A primeira agência
de viagens no mundo a abrir um estabelecimento de atendimento ao público foi
fundada em 1840, na cidade do Porto, por Bernardo Luís Vieira de Abreu
(1801-1878), nascido no lugar de Ortezelo, freguesia de São Salvador de Rossas,
concelho de Vieira do Minho, no dia 27 de Fevereiro de 1801.
Na realidade, esta
empresa como “Agência de Viagens” terá existência, apenas, a partir de 1948,
quando a legislação o permitiu.
Antes, as empresas
eram “Agências de Passagens e Passaportes”.
Bernardo Luís Vieira de Abreu
O grande
desenvolvimento experimentado pela firma que Bernardo Abreu fundou, em 1840,
foi desde sempre devido a um aumento exponencial da emigração para o Brasil,
nomeadamente, a que se fazia das regiões setentrionais do país, que saía pela
barra do Douro, mas, também, a que tinha origem no porto de Lisboa.
O minhoto Bernardo
Luís Vieira de Abreu, dado como estando no Brasil, em 1822 (data da
independência), em 1828, já estaria regressado ao Porto, pois, nesse ano, terá
contraído matrimónio com Francisca de Jesus.
O texto seguinte,
dá-nos conta das moradas que a família Abreu foi ocupando em meados do século
XIX, na cidade do Porto e na forte possibilidade de o seu negócio ter passado,
a partir de 1840, pela Rua do Loureiro, sendo, porém, de 8 de Novembro de 1848,
a data conhecida do primeiro registo de abonação de passaporte feito por Bernardo
de Abreu.
Fonte: Agência
Abreu – Uma viagem de 175 anos
A Rua das Hortas em
1850. Gravura baseada numa descrição de Ramalho Ortigão – Ed. Companhia
Portuguesa Editora (Estudo crítico sobre Camilo Castelo Branco)
Fruto do
conhecimento que tinha daquele país sul-americano, Bernardo Abreu viu nas
viagens para aquele destino uma hipótese de negócio próspero, que acabaria por
estar, sempre, ao longo dos anos, nas mãos da mesma família, preenchendo todos
requisitos, de facto, de uma verdadeira empresa familiar.
O endereço
comercial de Bernardo de Abreu localizando-se na Rua do Loureiro teria, também,
nessa rua, a sua residência desde 1867.
Casa na Rua do
Loureiro, n.os 75 a 79, onde residiu e faleceu Bernardo Luís Vieira de Abreu
Ainda em vida de
Bernardo Luís Vieira de Abreu, em 1897, o seu filho Daniel Luís Vieira de Abreu
tinha já assumido a direcção da agência.
A vida de Daniel
Abreu encontrar-se-á, para sempre, ligada a um acontecimento que correu mundo.
Trata-se do
envenenamento de uns familiares do conhecido Dr. Urbino, residentes na Rua das
Flores.
Assim, foi Daniel
Abreu que vendeu as passagens para o Brasil, num dia do mês de Março de 1890, a
Manuel Bento Brito e Cunha, uma testemunha capital no processo judicial contra
o médico portuense Urbino de Freitas, acusado de ter envenenado a sogra e sobrinhos.
O caso ficaria
conhecido como o “Crime da Rua das Flores”.
In “Jornal de Stº
Tirso”, em 2 de Janeiro de 1896
A Bernardo Abreu suceder-lhe-ia à frente
da firma, o filho Daniel Luís Vieira de
Abreu (1878‑1902), a que se seguiria Aníbal Vieira de Abreu (1902‑1908)
e seus sucessores (1908‑1924)
e, entre 1924 e 1973, os irmãos Augusto
e Aníbal Lopes Vieira de Abreu.
Durante alguns
anos, a Casa Abreu vai peregrinando por várias moradas da Rua do Loureiro e não
só.
Daniel Luís Vieira
de Abreu, na Rua do Loureiro, nº 5 - In “Gazeta de Notícias”, Porto, 1 de
Janeiro de 1894
Sobre a égide de
Daniel Luís Vieira de Abreu, a empresa continua o seu trajecto ligado às
viagens, mas o negócio sofre, também, uma pequena deriva.
“Na década de 1890, Daniel Luís Vieira de Abreu promoveu
o alargamento e diversificação dos seus negócios, aproveitando a estrutura
existente para comercializar, a nível nacional e internacional, produtos das
mais diversas naturezas, bem como para dinamizar a atividade das representações
comerciais.
