quinta-feira, 15 de abril de 2021

25.118 Hospital de Crianças Maria Pia e Maternidade de Júlio Dinis

 
No último dia do ano de 1881, dez personalidades de relevo da sociedade portuense,  reunidos na Rua do Bonjardim, nº 115 (uma Farmácia Homeopática), tiveram a ideia de fundar uma instituição destinada a Recolher, Medicar e Acarinhar Crianças Pobres e Doentes de Tenra Idade.
 
 
“Constituíram uma Comissão Fundadora que elaborou os respetivos Estatutos tendo sido entregues às autoridades competentes que, em 15 de Março de 1882, comunicaram a sua aprovação ao mesmo tempo que informavam da aceitação de Sua Majestade o Rei Luís I que fosse dado o nome ao objeto da instituição de Real Hospital de Crianças Maria Pia debaixo da real proteção de Sua Majestade, a Rainha.
Escolheu a Comissão Instaladora os primeiros Presidente e Secretário, em 2 de Junho e aprovado foi o arrendamento de uma casa na rua da Carvalhosa pertencente aos herdeiros da Viúva Chaves.
Suas Majestades, o Rei e a Rainha desde logo foram instituídos os primeiros Sócios Beneméritos e Perpétuos e Suas Altezas, os Príncipes Reais Carlos e Afonso Henriques, Protetores e Beneméritos.
A 5 de Novembro a Comissão Fundadora elegia os primeiros Corpos Gerentes e estes deliberaram que o Hospital abrisse portas no dia 1 de Janeiro de 1883.
28 longos anos foram necessários até se inaugurar o novo Hospital no local aonde ainda é hoje, graças ao estoicismo do Conselheiro Arnaldo Anselmo Ferreira Braga, à doadora do terreno aonde o Hospital se implantou, D. Emília Cabral Pereira Cardoso e que, em dinheiro, muito ajudou à sua construção, e à inteligência lúcida, aliada a uma alma generosa, do Conselheiro Pedro Maria Fonseca Araújo.
Em atenção à epidemia do tifo exantemático e da gripe pneumónica em consequência da 1ª Grande Guerra, o Hospital esteve mobilizado pelo Ministério da Guerra desde 1918 até Dezembro de 1924, altura em que ficaram prontas as instalações do Hospital Militar.
Reabriu o Hospital em 5 de Maio de 1925, que passou a ter a preciosa ajuda das Missionárias de Maria nos serviços hospitalares com a anuência do Reverendíssimo Bispo do Porto, D. António Barbosa Leão, enaltecendo-se a ação da nobilíssima D. Ana José da Costa que presidia a uma Comissão de Senhoras que colaboravam também financeiramente para o sustento do Hospital, assim como do notável poeta e jornalista senhor António Augusto Pinto Machado que, durante 34 anos foi um dos elementos mais ativos e dedicados ao Hospital”.
Fonte: “ahcmp.com/”
 
 
O Conselheiro Pedro Maria Fonseca Araújo (1862-1922), acima referido, foi um conhecido Monárquico progressista, Pedro Araújo foi Vereador da Câmara Municipal do Porto (1890-1895), Presidente da Associação Comercial do Porto (1895-1896, 1901-1905), membro da Câmara dos Pares (1905), Presidente da Liga Naval Portuguesa (1905) e Governador Civil do Porto (1910).
Por sua vez, António Augusto Pinto Machado (1895-1965), distinto escritor e jornalista, ficaria para sempre conhecido como o Director do Palácio de Cristal e ainda, por nessa qualidade, ter mandado construir a “Casa do Roseiral”.
Os portuenses também não esquecem a sua intervenção na área da saúde, de que se destacam as suas intervenções ao integrar, como dirigente, várias das Direcções do Real Hospital de Crianças Maria Pia e da Cruz Vermelha Portuguesa, na Delegação que tinham no Porto, e recebeu nomeadamente a condecoração da Cruz de Benemerência, desta última instituição
O Real Hospital de Crianças Maria Pia começaria por se instalar, então, na Rua da Carvalhosa, nº 84 (actual Rua Aníbal Cunha), bem perto da igreja de Cedofeita, e abriria as suas portas em 1/1/1883, começando por funcionar na casa da família Chaves.
 
