No prédio do gaveto formado pelas actuais ruas do Rosário e de D.
Manuel II, abriu portas, em 1865, pela primeira vez, o Grande Hotel de Paris que ficaria celebrizado como Hotel do
Louvre, desde da década de 1870.
Após cerca de quinze dias, seria inaugurado o Palácio de Cristal.
“Abre-se o hotel
denominado Grande Hotel de Paris no primeiro de Setembro próximo; é situado na
Rua do Rosário, fazendo duas faces, sendo outra para a rua do Triunfo, perto do
palácio de Sua Majestade.”
In jornal “Restauração”, 19 de Agosto de 1865 – Sábado
Ao Hotel do Louvre ficariam ligadas diversas personalidades importantes que o
escolheram para nele se hospedar.
Assim, por lá passaram nomeadamente, Lady Jane Franklin,
viúva do célebre explorador do Pólo Norte, John Franklin (1786 - 1847) que, enquanto esteve hospedada no Grande Hotel de Paris, em 1869, visitou a
cidade e os seus monumentos.
Em 1872, durante uma visita à cidade e ao Norte do país,
seria a vez do imperador do Brasil, D. Pedro II e a imperatriz D. Teresa
Cristina Maria de Bourbon se hospedarem neste hotel que, para o efeito, foi
sujeito a diversos melhoramentos.
No entanto, no final, D. Pedro II recusou-se a pagar a conta
que achou especulativa.
O caso peregrinou pelos tribunais, durante cinco anos, com
sentença favorável ao hotel.
Por essa razão, a proprietária, Maria Henriqueta de Mello
Lemos e Alvellos, chegou a deslocar-se ao Brasil para cobrar a dívida, onde
alguns capitalistas saldaram a dívida para evitar mais embaraços.
Na segunda metade do ano de 1879, possivelmente em Julho, é
Maria Ratazzi que é recebida no hall do Hotel do Louvre, procurando hospedagem,
mas não concretizaria os seus intentos em consequência do modo deselegante como
foi recebida pela gerência do hotel e abala para se acomodar no Hotel
Francfort.
O chão em que nasceria o Hotel do Louvre teve uma evolução
que a seguir se assinala.
Assim, na planta abaixo, de 1808, se observa que a Rua do
Rosário (2) já está prevista e o lado norte da Rua dos Quartéis (1) apresenta o
corpo do Palácio dos Carrancas (A), com construção iniciada em 1795, e uma outra
construção anexa (B).
Planta (1805) local da parte ocidental da cidade…de Luis
Ignacio de Barros Lima
Abaixo, na planta de Balck, de 1813, a área entre o Palácio
dos Carrancas e a esquina formada pelo lado norte da Rua dos Quartéis e a Rua
do Rosário já se apresenta edificada.
Em 1830, o traçado da concordância das ruas dos Quartéis e
do Rosário, cuja ultimação e escolha das soluções mais correctas se vinha a
arrastar nos últimos anos é, finalmente, decidido.
Então, a esquina da Rua do Rosário com a Rua dos Quartéis, que viria a ser do
Triunfo, estava ocupada pela residência (A) de António Caetano da Silva Pedroza
Guimarães (filho de José Joaquim da Silva Pedrosa, entretanto, já falecido em
1819) e um terreno (B) com uma casa de que era também proprietário, apenas com
os alicerces implantados e que desejava concluir para, posteriormente, tentar
adquirir o terreno contíguo (C).
Por isso, António Caetano da Silva Pedroza Guimarães,
solicita a informação ao departamento de obras da câmara do Porto de que “perciza
por isso que se lhe marque o alinhamento, em que a mesma rua deve ficar desde a
sua entrada”.
Para o efeito, entrega uma planta do local, da qual, a
seguir, se apresenta um pequeno extrato.
Acontece que, algures, na década de 1840, os lotes A, B e C
da planta anterior já tinham entrado na posse de outro proprietário.
