sexta-feira, 30 de abril de 2021

25.121 Dois colégios do século XIX com história

 
 
 
Este colégio que chegou a ter cerca de 100 alunos, alguns deles em regime de internato, esteve na Rua dos Pelames, à esquerda de quem entra, vindo da Rua do Corpo da Guarda, num prédio de quatro andares.
Foi fundado, em 1821, por José Álvares de Almeida Guimarães, um antigo capitão de milícias e, depois, professor, que tinha como auxiliares o seu filho natural (filho de pais não casados) Gustavo Adolfo e um sacerdote, o padre Domingos.
O Gustavo Adolfo era um antigo aluno do colégio de seu pai, um bom estudante que tinha aprendido com os mestres o Latim, o Francês e noções de Comércio.
Dizem documentos da primeira metade do século XIX, que a disciplina de Latim esteve entregue ao padre Francisco, a de Inglês ao professor Narciso, as de Francês, Comércio, Geografia e Geometria, ao professor José Fernandes Ribeiro, que para lá entrara em 1841.
Este mestre foi entre os anos de 1834 e 1844, também docente numa escola de meninas existente na Rua de Cedofeita e esquina da Rua do Mirante, o Colégio Portuense de Ensino Mútuo, cuja directora era D. Ana Miquelina de Jesus.
José Álvares de Almeida Guimarães, após 30 anos como professor, viria a falecer em 1851, tendo sido sepultado no cemitério da Ordem Terceira de Nossa Senhora do Carmo, do qual era irmão.
Dos muitos alunos que passaram pelo colégio, por si fundado, destaca-se aquele que veio a ser o poeta Soares de Passos, que concluiria em 1840, lá, os seus primeiros estudos.
O filho natural do fundador do colégio, Gustavo Adolfo, à data do falecimento de seu pai, tinha 18 anos e, na sequência da decisão da família do defunto de dar um fim ao colégio, resolveu, por vontade própria, estabelecer-se num outro prédio vizinho, na Calçada do Corpo da Guarda, onde daria continuidade, com a ajuda do padre Domingos, que tinha estado também ao lado do seu pai, ao colégio que este tinha fundado.
Este colégio também não iria sobreviver à morte do seu fundador.

 
 
O Colégio do Corpo da Guarda esteve no primeiro prédio (à direita), na esquina da Rua dos Pelames com a Rua do Corpo da Guarda – Fonte: Google maps
 
 
 
 
 

Entre a Travessa de Cedofeita e o Teatro Carlos Alberto, em plena Rua das Oliveiras, esteve estabelecido durante alguns anos, na transição de séculos, o conceituado colégio Barbosa da Gama, fundado por José Pereira Barbosa da Gama.
Antes, em meados do século XIX, aqui vivia o escrivão da Relação do Porto, Adriano Augusto da Silva Pereira.
Os alunos que por lá tinham passado, no início do século XX, recordavam algumas dezenas de anos depois, as sessões de ensaios musicais ocorridas no vizinho Teatro Carlos Alberto e a passagem do “Americano” vindo dos lados de Paranhos e que se dirigia para o Carmo, onde terminava a sua marcha, em frente à igreja.
Foram professores no colégio o seu fundador, Barbosa da Gama e, ainda, Belchior Fortunato Leorne, Luís Adelino Lopes da Cruz e, entre outros, também, Alfredo Ferreira de Faria o fundador da revista “O Tripeiro” como professor da disciplina de Comércio.
Em 1902, a mensalidade era, para alguns alunos, de três tostões.

 
 
Em 29 de Setembro de 1895, o Jornal ”A Voz Pública” dava conta da morada do Colégio Barbosa Gama


 
A elipse preta identifica o local em que estava o Colégio Barbosa Gama, quase em frente do local primitivo da Fonte da Rua das Oliveiras, que seria transladada mais para Norte e que, hoje, ainda existe
 
 
 
Prédio onde esteve o colégio Barbosa da Gama - Fonte: Google maps
 
 
 
Nota (simulando dinheiro verdadeiro) usada nas aulas de Contabilidade do colégio Barbosa da Gama


Em Agosto de 1908, em Vila do Conde, os alunos, a banhos,  do colégio Barbosa da Gama interpretaram com êxito a peça teatral “A Ceia dos Cardeais”, do escritor Júlio Dantas, que foi dada à estampa em 1902, levada à cena no Teatro Afonso Sanches, o que permite fazer uma ideia da formação académica daquela comunidade escolar.

 
 
Teatro Afonso Sanches, na Avenida Dr. Artur Cunha Araújo, em Vila do Conde, e aberto ao público no verão de 1900
 
 
Aliás, Barbosa da Gama tinha uma ligação a Vila do Conde, local onde tinha uma casa adquirida em partilhas da família Cirne, por morte de D. Mariana Augusta da Silva Freitas de Meneses Cirne e Sousa (1846-1903), proprietária também da “Casa da Fábrica”, na Rua da Fábrica.
Essa casa, onde a família Cirne durante muitos anos passava férias, tinha sido adquirida ao proprietário inicial e autor da sua construção, o accionista e Director do Banco do Minho, José da Conceição Rocha que se viu obrigado a vendê-la, em virtude da falência daquele banco.

 
 
Chalet, em Vila do Conde, usado pelos alunos, a banhos, do colégio Barbosa da Gama, – Fonte: Cliché de J. Adriano, In “Commércio de Villa do Conde”, nº 106, 1909
 
 
 
Em 1909, José Pereira Barbosa da Gama, solicitava à Câmara do Porto, na qualidade de proprietário do edifício, uma licença para a construção de um barracão, no quintal da escola, para aulas de ginástica e que obteve a licença de obra, nº 1347/1909.

2 comentários:

  1. Sabe-me dizer onde se situava o Colégio S Carlos? Sei que o Raul Brandão estudou lá mas não encontro a sua localização.

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  2. Poderá encontrar o que pretende neste mesmo blogue no lançamento: https://portodeantanho.blogspot.com/2017/02/continuacao-30_17.html

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