se na Galiza e passa a acompanhar a mãe e a
filha, partindo os três para Inglaterra em 20 de Setembro.
António Bernardo Ferreira, entretanto, seria nomeado “Adido
às Embaixadas do Norte”.
D. Antónia regressa três anos depois a Portugal e, em 1856,
contrai matrimónio com Francisco José da Silva Torres.
Em 1860, a filha Maria da Assumpção casa com o conde de
Azambuja e, anos mais tarde, arrastará a sua mãe para as decisões dos tribunais,
respeitante a uma querela de disputa de bens.
A morte e o funeral de D. Antónia Ferreira foram alvo de
notícias relevantes nos jornais da época.
Sobre a morte de D. Antónia Ferreira, o jornal “A Voz
Pública” de 28 de Março de 1896, um periódico republicano, transcrevia um
artigo do jornal “O Comércio do Porto”.
Por seu lado o jornal “O Primeiro de Janeiro”, sobre o mesmo
tema, diria:
“ (…) ao longo dos
cerca de quatro quilómetros que o cortejo fúnebre percorreu entre a Quinta das
Nogueiras e a Igreja da Régua, 30 mil durienses ladearam a estrada e ajoelharam
à passagem dos restos mortais da "santa" e da "mãe dos
pobres", como também era conhecida Dona Antónia Adelaide Ferreira.”
In jornal “O Primeiro de Janeiro”
Dos casamentos
celebrados por D. Antónia Ferreira, pode dizer-se que o que teve com António
Bernardo Ferreira (1812-1844) II, o seu primeiro marido e primo, foi interrompido muito
precocemente.
Mercê de uma educação mais citadina, ele vivia a vida de um
modo mais mundano, ao contrário dela que, com residência na Régua, tentava
acompanhar os trabalhos agrícolas, nos quais se baseava o negócio da família.
A actividade de convívio social de António Bernardo Ferreira
centrava-se em torno do prédio da Rua do Vilar, conhecido como Casa do
arcediago Van Zeller que foi por ele habitado e onde foram levadas à cena várias
peças de teatro e o palacete da Praça da Trindade (no local em que está hoje o
Palácio dos Correios), começado a construir por ele e que, praticamente, não
chegou a habitar. Neste palacete, fundou António Bernardo II, com o então
Ministro da Fazenda, Manuel Gonçalves de Miranda, a Assembleia Portuense que ocuparia uma ala desse edifício, concluída
em primeiro lugar.
Em 1838, António
Bernardo Ferreira II, já havia comprado, em Liverpool, o navio Circassian a que
dá o nome de Quinta do Vesúvio, que passa a disputar com o vapor Porto (que
também lhe pertence) o transporte de passageiros entre Lisboa e Porto.
Em 8 de Julho de 1838, chegava ao Porto o “Quinta do Vesúvio”.
Em 8 de Julho de 1838, chegava ao Porto o “Quinta do Vesúvio”.
“NOVO BARCO DE VAPOR
= QUINTA DO VESUVIO =
O BARCO Portuguez
movido por vapor - Quinta do
Vesuvio - acaba de entrar neste porto, para fazer a carreira usual
entre esta Cidade e Lisboa - E como o seu Proprietario Antonio Bernardo
Ferreira tenciona fazer huma viagem por prazer até o Mediterraneo, com escalla
por Lisboa, offerece esta comoda occasião a qualquer pessoa que se proponha a
aproveitar-se della, podendo dirigir-se ao Escriptorio da Agencia, Rua dos
Inglezes N.º 17, 1-º andar, aonde se convencionaraõ as condições - A sahida
será no Domingo 8 do corrente, ás 2 horas da tarde”.
In jornal “O Athleta”, de 4 de Julho de
1838; Cit. de Nuno Cruz
Em 1838, a firma dos Ferreirinha já estaria pela Rua dos Ingleses,
nº 17 – 1º andar, como se vê no anúncio acima.
