terça-feira, 22 de fevereiro de 2022

25.151 Visita real, em Outubro de 1900

 
Em 20 de Outubro de 1900, um Sábado, cerca das 16 horas, chegaria à Estação de Campanhã a comitiva real que vinha inaugurar a estátua do Infante D. Henrique e lançar a 1ª pedra da Estação Ferroviária de S. Bento.
 
 
Jornal “A Voz Pública”, de 21 de Outubro de 1900
 
 
 
No dia 21 de Outubro de 1900, um Domingo, com a presença do rei D. Carlos, ocorreria a inauguração do monumento ao Infante D. Henrique.
Da cerimónia e programa conexo, nos dá conta o jornal “A Voz Pública”.
 
 
 


Inaugurada a estátua, a comitiva real dirigiu-se para a igreja de S. Francisco, onde foi celebrada uma missa, finda a qual, o rei recolheu à sua residência.


Monumento ao Infante D. Henrique
 
 
Pelas 19 horas, a partir da Rua da Torrinha, formou-se um desfile militar que passou debaixo das varandas do Paço e, durante a queima de bengalas de fogo-de-artifício, ocorreria um incêndio numa das viaturas do cortejo.
À noite, no Paço, decorreria um jantar oferecido à sociedade civil.
Sobre o ambiente vivido na cidade o Diário Ilustrado de Lisboa escrevia, no dia 22, o texto seguinte.
 
 



No dia seguinte, 2ª Feira, 22 de Outubro, a visita prosseguiria. 
Enquanto a rainha D. Amélia fazia várias visitas a instituições de assistência social, o rei visitava, pela manhã, a Fábrica da Companhia Aliança de Massarelos.



 





Depois da sessão ocorrida na Câmara, pelas duas horas da tarde, começaria o povo a juntar-se em volta de um barracão que funcionaria como um salão de apoio às cerimónias de lançamento da 1ª pedra da Estação Ferroviária de S. Bento quando, quatro anos antes, o comboio já tinha ali chegado.
O rei e a rainha apresentaram-se às 15 horas e quarenta minutos, e benzida a pedra inaugural pelo bispo do Porto, e lido o respectivo auto inaugural pelo director dos Caminhos de Ferro do Minho e Douro, foi o mesmo assinado pelo monarca e encerrado num frasco de cristal, que seria introduzido na referida pedra que receberia, posteriormente, uma chapada de massa.

 
 

Chegada do primeiro comboio a S. Bento, em 7 de Novembro de 1896
 
 
 
Na foto anterior, a locomotiva “Miragaia” que tinha Tomás Pelekiton, o decano da corporação, como maquinista, puxando várias carruagens de primeira classe e uma carruagem-salão, chegava pelo túnel que, depois, se chamaria D. Carlos, ao centro da cidade. Antes, já tinha passado pelos túneis da China e do Seminário.
O primeiro comboio chegava, assim, ao centro da cidade. A servir de estação apresentava-se um barracão em madeira.
O projecto da ligação do comboio de Campanhã ao centro do Porto, numa extensão de cerca de 2,5 km, com projecto assinado pelo engenheiro Hipólito Baére, impôs que se rasgasse das Fontainhas a S. Bento, um extenso túnel através do granito. Ocorreram desabamentos de terras, morreram operários e as obras estiveram suspensas por um longo período,
Durante a cerimónia que se seguiria, na qual estiveram envolvidas as forças vivas da cidade, foi descerrada uma lápide homenageando o vereador da Câmara, de seu nome José Maria Ferreira, que se bateu pela localização, naquele local, da estação ferroviária.
Naquele dia 7 de Novembro de 1896, com a chegada do primeiro trem à improvisada gare de S. Bento, seguir-se-ia a cerimónia da praxe, na qual discursou António Simões Lopes, o vice-presidente da assembleia geral do Centro Comercial do Porto e, ainda, Ezequiel Vieira de Castro, o presidente, à data, daquela prestigiada associação portuense tendo, durante a sua alocação, feito uma referência, merecida, ao engenheiro Justino Teixeira, que não viu o seu nome inserido na placa que tinha sido, na ocasião, descerrada. Ficou prometido que um busto do reputado técnico seria exposto, mais tarde, na gare.


