quinta-feira, 22 de setembro de 2022

25.164 O Porto e a 1ª Grande Guerra

 Homenagens
 
Apesar das conhecidas participações dos Portugueses, em território europeu, durante a 1ª Grande Guerra, a grande envolvência dos nossos soldados aconteceu em território africano.
É na colocação da hipótese de que acabado o conflito e no consequente e habitual parte e reparte dos territórios dos vencidos, que Portugal decide entrar nele, para não ser colocado, findo o mesmo, de fora das grandes decisões.
Aliás, essa posição de Portugal de disponibilidade para a participação como contendor, desagradava ao nosso velho aliado, a Inglaterra, que não queria que nele tomássemos parte, por continuar a cobiçar os nossos territórios ultramarinos.
Assim, a Inglaterra opôs-se sempre à nossa participação, mas Portugal não irá perder a oportunidade de entrar no conflito, ao obrigar a Alemanha a declarar-nos guerra, em 1916, quando viram apresados os seus barcos estacionados nos portos portugueses.
Na barra do Porto, somente estava presente o navio mercante germânico, o «Vesta» que seria apreendido pelas autoridades locais, mau grado a sua tripulação tudo ter feito para o tornar inoperacional pela destruição das máquinas e equipamentos náuticos.
Assim, a 9 de Março de 1916, a Alemanha declarou guerra a Portugal.
A cidade do Porto tem no monumento, da autoria do escultor Henrique Moreira, inaugurado e dedicado ao “Soldado Desconhecido”, exposto na Praça Carlos Alberto, a sua mais icónica homenagem a todos aqueles que morreram ao serviço de Portugal durante a Guerra de 1914-18.
 
 

“Monumento aos Mortos da Grande Guerra” ou “Monumento ao Soldado Desconhecido” da autoria de Henrique Moreira
 
 
 
Antes desta obra, de Henrique Moreira, inaugurada em 1928, uma outra esteve naquele local, entre 1924 e 1925, da autoria de José de Oliveira Ferreira que seria, no entanto, apeada, devido à contestação expressa pelos portuenses, que não concordaram com a estética da escultura.

 
 

Escultura da autoria de José de Oliveira Ferreira resultante da iniciativa da Junta Patriótica do Norte
 
 
São muitas as alusões à memória desta guerra que podemos encontrar espalhadas pela cidade do Porto.
Assim, a cidade do Porto não deixa de num dos seus maiores ex-libris, a Avenida dos Aliados, de fazer alusão à 1ª Grande Guerra Mundial.
Aquela avenida, começada a abrir a partir de 1916, em plena guerra, pela demolição do anterior edifício da Câmara Municipal instalada, então, no conhecido Palacete Monteiro Moreira, viu ser-lhe atribuído o topónimo que continua a ostentar, como uma referência ao grupo de Países do qual éramos parte  – os Aliados.


 

A Avenida dos Aliados começava a ser rasgada
 
 
 
 
Aliás, a avenida começou por chamar-se Avenida das Nações Aliadas, tendo derivado, depois, para Avenida dos Aliados. Ainda em projecto era referida como a Avenida da Cidade.
A Junta de Freguesia do Bonfim recorda, também, a morte dos seus mancebos, na 1ª Guerra Mundial, numa placa afixada na entrada principal do edifício da Junta, ao Campo 24 de Agosto, onde estão gravados os nomes dos que pareceram durante o conflito.

 
 

Ao centro, a placa em mármore com a inscrição dos jovens da Freguesia do Bonfim mortos na 1ª Guerra Mundial – Fonte: Google maps
 
 
 
Junto do cemitério Inglês, no Largo da Maternidade, a comunidade Britânica presta também homenagem aos seus mortos naquele conflito.
 
