No último dia do ano
de 1881, dez personalidades de relevo da sociedade portuense, reunidos na
Rua do Bonjardim, nº 115 (uma Farmácia Homeopática), tiveram a ideia de fundar
uma instituição destinada a Recolher,
Medicar e Acarinhar Crianças Pobres e Doentes de Tenra Idade.
“Constituíram uma Comissão Fundadora que
elaborou os respetivos Estatutos tendo sido entregues às autoridades
competentes que, em 15 de Março de 1882, comunicaram a sua aprovação ao mesmo
tempo que informavam da aceitação de Sua Majestade o Rei Luís I que fosse dado
o nome ao objeto da instituição de Real Hospital de Crianças Maria Pia
debaixo da real proteção de Sua Majestade, a Rainha.
Escolheu a Comissão Instaladora os primeiros
Presidente e Secretário, em 2 de Junho e aprovado foi o arrendamento de uma
casa na rua da Carvalhosa pertencente aos herdeiros da Viúva Chaves.
Suas Majestades, o Rei e a Rainha desde logo
foram instituídos os primeiros Sócios Beneméritos e Perpétuos e Suas Altezas,
os Príncipes Reais Carlos e Afonso Henriques, Protetores e Beneméritos.
A 5 de Novembro a Comissão Fundadora elegia
os primeiros Corpos Gerentes e estes deliberaram que o Hospital abrisse portas
no dia 1 de Janeiro de 1883.
28 longos anos foram necessários até se
inaugurar o novo Hospital no local aonde ainda é hoje, graças ao estoicismo do
Conselheiro Arnaldo Anselmo Ferreira Braga, à doadora do terreno aonde o Hospital
se implantou, D. Emília Cabral Pereira Cardoso e que, em dinheiro, muito ajudou
à sua construção, e à inteligência lúcida, aliada a uma alma generosa, do
Conselheiro Pedro Maria Fonseca Araújo.
Em atenção à epidemia do tifo exantemático e
da gripe pneumónica em consequência da 1ª Grande Guerra, o Hospital esteve
mobilizado pelo Ministério da Guerra desde 1918 até Dezembro de 1924, altura em
que ficaram prontas as instalações do Hospital Militar.
Reabriu o Hospital em 5 de Maio de 1925, que
passou a ter a preciosa ajuda das Missionárias de Maria nos serviços
hospitalares com a anuência do Reverendíssimo Bispo do Porto, D. António
Barbosa Leão, enaltecendo-se a ação da nobilíssima D. Ana José da Costa que
presidia a uma Comissão de Senhoras que colaboravam também financeiramente para
o sustento do Hospital, assim como do notável poeta e jornalista senhor António
Augusto Pinto Machado que, durante 34 anos foi um dos elementos mais ativos e
dedicados ao Hospital”.
Fonte: “ahcmp.com/”
O Conselheiro Pedro
Maria Fonseca Araújo (1862-1922),
acima referido, foi um conhecido Monárquico
progressista, Pedro Araújo foi Vereador da Câmara Municipal do Porto
(1890-1895), Presidente da Associação Comercial do Porto (1895-1896,
1901-1905), membro da Câmara dos Pares (1905), Presidente da Liga Naval
Portuguesa (1905) e Governador Civil do Porto (1910).
Por sua vez, António
Augusto Pinto Machado (1895-1965), distinto escritor e jornalista, ficaria para
sempre conhecido como o Director do Palácio de Cristal e ainda, por nessa
qualidade, ter mandado construir a “Casa do Roseiral”.
Os portuenses também
não esquecem a sua intervenção na área da saúde, de que se destacam as suas
intervenções ao integrar, como dirigente, várias das Direcções do Real
Hospital de Crianças Maria Pia e da Cruz Vermelha Portuguesa, na Delegação
que tinham no Porto, e recebeu nomeadamente a condecoração da Cruz de
Benemerência, desta última instituição
O Real Hospital
de Crianças Maria Pia começaria por se instalar, então, na Rua da
Carvalhosa, nº 84 (actual Rua Aníbal Cunha), bem perto da igreja de Cedofeita, e
abriria as suas portas em 1/1/1883, começando por funcionar na casa da família
Chaves.