«Isto porque, por esta
altura, o proprietário dos lotes de terreno que na planta anterior estavam
representados pelas letras “A”, “B” e “C” já não era António Caetano da Silva
Pedrosa Guimarães, mas o negociante Gaspar Joaquim Borges de Castro que encetara,
uns anos antes, a sua efetiva regularização. Nesse terreno de ângulo agudo, o
negociante pretendia edificar uma casa com duas frentes. No entanto, esse
detalhe morfológico originava problemas quer à circulação das carruagens, quer
na organização interna do edifício. Assim sendo, a solução encontrada foi o
ligeiro arredondamento da esquina do edifício, de forma a este ficar mais
funcional, permitindo também haver mais espaço para a paragem das carruagens,
bem como para se realizarem as cargas e descargas necessárias para o seu
funcionamento (Livro Plantas de Casa nº28 f.51, 1863, AHP). Este edifício tinha
sido pensado e projetado para servir de armazém de vinhos, onde o proprietário
poderia guardar as pipas e as garrafas que comercializava, mas o projeto foi
alterado e, no seu lugar, acabou por nascer um luxuoso hotel, o mais luxuoso
que a cidade havia tido até à data (“O Tripeiro”, série I, ano II), que se
anunciava até como “o melhor e mais
rico estabelecimento d’esta ordem que conta actualmente a cidade do Porto”
(Comércio do Porto, 12-08-1865).»
Cortesia de Daniela
Filipa Duarte Alves, Hélder Filipe Sequeira Barbosa e Jorge Ricardo Pinto
O prédio onde começaria por estar o Grande Hotel de Paris foi mandado construir, em 1863, pelo negociante Gaspar Joaquim Borges de Castro (sogro do 2º visconde de São João da
Pesqueira), casado com Joaquina Augusta Vieira de Castro, com a qual teve nove filhos, que ali pretendia residir e instalar um armazém de vinhos, intenção que não se concretizaria.
Em 1875, António Joaquim Borges de Castro, sobrinho e testamenteiro de Gaspar Joaquim Borges de Castro, entretanto falecido em 1871, residente, à data, na Rua do Triunfo, solicita na qualidade de tutor das suas filhas menores e, no caso para apreço, de uma jovem herdeira, a cobertura do terraço da casa no cunhal da Rua do Rosário e da Rua do Triunfo.
Desenho anexo a pedido de licença de obras que obteria o nº 73/1875 para cobertura de terraço de prédio
Antes, em 16 Julho 1859, Henriqueta Augusta Vieira Borges de Castro
já se tinha casado com Luís de Sousa Vahia Rebelo de Morais, 2º Visconde de São João da
Pesqueira, tendo em 27 Novembro de 1862, nascido desse casamento o futuro 3º
Visconde de São João da Pesqueira, Luís Maria de Sousa Vahia Rebelo de Morais
que, em 25 Novembro de 1897, desposaria Maria Adelaide Pinto da Silva.
A inauguração do Grande Hotel de Paris (primeira denominação
do Hotel do Louvre) ocorre a 1 de Setembro de 1865, a cerca de duas semanas da
inauguração do Palácio de Cristal.
Segundo um leitor da revista “O Tripeiro” o Grande Hotel de
Paris abriu portas por iniciativa de Rodrigues da Cruz, um tio da mulher do
comandante dos bombeiros, Guilherme Gomes Fernandes.
In revista “O Tripeiro” de 10 de Agosto de 1909, nº 41,
página 127, Iª série, 2º ano, rubrica “Correspondência entre os leitores”
O Hotel do Louvre que se tornou um dos melhores hotéis da
cidade chamar-se-ia, então, até c. 1870, Grande Hotel de Paris e, nesta data,
seria já administrado por Maria Henriqueta de Mello Lemos e Alvellos, oriunda
de uma família distinta da Beira-Alta.
