domingo, 22 de janeiro de 2023

25.176 Quem não conhece a MAJORA? – Uma empresa portuense

 
Os jogos
 
 
Esta empresa foi fundada em 1939, no Porto, por Mário José de Oliveira (1908-1995) que, após uma viagem a Berlim, decidiu começar a fabricar jogos usando, para o efeito, a cave de casa dos seus pais, na Avenida da Boavista.
O seu primeiro jogo foi o Pontapé ao Goal, inspirado no futebol, que estava em alta de popularidade.

 
 


 
 
Aquele início de actividade fez-se, também, em 1940, com o fabrico de cubos para puzzles e jogos tendo por objectivo o ensino do abecedário — o “abc” em cubos e a caixa de tabuada.
No ano de estreia, a empresa acabou com um lucro de 1621 escudos, uma importância de relevo para a época e, em 1944, a empresa  muda-se para a Rua das Taipas, no centro histórico do Porto. 
 
 
“O sucesso dos jogos de cartão e dos cubos de madeira de Mário José fizeram-no acreditar que a marca tinha futuro. Deixou o respeitável emprego que tinha como técnico de contas na cordoaria Oliveira e Sá e lançou-se na vida empresarial com a firma de jogos e brinquedos. Em 1943, ainda o País sentia os terríveis efeitos da Guerra, convidou o irmão a juntar-se à aventura. Com Joaquim, nasce a Mário J. Oliveira & Irmão, Lda, que se instalou na rua das Taipas para fabricar os jogos Majora.
A marca consolidou o estatuto de divertimento para as crianças, com jogos como o Mikado, que punha à prova a paciência e destreza dos jogadores, obrigados a retirar de uma pilha os pauzinhos sem fazer mexer um cabelo que fosse. Outras grandes referências da Majora são ainda do tempo das Taipas. É o caso do Jogo da Glória, em que os jogadores fazem tudo para chegar ao fim sem cair na casa do inferno…”
Fonte: “cmjornal.pt/”, de 27 de Outubro de 2013

 
 


 
O sucesso de jogos como "Quebra-Cabeças", "Tarzan e a Caça às Feras", "Loto/Quino", "Tangram", entre muitos, até então completamente desconhecidos entre nós, multiplicou-se ao longo da década de 1940.

 
 


 
 
 
 

O Loto ou Quino era o jogo da noite de Natal

 
 
Continuando a apostar nos jogos de tabuleiro de cartão, a Majora cresceu e conheceu, na década de 1950, um dos grandes momentos de relevo na sua história - o início da produção da versão portuguesa do mais conhecido jogo de tabuleiro a nível mundial, o Monopólio, por acordo com a Hasbro, licença de produção que viria a perder em 1992.
É na década de 1960, mais precisamente em 1962, que é criado “O Sabichão” - um boneco mágico de madeira pintada, com um ponteiro de arame que os jogadores rodavam para fazer perguntas. Um sucesso!

 
 


 
 
O senhor Sabichão acertava sempre na resposta: rodava em cima de um espelho de vidro e apontava para a solução de todos os mistérios, fossem eles do corpo humano, da anatomia ou da história de Portugal. Gerações e gerações deliciaram-se com este jogo da Majora, que até estava para se chamar Eu Sei Tudo.
As regras da UE determinaram que o boneco de madeira e o arame podiam criar acidentes. Passou a ser utilizado o plástico e o cartão – modernices.
O Sabichão, em 2012, chegou à era dos smartphones e ipads e,  50 anos após a sua criação, uma aplicação digital voltou a pôr miúdos e graúdos a fazer perguntas para o Sebastião adivinhar as respostas.
A aplicação respectiva passou a estar disponível na loja de aplicações.
Com a continuação da actividade e do constante aparecimento de novos jogos de tabuleiro, surgiu a necessidade de expansão em termos de instalações, mudando-se a Majora, em 1967, para a fábrica que ocupou durante anos, na Rua Delfim Ferreira, na então recém-criada Zona Industrial do Porto.
Na altura da inauguração da nova fábrica, os filhos de Mário José Oliveira, António Oliveira e Alberto Oliveira passaram, também, a fazer parte da equipa de gestão.
Na empresa existia um grupo de elementos que constituíam o chamado departamento de invenções, que ligava a um ilustrador prolífero que desenhou centenas de tabuleiros – Gabriel Ferrão.
Para a posteridade ficaram jogos muito simples, que fizeram a delícia de muitos, que as famílias podiam jogar em conjunto: Volta a Portugal em Bicicleta, Rallye Automóvel ou Corridas de Cavalos são títulos que muitos recordarão.
Em 2006, o administrador António Oliveira cria um museu com os jogos, brinquedos e livros, cubos de letras, etc, onde reúne o espólio da empresa.
Em 2008, entraria na equipa de gestão a geração mais nova da família Oliveira. Pedro e Paula, filhos de António de Oliveira e netos do fundador, assumiram o comando da empresa e procuraram modernizar os produtos. Lançaram-se várias novas marcas, que ultrapassavam o universo dos brinquedos e dos jogos, mas mantendo os mais novos como público-alvo.
Nos anos de maior sucesso comercial, entre 2006 e 2009, a Majora facturou cerca de cinco milhões de euros por ano.
 
