A Real Companhia Vinícola do Norte de Portugal (RCVNP), que ficaria conhecida como
Companhia Nova ou Real Vinícola, foi
fundada em 1889, e sedeada no Porto, com funções de agente intermediário entre
a produção e o comércio e de comerciante por conta própria.
Os seus estatutos foram publicados em 8 de Abril de 1889 e,
em sequência, a subscrição pública das acções da nova companhia decorreram nos
escritórios da Liga de Lavradores do Douro, Banco Mercantil de Viana do Castelo
e de Guimarães, Banco Comercial, Agrícola e Industrial de Vila Real, Bragança e
Viseu e, ainda, no Banco do Douro, em Lamego.
A “Assembleia-Geral Universal” dos accionistas decorreria no
dia 1 de Maio de 1889, no Teatro Gil Vicente, no Palácio de Cristal.
Palácio de Cristal nos primeiros anos da década de 1860, na
fase de construção do telhado
Fundadores da RCVNP: Da esquerda para a direita, em cima:
José Joaquim Pestana, Manuel d’Albuquerque, J. Pinheiro Leite, António Carlos
Pimentel; em baixo: J. Taveira Carvalho, Conde de Samodães, Manuel Pestana,
Visconde Villar d’Allen
Na foto acima, para a posteridade, estão os fundadores da
RCVNP.
Entre eles, o que mais se destacou foi, sem dúvida, o 2º
conde de Samodães.
“Francisco de Azeredo
Teixeira de Aguilar, 2º Visconde e 2º Conde de Samodães, (Vila Nova de Gaia, 26
de Julho de 1828 - Porto, 4 de Outubro de 1918), bacharel em Matemática pela
Universidade de Coimbra, Professor, Engenheiro Civil e Militar, Presidente da
Câmara Municipal do Porto. Foi também um conhecido escritor. Em 1851, como
resultado da oposição ao golpe militar liderado pelo duque de Saldanha, foi
demitido do exército. Eleito deputado pelo círculo de Lamego (1851 e 1857) em
duas legislaturas, ascendeu, em 1858, à Câmara dos Pares por direito de
sucessão a seu pai. Foi Governador Civil do Porto (1868-1869 e 1871) e ministro
dos Negócios Fazenda (1868-1869), no governo presidido pelo marquês de Sá da
Bandeira. Membro fundador do Partido Nacionalista, a sua atuação revelou-se
preponderante, tendo sido eleito vice-presidente do Centro Nacional do distrito
do Porto (1902) e vice-presidente do Centro Eleitoral Nacionalista do Porto
(1903). Desempenhou ainda funções de inspetor da Academia das Belas-Artes, de
presidente da Associação Católica do Porto e de provedor da Santa Casa da
Misericórdia do Porto. Foi presidente da direção da Real Companhia Vinícola do
Norte de Portugal, presidente da Sociedade Camoniana, presidente da Sociedade
de Estudos e Conferências e fez parte do Conselho Superior de Instrução Pública
e da Comissão Promotora do V Centenário do Nascimento do Infante D. Henrique.
Colaborou em diversos jornais e revistas, tendo sido fundador e diretor do
diário portuense A Palavra”.
Fonte: Wikipédia.
Quando foi fundada a RCVNP, começavam a ficar para trás os
tempos terríveis dos males causados pelas doenças que tinham devastado os
vinhedos, o oídio pelo ataque ao fruto e a filoxera que atacava a raiz da
própria planta.
Com a retirada de alguns privilégios à Companhia geral de
Agricultura das Vinhas do Alto Douro, após o Cerco do Porto e as lutas que
instituíram o liberalismo em Portugal, assistiram-se a períodos em que as
relações entre aqueles protagonistas se alteravam significativamente, mas, a
partir de 1852, há um corte abrupto nas relações entre o Estado e aquela
Companhia e, a partir de 1858, o Estado deixa completamente de intervir nela.
Em 1839, já os lavradores do Douro tinham tentado,
ingloriamente, organizar uma Associação Agrícola sob a presidência do conde de
Samodães.
Em 1843, verificou-se uma outra tentativa frustrada para
criar na Régua uma Associação de Agricultura do Douro.
O conde de Samodães teve, de facto, por esses tempos, uma
acção preponderante na participação em exposições agro-industriais, realizadas
no Palácio de Cristal, do qual foi director durante anos, mas, também, em
certames internacionais, como foi o caso da Exposição de Vinhos do Porto,
realizada em Berlim, em 1888.