Instalações do
Hospital Maria Pia, na Rua da Carvalhosa
O Hospital Maria Pia
esteve por aqui nos primórdios - Fonte: Google maps
O Hospital Maria Pia
seria transferido para um novo prédio construído com projecto (1898) do
arquitecto Joel da Silva Pereira e do Engº Estevão Torres, em terreno
oferecido por D. Maria Emília Cabral, na esquina da Rua Augusto Luso e Rua da
Boavista e, cuja construção demoraria cerca de uma dezena de anos.
Deste modo, em 1911, o hospital ocuparia as novas instalações na Rua da Boavista.
Maria Emília Cabral
ficara viúva em Fevereiro de 1886, por falecimento do seu marido, o conselheiro
Dr. José Pereira da Costa Cardoso. À data, o casal vivia na Rua do Príncipe, a
actual Rua de Miguel Bombarda.
Entretanto, as
instalações abandonadas, seriam ocupadas, depois, pelo Dispensário da
Carvalhosa que integrava a Assistência Nacional aos Tuberculosos criada
em Agosto de 1899, por vontade da rainha D. Amélia.
Desenho da fachada
integrante de projecto do Hospital Maria Pia, à Rua da Boavista, submetido a
licenciamento e que obteve a licença nº 20/1898
“Os fundadores do
Hospital Maria Pia foram:
-Conde de Samudães, Francisco José de Araújo
-Henrique Carlos de Meirelles Kendall
-Rodrigo António Machado Guimarães
-D. Joaquim de Carvalho Azevedo Mello e Faro
-Eduardo da Costa Correia Leite
-António Bernardino Pires
-Conde da Silva Monteiro, Fulgêncio José Pereira
-José António Barbosa
-Alberto Borges de Castro
-Conselheiro Arnaldo Anselmo Ferreira Braga (político,
amigo do então presidente do Conselho de Ministros, José Luciano de Castro)
-António Augusto de Mello
-Paulo Marcelino
Dias de Freitas
-José Luciano Alves Quintella
-Augusto Carlos Chaves de Oliveira
-Augusto Sebastião Guerra"
Fonte: J.P. de Almeida Brandão, pp 98/99, in Guia do Forasteiro no
Porto e Província do Minho, Editado F. Lopes, Porto
A capela que
pertenceu ao mosteiro de S. Bento da Avé-Maria, acabaria no hospital Maria Pia.
In jornal “A Voz
Pública” de 12 Dez 1900
Como acima foi
referido entre 1917 e 1925, devido a condições sanitárias muito precárias
vividas pelos portuenses, fruto do retorno de milhares de combatentes na 1ª
Guerra Mundial a necessitar de cuidados médicos, do surgimento de uma epidemia
de tifo e do aparecimento da pneumónica, o hospital foi mobilizado pelo Estado.
Aliás, no início
daquele período, em 1917, tinha sido arrendadas algumas dependências da
unidade, à Cruz vermelha, para tratamento dos combatentes feridos.
Mais recentemente,
depois de dezenas de anos a cumprir a função para que foi criado, o hospital cujo
edifício pertence à Associação do Hospital de Crianças Maria Pia, desde a sua
fundação em 1882, foi nacionalizado após 25 de Abril de 1974.
Por falta de
condições e com o objectivo da sua integração no Centro Materno Infantil do
Norte, os seus serviços foram transferidos para o Hospital de Santo António em
2012, tendo encerrado, pouco depois, definitivamente, para ser sujeito a obras
de restauro.
Actualmente, foi
tornado público que o edifício será afecto a uma unidade hoteleira.
Hospital Maria Pia
Entretanto, e desde o ano de 2016, os serviços prestados
durante anos pelo Hospital Maria Pia começaram a ser completamente realizados
pelo novo Centro Materno Infantil do Norte que, para além daqueles serviços,
integrou aqueles que, até há pouco tempo, eram prestados pela Maternidade Júlio
Dinis.