 

Descrição da cerimónia de descerramento de placa alusiva à chegada do comboio a S. Bento – Fonte: Boletim CP (Nº 509, Novembro de 1971)

 
 
Na oportunidade, Ezequiel Vieira de Castro elogiou ainda o papel da "opinião pública da cidade", que pressionou o Governo a terminar uma obra que esteve parada durante anos.
À noite, na sede do Centro Comercial do Porto, à Praça de Carlos Alberto, realizou-se uma conferência na qual foi orador Bento Carqueja, Director do jornal “O Comércio do Porto”.
Ezequiel Augusto Ribeiro Vieira de Castro (03-08-1845; 09-09-1910), natural do Lugar de Ermesinde, casado com Amélia Adelaide da Silva (26-07- 1851; 24-02-1938), foi um comerciante com uma loja de ferragens, situada no Largo dos Lóios e que fazia esquina (a sul) com a Rua de Trás.
Para além de presidente do Centro Comercial do Porto (entre 1890 a 1897 e, entre, 1899 e 1910), após ter sido seu sócio fundador, secretário (em 1887 e 1888) e vice-presidente (1889), Ezequiel Vieira de Castro foi Director da Irmandade da Lapa, entre 1897 e 1910, e com residência habitual na Rua de Santo António, nº 148, tinha uma outra no Lugar de Ermesinde, na freguesia de  São Lourenço de Asmes, do concelho de Valongo, à qual aquele lugar pertencia, sendo, por isso, uma sua figura de destaque.
Após alguns anos sobre o falecimento de Ezequiel Vieira de Castro, aquele prédio chegaria a alojar a Junta de Freguesia de Ermesinde.
 
 
 

Demolição do convento de S.Bento da Avé-Maria para dar lugar à Estação de S. Bento

 
 

Estação de S. Bento, em 1900, já com três túneis desembocando na gare – Ed. Aurélio da Paz dos Reis

 
 

Estação provisória de S. Bento, c. 1900


 

Estação provisória de S. Bento observada da entrada da igreja dos Congregados
 
 
 
Voltando à visita de D. Carlos, após o lançamento da primeira pedra da estação ferroviária, a tarde daquele dia prosseguiria com uma visita ao Centro Comercial, sedeado na Praça Carlos Alberto, a que se seguiria uma missa na igreja da Lapa.
À noite, foi levado a cabo o tradicional baile no Club Portuense.
No dia seguinte, 3ª Feira, 23 de Outubro, os soberanos partiriam rumo à capital, tendo embarcado em Leixões onde inauguraram o Posto de Desinfecção.
 

 


 
 
 


Posto Marítimo de Desinfecção de Leixões (Leça da Palmeira) inaugurado, em 23 de Outubro de 1900, pelo rei D. Carlos

 
 
Posto semafórico de Leça da Palmeira e cais primitivo de embarque

 
 

Perspectiva actual de foto anterior
 
 
 

Posto de Desinfecção e Alfândega em perpectiva obtida a partir de Posto Semafórico de Leça da Palmeira
 
 
 

Cais de embarque do Porto de Leixões, em 1900, quando os paquetes ficavam ao largo e a ligação era feita por pequenas lanchas. Os cais de atracagem de navios só ficaram completamente prontos, c. 1930
 
 
 
Após o almoço oferecido pela Associação Comercial e terminada a visita real a comitiva embarcou rumo ao Arsenal de Lisboa no cruzador D. Carlos.
Este vaso de guerra, após a implantação da República, seria rebaptizado como “NRP Almirante Reis”.

 
 

Cruzador D. Carlos

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