A sua acção no âmbito do movimento associativo foi também
assinalável, de que são exemplo a sua participação na direcção da Comissão de
Defesa dos Interesses do Douro, em 1885, coadjuvado pelo visconde Vilar d’Allen
e na Liga dos Lavradores do Douro, com sede na Rua do Calvário, nº 70, na
cidade do Porto.
No prédio, em primeiro plano, próximo da igreja de S. José
das Taipas, estiveram os escritórios da Liga dos Lavradores do Douro – Fonte:
Google maps
Por fim, foi possível ao conde de Samodães fundar a Real
Companhia Vinícola do Norte de Portugal que, em Novembro de 1891, já estava na
Exposição Industrial Portuguesa, realizada no Palácio de Cristal, a
apresentar-se como a iniciadora, entre nós, na produção de vinhos espumantes,
pelo sistema dos de Champagne, sob a direcção do francês Leopold Mennesson.
Rótulo de garrafa de vinho criado pelo Visconde Villar
d’Allen, em 1880 e que, no Brasil, passaria a ser comercializado pela Real
Vinícola
Publicidade, em 1901, na revista “Brasil – Portugal” ao
champagne da RCVNP
Publicidade ao champagne da RCVNP
Aquando da realização da Exposição Industrial de 1891, era director
técnico da RCVNP o visconde Vilar d’Allen e presidente da “Sociedade do Palácio
de Cristal”, o conde de Samodães, sendo ministro da Fazenda, Mariano de
Carvalho.
O Porto, ao longo do século XIX, assistiu a mais quatro
exposições industriais, para além da mencionada em 1891. Assim, efectuaram-se
exposições em 1857, 1861, 1865, 1891 e 1897.
A primeira é de âmbito local e a segunda de âmbito nacional,
no entanto, ambas são da responsabilidade da Associação Industrial Portuense.
As restantes são da responsabilidade da Sociedade do Palácio
de Cristal: a de 1865 é de âmbito internacional e as restantes de âmbito
nacional.
A exposição, após a convocação da Associação Industrial
Portuense, para a sua realização, abriu as suas portas de 22/11/1891 a
17/1/1892.
Seria considerado pelo conde de Samodães, como um grande
feito, já que, segundo ele, “quase que não foi anunciada, e arranjou-se
de um dia para o outro”, tendo os expositores, de facto, menos de um
mês entre a recepção do convite e o dia da abertura. Era preciso obsequiar o
Rei com “elementos de vida” da cidade do trabalho, dado que, da parte do
Palácio, havia apenas um lago com gruta para inaugurar.
Em Setembro de 1891, regressariam a Bruxelas os técnicos que
procederam à construção da gruta do lago do Palácio de Cristal.
A 6 de Novembro, seria nomeado para calafate da flotilha de
6 barcos a operar no lago, Miguel Pedro Correia.
Na foto acima, observa-se o aspecto do lago e da nova gruta
inaugurados, em 1891, durante a exposição industrial.
“Nunca se realizou
exposição em tão pouco tempo. Ao sinal de reunir, compareceram os industriais
com os seus produtos, não fabricados ad hoc, mas aqueles que formam o seu stock
comercial, o que é muito mais útil, prático e verdadeiro do que essas exibições
de mera curiosidade que enchem por vezes as vitrines das exposições. A
apresentação que neste momento se fez ao público é exactamente aquilo que a
indústrias tem sempre pronto para oferecerem aos seus fregueses”.
Conde de Samodães
Notícia sobre a “Exposição Industrial de 1891” – In “Jornal
do Porto”, em 21 de Outubro de 1891, p. 2
A comitiva real chegaria ao Porto na 4ª Feira, 18 de Novembro de 1891, para proceder, no Domingo seguinte, à inauguração da Exposição Industrial a ocorrer no Palácio de Cristal.
Desembarcada, a comitiva, pelas 15 horas na Estação de
Campanhã, cerca de uma hora depois já assistia a uma missa levada a efeito na
Igreja da Lapa.
No dia seguinte, 5ª
Feira, tiveram honra de visita real a “Fábrica de Fiação Portuense” (Poço
das Patas), a “Fábrica de Tabacos Portuense” (Campo 24 de Agosto”, “Real
Fábrica de Botões Portuense” (Rua das Doze Casas) e “Fábrica de Fiação de Salgueiros”(Rua
da Constituição).