António Bernardo Ferreira II foi ainda accionista dos teatros S. João e Santa Catarina e ainda,
do Warre Brothers, Banco Comercial do Porto, Banco de Lisboa, Companhia de
Segurança, Sociedade de Pescarias Setubalense, Companhia de Artefactos de Seda,
Algodão e Lã, Companhia de Seguros Bonança, Empresa Portuense de Navegação por
Vapor, Companhia de Navegação do Tejo e Sado, Empresa do Vapor de Valença,
Empresa da Estrada do Porto a Coimbra, Companhia Geral da Agricultura das
Vinhas do Alto Douro.
António Bernardo Ferreira investiu igualmente na imprensa,
tendo pertencido á empresa do jornal "A Coallisâo'".
Dedicava-se, também, a empréstimos de capital, nomeadamente ao industrial Luciano Simões de Carvalho, que ficaria com grandes dívidas aos herdeiros de António Bernardo Ferreira que, mesmo assim, a sua fortuna, à data da sua morte, se cifrava em 650 contos.
O desenlace aconteceria em Paris, em casa do conde do Bonfim. Aliás, Paris e Londres tinham passado a receber frequentemente as visitas de António Bernardo Ferreira, que jaz sepultado no cemitério catacumbal da Ordem de S. Francisco, depois da transferência do seu cadáver, embalsamado, em Paris.
Dedicava-se, também, a empréstimos de capital, nomeadamente ao industrial Luciano Simões de Carvalho, que ficaria com grandes dívidas aos herdeiros de António Bernardo Ferreira que, mesmo assim, a sua fortuna, à data da sua morte, se cifrava em 650 contos.
O desenlace aconteceria em Paris, em casa do conde do Bonfim. Aliás, Paris e Londres tinham passado a receber frequentemente as visitas de António Bernardo Ferreira, que jaz sepultado no cemitério catacumbal da Ordem de S. Francisco, depois da transferência do seu cadáver, embalsamado, em Paris.
A família Ferreira foi ainda proprietária dos terrenos
afectos ao Grande Hotel do Porto, na Rua de Santa Catarina e numa área em volta
dele.
Palacete da Ferreirinha, em frente, na Praça da Trindade. À
esquerda, a fachada da igreja da Trindade
Por sua vez, o casamento de D. Antónia com Francisco da
Silva Torres, à data seu secretário, trabalhando no escritório da firma, na
Régua, teria sido menos agitado.
Trocariam propriedades e após a morte dele, em 1880, foi ter
às mãos de D. Antónia, para além de uma vasta fortuna, a propriedade das termas
das Caldas do Moledo que ele administrava.
Então, D. Antónia mandou construir o palacete que serviu de
residência a D. Luís I, na sua deslocação à região, ocorrida em 1881, deslocando-se
num comboio especial, numa viagem pela linha do Douro, acabada de construir, com
começo no Porto.
Palacete de Caldas do Moledo
Mandou também reformar todos os edifícios balneares e, na
época termal, no Verão, escutavam-se nas redondezas o som das orquestras que no
palacete actuavam.
Anos antes, ainda na primeira metade do século XIX, uma
constante afluência de banhistas levaria à abertura da Estalagem de José
Ferrador, junto ao ribeiro que vem de Fontelas.
Em meados do século XVIII, já o médico de D. João V atribuía
às águas termais destas paragens, propriedades curativas.
Caldas do Moledo no “Caminho da Régua”, por onde iria
passar, anos mais tarde, a Estrada Nacional (EN 108)
Com o desenvolvimento dos acessos, Francisco José da
Silva Torres, (2.º marido de Antónia Ferreira), em 1863, compra as
principais minas, até então nas mãos do arcediago da Sé de Braga, João
Joaquim Ferraz da Silva e do Conselheiro António Filipe de Sousa Cambiasso e
por arrastamento a Quinta do Granjão.
Caldas do Moledo, perspectiva para poente
Caldas do Moledo e o seu Casino
Caldas do Moledo – Casino, Grande Hotel e, ao, centro o
Palacete
Sobre a foto anterior:
“O complexo
arquitectónico inclui o Casino, o Palacete e a Capela, curiosamente a
disposição central do Palacete com acesso direito à capela, do seu lado
esquerdo, e o Casino, à sua direita, como que simbolizando o equilíbrio situado
entre a virtude e o pecado”.
