Os jogos
Esta empresa foi fundada em 1939, no Porto, por Mário José
de Oliveira (1908-1995) que, após uma viagem a Berlim, decidiu começar a fabricar
jogos usando, para o efeito, a cave de casa dos seus pais, na Avenida da
Boavista.
O seu primeiro jogo foi o Pontapé ao Goal,
inspirado no futebol, que estava em alta de popularidade.
Aquele início de actividade fez-se, também, em 1940, com o
fabrico de cubos para puzzles e jogos tendo por objectivo o ensino do
abecedário — o “abc” em cubos e a caixa de tabuada.
No ano de estreia, a empresa acabou com um lucro de 1621
escudos, uma importância de relevo para a época e, em 1944, a empresa muda-se para a Rua das Taipas, no centro histórico do Porto.
“O sucesso dos jogos
de cartão e dos cubos de madeira de Mário José fizeram-no acreditar que a marca
tinha futuro. Deixou o respeitável emprego que tinha como técnico de contas na
cordoaria Oliveira e Sá e lançou-se na vida empresarial com a firma de jogos e
brinquedos. Em 1943, ainda o País sentia os terríveis efeitos da Guerra,
convidou o irmão a juntar-se à aventura. Com Joaquim, nasce a Mário J. Oliveira
& Irmão, Lda, que se instalou na rua das Taipas para fabricar os jogos
Majora.
A marca consolidou o
estatuto de divertimento para as crianças, com jogos como o Mikado, que punha à
prova a paciência e destreza dos jogadores, obrigados a retirar de uma pilha os
pauzinhos sem fazer mexer um cabelo que fosse. Outras grandes referências da
Majora são ainda do tempo das Taipas. É o caso do Jogo da Glória, em que os
jogadores fazem tudo para chegar ao fim sem cair na casa do inferno…”
Fonte: “cmjornal.pt/”, de 27 de Outubro de 2013
O sucesso de jogos
como "Quebra-Cabeças",
"Tarzan e a Caça às Feras", "Loto/Quino",
"Tangram", entre muitos, até então completamente desconhecidos
entre nós, multiplicou-se ao longo da década de 1940.
Continuando a apostar nos jogos de tabuleiro de cartão, a
Majora cresceu e conheceu, na década de 1950, um dos grandes momentos de relevo
na sua história - o início da produção da versão portuguesa do mais conhecido
jogo de tabuleiro a nível mundial, o Monopólio, por acordo com a
Hasbro, licença de produção que viria a perder em 1992.
É na década de 1960, mais precisamente em 1962, que é criado
“O Sabichão” - um boneco mágico de
madeira pintada, com um ponteiro de arame que os jogadores rodavam para fazer
perguntas. Um sucesso!
O senhor Sabichão acertava sempre na resposta: rodava em
cima de um espelho de vidro e apontava para a solução de todos os mistérios,
fossem eles do corpo humano, da anatomia ou da história de Portugal. Gerações e
gerações deliciaram-se com este jogo da Majora, que até estava para se chamar Eu Sei Tudo.
As regras da UE determinaram que o boneco de madeira e o
arame podiam criar acidentes. Passou a ser utilizado o plástico e o cartão –
modernices.
O Sabichão, em 2012, chegou à era dos smartphones e ipads e,
50 anos após a sua criação, uma
aplicação digital voltou a pôr miúdos e graúdos a fazer perguntas para o
Sebastião adivinhar as respostas.
A aplicação respectiva passou a estar disponível na loja de
aplicações.
Com a continuação da actividade e do constante aparecimento
de novos jogos de tabuleiro, surgiu a necessidade de expansão em termos de
instalações, mudando-se a Majora, em 1967, para a fábrica que ocupou durante
anos, na Rua Delfim Ferreira, na então recém-criada Zona Industrial do Porto.
Na altura da inauguração da nova fábrica, os filhos de Mário
José Oliveira, António Oliveira e Alberto Oliveira passaram, também, a fazer
parte da equipa de gestão.
Na empresa existia um grupo de elementos que constituíam o
chamado departamento de invenções,
que ligava a um ilustrador prolífero que desenhou centenas de tabuleiros –
Gabriel Ferrão.
Para a posteridade ficaram jogos muito simples, que fizeram
a delícia de muitos, que as famílias podiam jogar em conjunto: Volta a Portugal
em Bicicleta, Rallye Automóvel ou Corridas de Cavalos são títulos que muitos
recordarão.
