segunda-feira, 26 de abril de 2021

25.120 Viela do Açougue

 
A antiga Viela do Açougue (actual Travessa de Cedofeita), um arruamento que faz a ligação entre a confluência das ruas das Oliveiras, da Conceição e dos Mártires da Liberdade com a Rua de Cedofeita, ficou a dever o seu nome à existência na zona de um matadouro, que servia toda a área envolvente, nomeadamente, a comunidade escolar que se localizava perto, na Praça dos Voluntários da Rainha (Praça dos Leões).
A Travessa de Cedofeita na Planta Redonda de Balck (1813), na planta seguinte, poucos prédios apresentava.
Do lado Sul, só se viam casas nas entradas; e, do Norte, apenas se viam uns quatro prédios de rés-do-chão, como se pode observar na gravura abaixo e, na qual, a Travessa de Cedofeita está envolvida pela elipse a azul.
 
 


 
 
Na planta abaixo, de Perry Vidal (1844), na qual a Travessa de Cedofeita continua a ser envolvida por uma elipse azul, verificava-se que a situação do edificado não tinha tido grande incremento. 






 
 
 
Em meados do século XIX os prédios das extremidades da travessa já tinham passado a ser de dois andares.
A que faz frente com a Rua das Oliveiras foi construída em 1850, e, por não ter a sua construção recuado uns metros, como chegou a ser sugerido, veio a condicionar a largura de toda a travessa para sempre.
Tudo se ficou a dever às influências movidas pelo seu proprietário, um padeiro, tendo o prédio, que passou a albergar uma padaria, sido construído sobre os alicerces dumas casas já existentes e no mesmo alinhamento.
 
 
 
Prédio que comprometeu o alargamento da Travessa de Cedofeita - Fonte: Google maps
 
 
Nessa época e pelo lado sul da travessa, apresentavam-se uma série de fornos de padaria e alguns sapateiros em prédios de rés-do-chão.
Na esquina com a Rua de Cedofeita estava uma mercearia e, depois, esteve, durante dezenas de anos, uma filial da “Singer”, uma marca de máquinas de costura.
Na esquina a norte deste entroncamento estava no início do século XX uma loja de ferragens que foi substituída por uma loja de sementes durante muitos anos.
Pelo lado norte da travessa seguia-se uma loja de pentes, o penteeiro Fonseca, uma doçaria, um marceneiro e um sapateiro.

 
 
Travessa de Cedofeita - Fonte: Google maps


Na esquina com a fachada (à direita) voltada para a antiga Rua do Coronel Pacheco (actualmente, o Largo Alberto Pimentel), num prédio de dois andares (na foto acima), habitava o Dr. Bento de Freitas Ribeiro de Faria.


 
Anúncio ao consultório médico que o Dr. Bento de Faria dividia, em Vizela, com o seu irmão, inserido no jornal “O Commércio do Porto” de 22 de Julho de 1905
 
 
 
No prédio da foto acima, mas voltado para a Travessa de Cedofeita, morou o cidadão Domingos Ribeiro Braga.
Aqui faleceu, em 1907, o Dr. Adriano de Paiva de Faria de Leite Brandão, conde de Campo-Bello e distinto professor da Politécnica, com início da carreira na cadeira de Química, tendo transitado, depois, para a de Física, casado com uma sua prima, Gertrudes Emília Leite Pereira do Outeiro de Melo e Alvim de Noronha e Távora e Cernache.
O 1º conde de Campo-Bello haveria de ser conhecido na sua actividade académica, por em tempos de divulgação pela imprensa de notícias sobre a invenção do telefone, por Alexandre Graham Bell, ter considerado a possibilidade de, do mesmo modo que era possível transmitir sons à distância, transmitir também imagens animadas.
Embora a ideia não fosse inédita, a originalidade da sua teoria residia no facto de ter sido o primeiro a propor o uso de selênio no desenvolvimento do que denominou como um sistema de "telescopia eléctrica".
Então, em sequência, publicou um estudo teórico a esse respeito na revista científica "O Instituto", de Coimbra, em 1878.
Neste prédio seriam instalados, por muitos anos, os Tribunais de Penas e Falências e, antes, uma das mais categorizadas modistas portuenses, a D. Isaura Pinheiro.
O 1º conde de Campo Bello é um título nobiliárquico criado por D. Luís I de Portugal, por Decreto de 13 de Janeiro de 1887 e Carta de 10 de Fevereiro de 1887, em favor de Adriano de Paiva de Faria Leite Brandão.
O conde de Campo Belo era descendente de Álvaro Anes de Cernache, 1º Senhor de Gaia-a-Grande, por doacção de D. João I, em recompensa dos serviços prestados na guerra de 1383-1385.



Memorial a Álvaro Anes de Cernache, 1º Senhor de Gaia-a-Grande, junto do convento de Corpus Christi



Aí, construiria um Paço, com torre, no local em que cerca de 1750, o Padre Luís Cardoso referia que por lá teria tido o Rei Ramiro também o seu Paço.
Suceder-lhe-ia o seu filho, Fernão Álvares de Cernache. Seriam ambos sepultados, bem perto, na igreja do Convento de Corpus Christi.
Herdaria a propriedade, então, o seu filho Álvaro Anes de Cernache.
Em 1580, a casa é mandada incendiar pelo Duque de Alba como vingança por nela ter estado refugiado D. António, Prior do Crato, na sua fuga para o Norte.
Anos mais tarde, D. Martim Vaz de Cernache manda reedificar a casa, da qual resta o corpo de intersecção das duas alas, correspondente ao salão nobre e o portal principal exterior. Nesta época a casa já dispunha de capela, situando-se junto à torre, que será remodelada no século XVII.
Em 1727, Diogo Leite Pereira manda reedificar a capela e fazer importantes melhorias no corpo residencial e nos jardins. A capela será remodelada no fim do século XVIII.
O Dr. Adriano de Paiva de Faria Leite Brandão viria, então, a herdar a chamada Quinta do Campo Belo, com o seu Paço dotado de torre e capela e toda uma área com vista privilegiada para o Rio Douro e a tornar-se o 1º conde de Campo Belo.
Localiza-se a propriedade na Rua do Rei Ramiro, nº 25, V. N. de Gaia.


Vista aérea da Quinta do Campo Belo - Fonte: Google



Subindo desde o Cais da Gaia, pela Rua do Rei Ramiro, a entrada principal situa-se à nossa esquerda, por portão encimado por pedra de armas, contactando por pequena calçada empedrada com a Rua do Rei Ramiro.
 
 

Pela direita, a entrada na Quinta de Campo Belo - Fonte: Google maps


 

Paço da Quinta de Campo Belo

 
 

Vista da cidade do Porto obtida a partir do varandim da Quinta de Campo Belo. À esquerda, a praia de Miragaia e, à direita, a Ribeira. A meio, no Douro, navega o vapor Porto que, em 29 de Março de 1852, haveria de naufragar à entrada da barra do rio Douro

 
 
A gravura anterior é uma pequena porção, editada, de uma outra gravura da autoria de António Joaquim de Sousa Vasconcelos, publicada em 1850 e impressa numa litografia da Rua da Reboleira, nº 29 e 30, dirigida por Rafaela Amatuci (uma litógrafa num mundo de homens, que haveria por ocupar instalações, mais tarde, na Rua de Santa Catarina, nº 19), filha de Carlos Amatucci e irmã de Emídio Amatucci, ambos litógrafos de renome. 

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