Cortesia de Pedro Paiva
Sala de Jantar do Grande Hotel das Caldas do Moledo
No início do século XX, apoiavam as termas, o Grande Hotel,
o Hotel Vilhena e o Petit Hotel.
Petit Hotel nas Caldas do Moledo
O Petit Hotel, na foto anterior, à esquerda, apresenta o
telhado com as suas duas águas mais pronunciadas e encontrava-se mesmo de
frente para o Grande Hotel.
À esquerda, ao fundo, a entrada para o Parque das Caldas do
Moledo
Parque das Termas de Caldas do Moledo
“Caldas do Moledo
contava ainda com um casino, um parque, três capelas particulares, uma
farmácia, um talho, uma casa de artigos fotográficos, várias sapatarias,
alfaiates, funileiros, relojoeiro, barbeiros, mercearias e estabelecimento de
fazendas brancas (têxteis), estação de telégrafo-postal, estação dos
caminhos-de-ferro e um cais – que serviam de ponto de acesso para a chegada de
utentes das termas -, e mercado diário na época balnear.
Em 1923, os herdeiros
da Ferreirinha venderam as Caldas ao Coronel Miguel Evaristo Teixeira de
Barros”.
Cortesia de J. A. Almeida e “escritosdodouro.blogspot.com”
Em 1899, já os herdeiros de D. Antónia Ferreira,
comercializavam a água das Caldas do Moledo, em Lisboa.
Publicidade à água engarrafada da Bica do Rio (Caldas do
Moledo), In “Diário Illustrado” de 29 de Novembro de 1899
À esquerda, a Farmácia Pinho, nas Caldas do Moledo
Casa dos Banhos de Lama, em Caldas do Moledo
Piscinas em Caldas do Moledo
“Em 1969, já
conhecedora das consequências da nova barragem, a Junta do Turismo inicia uma
prospecção de águas dos caudais acima do nível da albufeira, para o efeito
contrata os melhores especialistas nacionais e internacionais. Nesse mesmo ano
o hidrogeólogo alemão Dr. Hartrun Seifert obtêm êxito com a técnica de
sondagem, conseguindo salvar os mananciais hidro-minerais do rio para
aproveitamento num balneário a construir e em substituição das piscinas
submersas.
Em 1971, com a nova
cheia, danificam-se novamente as instalações e construíram-se novas piscinas
que foram inauguradas em 1982 e sobre o balneário termal da Lameira (baptizado
Dr. João de Araújo Correia) foi edificado um complexo hoteleiro com 10
apartamentos de tipologia T1.
O projeto nasceu pelas
mãos do arquitecto Moreira da Costa, e incluiu a construção para o novo
balneário, a requalificação do parque, uma piscina de recreio e desporto, campo
de ténis e mini-golfo e ainda um parque infantil.
Aquela pequena
localidade que já havia superado cheias, inundações e incêndios, com a viragem
do século, depara-se com um novo desafio de proporções bem mais
consideráveis, a Primeira Guerra Mundial viria a causar um grande impacto na
segunda década do século XX, reduzindo sensivelmente para 50% da taxa de ocupação
face à década anterior.
Até ao final da Guerra
Civil Espanhola, o comboio que regulamente assegurava a ligação entre Porto e
Madrid desde os finais do século XIX, deixou de assegurar essa ligação, pelo
menos não com a intensidade que o havia feito antes. Foram mais de 20 anos com
instabilidade nas comunicações férreas.
Em 1923, os herdeiros
da Ferreirinha venderam as "Caldas" ao Coronel Miguel Evaristo
Teixeira de Barros.
Como se não bastasse,
com o surgimento da Segunda Grande Guerra, a afluência dos aquistas desce
drasticamente e grande parte dos estabelecimentos fecha, a hotelaria ficou
reduzida ao Grande Hotel e à pensão Borges que resulta da adaptação do Petit
Hotel.