 
Instalações do Hospital Maria Pia, na Rua da Carvalhosa
 
 
 
 
O Hospital Maria Pia esteve por aqui nos primórdios - Fonte: Google maps
 
 
 
 
O Hospital Maria Pia seria transferido para um novo prédio construído com projecto (1898) do arquitecto Joel da Silva Pereira e do Engº Estevão Torres, em terreno oferecido por D. Maria Emília Cabral, na esquina da Rua Augusto Luso e Rua da Boavista e, cuja construção demoraria cerca de uma dezena de anos.
Deste modo, em 1911, o hospital ocuparia as novas instalações na Rua da Boavista.
Maria Emília Cabral ficara viúva em Fevereiro de 1886, por falecimento do seu marido, o conselheiro Dr. José Pereira da Costa Cardoso. À data, o casal vivia na Rua do Príncipe, a actual Rua de Miguel Bombarda.
Entretanto, as instalações abandonadas, seriam ocupadas, depois, pelo Dispensário da Carvalhosa que integrava a Assistência Nacional aos Tuberculosos criada em Agosto de 1899,  por vontade da rainha D. Amélia.
 
 
 
Desenho da fachada integrante de projecto do Hospital Maria Pia, à Rua da Boavista, submetido a licenciamento e que obteve a licença nº 20/1898
 
 
 
“Os fundadores do Hospital Maria Pia foram:
 
-Conde de Samudães, Francisco José de Araújo
-Henrique Carlos de Meirelles Kendall
-Rodrigo António Machado Guimarães
-D. Joaquim de Carvalho Azevedo Mello e Faro
-Eduardo da Costa Correia Leite
-António Bernardino Pires
-Conde da Silva Monteiro, Fulgêncio José Pereira
-José António Barbosa
-Alberto Borges de Castro
-Conselheiro Arnaldo Anselmo Ferreira Braga (político, amigo do então presidente do Conselho de Ministros, José Luciano de Castro)
-António Augusto de Mello
-Paulo Marcelino Dias de Freitas
-José Luciano Alves Quintella
-Augusto Carlos Chaves de Oliveira
-Augusto Sebastião Guerra"
Fonte: J.P. de Almeida Brandão, pp 98/99, in Guia do Forasteiro no Porto e Província do Minho, Editado F. Lopes, Porto
 
 
A capela que pertenceu ao mosteiro de S. Bento da Avé-Maria, acabaria no hospital Maria Pia.

 
In jornal “A Voz Pública” de 12 Dez 1900
 
 
 
Como acima foi referido entre 1917 e 1925, devido a condições sanitárias muito precárias vividas pelos portuenses, fruto do retorno de milhares de combatentes na 1ª Guerra Mundial a necessitar de cuidados médicos, do surgimento de uma epidemia de tifo e do aparecimento da pneumónica, o hospital foi mobilizado pelo Estado.
Aliás, no início daquele período, em 1917, tinha sido arrendadas algumas dependências da unidade, à Cruz vermelha, para tratamento dos combatentes feridos.
Mais recentemente, depois de dezenas de anos a cumprir a função para que foi criado, o hospital cujo edifício pertence à Associação do Hospital de Crianças Maria Pia, desde a sua fundação em 1882, foi nacionalizado após 25 de Abril de 1974.
Por falta de condições e com o objectivo da sua integração no Centro Materno Infantil do Norte, os seus serviços foram transferidos para o Hospital de Santo António em 2012, tendo encerrado, pouco depois, definitivamente, para ser sujeito a obras de restauro.
Actualmente, foi tornado público que o edifício será afecto a uma unidade hoteleira.
 