Nesta aventura terá tido a colaboração, se não mesmo o
incentivo, do seu filho mais velho, Daniel Luís Vieira Mascarenhas de Abreu, então
proprietário e diretor do periódico Gazeta de Notícias, onde foram publicados
os anúncios que revelam esta nova faceta empresarial da família. O arranque da
iniciativa materializou-se na criação, em março de 1893, do Centro Mercantil,
Industrial e Agrícola, profusamente publicitado na edição da Gazeta de 13 de
março daquele ano.
O Centro Mercantil, Industrial e Agrícola tinha
escritório na Rua do Loureiro, 106-1.º (uma das direções comerciais de Daniel
pai era no n.º 104 – o outro número de polícia do mesmo prédio), endereço à
época do próprio periódico Gazeta de Notícias, e dispunha de agentes em
Portugal e no estrangeiro, sendo contudo apenas nomeado o de Lisboa: tratava-se
da firma Monteiro & C.ª, sita à Rua dos Retroseiros, no 1.º andar do n.º
75”.
Fonte: Agência
Abreu – Uma viagem de 175 anos
In “Gazeta de
Notícias”, Porto, 2 de Setembro de 1895
Pai de treze
filhos, Daniel Abreu foi protagonista de dois relacionamentos paralelos durante
25 anos.
Em 1867, casa com
Ana Rita Vieira e, em 1894, após 2 anos de viuvez, com Claudina Cândida da
Silva, com quem vivia em união de facto, há muitos anos.
Tendo enviuvado,
assumirá no altar o relacionamento extra conjugal que vinha mantendo há anos.
Assim, um seu filho
dessa relação extra conjugal, de seu nome Aníbal Vieira de Abreu, nasce em
1876.
Em 1898, Daniel
Mascarenhas de Abreu Júnior, filho primogénito do 1º casamento, desentende-se
com o seu pai e estabelece-se por conta própria.
Para além da
actividade comercial, Daniel Abreu Júnior desviava a sua atenção para algumas
actividades culturais, tendo sido administrador da revista literária “Eco da
Juventude”, publicada no Porto em 1883, com sede na Rua do Loureiro, nº 56, e
fundado, ainda, em 1889, o “Boletim Anunciador”, com sede na morada da firma de
seu pai.
Mas, seria o
periódico “Gazeta de Notícias”, publicado durante 14 anos, até 1904, que viria
a prender a atenção de Daniel Abreu Júnior.
“Este periódico começou a publicar-se a 19 de maio de
1890 e, até novembro, a redação e administração situavam-se na Rua do Loureiro
n.º 58-1.º (portanto, no andar de cima da firma do pai), mas nos anos seguintes
conheceu diversas localizações na mesma Rua do Loureiro em diferentes números –
104, 106 (endereços do Centro Mercantil, Industrial e Agrícola), 162-1.º; Rua
do Cativo; Travessa das Laranjeiras, n.º 19, à Foz; Rua da Madeira, n.º 47 e
49; Rua da Bela Vista, n.º 82 e Passeio Alegre, n.º 113.
A Gazeta de Notícias manteve publicação durante catorze
anos, até outubro de 1904, embora com várias interrupções e algumas alterações
na periocidade e nos subtítulos que adotou. Apesar de a publicidade não ter
neste jornal a dimensão que assumira no Boletim Anunciador, também foram
publicados anúncios de outros agentes de passagens que, em certa altura,
vão rareando, tornando-se novamente mais frequentes em
1895, para posteriormente desaparecerem, mas mantendo-se os relativos à firma
de seu pai”.
Fonte: Agência
Abreu – Uma viagem de 175 anos
Falecido, em 1902,
sem testamento, Daniel Luís Vieira de Abreu originará um conflito entre os
membros das suas duas famílias.
Suceder-lhe-á no
negócio um dos seus filhos do 2º casamento, de seu nome Aníbal Vieira de Abreu,
que morreria cedo, em 1908, mas que já trabalhava desde a adolescência com o
seu pai e que substituiria ao comando da firma, aquando da doença daquele.
Aníbal Vieira de
Abreu, nascido em 1876, viúvo, vivia à data do falecimento do pai, com sua mãe
Claudina Cândida da Silva Abreu, na Rua de Costa Cabral, nº 238.
A 3 de Outubro,
morre Aníbal Vieira de Abreu, com apenas 32 anos, vítima de congestão pulmonar.
A sua mulher Anália
da Conceição, com quem tinha casado em segundas núpcias, em 1904, e com a qual
tinha tido três filhos, assume a condução dos negócios.
Em 1915, O “Almanaque
do Porto e seu Distrito” refere ser Anália da Conceição Vieira de Abreu a
“única” representante e proprietária da empresa com origens na fundada por
Bernardo Abreu, em 1840.