Em 2006, o administrador António Oliveira cria um museu com
os jogos, brinquedos e livros, cubos de letras, etc, onde reúne o espólio da
empresa.
Em 2008, entraria na equipa de gestão a geração mais nova da
família Oliveira. Pedro e Paula, filhos de António de Oliveira e netos do
fundador, assumiram o comando da empresa e procuraram modernizar os produtos.
Lançaram-se várias novas marcas, que ultrapassavam o universo dos brinquedos e
dos jogos, mas mantendo os mais novos como público-alvo.
Nos anos de maior sucesso comercial, entre 2006 e 2009, a
Majora facturou cerca de cinco milhões de euros por ano.
“A partir da edição de
31 de Julho de 2010, o jornal Expresso, numa onda de revivalismo, lançou a
colecção “Jogos de Sempre Expresso”, colocando assim disponível ao público uma
colecção de 5 dos mais carismáticos jogos da Majora. O primeiro jogo publicado
foi o Jogo da Glória, estando previstos para o resto da colecção o Jogo das Damas,
o Jogo das Escadas, o Jogo do Ludo e o Três em Linha”.
Fonte: “aminhagestao.blogspot.com/”
Porém, os tempos determinaram que o mercado de jogos
passasse a ser dominado pelos jogos eletrónicos e, assim, não resultaram os
esforços encetados pela administração da Majora, com os acordos conseguidos
para fabricar as personagens da moda de então: o Noddy, a Hello Kitty, o
Ruca ou o SpongeBob.
A situação de estagnação não se alteraria apesar do
lançamento, entretanto, de jogos como Aljubarrota
(recriava a batalha) e de outros cujo tema era a actividade económica: Petróleo S. A., Jogo do Euro e Bolsa de
Valores.
O sector editorial da
Majora
«No entanto, a Majora
desde sempre se preocupou com uma actividade editorial de livros para as
camadas infanto-juvenis e particularmente para as crianças dos estratos sociais
mais pobres. Alguns dos pequenos livros postos à venda logo no começo da
actividade custavam 1 escudo e os mais caros 4 escudos! Só nos anos 50/60, os
preços de cada volume de algumas colecções subiram para 10$00 e 12$00. E tal
como refere Garcia Barreto (2002: 327), toda a intenção de criar um leitorado
jovem e popular revela-se na sigla das suas publicações “um amigo que diverte,
que educa e que instrui”.
(…) Este interesse
pela formação de um leitorado que criasse o hábito do prazer da leitura e o
amor pelo livro levou o fundador/editor da Editorial Infantil Majora, já em
1940, a criar/editar o chamado livro de pano, invenção da Majora e provavelmente
os primeiros que se fizeram em toda a Europa. Estes livros eram fabricados num
pano tratado de forma que ficasse uma tela maleável e lavável que podia ser
impressa em máquinas tipográficas e que não se podia nem rasgar nem romper e
sendo as bordas superior e inferior das páginas picotadas, conferindo-lhes assim
uma grande durabilidade. Eram livros de tamanho relativamente pequeno, profusamente
ilustrados e de fácil manejamento, dirigidos a crianças de muito pouca idade
que ainda não conhecessem o abecedário ou tivessem começado a aprender as
primeiras letras.»
Cortesia de Maria Lúcia Diogo Ayres d’Abreu (CEAUL - Centro
de Estatística e Aplicações da Universidade de Lisboa
À data do arranque da publicação dos livros da Editorial
Majora e, nos anos seguintes, todos eles eram obrigados a ir à aprovação da
censura, inclusive os livros de pano que, como acima é referido, eram dirigidos
a crianças muito novas, em alguns casos a menores de quatro anos de idade.
Além dos livros de pano, a Majora também editou os chamados
livros-brinquedo, em relevo ou de armar, em cartolina, em que as ilustrações
das histórias, vulgarmente contos de fadas tradicionais, se “armavam” em volume
(a três dimensões) e, assim, as histórias desenrolavam-se perante o olhar das
crianças.
Muitos daqueles livros acompanhavam as temáticas que o
sistema de ensino do Estado Novo pretendia implementar na formatação das
crianças.
É o caso do que se segue em que o tema é o milagre de Fátima
e terá sido publicado, algures, na década de 1950.