Referenciado pela
última vez em 1931, o Balneário da Estrada encerra por desactualização das
instalações e baixa frequência, encerra em 1954, passando a ser canalizadas as
águas das minas que o abasteciam, para o Balneário da Lameira, no plano
inferior.
Segue o exemplo dos
Balneários da Estrada, o Grande Hotel, que acaba por fechar também passados
poucos anos.
(…) O grande golpe
aparece em 1962, o rio sobe ao nível do primeiro piso do Grande Hotel, engole
as Nascentes do Rio, o Balneário de Lama, a sala de jantar, cozinha e dispensa
do Grande Hotel, quando o nível do rio se estabelece fica a marca dos
destroços, só as piscinas do rio resistiram à cheia.
Na época o
proprietário das Termas, do Grande Hotel e da Quinta das Caldas, Tenente
Coronel Teixeira da Mota, desolado decide desfazer-se do empreendimento e vende
à junta de Turismo das Caldas de Moledo, principal interessada pelo novo
impulsionamento da atividade.
(…) As nascentes do
Grupo do Rio (30 do Rio e a Bica) acabariam por se extinguirem no ano de
1971, com a construção da Barraguem do Carrapatelo, ficam submersas
definitivamente”.
Cortesia de Pedro Paiva, In “bussoladetempo.blogspot.com/”
Voltando à personalidade de Silva Torres, teria, também ele,
uma vida ligada aos negócios.
Em 1873, subscrevia já os títulos do empréstimo
nacional e investia em fundos estrangeiros. Em 1874, chegava a de Par do Reino,
por Carta Régia de 16 de Maio e jurada a 11 de Março de 1875.
Em 1876, o nome de Silva Torres surge como um dos financiadores
do Banco União, com mais de 260 contos de réis.
Diversificou investimentos, comprando imóveis como o Palácio
Farrobo, em Vila Franca, casas em Murça e nas Caldas do Moledo, bem como
armazéns no Douro ou prédios rústicos como a Quinta da Torre, casal de Moncorvo
e vinhas. Em 1877, foi agraciado com a Ordem de Nossa Senhora da Conceição
de Vila Viçosa.
A "Ferreira", na actualidade
Apesar de todas as vicissitudes, a “Ferreira”, depois de 1950, consolida a sua posição no mercado nacional, com o slogan: "Foi você que pediu um Porto Ferreira?”.
Em 1952, é lançado o primeiro Barca Velha, pelo seu criador, Fernando Nicolau de Almeida, um enólogo de referência que logo se torna a marca emblemática do vinho tinto português.
Nessa década, são adquiridas a Constantino e a Hunt Roope, empresas com presença nas áreas dos brandy e dos Porto.
Na década de 1960, a “Ferreira” acaba com todas as exportações de Porto a granel.
No final da década de 1980, a quinta do Vesúvio é vendida aos Symington, que entenderam fundar a “Sociedade Agrícola Quinta do Vesúvio” e tornar a Quinta do Vesúvio completamente independente do seu universo, sendo hoje é uma das maiores propriedades do Douro, com uma área total de 326 hectares, dos quais 133 são plantados com vinha.
Quinta do Vesúvio
Quinta do Vesúvio – Cortesia de “acidadenapontadosdedos.com/”
Por outro lado, a “A. A. Ferreira S. A.”, juntamente com algumas das suas quintas, passa a integrar o grupo Sogrape, após intensas negociações que envolveram o Governo, de modo a evitar a sua venda a estrangeiros.
A Sogrape adquiriu à “A. A. Ferreira S. A.” as marcas Porto Ferreira e Casa Ferreirinha, as Caves de Vinho do Porto em Vila Nova de Gaia e as quintas do Porto, Seixo e Leda.
Destas três quintas, a única que pertenceu a D. Antónia foi a do Porto, situada perto do Pinhão e sobranceira ao rio Douro, existente desde 1771 e adquirida por Dona Antónia Adelaide Ferreira em 1863.
Apesar de aí nunca ter vivido, D. Antónia visitava muitas vezes esta quinta, chegando mesmo a estabelecer na Quinta do Porto um centro de estudo para o combate à filoxera.
A casa da Quinta do Porto foi completamente recuperada, mantendo intactos o mobiliário e ambiente de então.
