Sociedade da Ervilha
Esta colectividade tinha a sua sede na esquina das
desaparecidas ruas de D. Pedro e Cancela Velha, no prédio onde tinham
consultório os Drs. Figueirinhas, Mendes Correia, Henrique Maia e Godinho
Faria.
João Baptista de Lima Júnior, Presidente da Câmara do Porto,
entre 20/01/1898 e 26/07/1900, sensivelmente os mesmos anos em que existem
documentos da ‘Sociedade da Ervilha’ (1895 a 1901), presidiu também à Sociedade
da Ervilha.
Funcionava como uma tertúlia. Jogavam baston, conversavam, e quando algum sócio fazia anos ou entrava um
novo elemento, faziam uma sessão solene, durante a qual serviam o punch (Ponche da Ervilha), um preparado de vários licores.
Nessas ocasiões, os sócios tinham que usar uma casaca de
chita, às flores, com um crachat de
ervilhas e todos faziam um discurso de cariz humorístico.
Faziam teatro e todos os anos davam uma récita, no dia do
aniversário do presidente, em V. N. de Gaia, na sua Quinta do Vale da Glória.
“A Quinta do Vale da
Glória, localizada entre a Ponte do Infante D. Henrique e a Ponte Maria Pia,
destaca-se pela sua posição sobranceira ao Rio Douro e pela presença de uma
extensa mina cavada no granito, que se divide em dois ramais, denominada “Fonte
da Gruta”. Outrora, a água desta fonte era comercializada como “Água da Gruta”.
Nos seus terrenos armados em socalcos, evidencia-se para além de folhosas, um
conjunto de Palmeiras das Canárias - Phoenix canariensis.”
Fonte: “cm-gaia.pt/”
Casa da Quinta do Vale da Glória – Cortesia de Helga Nair,
2010
Ponte Maria Pia
Sabe-se que, Mendes Corrêa, João Figueirinhas, Manuel
Rodrigues da Silva Pinto, Engº Júlio Portela, comendador António Joaquim de
Morais, Abel Brandão, Zeferino de Serpa Quaresma, António Patrício (pai do
poeta), etc, faziam parte do grupo.
Ao palco subiu a comédia “Viriato”, a tragicomédia de
Francisco Palha “A morte de Catimbau” e a paródia “As três graças”,
desempenhada em travesti pelos sócios
Dr. Narciso Carvalho, Engº Júlio Portela e comendador Morais, sendo que, o
papel de guarda ficou a cargo do Dr. Maximiano Lemos.
O jornal da tarde “A Província” encarregava-se de dar conta
da actividade da colectividade.
Mais tarde, foi fundada a “Sociedade dos Ervilhinhas”, de que faziam parte os filhos de
alguns sócios.
Estes, também faziam teatro, tendo levado à cena em casa do
presidente Lima Júnior, na Foz do Douro, algumas comédias e até uma revista
escrita por Maximiano Rica, com música de Júlio Moutinho, que era o ensaiador e
com a caracterização das personagens a cargo do padre Francisco Patrício.
Postal de aniversário dirigido ao presidente da “Sociedade
da Ervilha”
Sociedade do Calhau
Provisório
Os fundadores do grupo foram homens para além dos 30 anos de
idade, todos do Bonfim e de várias condições sociais.
Proprietários, negociantes e industriais que, terminado o
labor quotidiano, gostavam de passar algumas horas, em convívio, em agradável
passatempo.
Foram desde o início sócios: José Maria Ferreira, Alfredo
José Pinto Osório, António Araújo Corrêa, Francisco Pereira de Loureiro Barboza,
Manuel d’Almeida Machado, José Alves Netto, José Coelho Vital, Francisco Jorge
Gonçalves d’Oliveira Torres, João Francisco d’Oliveira Guimarães, João José
Pinto Osório e António Peres Dias Guimarães.
A assembleia de organização da sociedade, acontecida em 8 de
Novembro de 1901, determinou que o número de associados poderia atingir os
dezanove.
Em casa do José Maria Ferreira, o Zé Maria, decorreu o acto
solene que determinou, que a sociedade se chamasse, “Sociedade do Calhau Provisório”.