Entre a capa e contra-capa a estória que se pretendia
transmitir, era realizada por desenhos elucidativos, acompanhados de uma
pequena legenda.
Como é referido na contra-capa a ilustração é de uma
conhecida e conceituada portuense, Laura Costa (Vitória, Porto, 1910-Porto, 1992),
que irá ter uma ampla actividade na Majora. Sobre esta ilustradora é o texto
que se segue.
“…uma das mais
prolíficas ilustradoras de livros para crianças e de costumes tradicionais
portugueses da década de quarenta.
Laura não retrata a
fealdade dos vilões das histórias infantis. A mais cruel megera e o mais
horrendo gnomo parecem tios feiotes mas simpáticos, criaturas apuradas por um
paradoxal arianismo louro e azul que casava bem com o grotesco onirismo das
fábulas. Laura evita a representação das odiosas cenas de sangue, fixando
geralmente as personagens em trânsito ou em poses narcisistas que dispensam
cenário, em trajos sumptuosos que naturalmente beneficiam do seu virtuoso
traço. Se a ilustração, em geral, permite maltratar esteticamente a figuração
masculina, temos em Laura Costa a excepção. Garbosos príncipes, rudes
lenhadores e bondosos reis partilham o mesmo traço adocicado, efeminados até. O
pouco que sabemos de Laura está em contradição aparente com a sua delicodoce
obra. Senhora de refinada cultura, sem confissão religiosa, foi a primeira
aluna das Belas Artes do Porto a participar voluntariamente nas aulas de
desenho do nu masculino, quando na altura eram facultativas para o sexo
feminino. Amava sobrinhos e primos como filhos, presenteando-os no Natal ou em
aniversários com bonecas integralmente criadas e vestidas por si”.
Cortesia de João Caetano; In “almanaquesilva.wordpress.com/”
Capa e Contra-capa do livro infantil “História da Fátima” - Texto
do P.e Armando Pereira - Ilustrações de Laura Costa - Aprovado pela Autoridade
Eclesiástica - Autorizado pela Comissão de Censura
Ao longo dos anos, várias séries de publicações viram a luz
do dia, cada uma delas com vários títulos.
Entre muitas, destacam-se as séries Gato Preto (1947), Salta-Pocinhas
(1948), Coelhinho Branco (1948), Pica-Pau (1955), Série de Prata (1964), e as
colecções Série de Ouro, Série Relevo, Série Extra, Séria Pequena Princesinha,
etc, etc.
Fernando de Castro Pires de Lima e a desenhadora Laura Costa
são, respectivamente, autor e ilustradora dos 30 volumes da colecção Varinha Mágica (1955) e mais um sem
fim de publicações com a participação de desenhadores, ilustradores e
argumentistas.
De destacar a publicação, em 1955, da colecção Formiguinha, composta por sessenta
livros de muito pequeno formato, com cerca de uma dezena e meia de páginas e de
10 centímetros de altura. As estórias são, em grande parte, adaptações de
contos de fadas e de outros contos tradicionais feitas por João Sereno e
ilustradas por Costa Abott e, devido ao seu êxito levou, anos mais tarde, à sua
reedição.
Livros da colecção Formiguinha
Ao fim de 74 anos a fabricar diversões para a família, a
Majora encerraria. Para trás ficaram mais de 300 jogos.
O logótipo do cartaz acima é original da Majora e representava
uma criança a jogar com uma bola, e foi idealizado a partir do quebra-cabeças
Tangram.
Acabaria por ser redesenhado com outras novas imagens
destinadas a um determinado público-alvo, em substituição da figura da criança.
No início de Março de 2013, a Majora encerrou a sua produção
e dispensou os últimos trabalhadores da unidade.
Apesar dos esforços dos detentores da marca Majora, foi
impossível manter a empresa no seio da família Oliveira.
Assim, em 2014, a marca foi vendida ao The Edge Group,
liderado pelo empresário José Luís Pinto Basto, por um valor anunciado de 600
mil euros. Este fundo de investimento ficou com todo o espólio da marca, que
veio a relançar no mercado em 2016 e que ficaria inactiva em 2018.
Em Novembro de 2022, é noticiado que a empresa de brinquedos
detida pela família Feist, a Concentra Brinquedos, tinha comprado a Majora ao
The Edge Group por 800 mil euros.
Os novos donos pretendem relançar a marca e esperam que ela
renasça forte e adaptada aos novos tempos.
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