 
 
Hospital Maria Pia
 
 
Entretanto, e desde o ano de 2016, os serviços prestados durante anos pelo Hospital Maria Pia começaram a ser completamente realizados pelo novo Centro Materno Infantil do Norte que, para além daqueles serviços, integrou aqueles que, até há pouco tempo, eram prestados pela Maternidade Júlio Dinis.
Para tal, foi construído junto à antiga maternidade um grandioso edifício e, aquela antiga unidade, onde nasceram muitos milhares de portuenses ao longo dos últimos anos, sofreu obras de restauro integral das suas instalações.
A primeira maternidade portuense ficou a dever-se aos esforços protagonizados pelo Professor Artur Salustiano Maia Mendes e, em sequência de uma visita da Rainha D. Amélia ao Hospital de Santo António.
Assim, em 1 de Março de 1910, A. Maia Mendes publica um plano de acção e vai chamar para junto de si para o coadjuvar o médico, Agnelo Pereira.
Uma extensa comissão de propaganda é, então formada com a nata da sociedade comandada pelo bispo D. António Barroso.
A instituição teria por âncoras, características de benemerência dirigindo-se às classes mais pobres e com a divisa de “protecção às mães e aos recém-nascidos.
Em 1 de Outubro de 1910, a Maternidade do Porto abria as suas portas.
Decorridos 4 dias, após aquela abertura, acontece a revolução e a implantação da República, porém a instituição continua a sua actividade.
Vai ser instalada, provisoriamente, num palacete da Rua de Camões, nº 329.
As instalações estavam providas de casa de banho com autoclismo, iluminação a gás, gerador de electicidade com motor a gasolina, dínamo e uma bateria de acumuladores.
Para além dos médicos fundadores, juntam-se ao trabalho prático e ao corpo clínico: João Mário de Castro, Ângelo César das Neves e Júlio Abeilard Teixeira.
Um grupo de 36 farmácias fornecia medicamentos gratuitos para as consultas.
 
 
 
Maternidade do Porto, na Rua de Camões, nº 329 – Fonte: revista “O Tripeiro, 7ª Série, Ano XVIII, Nº 1, Janeiro 1999


 
 

Corpo Clínico – Da esquerda para a direita: João Mário de Castro, Agnelo Pereira, Ângelo das Neves, A. Maia Mendes, Júlio Abeilard Teixeira – Fonte: revista “O Tripeiro, 7ª Série, Ano XVIII, Nº 1, Janeiro 1999
 
 
 
Entretanto, em 1911, o governo da República, recém-chegado, cria a primeira maternidade pública, em Coimbra.
Em 12 de Agosto de 1912, os estatutos da maternidade, fundada por A. Maia Mendes, eram aprovados pelo Governo Civil do Porto.
Mas, só em 1925, se começa a assistir a uma campanha pública para erguer uma nova maternidade no Porto, de forma a comemorar o centenário da criação da Escola de cirurgia do Porto, o embrião da Escola Médico Cirúrgica (1836).
A voz que mais se faz ouvir é a de Alberto Saavedra.
Finalmente, em 1928, começou a sua construção, concluída em 1937, mas sendo oficialmente inaugurada, apenas, em Setembro de 1939.
Surgiria, então, a Maternidade Júlio Dinis, situada no antigo Largo do Campo Pequeno ou Largo dos Ingleses (assim designado pela proximidade do cemitério desta comunidade) e hoje Largo da Maternidade Júlio Dinis, sempre possuiu um elevado valor histórico e arquitectónico. O projecto foi da autoria do arquitecto suíço George Epitaux, autor de várias maternidades na Europa.
O seu planeamento teve sempre, inerente, alguns factores de modernidade (ex: aquecimento central, sinalização eléctrica, elevador). 
Fizeram parte do Casal do Pombal, alguns anos antes, os terrenos em que foi implantada a Maternidade Júlio Dinis, sobre os quais a Colegiada de Cedofeita cobrava foros e dízimos (só seriam extintos com a Revolução de 1820).


 
 
Maternidade Júlio Dinis em 1939
 
 
Maternidade Júlio Dinis
 
 
 
 
 
 
Largo do Campo Pequeno
 


Construção da Maternidade Júlio Dinis

 
“Existem colunas, nos quatro lados do edifício. São simples, com capitéis em estilo jónico, apresentam, em ambos os pisos, um fuste liso. As do rés-do-chão assentam em estilóbatas sólidas, de forma quadrangular; nos pisos superiores sobre uma base nas paredes que formam as varandas”.
Fonte - Site: insa.pt

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