 
“A partir da edição de 31 de Julho de 2010, o jornal Expresso, numa onda de revivalismo, lançou a colecção “Jogos de Sempre Expresso”, colocando assim disponível ao público uma colecção de 5 dos mais carismáticos jogos da Majora. O primeiro jogo publicado foi o Jogo da Glória, estando previstos para o resto da colecção o Jogo das Damas, o Jogo das Escadas, o Jogo do Ludo e o Três em Linha”.
Fonte: “aminhagestao.blogspot.com/”

 
 


 
 
 
Porém, os tempos determinaram que o mercado de jogos passasse a ser dominado pelos jogos eletrónicos e, assim, não resultaram os esforços encetados pela administração da Majora, com os acordos conseguidos para fabricar as personagens da moda de então:  o Noddy, a Hello Kitty, o Ruca ou o SpongeBob.
A situação de estagnação não se alteraria apesar do lançamento, entretanto, de jogos como Aljubarrota (recriava a batalha) e de outros cujo tema era a actividade económica: Petróleo S. A., Jogo do Euro e Bolsa de Valores.
 
 
 
O sector editorial da Majora
 
 
«No entanto, a Majora desde sempre se preocupou com uma actividade editorial de livros para as camadas infanto-juvenis e particularmente para as crianças dos estratos sociais mais pobres. Alguns dos pequenos livros postos à venda logo no começo da actividade custavam 1 escudo e os mais caros 4 escudos! Só nos anos 50/60, os preços de cada volume de algumas colecções subiram para 10$00 e 12$00. E tal como refere Garcia Barreto (2002: 327), toda a intenção de criar um leitorado jovem e popular revela-se na sigla das suas publicações “um amigo que diverte, que educa e que instrui”.
(…) Este interesse pela formação de um leitorado que criasse o hábito do prazer da leitura e o amor pelo livro levou o fundador/editor da Editorial Infantil Majora, já em 1940, a criar/editar o chamado livro de pano, invenção da Majora e provavelmente os primeiros que se fizeram em toda a Europa. Estes livros eram fabricados num pano tratado de forma que ficasse uma tela maleável e lavável que podia ser impressa em máquinas tipográficas e que não se podia nem rasgar nem romper e sendo as bordas superior e inferior das páginas picotadas, conferindo-lhes assim uma grande durabilidade. Eram livros de tamanho relativamente pequeno, profusamente ilustrados e de fácil manejamento, dirigidos a crianças de muito pouca idade que ainda não conhecessem o abecedário ou tivessem começado a aprender as primeiras letras.»
Cortesia de Maria Lúcia Diogo Ayres d’Abreu (CEAUL - Centro de Estatística e Aplicações da Universidade de Lisboa
 
 
À data do arranque da publicação dos livros da Editorial Majora e, nos anos seguintes, todos eles eram obrigados a ir à aprovação da censura, inclusive os livros de pano que, como acima é referido, eram dirigidos a crianças muito novas, em alguns casos a menores de quatro anos de idade.
Além dos livros de pano, a Majora também editou os chamados livros-brinquedo, em relevo ou de armar, em cartolina, em que as ilustrações das histórias, vulgarmente contos de fadas tradicionais, se “armavam” em volume (a três dimensões) e, assim, as histórias desenrolavam-se perante o olhar das crianças.
Muitos daqueles livros acompanhavam as temáticas que o sistema de ensino do Estado Novo pretendia implementar na formatação das crianças. 
É o caso do que se segue em que o tema é o milagre de Fátima e terá sido publicado, algures, na década de 1950.
Entre a capa e contra-capa a estória que se pretendia transmitir, era realizada por desenhos elucidativos, acompanhados de uma pequena legenda.
Como é referido na contra-capa a ilustração é de uma conhecida e conceituada portuense, Laura Costa (Vitória, Porto, 1910-Porto, 1992), que irá ter uma ampla actividade na Majora. Sobre esta ilustradora é o texto que se segue.

