Em Agosto de 2021 abriu, em Matosinhos, no antigo palacete
do visconde de Trevões, um museu – “Museu da Memória de Matosinhos” (MUMMA) -
que pretende preservar a memória histórica e patrimonial do concelho,
cruzando-a com as memórias individuais dos seus habitantes.
Aquele palacete foi mandado construir, entre 1909 e 1911,
por Emídio José Ló Ferreira, para ser a sua residência após o seu regresso do
Brasil e que, entre outras actividades que exerceu, foi um empreiteiro de
sucesso.
Em 1955, o palacete foi adquirido pela Câmara Municipal de
Matosinhos ao seu proprietário de então, Eurico Felgueiras que, nos anos 50,
era o sócio principal do Banco Sousa Cruz, acolhendo nas suas instalações,
sucessivamente, a partir daí, a Escola Industrial e Comercial de Matosinhos, depois
uma Secção do Liceu D. Manuel II e, mais tarde, a Escola Preparatória António
Nobre.
Palacete do visconde de Trevões, em 1986, durante construção
dos novos Paços do Concelho, na área anexa
Nos últimos anos, de Dezembro de 1987 a 2005, o edifício
funcionou como sede da Polícia Municipal e como Biblioteca Municipal e, após
alguns anos desactivado abriu, em 2021, como Museu da Memória de Matosinhos.
Visconde de Trevões
Emídio José Ló Ferreira (1863-1942), nascido na
freguesia de Santa Marinha de Trevões, concelho de S. João da Pesqueira,
distrito de Viseu e diocese de Lamego, ainda jovem veio, entre 1884 e 1885,
trabalhar para Matosinhos como pedreiro nas obras do Porto de Leixões (entrado
ao serviço como Porto de Abrigo, em 1892).
Tendo casado em Matosinhos em 1886, Emídio Ferreira parte,
em 1894, para S. Paulo, Brasil, em busca de fortuna, quando já tinha sido tornado
Fidalgo Cavaleiro pelo rei D. Carlos I, o que pressupõe uma ascensão social
vertiginosa.
Entre 23/07/1904 e 23/07/1908, Emídio Ló Ferreira, com a
ajuda do então governador do Estado Brasileiro de Manaus, o Coronel António
Constantino Nery (Manaus, 08/12/1859 - Belém, Pará, 19/09/1926) vai, por
incumbência deste, presidir à construção de vários edifícios públicos, tarefa
com a qual granjeou grossos cabedais.
Para além desta actividade, também ganharia bom dinheiro no
comércio da borracha.
Como resultado de um alvará do rei D. Manoel II, de
12/08/1909, é-lhe concedido o título de visconde de Trevões.
Teatro Constantino Nery
Regressado a Portugal, em homenagem ao seu protector em terras
brasileiras, mandou construir o cine-teatro que nomeou de Constantino Nery, que
foi inaugurado a 10/06/1905, em Matosinhos, na Avenida Serpa Pinto.
Inaugurado a 10 de
Junho de 1905, o Cine-Teatro Constantino Nery foi, em Matosinhos, durante
vários anos, o ponto de encontro da comunidade matosinhense.
Em 1907, funcionou
como “Cinematógrafo Deslumbrante”.
Em 1969, Sá Carneiro
usou a sala de espectáculos para apresentação da sua candidatura à Assembleia
Nacional.
Décadas mais tarde,
pelos anos 80, o espaço cultural entrou em decadência ficando praticamente em
ruínas.
Consciente da
importância deste espaço na memória e na herança cultural do concelho, a Câmara
Municipal adquiriu, em 2001, este equipamento e recuperou-o, segundo projecto
do arquitecto Alexandre Alves da Costa. Reabriu em 2008, com lotação para 240
pessoas.
Escola Industrial e Comercial de Matosinhos (EICM)
A EICM seria, sucessivamente, Escola Secundária nº 1 de
Matosinhos e, hoje, a Escola Secundária João Gonçalves Zarco.
Foi criada por Decreto n.º 40.209 de 28 de Junho de 1955,
para servir uma população mista de 1300 alunos, ministrando os cursos do Ciclo
Preparatório e de Formação - serralheiro, montador-eletricista, motorista
marítimo, formação feminina e geral do comércio.
