Em 1930, José Nunes Magalhães, natural da Corujeira,
Campanhã, inicia a concretização de um sonho: construir uma réplica fiel, em
miniatura, de uma locomotiva a vapor. Escolhe para o efeito uma locomotiva da
série MD-2250.
A tarefa irá consumir anos de dedicação até atingir o
objectivo pretendido, muita das vezes à luz do gasómetro.
Como profissão, José Nunes era serralheiro, na secção de
montagem das Oficinas-Gerais da CP, em Campanhã, cargo que desempenhou entre
1919 e 1945, exercendo o seu “hobby” na serralharia “Noia”, na Corujeira, onde
também fazia uns biscates. Aqui, tinha tudo que precisava: fresadora, torno,
furadora, etc.
Oficinas-Gerais da CP (1º Grupo Oficinal), em Campanhã, c.
1960, desactivadas, em 1990, para levantamento da Via de Cintura Interna e
transferidas para Guifões
Porém, as dificuldades económicas levaram a uma paragem nos
trabalhos.
Para que não fosse perdido o trabalho de anos, foi
fundamental o empenho do Engenheiro Sousa Pires, chefe geral da 4ª
Circunscrição do Material de Tracção da CP e, simultaneamente, Presidente do
Grupo Desportivo dos Ferroviários de Campanhã (GDFC).
Assim, aquele quadro da CP vai permitir que José Nunes passe
a usar as próprias oficinas da CP para que a réplica fosse, finalmente,
concluída e com o objectivo de ser exposta no pavilhão da CP, durante a
Exposição do Mundo Português a decorrer, entre Junho e Dezembro de 1940, em
Lisboa.
José Nunes aceita, mas impõe a condição de que o seu filho
passasse a frequentar a escola da CP. Acordo fechado.
Finalmente, a obra estava concluída, ainda a tempo de ser
exposta, ao público, naquele evento.
O Jornal de Notícias não deixaria de noticiar, em 27 de
Agosto de 1940, sobre a qualidade da maquete, titulando-a como “Uma maravilha da
mecânica”.
Terminada a exposição, a locomotiva miniatura, durante parte
da década de 1940, foi colocada ao serviço da formação profissional na escola
de maquinistas da CP-MD transitando, ainda antes do fim daquela década, para o
átrio da estação de Porto-S. Bento, sob a responsabilidade do GDFC.
José Nunes Magalhães junto da sua obra, em 1940 – Ed.
desconhecido; Foto cedida por José Carlos Oliveira (sócio honorário do GDFC)
A locomotiva-miniatura foi, então, encerrada num
móvel/armário construído nas Oficinas Gerais da CP-Campanhã e electrificada na
secção eléctrica da estação de S. Bento da CP.
O Engenheiro Sousa Pires decidiu baptizá-la de
“caça-níqueis”, pois era colocada em movimento por intermédio de uma moeda,
revertendo a receita para o GDFC.
Pela estação de S. Bento esteve, entre 1945 e 2016, quando
teve que ser retirada do local para que o espaço fosse alvo de obras.
A miniatura é então guardada na EMEF Contumil e alvo de
trabalhos de manutenção.
Em 2018, já estava novamente na gare de S. Bento, em nova
vitrina, exposta para delícia dos milhares de visitantes.
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