 
“…uma das mais prolíficas ilustradoras de livros para crianças e de costumes tradicionais portugueses da década de quarenta.
Laura não retrata a fealdade dos vilões das histórias infantis. A mais cruel megera e o mais horrendo gnomo parecem tios feiotes mas simpáticos, criaturas apuradas por um paradoxal arianismo louro e azul que casava bem com o grotesco onirismo das fábulas. Laura evita a representação das odiosas cenas de sangue, fixando geralmente as personagens em trânsito ou em poses narcisistas que dispensam cenário, em trajos sumptuosos que naturalmente beneficiam do seu virtuoso traço. Se a ilustração, em geral, permite maltratar esteticamente a figuração masculina, temos em Laura Costa a excepção. Garbosos príncipes, rudes lenhadores e bondosos reis partilham o mesmo traço adocicado, efeminados até. O pouco que sabemos de Laura está em contradição aparente com a sua delicodoce obra. Senhora de refinada cultura, sem confissão religiosa, foi a primeira aluna das Belas Artes do Porto a participar voluntariamente nas aulas de desenho do nu masculino, quando na altura eram facultativas para o sexo feminino. Amava sobrinhos e primos como filhos, presenteando-os no Natal ou em aniversários com bonecas integralmente criadas e vestidas por si”.
Cortesia de João Caetano; In “almanaquesilva.wordpress.com/”
 
 
 
Capa e Contra-capa do livro infantil “História da Fátima” - Texto do P.e Armando Pereira - Ilustrações de Laura Costa - Aprovado pela Autoridade Eclesiástica - Autorizado pela Comissão de Censura
 
 
 
Ao longo dos anos, várias séries de publicações viram a luz do dia, cada uma delas com vários títulos.
Entre muitas, destacam-se as séries Gato Preto (1947), Salta-Pocinhas (1948), Coelhinho Branco (1948), Pica-Pau (1955), Série de Prata (1964), e as colecções Série de Ouro, Série Relevo, Série Extra, Séria Pequena Princesinha, etc, etc.
Fernando de Castro Pires de Lima e a desenhadora Laura Costa são, respectivamente, autor e ilustradora dos 30 volumes da colecção Varinha Mágica (1955) e mais um sem fim de publicações com a participação de desenhadores, ilustradores e argumentistas.

 
 





 
 


 
 


 
 
De destacar a publicação, em 1955, da colecção Formiguinha, composta por sessenta livros de muito pequeno formato, com cerca de uma dezena e meia de páginas e de 10 centímetros de altura. As estórias são, em grande parte, adaptações de contos de fadas e de outros contos tradicionais feitas por João Sereno e ilustradas por Costa Abott e, devido ao seu êxito levou, anos mais tarde, à sua reedição.
 


 



 
Livros da colecção Formiguinha
 
 
 
 O Fim
 
 
Ao fim de 74 anos a fabricar diversões para a família, a Majora encerraria. Para trás ficaram mais de 300 jogos.



 

Cartaz da Majora
 

 
O logótipo do cartaz acima é original da Majora e representava uma criança a jogar com uma bola, e foi idealizado a partir do  quebra-cabeças Tangram.
Acabaria por ser redesenhado com outras novas imagens destinadas a um determinado público-alvo, em substituição da figura da criança.
No início de Março de 2013, a Majora encerrou a sua produção e dispensou os últimos trabalhadores da unidade.
Apesar dos esforços dos detentores da marca Majora, foi impossível manter a empresa no seio da família Oliveira.
Assim, em 2014, a marca foi vendida ao The Edge Group, liderado pelo empresário José Luís Pinto Basto, por um valor anunciado de 600 mil euros. Este fundo de investimento ficou com todo o espólio da marca, que veio a relançar no mercado em 2016 e que ficaria inactiva em 2018.
Em Novembro de 2022, é noticiado que a empresa de brinquedos detida pela família Feist, a Concentra Brinquedos, tinha comprado a Majora ao The Edge Group por 800 mil euros.
Os novos donos pretendem relançar a marca e esperam que ela renasça forte e adaptada aos novos tempos.

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