A antiga Viela do Açougue (actual Travessa de Cedofeita), um
arruamento que faz a ligação entre a confluência das ruas das Oliveiras, da
Conceição e dos Mártires da Liberdade com a Rua de Cedofeita, ficou a dever o
seu nome à existência na zona de um matadouro, que servia toda a área
envolvente, nomeadamente, a comunidade escolar que se localizava perto, na Praça
dos Voluntários da Rainha (Praça dos Leões).
A Travessa de Cedofeita na Planta Redonda de Balck (1813), na planta seguinte, poucos prédios apresentava.
Do lado Sul, só se viam casas nas entradas; e, do Norte,
apenas se viam uns quatro prédios de rés-do-chão, como se pode observar na
gravura abaixo e, na qual, a Travessa de Cedofeita está envolvida pela elipse a
azul.
Na planta abaixo, de Perry Vidal (1844), na qual a Travessa de Cedofeita continua a ser envolvida por uma elipse azul, verificava-se que a situação
do edificado não tinha tido grande incremento.
Em meados do século XIX os prédios das extremidades da
travessa já tinham passado a ser de dois andares.
A que faz frente com a Rua das Oliveiras foi construída em
1850, e, por não ter a sua construção recuado uns metros, como chegou a ser
sugerido, veio a condicionar a largura de toda a travessa para sempre.
Tudo se ficou a dever às influências movidas pelo seu
proprietário, um padeiro, tendo o prédio, que passou a albergar uma padaria,
sido construído sobre os alicerces dumas casas já existentes e no mesmo
alinhamento.
Prédio que comprometeu o alargamento da Travessa de
Cedofeita - Fonte: Google maps
Nessa época e pelo lado sul da travessa, apresentavam-se uma
série de fornos de padaria e alguns sapateiros em prédios de rés-do-chão.
Na esquina com a Rua de Cedofeita estava uma mercearia e,
depois, esteve, durante dezenas de anos, uma filial da “Singer”, uma marca de
máquinas de costura.
Na esquina a norte deste entroncamento estava no início do
século XX uma loja de ferragens que foi substituída por uma loja de sementes
durante muitos anos.
Pelo lado norte da travessa seguia-se uma loja de pentes, o
penteeiro Fonseca, uma doçaria, um marceneiro e um sapateiro.
Travessa de Cedofeita - Fonte: Google maps
Na esquina com a fachada (à direita) voltada para a antiga
Rua do Coronel Pacheco (actualmente, o Largo Alberto Pimentel), num prédio de
dois andares (na foto acima), habitava o Dr. Bento de Freitas Ribeiro de Faria.
Anúncio ao consultório médico que o Dr. Bento de Faria
dividia, em Vizela, com o seu irmão, inserido no jornal “O Commércio do Porto”
de 22 de Julho de 1905
No prédio da foto acima, mas voltado para a Travessa de
Cedofeita, morou o cidadão Domingos Ribeiro Braga.
Aqui faleceu, em 1907, o Dr. Adriano de Paiva de Faria de
Leite Brandão, conde de Campo-Bello e distinto professor da Politécnica, com
início da carreira na cadeira de Química, tendo transitado, depois, para a de
Física, casado com uma sua prima, Gertrudes Emília Leite Pereira do Outeiro de
Melo e Alvim de Noronha e Távora e Cernache.
O 1º conde de Campo-Bello haveria de ser conhecido na sua
actividade académica, por em tempos de divulgação pela imprensa de notícias sobre
a invenção do telefone, por Alexandre Graham Bell, ter considerado
a possibilidade de, do mesmo modo que era possível transmitir sons à distância,
transmitir também imagens animadas.
Embora a ideia não fosse inédita, a originalidade da sua
teoria residia no facto de ter sido o primeiro a propor o uso de selênio no
desenvolvimento do que denominou como um sistema de "telescopia
eléctrica".
Então, em sequência, publicou um estudo teórico a esse
respeito na revista científica "O Instituto", de Coimbra, em 1878.
Neste prédio seriam instalados, por muitos anos, os
Tribunais de Penas e Falências e, antes, uma das mais categorizadas modistas
portuenses, a D. Isaura Pinheiro.
O 1º conde de Campo Bello é um título nobiliárquico criado
por D. Luís I de Portugal, por Decreto de 13 de Janeiro de 1887 e Carta de 10
de Fevereiro de 1887, em favor de Adriano de Paiva de Faria Leite Brandão.
O conde de Campo Belo era descendente de Álvaro Anes de
Cernache, 1º Senhor de Gaia-a-Grande, por doacção de D. João I, em recompensa
dos serviços prestados na guerra de 1383-1385.
Aí, construiria um Paço, com torre, no local em que cerca de
1750, o Padre Luís Cardoso referia que por lá teria tido o Rei Ramiro também o
seu Paço.
Suceder-lhe-ia o seu filho, Fernão Álvares de Cernache.
Seriam ambos sepultados, bem perto, na igreja do Convento de Corpus Christi.
Herdaria a propriedade, então, o seu filho Álvaro Anes de
Cernache.
Em 1580, a casa é mandada incendiar pelo Duque de Alba como
vingança por nela ter estado refugiado D. António, Prior do Crato, na sua fuga
para o Norte.
Anos mais tarde, D. Martim Vaz de Cernache manda reedificar
a casa, da qual resta o corpo de intersecção das duas alas, correspondente ao
salão nobre e o portal principal exterior. Nesta época a casa já dispunha de capela,
situando-se junto à torre, que será remodelada no século XVII.
Em 1727, Diogo Leite Pereira manda reedificar a capela e
fazer importantes melhorias no corpo residencial e nos jardins. A capela será
remodelada no fim do século XVIII.
O Dr. Adriano de Paiva de Faria Leite Brandão viria, então,
a herdar a chamada Quinta do Campo Belo, com o seu Paço dotado de torre e
capela e toda uma área com vista privilegiada para o Rio Douro e a tornar-se o
1º conde de Campo Belo.
Localiza-se a propriedade na Rua do Rei Ramiro, nº 25, V. N.
de Gaia.
Vista aérea da Quinta do Campo Belo - Fonte: Google
Subindo desde o Cais da Gaia, pela Rua do Rei Ramiro, a
entrada principal situa-se à nossa esquerda, por portão encimado por pedra de
armas, contactando por pequena calçada empedrada com a Rua do Rei Ramiro.
Vista da cidade do Porto obtida a partir do varandim da
Quinta de Campo Belo. À esquerda, a praia de Miragaia e, à direita, a Ribeira.
A meio, no Douro, navega o vapor Porto que, em 29 de Março de 1852, haveria de
naufragar à entrada da barra do rio Douro
A gravura anterior é uma pequena porção, editada, de uma
outra gravura da autoria de António Joaquim de Sousa Vasconcelos, publicada em
1850 e impressa numa litografia da Rua da Reboleira, nº 29 e 30, dirigida por
Rafaela Amatuci (uma litógrafa num mundo de homens, que haveria por ocupar
instalações, mais tarde, na Rua de Santa Catarina, nº 19), filha de Carlos
Amatucci e irmã de Emídio Amatucci, ambos litógrafos de renome.
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