 
 

Pedestal, em mármore, onde estão inscritos os nomes dos jovens Britânicos, oriundos da cidade do Porto, parecidos nas duas Grandes Guerras Mundiais
 
 
 
Igualmente, a Universidade do Porto assinala a morte de cerca de uma dezena dos seus estudantes, na Guerra de 1914-18, com um monumento inaugurado nas suas instalações, à Praça Gomes Teixeira, em 1948 e, mais recentemente, em 2018, com o descerramento de uma placa junto daquele monumento, assinalando o centenário do conflito.
Já antes, em 1920, a Universidade do Porto tinha descerrado duas placas de mármore, no patamar da escadaria nobre do edifício da então Faculdade de Ciências (actual edifício da Reitoria), com a listagem, incompleta, dos universitários mortos na I Guerra Mundial.
 
 
 
 

Escultura, da autoria de João da Silva, de homenagem da U. P. aos seus alunos mortos na 1ª Grande Guerra Mundial
 
 
 
Depois de várias localizações, a estátua da foto acima encontra-se, hoje, junto à escadaria do Museu de História Natural e da Ciência da Universidade do Porto.
A escultura referida ficou conhecida como “A Santa” ou “A Sabedoria”.
O escultor João da Silva, acima referenciado, era o autor, também, do monumento inaugurado em 1926, homenageando o escritor Júlio Dinis, ao Largo do Professor Abel Salazar.

 
 

Escultura de Júlio Dinis da autoria de João da Silva
 
 
 
 
A memória da 1ª Grande Guerra Mundial encontra-se também documentada, no antigo Palacete do visconde Pereira Machado, na Rua Formosa, na sede do “Núcleo do Porto da Liga dos Combatentes”, no seu museu, na chamada “Sala da Grande Guerra”.
A “Liga dos Combatentes da Grande Guerra” foi fundada em 21 Janeiro de 1924 e o actual “Núcleo do Porto da Liga dos Combatentes” tem origem, oficialmente, a 25 de Fevereiro de 1925, como “Agência do Porto da Liga dos Combatentes da Grande Guerra”.
Em 1975, a “Agência do Porto da Liga dos Combatentes da Grande Guerra” assume a designação que ainda se mantém de “Núcleo do Porto da Liga dos Combatentes”.
Seria o Dr. Alfredo Barata da Rocha (1891 - 1956), médico e poeta, o primeiro presidente da direcção da “Agência do Porto da Liga dos Combatentes da Grande Guerra”.
 
“Em 1929, a agência do Porto tinha 2238 sócios combatentes, 177 sócios extraordinários e dois sócios beneméritos, ou seja, 11% do total de associados da Liga que registava então 241720. Em 1937, o número não era signi­ficativamente diferente relativamente aos sócios combatentes e extraordinários – 2996 e 310, respetivamente. O aumento veri­ficou-se, sobretudo, nos sócios honorários que, neste ano, se contabilizavam já em 12821. No ano referido, o total de 3447 associados da agência do Porto corresponde a 10,5% da soma nacional, posicionando-se, depois da agência de Lisboa, com 11 152 associados, como o segundo maior núcleo da Liga”.
Cortesia de Isilda Braga da Costa Monteiro (ESEPF) e Maria da Conceição Meireles Pereira (FLUP)
 
 
 
 

Palacete do visconde Pereira Machado – Fonte Google maps
 
 
 
 

Galeria dos Presidentes do Núcleo do Porto da Liga dos Combatentes –  Cortesia de Rui Farinha (Núcleo do Porto da Liga dos Combatentes)
 
 
 
Na foto acima, no topo, está a imagem do Presidente Fundador da Liga dos Combatentes.
Nas duas linhas seguintes, estão todos os presidentes da Agência do Porto, mais tarde designada de Núcleo do Porto, faltando apenas o actual Presidente, Coronel Jocelino Rodrigues
 
 
 

Sala da Grande Guerra – Cortesia Núcleo do Porto da Liga dos Combatentes
 
 
 
 

ALTAR DE CAMPANHA (Corpo Expedicionário Português) usado pelo Capelão militar Joaquim Baptista de Aguiar, no serviço de assistência religiosa das tropas portuguesas na Flandres – Cortesia Núcleo do Porto da Liga dos Combatentes

 
 
Participação na guerra
 
 
 