Para tal, foi construído junto à antiga maternidade um
grandioso edifício e, aquela antiga unidade, onde nasceram muitos milhares de
portuenses ao longo dos últimos anos, sofreu obras de restauro integral das suas
instalações.
A primeira maternidade portuense ficou a dever-se aos
esforços protagonizados pelo Professor Artur
Salustiano Maia Mendes e, em sequência de uma visita da Rainha D. Amélia ao
Hospital de Santo António.
Assim, em 1 de Março de 1910, A. Maia Mendes publica um
plano de acção e vai chamar para junto de si para o coadjuvar o médico, Agnelo
Pereira.
Uma extensa comissão de propaganda é, então formada com a
nata da sociedade comandada pelo bispo D. António Barroso.
A instituição teria por âncoras, características de
benemerência dirigindo-se às classes mais pobres e com a divisa de “protecção
às mães e aos recém-nascidos.
Em 1 de Outubro de 1910, a Maternidade do Porto abria as
suas portas.
Decorridos 4 dias, após aquela abertura, acontece a
revolução e a implantação da República, porém a instituição continua a sua
actividade.
Vai ser instalada, provisoriamente, num palacete da Rua de
Camões, nº 329.
As instalações estavam providas de casa de banho com
autoclismo, iluminação a gás, gerador de electicidade com motor a gasolina,
dínamo e uma bateria de acumuladores.
Para além dos médicos fundadores, juntam-se ao trabalho
prático e ao corpo clínico: João Mário de Castro, Ângelo César das Neves e
Júlio Abeilard Teixeira.
Um grupo de 36 farmácias fornecia medicamentos gratuitos
para as consultas.
Maternidade do Porto, na Rua de Camões, nº 329 – Fonte:
revista “O Tripeiro, 7ª Série, Ano XVIII, Nº 1, Janeiro 1999
Corpo Clínico – Da esquerda para a direita: João Mário de
Castro, Agnelo Pereira, Ângelo das Neves, A. Maia Mendes, Júlio Abeilard
Teixeira – Fonte: revista “O Tripeiro, 7ª Série, Ano XVIII, Nº 1, Janeiro 1999
Entretanto, em 1911, o governo da República, recém-chegado,
cria a primeira maternidade pública, em Coimbra.
Em 12 de Agosto de 1912, os estatutos da maternidade,
fundada por A. Maia Mendes, eram aprovados pelo Governo Civil do Porto.
Mas, só em 1925, se começa a assistir a uma campanha pública
para erguer uma nova maternidade no Porto, de forma a comemorar o centenário da
criação da Escola de cirurgia do Porto, o embrião da Escola Médico Cirúrgica
(1836).
A voz que mais se faz ouvir é a de Alberto Saavedra.
Finalmente, em 1928, começou a sua construção, concluída em
1937, mas sendo oficialmente inaugurada, apenas, em Setembro de 1939.
Surgiria, então, a Maternidade Júlio Dinis, situada no
antigo Largo do Campo Pequeno ou Largo dos Ingleses (assim designado
pela proximidade do cemitério desta comunidade) e hoje Largo da Maternidade
Júlio Dinis, sempre possuiu um elevado valor histórico e arquitectónico. O
projecto foi da autoria do arquitecto suíço George Epitaux, autor de várias
maternidades na Europa.
O seu planeamento teve sempre, inerente, alguns factores de
modernidade (ex: aquecimento central, sinalização eléctrica, elevador).
Fizeram parte do Casal do Pombal, alguns anos antes, os
terrenos em que foi implantada a Maternidade Júlio Dinis, sobre os quais a
Colegiada de Cedofeita cobrava foros e dízimos (só seriam extintos com a
Revolução de 1820).
Maternidade Júlio Dinis em 1939
Maternidade Júlio Dinis
Largo do Campo Pequeno
Construção da Maternidade Júlio Dinis
“Existem colunas, nos
quatro lados do edifício. São simples, com capitéis em estilo jónico,
apresentam, em ambos os pisos, um fuste liso. As do rés-do-chão assentam em
estilóbatas sólidas, de forma quadrangular; nos pisos superiores sobre uma base
nas paredes que formam as varandas”.
Fonte - Site: insa.pt
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