Começou por funcionar, desde o ano lectivo 1953/54, no
palacete do visconde de Trevões, bem como, no respectivo parque envolvente (com
uns pavilhões que eram as salas de desenho e, ainda, uns anexos onde estavam a
carpintaria e as oficinas de serralheiros e de electricidade).
Entretanto, o Curso Geral do Comércio funcionava no palacete
do Conde Alto do Mearim (demolido em 1975), já próximo das instalações
portuárias.
A EICM transitaria em 1963, para a actual morada na Avenida Villagarcia
de Arosa.
Antes, com uma frequência a rebentar pelas costuras, a
ginástica era feita no campo de Santana (onde jogava o Leixões Sport Clube) e
as oficinas de Trabalhos Manuais funcionavam no edifício pertencente à família
Costa Braga, no início da Rua do Ribeirinho.
Eléctrico passando, na década de 1950, nas comportas de desaguamento do rio Leça na Doca n.º 1 do
Porto de Leixões, onde hoje está a ponte móvel
Ao longe, o palacete do conde Alto do Mearim demolido em
1975 e onde funcionou o Curso Geral do Comércio.
Outra perspectiva, c. 1965, das docas do Porto de Leixões e,
à esquerda, em destaque, o palacete do conde do Alto de Mearim demolido em 1975
A vertente comercial da EICM ocupou, então, o palacete
(residência) do conde do Alto de Mearim, na Rua do Conde Alto do Mearim.
José João Martins de Pinho (1849-1900) emigrou aos 14 anos para
o Brasil, principiando a sua vida como empregado de escritório e ascendendo, em
breve, a gerente de uma importante firma comercial.
Fundou o Banco de Crédito Real e o Banco Construtor.
Foi agraciado por D. Pedro II, Imperador do Brasil, em 1880,
com o título de Barão de Alto Mearim, por ser esta a povoação brasileira onde
nascera sua mãe.
Em Portugal, por decreto de D. Carlos em 1891, foi feito
Conde do Alto-Mearim por ser um benemérito reconhecido em Portugal e no Brasil.
Foi também o fundador do Liceu do Alto-Mearim, em Matosinhos,
em 1892, onde era ministrado um ensino gratuito.
Liceu Nacional de Matosinhos
Este estabelecimento de ensino seria sucessivamente Escola
n.º 2 de Matosinhos (desde 22/11/1979 - Portaria n.º 608/79, de 22 de Novembro),
Escola Secundária Augusto Gomes – Matosinhos (em 1989), Escola Secundária (com
3.º ciclo) Augusto Gomes (em 2002) e Escola Secundária Augusto Gomes (ESAG).
Depois da transferência da Escola Industrial e Comercial de
Matosinhos para a Avenida Villa Garcia Arosa, o palacete do visconde de
Trevões passou a albergar, entre 1964 e 1972, uma Secção do Liceu D. Manuel II
ou Rodrigues de Freitas, fazendo face, deste modo, a uma crescente procura
estudantil, na Vila de Matosinhos.
Antes de ser o Liceu de Matosinhos, o estabelecimento de
ensino começou, então, por ser uma secção tutelada pedagógica e
administrativamente pelo Liceu D. Manoel II, com o apoio da Câmara Municipal.
Esta Secção viria a funcionar também na Rua 1º de Maio
(antiga Rua 28 de Maio), no edifício que, mais tarde, seria ocupado pelo
Tribunal de Matosinhos (antes de ter mudado para as actuais instalações) e pelos
SMAS de Matosinhos, complementando a sua actividade, com o espaço oferecido
pelo palacete do visconde de Trevões.
Em 1/10/1968, aquela Secção dava, também, origem à Escola
Preparatória António Nobre, que passará a funcionar no palacete do visconde de
Trevões.
Entretanto, na Rua 1º de Maio (antiga Rua 28 de Maio),
continuaria a sua actividade como sucursal do liceu portuense.
Em 01/10/1972, aquela Secção encerrou, definitivamente,
dando lugar ao Liceu Nacional de Matosinhos que, naquele ano, foi inaugurado na
Rua de Damão.
Instalações da Escola Secundária Augusto Gomes, em 2010
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