Da parte da Tarde, após o almoço, em privado, teve lugar uma
cerimónia de recepção e cumprimentos a diversas instituições e individualidades
a que se seguiria uma visita à Escola Normal (Rua da Alegria) e à noite um
jantar de gala.
Na 6ª Feira, 20
de Novembro, a família real continuou com as suas visitas.
A “Fábrica de Fiação de Asneiros”, na Rua da Torrinha e a “Companhia
Manufactora de Artefactos de Malha”, na Rua da Boavista, tiveram honra de
visita real. Pelo meio, foi distinguido com a presença dos soberanos o Hospital
de Crianças Maria Pia, à Carvalhosa.
Após o almoço, na Câmara Municipal, houve uma sessão de
distribuição dos “Prémios Camões” e uma visita ao Hospital de Alienados do
Conde de Ferreira.
À noite, após o jantar, foi levado à cena no Real Teatro S.
João, a comédia o “Marquês de Seiglière”.
No dia 21 de Novembro, um Sábado, a manhã foi passada em visitas à Fundição do Bolhão, Real
Chapelaria a Vapor (Rua Firmeza), Fábrica de Tecidos de Seda de Francisco José
Nogueira (Rua da Alegria) e Real Fábrica Social (Fontinha).
Depois do almoço, seguiu-se a visita à Bolsa do Comércio e à
Secretaria da Santa casa da Misericórdia, à Rua das Flores.
A inauguração da Exposição Industrial de 1891, ocorreria a
22 de Novembro, um Domingo, bem chuvoso, como nos contam as crónicas.
Durante a manhã a comitiva real visitou o Recolhimento das
Orfãs, a S. Lázaro e, após o almoço, que ocorreu no Paço, cerca das 15 horas
rumou, bem perto, ao Palácio de Cristal.
In “Jornal do Porto”, em 24 Novembro de 1891
Após a inauguração da exposição seguir-se-ia um jantar no
Paço oferecido pelo rei que, para o efeito, convidou os industriais presentes
no certame e as autoridades da cidade.
A noite fechou com um espectáculo protagonizado por amadores
em benefício da Associação dos Bombeiros Voluntários, realizado no Teatro S.
João.
No dia seguinte, 2ª Feira, seriam visitadas diversas unidades
industriais: Fábrica de Fiação e Tecidos do Porto (ao Poço das Patas), Fábrica
de Lanifícios de Santo António de Massarelos (à Rua D. Pedro V), Fábrica de
Fundição de Massarelos, Fábrica de Fundição do Ouro, Real Fábrica de Fiação e
Tecidos de Lordelo e antiga Fábrica de Lanifícios de Lordelo.
No prédio primitivo que por aqui existiu (na esquina da Rua
D. Pedro V e Rua Salgueiro Maia), esteve a Fábrica de Lanifícios de Santo
António de Massarelos, mais conhecida por “Álvaro de Azevedo Meireles e Filhos,
Limitada”. Em 2009, na foto, num outro edifício, estava uma oficina da Mercedes Benz - Fonte:
Google maps
Mesma perspectiva da foto anterior, actualmente – Fonte:
Google maps
Álvaro Azevedo Meireles (1856-1937) foi um próspero
industrial, filho de João Pinto de Azevedo Meireles e Joana Maria de Azevedo
Mavinhé, casado em 14/07/1881, com Júlia
da Silva Pereira de Magalhães, herdeira da Quinta do Rio, em Ramalde e neta de Jacinto
da Silva Pereira, fundador da Fábrica de Fiação e Tecidos Jacinto.
Por isso, em 30/12/1901, o casal é mencionado na escritura de venda do Campo do Lameiro, artigo daquela propriedade, como senhorios directos, que foi feita por Domingos de Sousa e mulher, Rosa Ferreira da Conceição ao Dr. Alfredo Antero de Oliveira.
Por sua vez, Álvaro Azevedo Meireles estava ligado, também, por laços familiares à Quinta das Virtudes.
Como curiosidade diga-se que, a família Azevedo Meireles, por aqui estava, já neste século, pois, em 2006, Maria Adelaide A. Azevedo Meireles era dada como moradora na vizinha Rua do Gólgota, 21, cuja propriedade estava nas mãos daquela família desde 1946 e, hoje, é um empreendimento turístico.