Um regimento sedeado no Porto, o Regimento de Infantaria 31, teve a sua existência ligada à 1ª Grande Guerra, nomeadamente no seu desempenho em África, mais propriamente no Norte de Moçambique, na região de Mocimboa.
Com a participação a ser decidida em Setembro de 1916, a 4ª Força Expedicionária de Moçambique comandada pelo Coronel Sousa Rosa era formada por três batalhões de infantaria, respectivamente: Regimento de Infantaria 29 de Braga, Regimento de Infantaria 30 de Bragança e Regimento de Infantaria 31 do Porto.
Aquele comandante, sem atender às condições sanitárias da região, levaria ao limite de deixar aniquilar, pela doença, grande parte do batalhão do Regimento de Infantaria 31 do Porto.
Este regimento retornaria ao Porto para se tornar, em 1919, protagonista na defesa do regime republicano, ao opor-se à instauração do golpe monárquico intitulado de “Monarquia do Norte”.
Um outro acontecimento ocorrido no âmbito do conflito e ligado à cidade do Porto, foi protagonizado por um oficial da marinha portuguesa, nascido em 18 de Maio de 1881, no Bairro da Lada-Barredo.
De seu nome, Carvalho Araújo, comandando o barco caça-minas, NRP — Navio da República Portuguesa, “Augusto de Castilho”, em Outubro de 1918, enfrentou com a sua embarcação um submarino alemão, salvando de ser afundado o paquete San Miguel, que escoltava e que se dirigia da Madeira para os Açores, ao possibilitar a sua fuga.
 
 
 
 
NRP Augusto de Castilho (1915) – Fonte: pt.wikipedia.org




O combate ocorrido em alto mar é descrito a seguir:
 
“Após duas horas de combate, com vítimas fatais no convés, a artilharia danificada, a munição quase esgotada e tendo perdido a telegrafia e as máquinas, o Comandante do navio deu ordem para que se hasteasse a bandeira branca para que deixassem sair os civis. Após a sua saída, a bandeira branca foi arreada e o combate prosseguiu. Um último tiro do submarino, entretanto, vitimou fatalmente o comandante Carvalho Araújo.
Dada a ordem de abandonar o navio pelo imediato, o guarda-marinha Armando Ferraz, os sobreviventes conseguiram lançar ao mar um salva-vidas onde se comprimiram trinta e seis homens. Doze outros sobreviventes, em uma jangada improvisada, conseguiram autorização dos alemães para retornar a bordo e pegar uma baleeira. O caça-minas foi então afundado pelos alemães, com o corpo do comandante coberto pela bandeira de Portugal e os dos demais auxiliares mortos em combate”.
Fonte: pt.wikipedia.org


 
 
 
Placa colocada, em 12 de Outubro de 1954, em memória de Carvalho de Araújo, na casa onde nasceu na Ribeira – Fonte: JPortojo


 
 

À esquerda da capela da Lada, na Ribeira, a casa de azulejos, onde nasceu Carvalho de Araújo – Fonte: Google maps



Mas, em 3 de Junho de 1945, com a guerra já terminada, os arredores do Porto, mais propriamente, o Lugar de Angeiras, iria ser noticia, quando um submarino alemão U-Boat 1277 afundou ao largo daquela vila piscatória, como é narrado no texto seguinte:


“No dia 3 de Junho de 1945 os tripulantes do submarino alemão U1277 chegavam a terra na praia das Angeiras, em Matosinhos, depois de terem afundado o seu navio ao largo da costa. A guerra já tinha terminado há quase um mês…
Os 47 tripulantes tinham saído da Alemanha em finais de Abril com o objetivo de prosseguir a guerra na zona do Canal da Mancha, mas duas semanas depois recebiam a mensagem da rendição incondicional do seu país e ordens para se dirigirem ao porto aliado mais próximo.
Apesar destas ordens o comandante tomou a decisão de afundar o navio junto a um país neutral e assim evitar que este ficasse em mãos inimigas. Depois de abrirem as válvulas, que permitiram a entrada de água no interior da unidade naval, os homens conseguiram chegar a terra com a ajuda de pescadores locais.
De Portugal foram enviados para Inglaterra onde permaneceram como prisioneiros durante 3 anos”.
Fonte: ensina.rtp.pt 


