domingo, 13 de fevereiro de 2022

25.150 Museu municipal no palacete do visconde

 
Em Agosto de 2021 abriu, em Matosinhos, no antigo palacete do visconde de Trevões, um museu – “Museu da Memória de Matosinhos” (MUMMA) - que pretende preservar a memória histórica e patrimonial do concelho, cruzando-a com as memórias individuais dos seus habitantes.

 
 

“MUMMA” no palacete do visconde de Trevões – Fonte: CM Matosinhos
 
 
Aquele palacete foi mandado construir, entre 1909 e 1911, por Emídio José Ló Ferreira, para ser a sua residência após o seu regresso do Brasil e que, entre outras actividades que exerceu, foi um empreiteiro de sucesso.
Em 1955, o palacete foi adquirido pela Câmara Municipal de Matosinhos ao seu proprietário de então, Eurico Felgueiras que, nos anos 50, era o sócio principal do Banco Sousa Cruz, acolhendo nas suas instalações, sucessivamente, a partir daí, a Escola Industrial e Comercial de Matosinhos, depois uma Secção do Liceu D. Manuel II e, mais tarde, a Escola Preparatória António Nobre.


 

Palacete do visconde de Trevões, em 1986, durante construção dos novos Paços do Concelho, na área anexa



 

Jardins do palacete do visconde de Trevões, em 1914


 

Jardins do palacete (murado a toda a sua volta) do visconde de Trevões, em 1914
 
 
Nos últimos anos, de Dezembro de 1987 a 2005, o edifício funcionou como sede da Polícia Municipal e como Biblioteca Municipal e, após alguns anos desactivado abriu, em 2021, como Museu da Memória de Matosinhos.


 
 

Interior do palacete do visconde de Trevões – Ed. Francisco Teixeira (CM Matosinhos)

 
 
 
Visconde de Trevões
 

Emídio José Ló Ferreira (1863-1942), nascido  na freguesia de Santa Marinha de Trevões, concelho de S. João da Pesqueira, distrito de Viseu e diocese de Lamego, ainda jovem veio, entre 1884 e 1885, trabalhar para Matosinhos como pedreiro nas obras do Porto de Leixões (entrado ao serviço como Porto de Abrigo, em 1892).
Tendo casado em Matosinhos em 1886, Emídio Ferreira parte, em 1894, para S. Paulo, Brasil, em busca de fortuna, quando já tinha sido tornado Fidalgo Cavaleiro pelo rei D. Carlos I, o que pressupõe uma ascensão social vertiginosa.
Entre 23/07/1904 e 23/07/1908, Emídio Ló Ferreira, com a ajuda do então governador do Estado Brasileiro de Manaus, o Coronel António Constantino Nery (Manaus, 08/12/1859 - Belém, Pará, 19/09/1926) vai, por incumbência deste, presidir à construção de vários edifícios públicos, tarefa com a qual granjeou grossos cabedais. 
Para além desta actividade, também ganharia bom dinheiro no comércio da borracha.
Como resultado de um alvará do rei D. Manoel II, de 12/08/1909, é-lhe concedido o título de visconde de Trevões.
 
 
Teatro Constantino Nery
 
 
Regressado a Portugal, em homenagem ao seu protector em terras brasileiras, mandou construir o cine-teatro que nomeou de Constantino Nery, que foi inaugurado a 10/06/1905, em Matosinhos, na Avenida Serpa Pinto.


 

Fachada do Teatro Constantino Nery

 
 

Avenida Serpa Pinto. À direita, o teatro Constantino Néry em 1910

 
 
Inaugurado a 10 de Junho de 1905, o Cine-Teatro Constantino Nery foi, em Matosinhos, durante vários anos, o ponto de encontro da comunidade matosinhense.
Em 1907, funcionou como “Cinematógrafo Deslumbrante”.
Em 1969, Sá Carneiro usou a sala de espectáculos para apresentação da sua candidatura à Assembleia Nacional.
Décadas mais tarde, pelos anos 80, o espaço cultural entrou em decadência ficando praticamente em ruínas.
Consciente da importância deste espaço na memória e na herança cultural do concelho, a Câmara Municipal adquiriu, em 2001, este equipamento e recuperou-o, segundo projecto do arquitecto Alexandre Alves da Costa. Reabriu em 2008, com lotação para 240 pessoas.

 
 

Teatro Constantino Nery, antes da recuperação

 
 

Teatro Constantino Nery, após a recuperação


 
Escola Industrial e Comercial de Matosinhos (EICM)
 

A EICM seria, sucessivamente, Escola Secundária nº 1 de Matosinhos e, hoje, a Escola Secundária João Gonçalves Zarco.
 