Tal nome ficou a dever-se ao Zé Maria que, quando instado a
liderar a formação dum grupo de lazer, respondeu: “vamos lá tratar de assentar o primeiro calhau no alicerce da
sociedade”.
A primeira deliberação, para além do nome, foi a construção
de um palco para actuações musicais e de teatro.
A ocupação dos tempos livres assentava muito, naqueles anos,
na exibição de amadores em representações teatrais e musicais.
Levantado o palco por quem dominava a arte da trabalhar a
madeira, depois do Loureiro Barboza forrar os cenários e do Francisco Torres
exibir os seus dotes de pintura, no dia 7 de Dezembro de 1901, realizou-se uma
brilhante sessão solene e um sarau dramático-musical a que assistiram as
famílias dos associados.
A partir daí, todas as noites, era a jogatina que tinha lugar
de destaque.
Por essa altura, já com os Estatutos, em forma de letra, o
Zé Maria incumbiu o Loureiro Barboza, para junto de um merceeiro da Rua do
Bonfim, o convencer a apresentar-se no clube de manto de arminho, coroa real e
ceptro, para ser aclamado como rei Hilário I e avalizar os referidos Estatutos.
No dia 2 de Fevereiro de 1902, o rei Hilário compareceu e
munido com uma pena de pato, assinou aquele importante documento.
A 11 daquele mês, aconteceu um baile de máscaras, que deu
brado, mas seria no dia em que foi cumprido o 1º aniversário da sociedade que
foi feita história, com um magnífico repasto servido na sala da secretaria e
que terminou pelas três horas da madrugada.
A seguir se dá conta do menú.
O grupo de amigos divertia-se como podia e a imaginação
grassava.
Então, o divertimento supremo e constante, era pregar
partidas a quem calhava, principalmente a indivíduos ingénuos, mas, ao mesmo
tempo, ambiciosos.
Uma delas, radicava na habilidade do Zé Maria, para a
carpintaria, pois era essa a sua profissão.
Na sua oficina, construiu uma caixa de fazer dinheiro, em
notas.
Na caixa, introduzia sorrateiramente algumas notas de banco
por meio de dois rolos, que enrolava em pano preto ficando ocultas.
Introduzindo papéis brancos em sentido contrário, estes
entravam e, pelo outro lado, saíam as notas verdadeiras.
Numerosos ingénuos, os quais eram apelidados de “Portas” (burro que nem portas), foram
apanhados na armadilha, pois a partir da primeira demonstração a que assistiam,
prestavam-se a obedecer a todas as tropelias que, entretanto, eram montadas, de
modo a adquirir a famosa máquina.
Da tramoia que era montada, destacava-se um juramento de
sigilo, sobre a máquina e o seu funcionamento.
O juramento de um “Porta” ficou para a posteridade, na foto
abaixo.
Juramento de um “Porta”
Club Bay-Boden
Com uma existência efémera de uma época balnear, cerca de
1879, nasceu o clube numa casinha da Rua da Senhora da Luz e faleceu numa casa
da Avenida de Carreiros.
Grupo composto por banhistas, integrantes da fluorescente
burguesia portuense, juntavam-se à noite para recitarem, cantarem, tocarem e
mostrarem as suas habilidades artísticas.
Outros, sem qualquer dote naquelas áreas, contavam anedotas
ou improvisavam palestras.
O encerramento da época balnear, nesse ano, para os componentes
do grupo, aconteceu num prédio da Avenida de Carreiros, que ficava junto ao
portão de ferro do banheiro Magalhães, e foi servido pelo restaurante de
Cadouços.
Os presentes no jantar, devidamente enfarpelados, eram
recebidos a toque de sineta à porta do prédio, o qual tinha sido cedido para
esse efeito pelo seu proprietário, ao membro do grupo, João Vieira da Silva.
Com a casa profusamente iluminada e de portas cerradas, os
aldeões comentavam que o “mafarrico”
tinha tomado conta do espaço, pois o rebentar das garrafas de champagne e o hip-hip-hurrah, da praxe, montaram o cenário perfeito.
No dia seguinte, os factos ocorridos na noite anterior eram
tema de conversa.
E, assim, se encerrava mais uma época balnear na Foz do
Douro.
Membros do Club Bay-Boden, In revista “O Tripeiro”, 2º Ano,
nº 49, 1 de Novembro de 1909
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