Por outro lado, algumas personalidades radicadas na cidade do Porto, oriundas da Alemanha, seriam também atingidas pelas vicissitudes da 1ª Grande Guerra.
Com a declaração de guerra da Alemanha a Portugal, em 1916, a colónia alemã foi forçada a abandonar o país, em cinco dias, tendo visto os seus bens serem alvo de confisco.
Assim, a casa “E. Biel & C.ª”, de Emílio Biel que, à data, ocupava o Palácio do Bolhão, teria os seus bens confiscados e, posteriormente, vendidos em hasta pública.
Tendo falecido a 14 de Setembro de 1915, Emílio Biel (Annaberg, Saxónia, 18 de Setembro de 1838 – Porto, 14 de Setembro de 1915), negociante, editor e fotógrafo alemão foi pessoalmente poupado a este desastre, que viria, todavia, a originar a perda irremediável de grande parte do seu espólio fotográfico (milhares de chapas de vidro, fototipias e documentos em papel) e a dispersão do restante por diversos coleccionadores e arquivos.
 
 
 

Palácio do Bolhão, na Rua Formosa, em 1917
 
 
 

Emílio Biel
 
 
 
Também a firma “Claus & Schweder, Sucessores”, produtora de sabonetes e perfumes, fundada em 1887, instalada na Rua Júlio Dinis e, a partir do início do século XX, na Rua de Serpa Pinto, seria afectada na sequência do conflito entre Alemanha e Portugal, já que um dos seus fundadores, Ferdinand Claus e o seu sócio Willy Thessen, também director da empresa, entrado em 1905, são obrigados a recolher à Alemanha.

 
 

Fundadores e operários da ““Claus & Schweder”, c. 1887
 
 
 
Acontece que um dos primitivos fundadores, de seu nome Georg Phillip Shweder, já se tinha afastado da empresa por razões de saúde, em 1903.
Assim, esta empresa com o eclodir da 1ª Guerra Mundial, em 1917, foi nacionalizada, mas findo o conflito, Willy Thessen voltaria à empresa, como sócio e director técnico, por convite de Aquiles de Brito.
Esta personalidade tinha chegado à empresa em 1903, desempenhando o cargo de contabilista.

 
 


 
 
 
Como consequência das vicissitudes sofridas pela “Claus & Schweder, Sucessores”, Aquiles de Brito haveria, em 1918, de fundar uma empresa do mesmo ramo de actividade que ainda hoje sobrevive – a “Ach-Brito”.
Pelo meio, em 31 de Dezembro de 1924, Aquiles de Brito comprava à CIN, a detentora, à data, do espólio da “Claus & Schweder, Sucessores”, a antiga fábrica da Rua Serpa Pinto.


 

A “Ach-Brito” na, ainda por abrir, Rua D. António Barroso
 
 
 


 
Outros membros da comunidade alemã, casos de Eduardo Katzeinstein e Adolfo Hofle, seguiriam os passos de Ferdinand Claus e retornariam à Alemanha.

 
 
 
Eduard Katzenstein (25.11.1817 - 4.2.1894), empresário e Cônsul do Império Alemão e Anne Sophie Henriette Ehlers, (Örsdorf 10.4.1820 - Porto 18.8.1859), sogros de Emílio Biel e pais de Edith Katzenstein
 
 
 
 
Protestos das populações
 
 
Em termos de ordem pública, a situação vivida entre 1914 e 1918, na cidade do Porto, foi-se agravando com o passar dos anos.
Tomando o leme nas suas mãos, a Câmara do Porto tudo fez para minorar os efeitos da crise que se estabeleceu.
 