 
 

Escola Secundária João Gonçalves Zarco, actualmente – Fonte: Vitor Monteiro
 
 
Foi criada por Decreto n.º 40.209 de 28 de Junho de 1955, para servir uma população mista de 1300 alunos, ministrando os cursos do Ciclo Preparatório e de Formação - serralheiro, montador-eletricista, motorista marítimo, formação feminina e geral do comércio.
Começou por funcionar, desde o ano lectivo 1953/54, no palacete do visconde de Trevões, bem como, no respectivo parque envolvente (com uns pavilhões que eram as salas de desenho e, ainda, uns anexos onde estavam a carpintaria e as oficinas de serralheiros e de electricidade).
Entretanto, o Curso Geral do Comércio funcionava no palacete do Conde Alto do Mearim (demolido em 1975), já próximo das instalações portuárias.
A EICM transitaria em 1963, para a actual morada na Avenida Villagarcia de Arosa.

 
 

Projecto, em perspectiva, da EICM

 
 

Inauguração da EICM pelo Almirante Américo Tomás
 
 
 

Recreio interior da EICM, com a entrada para a cantina, em 1º plano

 
Antes, com uma frequência a rebentar pelas costuras, a ginástica era feita no campo de Santana (onde jogava o Leixões Sport Clube) e as oficinas de Trabalhos Manuais funcionavam no edifício pertencente à família Costa Braga, no início da Rua do Ribeirinho.

 
 

Eléctrico passando, na década de 1950, nas comportas de desaguamento do rio Leça na Doca n.º 1 do Porto de Leixões, onde hoje está a ponte móvel

 
 
Ao longe, o palacete do conde Alto do Mearim demolido em 1975 e onde funcionou o Curso Geral do Comércio.

 
 

Outra perspectiva, c. 1965, das docas do Porto de Leixões e, à esquerda, em destaque, o palacete do conde do Alto de Mearim demolido em 1975


Palacete do conde de Alto de Mearim

 
 
 
A vertente comercial da EICM ocupou, então, o palacete (residência) do conde do Alto de Mearim, na Rua do Conde Alto do Mearim.
José João Martins de Pinho (1849-1900) emigrou aos 14 anos para o Brasil, principiando a sua vida como empregado de escritório e ascendendo, em breve, a gerente de uma importante firma comercial.
Fundou o Banco de Crédito Real e o Banco Construtor.
Foi agraciado por D. Pedro II, Imperador do Brasil, em 1880, com o título de Barão de Alto Mearim, por ser esta a povoação brasileira onde nascera sua mãe.
Em Portugal, por decreto de D. Carlos em 1891, foi feito Conde do Alto-Mearim por ser um benemérito reconhecido em Portugal e no Brasil.
Foi também o fundador do Liceu do Alto-Mearim, em Matosinhos, em 1892, onde era ministrado um ensino gratuito.
 
 
 
 
 
Liceu Nacional de Matosinhos
 
 
Este estabelecimento de ensino seria sucessivamente Escola n.º 2 de Matosinhos (desde 22/11/1979 - Portaria n.º 608/79, de 22 de Novembro), Escola Secundária Augusto Gomes – Matosinhos (em 1989), Escola Secundária (com 3.º ciclo) Augusto Gomes (em 2002) e Escola Secundária Augusto Gomes (ESAG).
Depois da transferência da Escola Industrial e Comercial de Matosinhos para a Avenida Villa Garcia Arosa, o palacete do visconde de Trevões passou a albergar, entre 1964 e 1972, uma Secção do Liceu D. Manuel II ou Rodrigues de Freitas, fazendo face, deste modo, a uma crescente procura estudantil, na Vila de Matosinhos.
Antes de ser o Liceu de Matosinhos, o estabelecimento de ensino começou, então, por ser uma secção tutelada pedagógica e administrativamente pelo Liceu D. Manoel II, com o apoio da Câmara Municipal.
Esta Secção viria a funcionar também na Rua 1º de Maio (antiga Rua 28 de Maio), no edifício que, mais tarde, seria ocupado pelo Tribunal de Matosinhos (antes de ter mudado para as actuais instalações) e pelos SMAS de Matosinhos, complementando a sua actividade, com o espaço oferecido pelo palacete do visconde de Trevões.
 
 

Palacete do visconde de Trevões, actualmente – Ed. Francisco Teixeira (CM Matosinhos)
 
 
Em 1/10/1968, aquela Secção dava, também, origem à Escola Preparatória António Nobre, que passará a funcionar no palacete do visconde de Trevões.
Entretanto, na Rua 1º de Maio (antiga Rua 28 de Maio), continuaria a sua actividade como sucursal do liceu portuense.
Em 01/10/1972, aquela Secção encerrou, definitivamente, dando lugar ao Liceu Nacional de Matosinhos que, naquele ano, foi inaugurado na Rua de Damão.


 
Instalações da Escola Secundária Augusto Gomes, em 2010

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