Por isso, em 30/12/1901, o casal é mencionado na escritura de venda do Campo do Lameiro, artigo daquela propriedade, como senhorios directos, que foi feita por Domingos de Sousa e mulher, Rosa Ferreira da Conceição ao Dr. Alfredo Antero de Oliveira.
Por sua vez, Álvaro Azevedo Meireles estava ligado, também, por laços familiares à Quinta das Virtudes.
Como curiosidade diga-se que, a família Azevedo Meireles, por aqui estava, já neste século, pois, em 2006, Maria Adelaide A. Azevedo Meireles era dada como moradora na vizinha Rua do Gólgota, 21, cuja propriedade estava nas mãos daquela família desde 1946 e, hoje, é um empreendimento turístico.
Ao centro, a casa
localizada na Rua do Gólgata, nº 21 – Fonte: Google maps
O jantar de gala deste dia homenagearia os comerciantes do Porto.
À noite, ocorreu um espectáculo com a peça “Uma mulher para três maridos”, no teatro Príncipe Real (actual Sá da Bandeira).
Programa da comitiva real para os dias 24 de Novembro (3ª Feira) e 25
de Novembro (4ª Feira) de 1891, durante a sua visita ao Porto – In “Jornal do Porto”, em
24 Novembro de 1891
O dia 25 de Novembro, 4ª Feira, abriria com a visita, bem
cedo, do rei à Exposição, onde se demorou junto dos stands, principalmente, mostrou-se muito curioso, em conhecer a
elaboração dos vinhos espumantes da RCVNP.
O dia fecharia com o espectáculo no Teatro D. Afonso (há
muito demolido), à Rua Alexandre Herculano, tendo sido levada à cena a opereta
“Licor d’Ouro”.
E, finalmente, a 26 de Novembro de 1891, uma 5ª Feira, à
tarde, ocorreria a inauguração do lago e da gruta, de acordo com a notícia
abaixo.
Da parte da manhã, tinha sido a visita ao Porto de Leixões.
Durante a tarde foi a cerimónia de alistamento do príncipe
Luiz Filipe. Para o efeito, deslocou-se ao Paço um pelotão do regimento de
infantaria 18.
O auto ficou assim redigido:
“Aos 26 dias do mês de Novembro de 1891, em parada geral do regimento
de infantaria número 18, junto ao Paço Real, foi alistado como soldado, segundo
as formalidades superiormente determinadas, sua alteza o príncipe real D. Luiz
Filipe, duque de Bragança”.
Nessa tarde, finalmente, seria lançada a 1ª pedra do
Asilo-Escola, à Rua de Serpa Pinto, o que sabemos, nunca se viria a
concretizar.
À noite, o jantar teria como convidados a magistratura
judicial e, à noite, teve lugar o habitual baile no Club Portuense.
Na 6ª Feira, dia 27 de Novembro, após uma visita às instalações da
Fotografia União, à Praça de Santa Teresa e à Fotografia Biel, à Rua Formosa e
ao almoço, que foi oferecido a representantes da direcção de diversos
estabelecimentos de beneficência da cidade, a comitiva real abandonaria o Porto
com destino a Braga.
A actual Rua José Falcão que, primitivamente, foi Rua D.
Carlos, seria gizada durante esta visita real, como se constata em notícia
abaixo reproduzida.
Voltando à história da Real Vinícola teve a sua sede, durante
dezenas de anos, no palacete que foi mandado erguer em 1861, por Campos
Navarro, um capitalista do século XIX, na Rua de Entreparedes, nº 42.
O prédio seria posteriormente ocupado pelo Instituto
Comercial do Porto e é, hoje, o Torel Palace Porto (Hotel).
Antes, tinha sido ocupado, entre 1884 e 1887, pelo Liceu do Porto vindo do Poço das Patas, do Palacete dos Cirnes.
O Instituto Comercial do Porto, em 1933, foi desanexado do
Instituto Industrial, no qual se encontrava integrado desde 1924, ocupando
instalações no edifício da Universidade, na Praça Gomes Teixeira, vulgo Praça
dos Leões, na área com fachada voltada para o mercado do Anjo.
Aliás, a raiz daqueles institutos é a mesma, pois têm origem
no “Instituto Industrial e Comercial do
Porto” fundado, em 1886, pelo Decreto de 30 de Dezembro.