 
 
“No caso da vereação da Câmara Municipal do Porto, as normas do poder central foram integralmente respeitadas, procurando-se proteger os sectores económicos vitais e acalmar alguns tumultos sociais, particularmente junto das camadas operárias e populares que protestavam contra o encarecimento do custo de vida. Os restantes estoicamente foram aceitando as imposições práticas para canalizar fundos e matérias- -primas para o sorvedor orçamento militar: supressão de alguns horários das linhas ferroviárias, redução da iluminação pública, postos de venda nas esquadras policiais dos produtos de primeira necessidade geridos pela Comissão Municipal de Subsistências, agravamento da crise alimentar, etc. Nas eleições municipais de novembro de 1917, uma vez mais o Partido Democrático reuniu a maioria dos votos, sendo reeleito presidente Henrique Pereira de Oliveira e reconduzidos vários dos edis. Porém, de imediato, a grande sangria que o burgo portuense sofreu foi ao nível da sua comunidade de súbditos alemães, colocados no limbo legal de passarem a ser considerados inimigos do país e o consequente congelamento dos seus bens. Enquanto alguns elementos das famílias como os Burmester, Stube, Rothes, Roseler, Gerstlacher, Lehmann, Van der Niepport, Wandschneider, etc., optaram por se retirar para Espanha; outras personalidades requereram permissão para manter a sua residência ou abdicaram da nacionalidade alemã, principalmente entre o segmento feminino, como os ilustres D. Carolina Michaëlis de Vasconcelos ou os herdeiros de Emílio Biel. Unicamente uma holandesa acabaria acusada de espionagem para a Alemanha e com ordem de expulsão do país: a professora Christina Haussmann”.
Cortesia de Francisco Miguel Araújo (Faculdade de Letras da Universidade do Porto
 
 
Como em todas as situações do género, o açambarcamento e o “mercado negro” retiraram do mercado muitos bens essenciais, o que permitiu a especulação, tendo a alta de preços e a escassez de alimentos sido particularmente notadas nas zonas urbanas, como foi o caso do Porto.
 
 
“Assim, considerava a Câmara, a única maneira de acabar com o açambarcamento e a especulação era a de importar diretamente do estrangeiro os géneros necessários para alimentar a população, podendo desse modo controlar os preços. Para fazer essa importação, como já vimos, precisava que o Governo lhe desse preferência na adjudicação da exploração dos vapores alemães apresados, algo que não aconteceu”.
Cortesia de Alexandre Lima Ferreira - Universidade do Porto
 
 
Ainda antes da entrada de Portugal nesta guerra, já se sucediam as manifestações de protesto dos portuenses.
 
 
“Em 18 de setembro de 1914, o primeiro dos grandes motins populares com assaltos a armazéns de víveres e lojas comerciais e forte repressão policial, segundo as autoridades instigado pelos líderes dos movimentos operários locais, contra o aumento do desemprego e a carestia de vida. O escândalo, passado pouco mais de um mês, de falsi­ficação e contrafação de moeda e as muitas greves por aumento dos salários e revisão dos regulamentos de trabalho, ao longo de todo o ano de 1915, dos mineiros de S. Pedro da Cova que abastecia a cidade de carvão vindo de Gondomar, das costureiras, dos tipógrafos e dos ourives contra as entidades patronais. Em fevereiro de 1916, os motins populares em todo o distrito encontraram o seu alvo no arrolamento do milho, encarecendo a venda do essencial pão e broa no regime alimentar das classes mais pobres, com assaltos a casa de lavradores e a padarias um pouco por todas as localidades dos concelhos vizinhos”.
Cortesia de Francisco Miguel Araújo (Faculdade de Letras da Universidade do Porto
 
 
“Em fevereiro de 1916, nos arredores do Porto, populares impediram a saída de comboios que transportavam cereais, e em Vila Nova de Gaia foram pilhadas algumas lojas. A entrada de Portugal na guerra agravou o clima de confronto, tendo o ano de 1917 sido nesse aspeto verdadeiramente funesto, com tumultos no Porto que duraram vários dias durante o mês de janeiro, e assaltos a padarias e lugares de venda de hortaliça. Em abril, Dias da Silva informou os restantes vereadores que a escassez de pão que se verificava na cidade já tinha originado tumultos populares. Isto correspondia à realidade, tendo os assaltos a padarias e os confrontos continuado, levando à intervenção da Guarda Nacional, que resultou em ferimentos e prisões. Estas intervenções policiais não resolveram o problema de fundo, que era o do açambarcamento dos bens alimentares e a dificuldade em adquiri-los no mercado internacional”.
Cortesia de Alexandre Lima Ferreira - Universidade do Porto


(Continua)

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