Maria Henriqueta de Mello Lemos e Alvellos haveria de abrir,
primeiro, uma filial do Hotel do Louvre, na Foz do Douro, na Avenida de
Carreiros, numa casa propriedade de Manuel Maria da Costa Leite (1813–1896),
1.º Visconde de Oliveira, genro de Gaspar Joaquim Borges de Castro e, após o
seu encerramento um outro, com o mesmo nome, ainda, na Foz do Douro, na esquina
das ruas do Túnel e do Gama, onde residiu, mais tarde, o clínico e vereador,
Dr. Nunes da Ponte.
Em 1880, é dada notícia de um incêndio de reduzida dimensão,
mas que, no entanto, não teve consequências significativas no estado do hotel.
“A notícia é de 15 de
junho - Às 5 horas e um quarto da tarde. Rua do Triumpho. Propriedade do
visconde das Devezas, onde está estabelecido o hotel do Louvre, de D. Maria
Henriqueta de Mello Lemos e Alvellos. O incendio que causou insignificantes
prejuizos declarou-se na fuligem da chaminé e foi extincto pela bomba dos
voluntários.”
Em 1880, o Hotel do Louvre acaba mesmo por fechar as portas,
na sequência de um processo que Joaquina Augusta Vieira Borges de Castro, filha
de Gaspar Joaquim Borges de Castro, move contra Maria Alvellos, por esta lhe
estar a dever a prestação de arrendamento referente aos anos de 1879 e 1880.
A filial da Avenida de carreiros terá estado aberta, apenas,
dois anos e a unidade hoteleira da Rua do Túnel, ainda menos tempo.
Em 1904, Maria Henriqueta de Mello Lemos e Alvellos morre na
miséria. Passados cinco anos, em 1909, o prédio estava ocupada pela
Administração do Bairro Ocidental do Porto.
Foi neste prédio, em 1 de Janeiro de 1881, inaugurada
uma das primeiras clínicas particulares da cidade - a Casa de Saúde do Dr.
António Bemardino de Almeida e, c. 1930, por aqui se instalou o Orfeão
Lusitano.
Nos anos 30, foi sede do velhinho e popular Sport Comércio e
Salgueiros seguindo-se o Cineclube do Porto fundado em 1945 e o Movimento
Unidade Democrática (MUD) entre 1947 e 1948, até à sua expulsão pela PIDE.
No final do século XX, veio a ser ocupado pela Escola de
Condução “A Desportiva”, que ali permaneceu até meados do início do século XXI,
na altura da construção do Túnel de Ceuta.
Na fachada do prédio, é possível observar em placa afixada
na mesma, um texto alusivo à intervenção da Polícia Política do Estado Novo,
vulgo PIDE, sobre o MUD (movimento de Unidade Democrática), que teve ali a sua
sede.
Mesmo diante do edifício onde esteve o Hotel do Louvre está
hoje um busto de Arthur Wellesley (1768 – 1852) que viria a ser, Duque de
Wellington.
De origem Irlandesa, como comandante militar teve uma
actividade vitoriosa em Portugal e Espanha durante as invasões francesas da
Península Ibérica.
Com a fuga e retorno ao poder, de Napoleão, o Duque de
Wellington foi nomeado comandante das forças aliadas (britânicos, prussianos e
holandeses) derrotando o Imperador francês, definitivamente, na batalha de
Waterloo.
Membro da Câmara dos Lordes, envolveu-se na política
tornando-se primeiro-ministro da Inglaterra, em 1828.
O governo português atribuiu-lhe os títulos de Conde de
Vimeiro, Marquês de Torres Novas e Marquês do Douro e, ainda, Duque de Vitória.
Wellington é também, o nome dado a uma cidade fundada em
1840 na Nova Zelândia, sendo a capital daquele país, desde 1865.
Nos anos de 2021 e 2022, o prédio onde esteve o Hotel do
Louvre, sofreu grandes obras que o transformaram num condomínio habitacional.
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