O antigo Palacete do Campos Navarro, ocupado, mais tarde,
pela Real Vinícola e pelo Instituto Comercial, hoje o Torel Palace Porto
(Hotel) – Fonte: Google maps
A família Campos Navarro, da qual o patriarca António Campos
Navarro foi um negociante de relevo da praça portuense, ficou conhecida por
privar muito com artistas, em particular, com escritores, tendo por diversas
vezes praticado o mecenato com artistas de diversos ramos.
Quanto à arquitectura primitiva do edifício, o seu piso
térreo era o palco da cozinha e o local onde se recepcionavam os convidados.
Nos andares seguintes encontraríamos, primeiro, os grandes
salões, as maiores divisões do palácio, seguindo-se o andar dos quartos da
família e, por fim, os quartos dos serventes.
Na sua decoração destacava-se, para além dos estuques dos
tectos e paredes, uma claraboia imponente, com os seus oito painéis, que
encimava o palacete.
Enquanto quatro desses painéis apresentam apenas um
intrincado novelo floral, outros
quatro têm representações específicas.
Um deles enaltece Mercúrio, o deus romano do Comércio, um
outro é uma alegoria à Indústria, e outro representa Minerva, a deusa das Artes
e da Ciência. Por fim, um painel faz uma alegoria à navegação marítima.
Um dos salões do palacete apresentava, embutido no tecto
trabalhado, bustos de Luís de Camões, Alexandre Herculano, Aquilino Ribeiro e
Almeida Garrett.
É visível, na foto anterior, a entrada lateral que dava
acesso a uma vasta área situada nas traseiras do prédio com ligação à Rua de
Alexandre Herculano e que como era habitual, devia ser um acesso às cocheiras.
“Planta retangular com
coberturas diferenciadas, com zona central mais elevada e formando cruz grega
em telhados de quatro águas, integrando claraboia elíptica, e ângulos
rebaixados, em telhados de duas águas. Fachada principal virada a noroeste, de
três pisos, separados por cornija e de cunhais em silharia fendida, organizando-se
em três panos; o central, ligeiramente avançado, é rasgado, no piso térreo, por
três portais, em arco de volta perfeita, de duas arquivoltas e aduelas em
cunha, no segundo, por três janelas de sacada, corrida e de perfil contracurvo,
igualmente em arco de volta perfeita, com capitéis e chave de elementos
vegetalistas bastante relevados, dispondo-se a sacada sobre mísulas também
vegetalistas; no terceiro piso abrem-se janelas de peitoril retilíneas, com
molduras rematadas em cornija, e com caixilharia de guilhotina. Os panos
laterais, semelhantes, são rasgados por dois portais, em arco de volta
perfeita, sobre pilastras toscanas e chave relevada, no piso térreo, janelas de
sacada, de verga abatida rematada em cornija, no segundo, e de peitoril, iguais
às do pano central, no último. Os portais do piso térreo possuem bandeira com
grades em ferro forjado, tal como as guardas das sacadas, decoradas com motivos
vegetalistas.”
Cortesia de Paula Noé (2017), In “monumentos.gov.pt/”
Claraboia do Palacete Campos Navarro – Cortesia de Luís
Ferraz, In “Observador.pt”, 30 Agosto 2020
Após a morte de António Campos Navarro, herda o edifício a
viúva Liberata de Jesus Barros e, em 1890, o edifício é então ocupado pela Real
Companhia Vinícola do Norte, fundada em 1889.
Carro alegórico da RCVNP no carnaval de 1906
O carro alegórico da foto acima está a passar em frente à
sede do Clube Girondinos, próximo da Praça da Batalha, à entrada da Rua
Alexandre Herculano, no sentido descendente, à esquerda.
À direita, o local onde esteve o Teatro D. Afonso,
entretanto, demolido e que, à data, aguardava pela edificação (1910) de um novo
teatro – Teatro Éden.
Este, por sua vez, em 1922, teve um desabamento das suas
traseiras que afectou uns armazéns da Real Vinícola.
A área de terreno que se vê apenas ocupada por um barracão,
comunicava com o palacete de Campos Navarro, onde estava a sede da RCVNP, na
Rua de Entreparedes e, uma parte daquela área esteve, durante dezenas de anos,
afecta a armazéns da Real Vinícola, que neles teve um depósito, que funcionou
até ao fim da década de 1940, quando no edifício da Rua de Entreparedes já
funcionava as aulas do Instituto Comercial.