Francisco Olazabal permaneceria na administração da “A. A. Ferreira S. A.”, integrada na Sogrape, durante mais alguns anos, fazendo a transição que se impunha.
Já nos anos 90, assiste-se à saída de Francisco Olazabal da empresa, para criar um projecto próprio numa das quintas emblemáticas de D. Antónia, o Vale Meão, pois tendo no negócio em que interveio a Sogrape, algumas quintas ficado excluídas dele, alguns descendentes de D. Antónia têm hoje as suas próprias quintas. Dois exemplos são a Quinta do Vale Meão e a Quinta do Valado.
“Em 1877 D. Antónia Adelaide Ferreira, já proprietária do maior património agrícola do Douro, comprou em hasta pública 300 hectares de terra virgem à câmara de V. N. de Foz Côa. O seu sonho era de construir, a partir do nada, uma exploração modelo, concretizando nela toda a vasta experiência acumulada ao longo da sua vida de empresária duriense.
(…) Desde então, a quinta manteve-se sempre na posse dos seus descendentes. A partir dos anos 70, o seu trineto Francisco Javier de Olazabal assumiu a sua gestão e iniciou um longo processo de aquisição de partes indivisas dos seus familiares e comproprietários e, em 1994, tornou-se juntamente com seus filhos, único proprietário da Quinta.
Até então, as uvas da Quinta eram vendidas á empresa A. A. Ferreira S. A., fundada pelos descendentes de D. Antónia, e estavam na base de alguns dos seus melhores vinhos.
Essa ligação continuou até 1998, ano em que Francisco Javier de Olazabal decidiu renunciar ao cargo de presidente de A. A., Ferreira S.A. para se dedicar juntamente com seu filho enólogo Francisco de Olazabal y Nicolau de Almeida, à produção, envelhecimento e comercialização dos vinhos da quinta, através da criação da sociedade F. Olazabal & Filhos, Lda.
Hoje Francisco, Luísa e Jaime estão ligados à gestão da empresa, cada um o seu papel, e partilham a mesma paixão pelo vinho. De uma vindima à outra respeitam a tradição e mantêm a mente aberta à inovação. Toda a família Olazabal imprime o seu entusiasmo e contribui para perpetuar o projeto de D. Antónia de tornar a Quinta do Vale Meão uma Quinta modelo no seu próprio tempo”.
Fonte: “quintadovalemeao.pt/”
Para o desenvolvimento da Quinta do Vale Meão, D. Antónia apostou na conclusão da linha de caminho-de-ferro do Douro que, em 1877, tinha apenas chegado a Penafiel.
Só 10 anos depois, o comboio chegou finalmente ao Pocinho, a cerca de 3 kms da quinta.
Para administrar a Quinta de Vale de Meão, foi designado António Claro, o antigo gestor e companhia de anos.
Actualmente, a “Ferreira” não é uma empresa autónoma, mas, apenas, uma unidade de negócios no seio da Sogrape.
Ainda assim, as suas marcas são fundamentais para a estratégia do grupo liderado pela família Guedes.
Pelo valor que gere, mas, talvez ainda mais, por serem consideradas por parte da crítica e do mercado, como próximas da excelência.
A Sogrape, detentora da “Casa Ferreira” e maior empresa portuguesa do sector, tem hoje operações na Nova Zelândia, Argentina e Chile.
“Vale a pena recordar que a empresa produziu 26 mil garrafas de Barca Velha de 2000 ou 19 mil do Reserva Especial de 2003, uma quantidade que alguns concorrentes de menor dimensão gostariam de dispor para as suas marcas de gama média. E além destas funções, a integração da Ferreira na Sogrape, consumada em Dezembro de 1987, fez com que a empresa assumisse a gestão de todo o portefólio de marcas baseadas nos vinhos durienses. O que inclui além do Vila Régia e do Planalto (que vale 1,5 milhões de litros vendidos por ano), as diferentes gamas de vinho do Porto da Sandeman e da Offley Forrester”.
Fonte: “fugas.publico.pt/vinhos”
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