Em 29 de Outubro de
1922, no Jornal de Noticias, um anúncio publicita pela primeira vez a
denominação “A. Abreu” e, em 1924, por morte de Anália Abreu, a gestão da
firma, com escritório na Rua do Loureiro, nº 40, passa para os seus filhos
Augusto e Aníbal Lopes Vieira de Abreu.
Em 1940, era já
chegado o centenário.
É o jornal “O
Comércio do Porto” que, em 7 de Abril de 1940, faz alusão ao centenário da
Agência Abreu, em artigo cujo título é:
“Um século de vida comercial. A reputada e conhecida
Agência Abreu comemora, este ano, 100 anos de trabalho honesto”.
Já Ercílio Azevedo,
na sua rubrica “Memória dos anos 40”, publicada na revista “O Tripeiro”,
em 1992, apontava o dia 6 de Abril de 1940, para evocar o mesmo facto:
“A Agência Abreu, fundada há cem anos por Bernardo Luís
Vieira de Abreu, está em festa. Depois daquele difícil começo no prédio número
40 da Rua do Loureiro, a instituição prosperou sempre e hoje encontram-se à
frente dela os bisnetos do fundador, Aníbal e Augusto de Abreu”.
Escritório no 1º
andar da Rua do Loureiro, 38-40, em 1952
Como as instalações
na Rua do Loureiro já se revelassem muito exíguas, em 1959, ocorreu a mudança
para um novo estabelecimento, sito na Avenida dos Aliados, n.º 207.
Instalações da
Agência Abreu, na Avenida dos Aliados, no edifício “Garantia”
Para a instalação
na nova loja foi contratado o conceituado arquitecto Viana de Lima, que
realizou a obra em 1958, e presidiu à ampliação das instalações em 1967, com a
colaboração do pintor Júlio Resende.
Fresco do pintor
júlio Resende, nas instalações da Agência Abreu, na Avenida dos Aliados
“Nos anos 1960 e 1970, o crescimento da Agência Abreu
deu-se em função de três importantes fatores: a sua atividade no Brasil, que
representou, de facto, tempos marcantes para a Empresa, como se aprofundará
mais à frente; a emigração portuguesa para o Brasil e Europa (França, Bélgica,
Luxemburgo e Alemanha), fazendo da Agência Abreu uma referência inultrapassável
junto dos emigrantes; e, finalmente, mas não menos importante, o incremento dos
famosos circuitos europeus”.
Fonte: Agência
Abreu – Uma viagem de 175 anos
Na década de 1960,
inicia-se a expansão para outras paragens.
Primeira sucursal
da Agência Abreu, em Lisboa, autorizada
por despacho do diretor-geral do turismo, datado de 18 de Julho de 1962
Sucursal da Agência
Abreu, em Coimbra, 1964
Capa de brochura-ilustração do pintor Júlio Resende
“Após a morte de Aníbal Lopes Vieira de Abreu, nos
inícios de 1973, e do afastamento voluntário do seu irmão, recaiu sobre os três
filhos do primeiro – Aníbal, Alberto e Artur – a responsabilidade da condução
dos negócios da Agência Abreu. Tinham então 40, 32 e 22 anos, respetivamente,
pelo que a experiência que possuíam neste domínio era necessariamente
diferente. O mais velho assumiria um papel de destaque, já que trabalhava na
Empresa desde os 24 anos, enquanto o mais novo só se iniciou em tais funções
após a morte do pai.
A direção tripartida da Agência Abreu localizou-se entre
Portugal, Brasil e Estados Unidos da América.
(…) Em julho de 1991, a Viagens Abreu, Ltd.ª, que já
levava algumas décadas de existência, converteu-se em sociedade anónima, dando
lugar à Viagens Abreu S.A., detendo a Família Abreu a totalidade do capital”.
Fonte: Agência
Abreu – Uma viagem de 175 anos
Em 13 de Setembro
de 2013, seria descerrada, em Rossas, Vieira do Minho, a placa da nova Rua
Bernardo de Abreu, justamente, aquela onde nasceu, em 1801, o fundador de um
escritório situado na cidade do Porto destinado ao negócio de passagens e
passaportes.
A Agência de
Viagens Abreu prosseguindo, nos nossos dias, nas mãos da mesma família, continua
a fazer parte do quotidiano dos portuenses, presentemente, junto à igreja da
Trindade, Pinheiro Manso, Antas, Shopping Campus S. João, Bom Sucesso, Alameda
dos Campeões, Via Catarina, Foz, Matosinhos, Norte Shopping, Arrábida Shopping…e
numa série de outras lojas por todo o País.
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