Para essa zona, existia uma entrada lateral, junta ao
palacete, que dava acesso a uns armazéns e depósito, e que já foi mencionada,
anteriormente.
Teatro D. Afonso (demolido c. 1903)
Em 13 de Fevereiro de 1919, durante o restabelecimento da
República, substituindo um regime monárquico golpista, que se tinha
estabelecido, durante cerca de um mês, as instalações da Vinícola do Norte, na
Rua de Entreparedes, foram assaltadas e destruídas pelos republicanos, facto
que nos é narrado na notícia seguinte:
Jornal “O Comércio do Porto” de 14 Fevereiro de 1919
Em 1922, ainda aqui estavam instalados o escritório da Real
Vinícola do Norte e, no seu quintal, que confinava com terrenos do Teatro Éden
(localizado na Rua de Alexandre Herculano), um armazém daquela empresa.
Neste ano, a Real Vinícola do Norte absorve a Companhia
Vinícola Portuguesa que tinha a sua sede em Matosinhos, que tinha sido fundada
por Clemente Meneres.
Em 1929, a Real Vinícola mantinha-se na Rua de Entreparedes,
pois solicitava um pedido de licenciamento de obras, no edifício, à Câmara
Municipal do Porto.
A partir da década de 1940, a Real Vinícola passa a contar,
apenas, com as suas instalações em V. N. de Gaia.
Instalações da Real Vinícola em V. N. de Gaia
Na gravura acima, identificada com a letra A, observa-se a
localização das instalações da RCVNP na Rua Azevedo Magalhães e, com a letra B,
as situadas na marginal de V. N. de Gaia, na Avenida Ramos Pinto.
A Companhia Real Vinícola do Norte viria a utilizar para
depósito dos seus espumantes um túnel ferroviário que nunca serviria para o
efeito para o qual foi construído.
O túnel da gravura
acima foi começado a construir em 6 de Março de 1861, para passagem do comboio
de Gaia para o Porto, e abandonado, posteriormente, sendo substituído por um
outro construído ao seu lado.
Inicialmente, esse túnel faria parte do trajecto da linha do Norte que ligaria ao lugar da Pedra Salgada, onde seria construída uma ponte para atravessamento do rio Douro, de ligação ao esteiro de Campanhã. A obra, a cargo de um engenheiro-chefe de seu nome Jaubert, ficaria sem efeito, já que, foi decidido que o atravessamento do rio, se fizesse pela que veio a ser a ponte Maria Pia.
Em 24 de Outubro de 1862, aquele túnel estava praticamente aberto e era levada a efeito uma pequena festa para comemorar a façanha, conforme se pode ler a seguir.
O túnel seria comprado por Manuel Pestana e, mais tarde,
cedida à Companhia Real Vinícola do Norte para ser usado, como depósito de
vinhos espumantes.
A este túnel se refere Alberto Pimentel, em 1877.
Publicidade, em 1946, à Real Vinícola, na qual é possível
apreciar, numa vista aérea, as antigas instalações (letra A da gravura
anterior) da RCVNP, junto da Rua Azevedo Magalhães - In revista Panorama, nº 28
Na foto acima, a publicidade respectiva, em 1946, ainda faz
referência à Rua de Entreparedes e ao ainda funcionamento de um Depósito da
Real Vinícola, naquela morada.
Antigas instalações (letra B da gravura anterior) da RCVNP,
na Avenida Ramos Pinto - Fonte: Google maps
Em 1963, a Real
Companhia Velha (assim oficialmente designada desde 1948), de Manuel da
Silva Reis, adquire a Real Companhia Vinícola do Norte de Portugal e a sua
quinta do Síbio.
Por estes tempos, a Real Vinícola era uma firma importante
na comercialização de vinhos de mesa, sobressaindo, do seu catálogo, o verde da
marca “Lagosta” em garrafa característica.
Em 1972, a Companhia Geral das Vinhas do Alto Douro e a Real
Vinícola constituem uma companhia comercial denominada “Companhia Geral das Vinhas do Alto Douro e Real Companhia Vinícola do
Norte de Portugal - agrupamento complementar de empresas, S.A.R.L.”, que
adoptou também a denominação de
Vinicolândia.
Em 2011, a Real Vinícola, que detinha os activos
imobiliários da Real Companhia Velha, foi comprada pela Fladgate Partnership, detentora da Taylor's e
a Real Companhia Velha passou a pagar uma renda sobre as instalações que antes
utilizava como suas.
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